Categoria: Historia religião teologia filosofia

  • a nossa geração

    Views: 0

    Eu sou dessa geração.
    Com muito orgulho.
    May be an image of 11 people and fringe

    Excelente texto que muitos recordarão com saudade.
    “Somos a geração que comeu Pensal🥣, Amparo e 33 com brinde, leite 🥛com Toddy, papas de farinha Maizena, gemadas e óleo de fígado de bacalhau. Somos a geração que comia Bombocas, Tulicreme à colherada, barrávamos as Bolachas Maria🥯 com manteiga 🧈e comíamos papo-secos🍞🥐 com marmelada. Somos de uma geração que comeu açúcar🥞 que se fartou!!!
    O detergente da roupa o OMO também vinha com brinde…íamos atrás das nossas mães para o tanque da aldeia, á espera do momento da abertura da embalagem…🤣
    As nossas festas de anos tinham sandes de fiambre e queijo, salada de frutas🍎🍇🍉🍊🍓 e mousse de chocolate. Comíamos batatas fritas🍟, guisados🥘, fritos e estufados🍲. Apesar disto, somos também uma geração que aprendeu a comer sopa🍛, peixe 🐟🐙cozido, legumes 🥦🥕🍅e fruta🍉🍈🍌 a todas as refeições. Não havia comida especial para nós.
    Nas férias grandes íamos para a praia 🏖ou para a terra dos pais🚞🚉. Somos a geração que brincava na rua até à hora de jantar 🕕e, no Verão☀️, ainda podíamos brincar depois dessa hora🕙🌙. Andávamos de bicicleta 🚲e íamos a pé 🦶para a escola, sozinhos 🧒ou com amigos 👧👦e sabíamos a tabuada de cor.
    Só havia um canal de televisão📺 e a família👨‍👩‍👧‍👦 juntava-se a ver o TV Rural, a Cornélia, 1 2 3 com a sua bota 🥾botilde, Duarte e Companhia, os Jogos Sem Fronteiras, o Tarzan, o Bonanza, a Casa 🏚na Pradaria, o Sandokan 🐅e o Topo Gigio🐭. Somos a geração dos Soldados 👨‍✈️👮‍♂️💸da Fortuna, do Espaço 1999, do Dallas, da Balada de Hill Street, do Barco ⛵do Amor❤, da Fama, do Miami Vice🏎, do Verão Azul e do Justiceiro🕵️‍♂️. Somos a geração da “Gabriela-Cravo e Canela” e da “Vila Faia “. Somos a geração que viu os desenhos 🥰ANIMADOS do Popeye da Heidi e do Marco, da abelha Maia, e viu filmes em que as meninas👧 eram princesas à espera do príncipe 🤴encantado.
    Somos da geração do Top 🚀Gun, do Oficial👨‍✈️ e Cavalheiro🤵 e da Lagoa🏝 Azul. Somos da geração que ligávamos para o “Quando o telefona ☎️toca”, ouvíamos os Parodiantes de Lisboa e o Oceano Pacífico🌊. Líamos “As Gémeas”, “Os Cinco”, “Os Sete” e tínhamos todos “A minha Agenda📒“.
    Ainda somos do tempo em que os carros 🚗não tinham cinto de segurança nos bancos traseiros nem ar condicionado. Jogávamos ao “Monopólio”, à “Glória” ao “Sabichão” à carica e ao berlinde. Somos da geração que fazíamos festas 🥳de garagem, frequentávamos as Matinés e dancávamos slows🕺💃. Somos a geração dos bichos da seda. Brincávamos aos Índios e Cowboys com pistolas 🗡a fingir e nenhum mal aconteceu!
    Porque a nossa geração fez tudo com conta, peso e medida.
    A nossa geração teve mães👩‍🦱👩‍🦳👩‍🦰 que faziam o que podiam da melhor forma que sabiam e não viam um papão em cada esquina. As nossas mães, eram as mães, que nos deixavam lamber a massa crua dos bolos🍰🍪 mas que diziam que comer o bolo quente nos dava a volta à barriga….
    Serei cota sim👩‍🦳…. com muito gosto!!!! Que saudades deste tempo, que não volta mais e foi super feliz 🙏❤️😊
    da web
    Não esquecendo que também pertencemos à geração da educação, como: bom dia, muito obrigado, se faz favor, dá-me licença e muito mais. SAUDADE.
    Acrescentando: somos da geração que não havia televisão, somos da geração da tv a preto e barnco, somos da geração que se tocassem à porta tinhamos de dizer que só tínhamos 1 televisão para não pagar mais
  • tunel bíblico

    Views: 0

    May be an image of map

    Túnel de Ezequias:
    O Túnel de Ezequias ou de Siloé é um túnel que foi escavado na rocha sólida, embaixo de Ofel na cidade de Jerusalém por volta de 701 a.C. durante o reinado de Ezequias. O túnel de Ezequias explica como Jerusalém foi capaz de ter uma fonte de água secreta e de sobreviver a cercos.
    Confira algumas curiosidades:
    1- A escavação do túnel foi uma notável proeza de engenharia da antiguidade, sendo realizada manualmente por trabalhadores usando ferramentas rudimentares.
    2- Com cerca de 533 metros de comprimento, o túnel desviava apenas alguns centímetros de seu trajeto ao longo de toda a sua extensão, o que é impressionante para um projeto tão antigo.
    3- O túnel tinha a função de ser um aqueduto, transportando água da Fonte de Giom até a piscina de Siloé, fornecendo um abastecimento vital de água para a cidade de Jerusalém.
    4- O Túnel de Ezequias garantia que a cidade continuasse com acesso à água, mesmo durante cercos e ataques inimigos. Segundo a história, ele desempenhou um papel importante durante o cerco assírio liderado por Senaqueribe.
    5- Oficialmente redescoberto no século XIX, o túnel recebeu grande atenção da comunidade arqueológica, mas ainda continua sendo um sítio de estudo e pesquisa até hoje.
    6- Durante escavações e estudos posteriores, foram encontrados fragmentos de inscrições na parede do túnel, que forneceram informações adicionais sobre sua construção e história.
    Tradução do texto encontrado nas paredes do túnel
    “(…) quando o túnel estava seco. E este era o caminho no qual estava sendo cavado. Enquanto (…) estavam ainda (…) picaretas, cada homem após seu companheiro, e enquanto ainda restavam três cúbitos para ser cavado, foi ouvida a voz de um homem chamando seu companheiro, pois havia uma separação entre os dois grupos um que vinha cavando da direita e outro da esquerda. E quando o túnel estava seco, os homens quebravam a rocha, cada homem seguindo seu companheiro, picareta após picareta; e então a água escorreu da fonte em direção ao reservatório por 1200 cúbitos e o peso da rocha acima da cabeça dos trabalhadores era de cem cúbitos.”
    (as reticências indicam partes que não puderam ser recuperadas).
    7- O Túnel de Ezequias é mencionado no Antigo Testamento da Bíblia, no livro de 2 Crônicas, o que confirma sua relevância histórica e sua conexão com figuras bíblicas.
    8- O túnel passa por baixo da área de Ophel, uma colina arqueológica que possui vestígios de assentamentos antigos.
    9- O Túnel de Ezequias é um testemunho impressionante da habilidade dos antigos engenheiros e continua sendo um marco histórico e arqueológico importante, atraindo turistas e estudiosos interessados em aprender mais sobre a história da região.

    All reactions:

    1

    Like

    Comment
    Share
  • NAZIS MATARAM PORTUGUESES

    Views: 0

    Investigação revela portugueses detidos e mortos pelos nazis durante a II Guerra Mundial
    Lisboa, 21 jul 2023 (Lusa) – O novo livro da investigadora Miriam Assor revela que centenas de portugueses e cidadãos de origem portuguesa estiveram nos campos de concentração nazis ou morreram às mãos de Hitler, apesar de Portugal ter sido neutral durante a II Guerra Mundial.
    O livro, “Portugueses na Lista Negra de Hitler” desvenda o rasto de portugueses ou cidadãos de origem portuguesa, maioritariamente judeus, que residiam fora de Portugal e não foram salvos “devido à morosidade e desleixo das autoridades portuguesas”, disse Miriam Assor em declarações à agência Lusa.
    Miriam Assor realçou à Lusa que “nem todos eram judeus” e “houve um desleixo e impasse burocrático das autoridades portugueses que tinham um certo medo dos nazis alemães”.
    A investigadora referiu um grupo de portugueses que ficou detido em Le Vernet, em França, durante cerca de quatro anos, e foi depois deportado para o campo de concentração de Dachau, na Alemanha, onde a maioria morreu. “Estes não eram judeus”, disse.
    Em Le Vernet, nos Pirenéus franceses, estiveram detidos cerca de 12 mil anarquistas espanhóis da Divisão Durruti, e a partir de 1942 tornou-se um centro de detenção para judeus, tendo os últimos prisioneiros sido levados no “comboio fantasma”, em junho de 1944, para Dachau. Neste campo de concentração estiveram detidos cerca de 40 mil pessoas de 58 nacionalidades, incluindo a portuguesa.
    A autora referiu que “a neutralidade portuguesa foi oscilando com o evoluir da guerra, até ao ‘Dia D’ [6 de junho de 1944], a guerra dá muita volta e Portugal também”.
    O “Dia D” foi a operação militar aliada, dos Estados Unidos, Reino Unido e Commonwealth e outras nações, de desembarque das tropas na costa da Normandia, França, e que deu início à libertação da Europa do domínio militar nazi.
    Miriam Assor afirmou que não encontrou posições de antissemitismo por parte do Governo de Portugal, nomeadamente do então presidente do Conselho de Ministros e ministro dos Negócios Estrangeiros – “António de Oliveira Salazar e do seu séquito” -, mas notou “uma falta de responsabilidade e de tomada de decisão”.
    O Governo de então “não quis assumir, ao contrário até dos nazis, que pediam para Portugal retirar os seus cidadãos dos territórios sob o seu domínio”.
    À Lusa, a autora referiu os portugueses que se encontravam no campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha, foram colocados num “bloco onde não eram obrigados a trabalhar”. “Tinham de se levantar de manhã e estar cinco a seis horas numa fila para receberem a sopa diária. Tiveram doenças e emagreceram bastante, mas há uma diferença ordenada pelo Hitler, porque eram de um país neutro”.
    Relativamente à indecisão de Lisboa em reconhecer a nacionalidade de alguns dos seus cidadãos, nomeadamente residentes em França, ocupada parcialmente pelas forças alemãs, e na Grécia, ambos os países sob ocupação nazi entre 1940 e 1944, a autora afirmou que não teve dúvidas e considerou-os “portugueses”.
    “Considerei-os portugueses, porque as documentações que eu vi levaram-me a crer que essas pessoas eram portuguesas”, disse, referindo que houve várias pessoas que “pediram a Portugal para lhes renovar a documentação e Portugal esquivou-se”. “Até à guerra eram portugueses, mas depois da guerra Portugal percebeu que tinha ali um grande imbróglio”, assegurou.
    Miriam Assor afirmou que “a sorte dos judeus portugueses na Grécia foi muito inferior à dos judeus portugueses em França que conseguiram ser repatriados à conta de cônsules-honorários que arriscaram a sua carreira para salvarem pessoas”, como Aristides de Sousa Mendes (1885-1954), que foi cônsul-honorário em Bordéus, no sudoeste de França.
    “A ditadura [portuguesa] em nenhum momento tomou uma decisão de salvar estas pessoas – os nossos. É sempre alguém, um pouco sub-repticiamente, que salva”.
    Em 1940, Aristides de Sousa Mendes “já tinha caído em desgraça”, exonerado pelo Governo de Salazar.
    Miriam Assor levou dez anos a escrever este livro, tendo recolhido vários testemunhos, nomeadamente dos descendes, mas falou com sobreviventes, como o sefardita Maurício Lévi, de 88 anos, que vive no Estado norte-americano da Virgínia.
    A obra reproduz vários documentos oficiais portugueses, nomeadamente diplomáticos, incluindo uma lista de nomes dos portugueses presos pela milícia paramilitar nazi Schutzstaffel (SS) em Atenas, em 1944, e mais tarde deportados. Desta lista constam 19 nomes.
    A autora refere vários portugueses e tece a sua curta biografia, ao longo da obra, como o minhoto João Fernandes, de Gondariz (Viana do Castelo) deportado para o campo de concentração em Mauthausen, na Áustria sob bandeira nazi, e, posteriormente para o de Natzweiller-Struthof, atualmente em França, na época sob administração alemã, “um dos raros” que sobreviveu à guerra.
    Outro sobrevivente foi Joaquim Sequeira, natural de Lalim, no concelho de Lamego, distrito de Viseu, que esteve em Dachau e em Natzweiller-Struthof.
    Também João Faria de Sá, de Vila Nova de Famalicão (Braga), esteve no campo de concentração de Buchenwald, na Alemanha.
    A estes nomes juntam-se outros como Raquel Batista, de Lisboa, que foi morta no campo de concentração de Auschewitz-Birkenaum na Alemanha, em agosto de 1942, e Bernardino da Silva, de Santo Tirso (Porto), “o único português no denominado ‘Comboio da Morte’ que saiu da cidade francesa de Compiègne, em julho de 1944, em direção a Dachau”, tendo morrido durante o trajeto.
    “Dentro desta tragédia encontrei amor”, sentenciou a autora que não dá por terminada a investigação, afirmando: “Continuo na expectativa de descobrir e divulgar mais detalhes sobre os portugueses que sofreram na II Guerra Mundial [1939-1945]”.
    Miriam Assor, jornalista que iniciou carreira no semanário O Independente, tem publicado vários livros sobre judeus, como “Aristides de Sousa Mendes – Um Justo Contra a Corrente” e “Judeus Ilustres de Portugal”.
    NL // MAG
    May be an image of 1 person

    Like

    Comment
  • Conheça a história de Akbal Pinheiro, líder do Reino do Pineal

    Views: 0

    Adepto de teorias da conspiração e antigo chefe de cozinha de profissão, este é o líder do misterioso Reino de Pineal.

    Source: Conheça a história de Akbal Pinheiro, líder do Reino do Pineal

  • JÁ SE PODE COMER O PAPA

    Views: 0

     

    Na Avenida Duque de Loulé, do 113 ao 119, em Lisboa, já é possível comer o Papa. Ou seja, trincar bolachas com o rosto de Sua Santidade.

     

    May be an image of 1 person and text

  • gilgamesh

    Views: 0

    Acerca deste livro maravilhoso, de que me vem à cabeça muitas vezes as tendas construídas para se sonhar, escrevi há uns tempos o texto abaixo. Sim, tendas construídas para sonhar. Uma coisa muito simples, uma tenda de pano, que os Sumérios levantavam fora de casa, punham uma manta por baixo, uma almofada, e deitavam-se a dormir, só para sonharem sonhos diferentes de quando dormimos na nossa cama habitual. Não queriam fazer do sono o quotidiano, desejavam comunicar com o transcendente. Sonhar é viver. Dormir é trabalhar. O sonho é uma forma de poesia, porventura a melhor de todas.
    «Os escritores bebem em fontes como quem rouba água às nascentes. Quanto mais andamos para trás, em busca de uma origem, mais nos enredamos numa encruzilhada da qual só nos apercebemos de uma coisa: a literatura é impressionante na dimensão do seu fascínio. O fio de Ariadne é a emoção que nos conduz a lado nenhum em toda a parte. As Sagradas Escrituras descobriram-se no mesmo caminho sem fim de que é feita a senda humanidade. O «Épico de Gilgamés» (aqui no texto traduzido e comentado por Francisco Luís Parreira e publicado pela Assírio & Alvim) narra a epopeia do rei lendário de Uruk, que terá sido inicialmente escrita há perto de cinco mil anos, na Suméria, tendo passado por várias transcrições ao longo dos séculos subsequentes, até se perder nas areias do deserto por meados do primeiro milénio antes de Cristo. As tabuinhas de argila onde o texto se encontra fixado só seriam redescobertas no século XIX, incompreensíveis, e mais tarde decifradas graças ao paciente estudo de quem se ia progressivamente fascinando com o que desvendava. O resultado foi tão surpreendente que esteve próximo de causar escândalo, mas só por causa da nossa vastíssima ignorância. Não de uma ignorância incompetente ou desleixada, mas de um desconhecimento de que nunca nos livraremos, se Deus quiser. Foi assim que o sagrado se profanou, e foi assim que Homero deixou de ser pai, ao serem-nos reveladas as suas fontes. O épico de Gilgamés, porém, conduz-nos à pergunta: o que estará por trás dele? O que se perdeu nas brumas do tempo? Que hinos, que canções, que aventuras, que poemas, que histórias? A resposta não surpreende: nada com que nos dêmos por satisfeitos.
    Tudo começa com o verso: «Aquele que testemunhou o abismo», e daqui se parte para o relato das aventuras do sábio e poderoso Gilagamés, senhor de uma enorme estatura, peito e ombros largos, pernas que abarcam quatro metros a cada passo. Encontra em Enkidu o companheiro, verdadeiro amigo e irmão para a sua busca da imortalidade, da glória e da fuga aos estreitos termos impostos pela fatalidade da vida. Logo na primeira tábua (a epopeia está dividida em doze tábuas) ficamos a saber que o seu nome — cujo significado será “Descendente de um herói” — foi pronunciado no dia do nascimento, indicando que estava predestinado para façanhas extraordinárias. Ora, encontrando Enkidu, Gilgamés encontra também um sentido para a vida, e decide partir com ele pelo mundo a combater o maior flagelo da Terra, Humbaba, o monstro que protege a Floresta do Cedro. Após longas jornadas arribam ao famigerado território. Gilgamés, pleno daqueles sentimentos que nos habituámos a observar nos clássicos, vacila finalmente à vista do tenebroso matagal de ciprestes, retiro do gigante e viveiro de sons medonhos. Enche-se de terror. «Meu amigo, ampara-me», pede o rei de Uruk ao companheiro. Só o incitamento de Enkidu consegue devolver-lhe a coragem. É então que um rugido horripilante anuncia a presença de Humbaba. Novamente Gilgamés hesita, derramando lágrimas de pânico, pedindo a Samas, o deus-Sol, que o ajude. Acedendo o deus, o combate inicia-se com as ameaças do guardião da floresta. «Trouxeste-me Gilgamés, ó traiçoeiro Enkidu, mas vou rachar-lhe o pescoço e as goelas, darei a sua carne aos abutres.» Engalfinhando-se numa luta de proporções titânicas, Gilgamés é auxiliado por Samas e vence o monstro. Humbaba suplica clemência, num discurso tão comovente que provoca a piedade do leitor moderno. Prostrado no chão, indefeso, o portento medonho de rosto disforme, qual Adamastor nos confins da África, roga ao seu vencedor, correndo-lhe as lágrimas perante os raios do Sol: «Poupa-me a vida, Gilgamés. Viva eu ao teu serviço aqui na Floresta do Cedro. Tudo te darei.» Enkidu exorta Gilgamés a não poupar a vida do monstro e a matá-lo imediatamente. Humbaba vira-se então para Enkidu, dizendo-lhe que a sua liberdade depende dele. Não obtendo indulgência, Humbaba enfurece-se e amaldiçoa os seus captores, pedindo aos céus que lhes concedam escassos dias de vida (faz lembrar a ira de Posídon, na Odisseia). O rei de Uruk pega então no machado e crava-lho no pescoço, matando-o. Quem não vê nesta narrativa emocionante tantos traços de Homero, que viveu numa época em que a história ainda circulava? Quem não sente na amizade de Enkidu e Gilgamés o amor que unia Aquiles e Pátroclo? O herói Aquiles, por desejo de vingança e de fama terrena, empunha as armas para matar Heitor, o maior guerreiro de Troia, flagelo dos aqueus, e recusa todos os pedidos de misericórdia do adversário; chora lágrimas abundantes pela morte de Pátroclo e dedica-lhe um funeral digno dos deuses. Mas a epopeia prossegue, até porque a beleza, a força e a coragem de Gilgamés despertam a paixão desenfreada da deusa Istar (sem dúvida a Afrodite homérica, de quem o próprio nome deriva, segundo Francisco Luís Parreira, pois terá evoluído da forma semítica ocidental Astorith [Istar]). A deusa da fertilidade e da sexualidade propõe casamento ao rei vencedor. Gilgamés, no entanto, recusa insolentemente, acusando-a de promiscuidade e do infortúnio de todos os seus amantes anteriores. Istar, enfurecida pelo desacato do mortal, comparece a chorar perante o pai, Anu, deus do Céu, e pede-lhe que castigue Gilgamés pela afronta inadmissível. Anu dá-lhe o Touro dos Céus, pondo-lhe na mão a corda que o puxa. O animal gigantesco desce à terra e comete devastações, provocando, entre outras calamidades, a morte de centenas de habitantes de Uruk. Enkidu e Gilgamés unem-se novamente para livrar o mundo de mais uma praga e conseguem matar o Touro dos Céus, cravando-lhe o punhal no cachaço, enfurecendo ainda mais a ofendida Istar. A que fonte foi beber Homero para o relato da Afrodite injuriada por Diomedes, na Ilíada, senão a este episódio? É tão evidente a analogia que até as personagens são as mesmas: Anu — Zeus; Istar — Afrodite; e um mortal cujo atrevimento chega ao ponto de enfrentar os deuses — Gilgamés/Diomedes). O povo de Uruk celebra esta esplêndida vitória festejando nas ruas da cidade, em aclamações de júbilo. «Gilgamés é o mais glorioso de entre os homens!» Tudo caminharia para um final feliz se Enkidu, nessa mesma noite, não tivesse um sonho angustiante, o prenúncio de um acontecimento tão horrendo como natural: a morte. Nesse sonho, os deuses discutem qual dos dois heróis deve abandonar o mundo dos vivos como castigo pela ousadia de terem matado o Touro dos Céus. A escolha recai sobre Enkidu, que acorda em lágrimas a lamentar a fatalidade do destino. «Ó meu querido irmão, terei de me sentar entre os mortos e nunca mais contemplar o meu irmão querido com os meus próprios olhos!» O desespero é tão avassalador que perde o domínio de si e amaldiçoa tudo e todos, até finalmente se aquietar, entristecido, e se arrepende das palavras desenfreadas. Adoece, padece de uma agonia de doze dias, prostrado no leito, e morre. As suas últimas palavras foram de desgosto por não morrer como um bravo, no meio da batalha, mas deitado numa cama, murmurando ao companheiro: «Eu não caio em combate, eu não engrandeço o meu nome.» Gilgamés fica inconsolável, caindo em pranto, pedindo ao mundo inteiro que chore por Enkidu. O seu amor por ele roça a homossexualidade: «Cobriu o rosto do amigo, como a uma esposa.» As lamentações fazem lembrar as de Adriano por Antínoo quando o imperador romano soube da morte do jovem e lhe dedicou um enterro digno de um estadista e um culto divino para a posteridade: «Os príncipes da terra virão beijar-te os pés. Farei com que o povo de Uruk te chore e lastime, por ti, entre a formosa gente farei alastrar a dor.» Deu-lhe um funeral que nos remete para as honras fúnebres de Pátroclo, prestadas por Aquiles, e depois abandonou a comunidade dos homens, vagueando pelos ermos e pelos descampados na mais profunda desolação de alma, sufocado não só pela melancolia mas também pela terrível angústia existencial que a certeza da morte acarreta. «Morrerei: não ficarei eu, então, igual a Enkidu?» Decide por isso ir em busca da vida eterna procurando Uta-napisti, um homem a quem os deuses concederam a imortalidade. É notória a semelhança com a fatalidade homérica, a luta inglória contra o destino: qualquer um de nós pode pegar em armas e cometer e veleidade de enfrentar a morte, mas sabe que vai perder. É uma espécie de suicídio ritual, quando se almejava precisamente o contrário. O resultado só pode ser um: o desespero. Nele se enreda Gilgamés na sua busca por Uta-napisti, o único imortal nascido humano, a derradeira tentativa de vir a fruir da vida eterna. Porém, todos os que encontra pelo caminho lhe dizem: «A vida que procuras, não a encontrarás.» Finalmente chega até Uta-napisti, contando-lhe a sua desdita, para obter como resposta: «A ti mesmo te gastas com trabalhos incessantes, apressando o fim dos teus dias.» Gilgamés pede ao menos que conte como lhe foi possível a ele, Uta-napisti, aceder à assembleia dos imortais. Segue-se um relato que impressiona por nos soar a algo de incrivelmente familiar. Uta-napisti não é outro senão o Noé judaico-cristão que relata ao seu interlocutor a história do Dilúvio. Quando a humanidade se tornou um incómodo para os deuses, estes decidiram destruí-la. No entanto, o deus Ea revela a intenção divina a Uta-napisti, rei de Surupak, e diz-lhe para construir uma arca de madeira que flutue nas águas alterosas da grande inundação. Fornece-lhe as medidas para a obra e ordena-lhe: «Faz embarcar a semente de tudo o que é vivo.» Após a conclusão dos trabalhos, aproximou-se uma nuvem negra que desencadeia os vendavais arrasadores e o Dilúvio. Chove até a água cobrir a totalidade da terra. Vindo a acalmia, Uta-napisti lança sucessivamente uma pomba, uma andorinha e um corvo para ver se há lugar onde aportar. Só à terceira tentativa obtém resposta positiva: as águas baixavam, e assim se pôde repovoar o mundo.
    O épico de Gilgamés esteve enterrado no deserto, completamente ignorado, durante dois mil e quinhentos anos. Nesse intervalo de tempo nasceram, cresceram, expandiram-se, reformaram-se, adulteraram-se, corromperam-se e povoaram-se de bem-aventurados várias religiões, uma era, um viveiro de impérios, uma incubadora de revoluções, uma sucessão de mortes e renascimentos, um desfile de ideais e de filosofias, enquanto as areias calmamente os viam passar. O dom da imortalidade, que muitos procuraram sem sucesso, atingiu-o o sonho. E basta dormir numa cama diferente da habitual.»
    Pode ser uma imagem de texto que diz "ÉPICO DE GILGAMEŠ tradução, introdução notas de FRANCISCO Luís PARREIRA ASSÍRIO & ALVIM"
    All reactions:

    1

    1 comment
    Like

    Comment
    Share
    José Moreira da Silva

    Não li esse livro, mas abriste-me o apetite. Numa parte do teu texto lembrei-me de Herman Hesse e do seu Siddhartha…
    • Like

    • Reply
    • 6 m
  • antiga internet do corvo

    Views: 0

    O largo do Outeiro era frequentado essencialmente pelos homens adultos da ilha, principalmente ao final da tarde. Lá “ponham a conversa em dia”, falavam dos problemas da ilha, da lavoura e da agricultura. Ocasionalmente as senhoras também o frequentavam, sobretudo em dias de navio e quando chegavam à ilha desconhecidos. Tentavam adivinhar quem era e o que vinham fazer. Era o quotidiano corvino de outros tempos.
    May be an image of 10 people
    All reactions:

    Alexandrina Bettencourt, Lizuarte Machado and 19 others

    9 comments
    3 shares
    Like

    Comment
    Share
    View more comments
    Active
    Alexandrina Bettencourt

    Bom dia.. bonita recordação!
    • Like

    • Reply
    • 2 h
  • Mapa do mundo de 3000ac até 1000dc: 4000 anos de guerras

    Views: 1

    Veja “Mapa do mundo de 3000ac até 1000dc: 4000 anos de guerras” no YouTube

    Desde os primeiros Estados-Impérios no Crescente Fértil até ao Califado Abássida. Destaque para o Mediterrâneo e para o Império Romano. Centrem a atenção em 3 focos geográficos distintos que se pode designar por «Centros do Mundo»: Mediterrâneo, Ásia Meridional (Índia) e o litoral da Ásia Oriental (China). No ano 1000 Portugal ainda não existia (Fundação em 5 de Outubro de 1143 – Tratado de Zamora).


  • sismo de 98

    Views: 0

    Sismo De 98 Por Jose Gabriel Avila