Já há certezas científicas que a Terra entrou numa nova ERA.
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“O físico português inclina-se para segunda metade do século XX, por causa do crescimento da atividade humana: “Se formos olhar para a população, o crescimento económico, o crescimento do turismo, as grandes infraestruturas na sociedade, de engenharia. Todas elas crescem dramaticamente a partir de 1950.”
O início desta nova era deixa marcas e Orfeu Bertolami deixa uma sugestão para as encontrar: “Se cavarmos um buraco em qualquer lado vamos encontrar materiais de construção, plásticos, resíduos de construções, material radioativo que foi disperso aquando dos grandes testes das armas nucleares na segunda metade do século XX.”
Tudo elementos que foram encontrados no Largo Crawford, que fica perto de Toronto no Canadá. Este era um dos sete locais que os especialistas tinham sinalizado como sendo representativos do Antropoceno, mas foi o lago que reuniu consenso. “É aquele que contém mais elementos da transformação que teve lugar na segunda metade do século XX”, explica Orfeu Bertolami.
Com este acordo, os cientistas querem que “os geólogos do futuro, quando olharem para o planeta hoje, consigam inequivocamente distinguir a época em que nós vivemos das anteriores”.
E que resultados tem o Antropoceno na Terra e na vida humana? “Nós podemos cair num ciclo infernal na qual a temperatura aumenta, os sistemas naturais da Terra perdem a capacidade de regular o clima, a temperatura sobe ainda mais. À medida que isto acontece, os sistemas naturais deixam de ser eficientes e entramos numa situação de aquecimento sem controlo do planeta.”
O professor na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto alerta que a consequência mais dramática seria o fim da vida na Terra, mas Orfeu Bertolami acredita na resiliência do ser humano: “Não desaparecerão, mas o que estamos a falar é a capacidade de sustentar nove mil milhões de pessoas neste planeta. Já somos oito mil milhões, seremos nove mil milhões em 2050. Não é impossível pensar que já não teremos condições de sustentabilidade de uma população tão grande.”
O físico diz que é preciso implementar medidas para emitir cada vez menos dióxido de carbono, até porque “as que têm sido tomadas são em vão” e dá o exemplo de Portugal: “Ouvimos que o país não cresce como deveria. Portugal não pode crescer mais. Já não há mais florestas para sustentar o carbono que coloca na atmosfera. Estamos a viver com recursos das gerações futuras.”
“Temos de descarbonizar já. Cortar 20% e 30% do nosso consumo se quisermos ter algum controlo sobre as coisas”, avisa Orfeu Bertolami.”
Desafio complicado. Os humanos habituados ao alto consumo, dificilmente mudarão de hábitos, a não ser que sejam obrigados.
A última vez que estive em Toronto, fiquei muitíssimo impressionada, com o “peso” humano no ambiente. Diga-se um “peso esmagador”. Mal sabia eu, que era um dos sete sítios, no Mundo, com tal responsabilidade.