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A SEXUALIDADE JÁ NÃO É TEMA TABU NA IGREJA

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A SEXUALIDADE JÁ NÃO É TEMA TABU NA IGREJA

Bênção para Casais em Situação irregular e Homossexuais

O Papa abre caminho para o reconhecimento de casais do mesmo sexo na Igreja Católica sob condições estritas. O documento “Fiducia suplicans” (Confiança suplicante (1) fala de “possibilidades de bênção de casais em situação irregular (divorciados em nova união) e casais do mesmo sexo” (2). Com esta intervenção papal alegra-se a igreja alemã e surgem algumas dúvidas na Igreja mundial. Deste modo os actos sexuais passam, neste assunto, a não ser submetidos ao ordenamento moral e são explicados pelas condições criadas pela natureza (a excepção confirma a regra e in dúbio pro reo). Ao não serem exigidas condições relativas à moral, a consequência será a aceitação de uma certa ambivalência que abarca a inclusão da dúvida e leva alguns teólogos de ordenamento doutrinal a problematizar a medida pastoral do Papa Francisco. Na consequência, esta maneira de actuar simplifica também o hábito já generalizado de relações sexuais antes do casamento!

O Sumo Pontífice pôs claro que a bênção não pertence aos sacramentos nem implica mudanças doutrinais; segue o espírito pastoral da Amoris Laetitia (3). Em termos teológicos abençoar o homossexual não corresponde necessariamente a abençoar a ação homossexual, mas, no meu entender, consiste em reconhecer a natureza e o desenvolvimento da sociedade como componentes da revelação! Deus não tem género, mas criou as pessoas como seres sexuais e à Sua imagem. No Filho de Deus e na Mãe de Deus expressaram-se os protótipos da união da feminilidade com a masculinidade e da espiritualidade com a materialidade.

O substancialmente novo do documento é o integrar a realidade social em que vivemos e pô-la a caminho dos fóruns de uma dogmática que possibilita a mudança na continuidade…

 

A sociedade muda e com ela os conceitos morais

A sexualidade e a fé cristã fazem parte da nossa identidade e a sua interação mútua tem feito parte da história do desenvolvimento humano e social do Ocidente. Encontramo-nos numa época de tentativa de mudança axial cultural – um momento de fluxos contraditórios – onde o poder de determinar o mundo se concentra na passagem de uma ética religiosa para uma ética secular global abstracta com a intenção de criar uma outra antropologia (gerar um outro Homem) e outra sociologia (uma outra cultura), que questiona a visão global representada no catolicismo; na consequência os dois elementos da cultura transmitidos pela igreja (fé e sexualidade unidas) estão a ser abalados no sentido de ser separados…

A sociedade muda e com ela os conceitos morais e a nossa dor dão-se devido ao facto de nos encontrarmos numa época da rapidez de modo a podermos hoje supervisionar mudanças e sentidos que antigamente só eram observadas por historiadores e estudiosos de visão enciclopedista de perspectiva histórica…

Estamos a passar de uma era que se interessava mais pelo como as coisas funcionam para uma era a mudar de paradigma para o modo como as coisas se relacionam.

… proporcionando-se assim a decomposição e desestruturação que procura legitimar a luta anti cultural e contra todos os construtos identitários naturais, culturais e humanos no intuito de formar uma nova cultura meramente mental e ideológica já longe do humano e que proporciona o seu domínio numa tática justificadora da luta contra o humanismo. A Igreja, porém, está atenta às modas e ditames do tempo (atualmente impulsionado pelo marxismo e pelo maoismo) continuando a defender o que é mais essencial para o humano…

Como o modernismo quer mudar rapidamente a realidade e acredita poder criar uma outra através de leis e de medidas administrativas (agendas) torna-se mais difícil a acção da Igreja que advoga um crescimento mais lento e orgânico (e aferido à consciência popular) do que administrativo para conseguir um desenvolvimento integral humano; porém não precisa de deitar muitas lágrimas pelo que tem de mudar hoje pois o negligenciado no passado também fez sofrer muita gente. Assistimos assim a uma corrida do tempo cronos contra a plenitude do tempo Cairos, quando o urgente seria a tentativa de integrar os dois no sentido de uma sociedade mais humana

Neste sentido a Igreja terá de aprender do mundo a mudar a sua relação com o corpo e a sensação de prazer para não exagerar num sentido o que o mundo exagera no outro. A hostilidade ao corpo (a autossatisfação como ofensiva…) e a falta de equilíbrio entre corpo e mente são factores que determinam tensões que prevalecem na sociedade e na igreja enquanto não houver uma osmose de masculinidade e feminilidade…

Hoje a socialização está a dar-se através do questionamento de conceitos morais concretos e da educação sexual numa plataforma atmosférica mental de confronto clandestino e de relativismo absoluto. Numa cultura onde a sexualidade e a espiritualidade fazem parte da identidade cultural e individual, mas que é contestada radicalmente, torna-se mais difícil para a Igreja resguardar-se. Um caminho de reconciliação poderia levar ao desenvolvimento separado da sexualidade e da religião/espiritualidade, de modo que a moral sexual não preocupasse tanto a Igreja como o Estado secular na qualidade de instrumentos de domínio…

A sexualidade é discutida na igreja, mas raramente é discutida pelos padres (eles discutem-na geralmente dentro do casamento) porque parecem acreditar ainda que a sexualidade é um assunto privado…

A igreja é o lugar onde as pessoas se encontram, independentemente de virtudes e defeitos competindo-lhe desenvolver um comportamento saudável em relação à sexualidade. Não há que associar a sexualidade à normalidade ou à anormalidade. A igreja tem uma responsabilidade especial, também através da sua própria missão e mandato, de proteger as minorias e o humano…

Uma função importante da Igreja, especialmente no contexto ideológico actual continuará a ser a de que a sociedade não confunda linguagem com a realidade. Uma missão prioritária em relação à sexualidade será a defesa da feminilidade e manter a música do amor que aquece os corações.

Será de evitar todos os fundamentalismos seculares e religiosos porque são de vistas limitadas e empobrecedoras de desenvolvimento quando permitem apenas uma ideia do certo e do errado.

Nesta época natalícia sopram do Vaticano ventos frescos e revolucionários que não veem no amor pecado, mas que causam calafrios nalguns grupos e regiões do catolicismo. Bênçãos só podem ser revigorantes e permitir que os amantes se regozijem e celebrem o seu relacionamento também em público. Cada pessoa é única e com momentos próprios; o reconhecimento dá-lhe sustentabilidade na vida quotidiana e deste modo também acontece ecclesia. Boas festas, o Natal é a festa da vida!

António CD Justo

Teólogo e Pedagogo

Texto completo e notas em “Pegadas do Tempo”: https://antonio-justo.eu/?p=8900

 

CRUZES CRISTÃS PERMANECEM PENDURADAS NOS EDIFÍCIOS DO ESTADO DA BAVIERA

 

 

O Tribunal Administrativo Federal alemão em Leipzig considerou legal a regulamentação de que uma cruz deve ser pendurada em todos os edifícios estatais da Baviera.

O tribunal entendeu que as cruzes nas autoridades estatais não violam o direito à liberdade religiosa de outras comunidades religiosas. Também não constituem uma violação da proibição da discriminação baseada na fé.

A imprensa alemã refere que a “Associação para a Liberdade de Pensamento” que é religiosamente crítica tinha metido acção judicial exigindo que o decreto governamental de manter as cruzes em edifícios estatais públicos fosse revogado.

Embora o Tribunal Administrativo tenha considerado uma violação do dever de neutralidade do Estado, classificou as cruzes essencialmente como símbolos passivos “sem efeitos de proselitismo e doutrinação”.

A associação anunciou querer apelar para o Tribunal Constitucional Federal.

António CD Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=8897

 

 

OS JOVENS NÃo LEEM, GEORGE STEINER 2011

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AS CONDIÇÕES QUE NECESSITAMOS PARA LER, SEGUNDO GEORGE STEINER
“Já há 60 ou 70 anos que os jovens não lêem. Lembre-se de que os jovens já não lêem livros, lêem sms, livros BD, resumos no Kindle: o Hamlet em 25 palavras, o Lear em 50 palavras. Os jovens estão impacientes, estão zangados, muito zangados com uma civilização, uma sociedade, que não lhes está a dar esperança socioeconómica de que necessitam. Para ler, ler seriamente, tem de haver determinadas condições. Para ler seriamente é preciso silêncio. Não ponha música, tire a rádio e a televisão do quarto. Tem de saber viver, e conviver, com o silêncio (Cada vez menos jovens querem viver com o silêncio. Na realidade, têm-lhe medo. O silêncio tornou-se, de resto, muito caro. Uma casa como esta, com um jardim sossegado, é uma exorbitância para um casal jovem, que vai possivelmente viver para um prédio, com paredes tão finas, que é possível ouvir tudo! Vivemos num inferno de ruído constante.) Tem de estar preparado para – e não riam de mim – saber passagens de cor. Aquilo que amamos, devemo-lo saber de cor. Não é por acaso que “coração” em latim é “cor”. Ninguém nos pode tirar nunca o que sabemos de cor. Deixem-me frisar: saber, saborear de cor, com o coração, não com a cabeça. Queremos sempre levar connosco o que amamos. Eu sou muito velho, mas tento, todos os dias, ou quase todos, aprender um poema, ou fragmentos de um poema, de cor, porque é assim que se agradece uma bela obra. Que outra maneira tenho eu de agradecer a Dante, a Cervantes, a Lope de Vega ou a Shakespeare? A partir do momento em que sabemos um poema de cor, algumas poucas linhas, ele começa a viver dentro de nós. Em terceiro lugar, precisa de ter alguma privacidade. Esta última condição é tremenda, provavelmente a mais difícil, em especial, para os jovens de hoje. Actualmente, a privacidade é o inimigo nº1 de todo o jovem. Não só se confessa tudo a toda a gente, como é imperativo que o façamos imediatamente. Ninguém guarda a experiência, qualquer que ela seja, só para si. Então, três condições: silêncio, aprender de cor e privacidade. De outra forma é impossível viver uma grande obra. Até porque as grandes obras são, geralmente, muito difíceis, exigentes. Querem algo de nós. Lêem-nos. Lêem-nos mais do que nós as lemos.”
in Entrevista a George Steiner, de Beata Cieszynska e José Eduardo Franco, in Revista Ler, Março 2011
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WITTGENSTEIN E A LIBERDADE

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A Cabana de Wittgenstein
Wittgenstein foi viver para Skjolden, Noruega, numa barraca que ele mesmo construiu num sítio completamente isolado, acabando por concluir que se podia pensar melhor na cabana que na cátedra.
De facto, dali começou a dirigir-se muito particularmente a quem quisesse iniciar-se num novo modo de ver as coisas e não à comunidade científica nem à cidadania.
Para ele, pensar podia chegar a ser um acto artístico.
O seu ideal filosófico foi a busca da lucidez libertadora, de abertura da consciência e do mundo; não queria oferecer verdade, mas veracidade, exemplos e não raciocínios, motivos e não causas, fragmentos e não sistemas.
Exilado da estupidez humana, no amparo do ar espontâneo do seu refúgio norueguês, junto ao fiorde Sogne, abriu com as suas atitudes um caminho para a filosofia: tratou de compreender, não de julgar; tratou de convencer, não de demonstrar.
(Tradução livre de um texto de Enrique Vila-Matas)
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