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Castelo de Bragança: Um dos mais bem preservados castelos portugueses

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O Castelo de Bragança fica situado na freguesia de Santa Maria, no centro histórico da cidade.

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Castelo de Bragança: Um dos mais bem preservados castelos portugueses

Castelo de Bragança: Um dos mais bem preservados castelos portugueses

O Castelo de Bragança fica situado na freguesia de Santa Maria, no centro histórico da cidade. É naquela cidade transmontana, sede de concelho e de distrito, e à margem do rio Fervença, que se encontra um dos mais importantes e bem preservados castelos portugueses. Do alto dos seus muros, até onde a vista alcança, vê-se a serra de Montesinho, a serra de Sanabria, a serra de Rebordões e a serra de Nogueira.

Este é um castelo de arquitetura militar, em estilo gótico, isolado, erguido a quase 700 metros acima do nível do mar, sendo o limite leste do núcleo urbano de Bragança.
A cerca da vila, adaptada à morfologia do terreno, composta por muralhas aprumadas, com cerca de dois metros de largura, reforçadas por 15 torres ou cubelos, de diferentes formas e normalmente mais altas que as muralhas. Algumas das ameias (aberturas no parapeito das muralhas, por onde os defensores visavam o inimigo) são rasgadas por seteiras retangulares. Interiormente a muralha possui duas portas, em arco de volta perfeita, interligadas pela via estruturante da cidade. A cerca integra ainda, a sudoeste, uma couraça para proteger uma fonte de abastecimento de água, o poço do rei, e, quase a oeste, uma alta torre com faces exteriores de seção semicircular ao centro.
No interior da cerca espalha-se o aglomerado de fundação medieval estruturado pela Rua Fernão o Bravo, com orientação leste/oeste, estabelecendo a comunicação entre as duas portas da muralha, a Porta do Sol, a leste, e a Porta da Vila ou de Santo António, a oeste, que dá acesso ao antigo arrabalde e ao rio. Ali o visitante pode apreciar as edificações do “DomusMunicipalis” (exemplar único no país da arquitetura civil românica e que se acredita tenha tido, primitivamente, as funções de cisterna), da Igreja de Santa Maria (ou de Nossa Senhora do Sardão) e o Pelourinho medieval.

Para defesa das suas gentes
Em meados do século X, numa altura em que se tentava repovoar a região de Guimarães com um esforço muito grande nesse sentido sobretudo pelo conde Hermenegildo Gonçalves e sua esposa Mumadona Dias, os domínios de Bragança tinham como senhor um irmão de Hermenegildo: o conde Paio Gonçalves. Posteriormente, o senhorio passou para a posse de um ramo da família Mendes, encontrando-se no domínio de Fernão Mendes de Bragança II, “tenens” da Terra de Chaves e senhor de Bragança, cunhado de D. Afonso Henriques (1143-1185). Considera-se que, nesse período, por razões de defesa, a povoação terá sido transferida para o atual sítio, no outeiro da Benquerença, à margem do rio Fervença, reaproveitando-se os materiais na construção das novas residências e de um castelo para a defesa das gentes.
As informações mais seguras referem entretanto que, pela importância de sua posição estratégica sobre a Galiza, em 1 de junho de 1187 recebeu carta de foral de Sancho I de Portugal (1185-1211), que ordenou o repovoamento e a edificação do castelo no lugar de Benquerença, dando isenções e privilégios aos moradores. Este soberano deixou em testamento, em março de 1188, uma verba para a construção das muralhas de Bragança, empreitada que durou várias décadas. Os conflitos entre este soberano e Afonso IX de Leão levaram a que esta região fosse invadida pelas forças leonesas (1199) até à reação do soberano português.
Afonso II de Portugal (1211-1223) confirmou o foral da vila (1219), e o mesmo fez Afonso III de Portugal (1248-1279), a 20 de maio de 1253. Ainda no reinado deste soberano, as Inquirições de 1258 referem a existência na vila de quatro paróquias: Santa Maria e Santiago intra-muros e São João e São Vicente no arrabalde. As terças das igrejas de Santa Maria de Bragança e de Grijó eram para a construção das muralhas de Bragança.
Sob o reinado de Dinis I de Portugal (1279-1325), entre 1261 e 1325, a pedido dos procuradores de Bragança, o soberano contribuiu para a reconstrução das muralhas.
O seu sucessor, Afonso IV de Portugal (1325-1357), ao subir ao trono, confiscou os bens de seu meio-irmão, D. Afonso Sanches (1289-1340), que então residia na vila de Albuquerque. Defendendo os seus interesses, D. Afonso Sanches declarou guerra ao soberano e invadiu Portugal pela fronteira de Bragança, matando quem lhe fizesse frente, saqueando bens e destruindo propriedades. A paz foi acordada, com dificuldade, pela viúva de D. Dinis, a Rainha Santa Isabel.
Posteriormente e já sob o reinado de Fernando I de Portugal (1367-1383), recebeu novas obras. Neste período, por via do forte envolvimento do monarca na disputa sucessória de Castela, no contexto da I Guerra Fernandina (1369-1370), Bragança foi cercada e conquistada pelas forças de Henrique I de Castela, retornando à posse portuguesa apenas mediante a assinatura do Tratado de Alcoutim (1371).
No contexto da afirmação da nova dinastia – a de Avis – teve lugar uma grande campanha de reforço das defesas da cidade, nomeadamente nas torres que ladeiam a porta principal, de planta pentagonal, na chamada “torre do relógio”, com reforços laterais semi-circulares, e nos cubelos semicirculares da barbacã do castelo, apenas documentadas em planta por Duarte de Armas (c. 1509).
Em 1401 foi estabelecida a Casa de Bragança pelo casamento de D. Afonso, conde de Barcelos e 1.º duque de Bragança, com D. Beatriz, filha de D. Nuno Álvares Pereira. Em 1409 tiveram início os trabalhos de consolidação das muralhas e a construção de torres, obras que duraram quarenta anos.
Afonso V de Portugal (1438-1481) fez a doação do castelo ao I duque de Bragança (28 de junho de 1449). A pedido de D. Fernando, II duque de Bragança, o soberano concedeu o título de cidade à vila de Bragança no dia 20 de fevereiro de 1464.

Museu histórico militar
O castelo foi classificado como Monumento Nacional por Decreto de 16 de junho de 1910. A partir da década de 1930 a Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) iniciou uma extensa intervenção de consolidação e restauro. Foram restauradas e reconstruídas as muralhas, torres e caminhos de ronda, incluíram-se ameias em toda a extensão das muralhas, demoliu-se o quartel oitocentista e vários edifícios contíguos aos muros. E em 1936 foi instalado um museu histórico-militar nas dependências da torre de menagem.
Os trabalhos prosseguiram nas décadas de 1940, 1950 e 1960. Viriam a ser retomados, na segunda metade da década de 1970, com destaque, no início da década de 1980, para as obras de recuperação da torre de menagem, visando requalificá-la para a reinstalação do museu militar. Em 22 de agosto de 2008 a Câmara Municipal de Bragança, atribuiu a medalha Municipal de Mérito ao Museu Militar de Bragança, na comemoração dos 25 anos daquela instituição.

A lenda da Torre da Princesa
No lado norte da cerca existe a chamada Torre da Princesa. A ela está ligada uma lenda que conta que quando Bragança ainda se chamava Benquerença, ali vivia com o seu tio, uma bela princesa. Era pretendida por um nobre mas pobre cavaleiro, que se viu na necessidade de partir em busca de fortuna, prometendo-lhe a princesa esperar pelo seu regresso, para pedir a sua mão a seu tio.
Durante vários anos a princesa recusou todos os seus pretendentes, até que o seu tio a prometeu a um amigo, tentando força-la ao compromisso. Mas a princesa confessou que o seu coração pertencia a outro homem, e que esperava pelo seu regresso. O tio decidiu usar um estratagema e, uma noite, disfarçado de fantasma, penetrou por uma das portas nos aposentos da princesa. Simulando ser o fantasma do jovem, disse-lhe que se não aceitasse casar-se com o novo pretendente, seria uma alma condenada. Mas apesar de ser noite, um raio de sol entrou pela segunda porta e desmascarou o tio. As portas passaram a ser conhecidas como Porta da Traição e Porta do Sol.

O acesso à cidadela realiza-se pela Rua do Santo Condestável e pela Rua da Rainha D. Maria I. No Castelo/torre de menagem localiza-se o Museu Militar de Bragança. Para os nossos leitores que pretendam visitar este local único, podem fazê-lo de terça-feira a domingo, das 9h às 12, da parte da manhã, e das 14h às 17, da parte da tarde. O custo dos bilhetes fica pelos dois euros no caso dos adultos e um euro para crianças e jovens até aos 17 anos e cidadãos acima de 65 anos. Há descontos especiais para famílias, grupos e escolas.

ver https://lusofonias.net/portugalizafilms/brigantiafilms/2128-bragan%C3%A7a-promo-2015.html

 

Batalha de Ormuz: a vitória de 6 naus contra 160 barcos de guerra persas | VortexMag

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Foi uma das maiores batalhas da história de Portugal protagonizada pelo grande Afonso de Albuquerque. Falamos da Batalha de Ormuz, no actual Irão.

Fonte: Batalha de Ormuz: a vitória de 6 naus contra 160 barcos de guerra persas | VortexMag

 

Batalha de Ormuz: a vitória de 6 naus contra 160 barcos de guerra persas

Foi uma das maiores batalhas da história de Portugal protagonizada pelo grande Afonso de Albuquerque. Falamos da Batalha naval de Ormuz, no actual Irão.

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Batalha de Ormuz
Ormuz – Irão

Conhece a fantástica história da Batalha de Ormuz? Ao raiar do dia 25 de Setembro do ano de 1507 começou a aproximar-se do fundeadouro principal da cidade de Ormuz uma estranha esquadra de seis naus, coberta de bandeiras e pendões que nunca haviam sido vistos por aqueles mares. Tratava-se de uma esquadra portuguesa que partira de Lisboa no fim do Inverno de 1506, integrada na armada de Tristão da Cunha. O seu capitão-mor chamava-se Afonso de Albuquerque!

Afonso de Albuquerque

Ormuz era nessa época um reino praticamente independente, embora vagamente vassalo do xá da Pérsia. Quem o governava não era o rei, que tinha apenas quinze anos, mas sim um grão-vizir todo poderoso chamado Cogeatar.

A chegada dos portugueses, com todo o seu aparato bélico, constituiu um choque mas não propriamente uma surpresa para este. Na verdade, durante as últimas cinco semanas não tinham cessado de chegar a Ormuz notícias alarmantes, mesmo aterradoras, acerca de uma esquadra de frangues (cristãos) e de um terrível capitão que estava pondo a ferro e fogo a costa de Omã.

Sabia-se que Calaiate, Curiate, Mascate, Soar e Corfação se haviam tornado vassalas do rei de Portugal; que aquelas que tinham resistido tinham sido tomadas à viva força e saqueadas; que aos prisioneiros de guerra tinham sido cortados os narizes e as orelhas.

costa de Omã

Dizia-se mesmo que os Portugueses comiam gente! Por tudo isto Cogeatar se sentia apreensivo e tratara de tomar as suas precauções. Proibira a saída de qualquer das cerca de sessenta naus que estavam fundeadas em Ormuz e guarnecera-as com muita gente de armas, ao mesmo tempo que mandava chamar a sua armada, constituída por cerca de cem terradas (navios parecidos com fustas) que se encontravam na costa da Pérsia.

Mas Afonso de Albuquerque era um actor consumado e um mestre na arte da guerra psicológica. Apesar de ter os navios e as guarnições a cair aos bocados e de os seus capitães estarem à beira da rebelião, comportou-se como se dispusesse da maior e mais bem equipada armada do mundo e acabou por convencer disso os seus adversários, criando neles um complexo de inferioridade e de receio.

Uma hora depois de ter fundeado, como não tivesse aparecido ninguém a cumprimentos, Albuquerque mandou recado à maior nau que estava no porto, junto da qual tinha largado ferro, para que o seu capitão viesse imediatamente a bordo, caso contrário a meteria no fundo!

Afonso de Albuquerque

Tratava-se de uma nau enorme, pertencente ao rei de Cambaia, que tinha a bordo perto de mil homens entre marinheiros e soldados. Pois o que aconteceu é que, perante o ultimato de Afonso de Albuquerque, o seu capitão acobardou-se e foi-se apresentar imediatamente no navio daquele.

Para o receber, Albuquerque montou uma encenação grandiosa, aparecendo ricamente vestido, rodeado de fidalgos e homens de armas cobertos com armaduras reluzentes e empunhando lanças e espadas, no meio de bandeiras, colgaduras e almofadas de seda, à mistura com pelouros, bestas e machados de abordagem.

Aproveitando o efeito produzido por todo este aparato, explicou amavelmente ao capitão da nau de Cambaia que ele, capitão-mor daquela esquadra, tinha vindo por mandado de el-rei D. Manuel de Portugal apenas para tomar Ormuz sob a sua protecção e autorizar todos os navios que navegavam por aqueles mares que o continuassem a fazer livremente desde que, evidentemente, o reconhecessem por soberano e senhor.

Ormuz

Pediu-lhe que levasse o recado a Cogeatar e que lhe dissesse mais o seguinte: que, no caso de estar disposto a aceitar tão generosa oferta, se devia apresentar no dia seguinte naquela mesma nau para assentar pormenores; caso contrário, que teria muita pena, mas que se veria obrigado a queimar todas as naus que estavam no porto e a tomar Ormuz pela força das armas como havia feito com as cidades da costa de Omã que lhe tinham resistido.

E acrescentou, à laia de confidência, que a si tanto lhe fazia, mas até que preferia que Cogeatar recusasse porque ele próprio, assim como os fidalgos e soldados que ali via, já estavam com saudades de um bom combate!

Marinha de Guerra Portuguesa

Ao receber a mensagem de Albuquerque, Cogeatar pensou que ele devia ser doido para se atrever a desafiá-lo, apenas com seis pequenas naus metidas no meio de sessenta muito maiores e bem guarnecidas de gente de armas.

Mas o capitão da grande nau do rei de Cambaia aconselhou-o a que tivesse cautela. O capitão português o os fidalgos e soldados que estavam com ele pareciam gente muito perigosa. Que se lembrasse do que tinha acontecido às cidades da costa de Omã!

Cogeatar era um político hábil e prudente. Por isso não se precipitou. Foi consumindo todo o dia 26 com respostas evasivas e dilatórias, procurando ganhar tempo, para que a sua armada de terradas pudesse chegar a Ormuz, o que veio a acontecer nessa mesma noite.

Ormuz

Notando que a coberto da escuridão as naus que estavam mais perto dos navios portugueses mudavam de posição e ouvindo o rumor provocado pelo intenso movimento dos batéis que traziam reforços de armas e soldados, Afonso de Albuquerque compreendeu que Cogeatar não se assustara suficientemente e decidira combater.

Ao amanhecer do dia 27, os portugueses puderam constatar que as naus inimigas tinham ido fundear mais junto à praia, muito próximas umas das outras, tendo a maior parte delas os costados protegidos com arrombadas feitas com sacos de algodão. Em algumas, já as guarnições estavam tocando trombetas, fazendo grande alarido e agitando as armas.

Detrás das naus, saiam em grupos compactos as terradas de Ormuz que vinham tomar posição pelo outro bordo dos nossos navios, de modo a cercá-los completamente. Ao longo da praia viam-se muitos esquadrões formados e alguns baluartes com artilharia.

Ormuz

Afonso de Albuquerque não perdeu tempo. Como o vento era muito fraco, ordenou aos batéis que tomassem as suas naus a reboque e foi fundear a curta distância da grande nau do rei de Cambaia e das outras naus que lhe pareceu serem as principais da armada inimiga. E, sem mais detença, abriu fogo!

O inimigo respondeu de imediato, travando-se um furioso duelo de artilharia, acompanhado por contínuas descargas das espingardas e arremessos de flechas, tudo isso no meio de um barulho ensurdecedor e de uma densa fumarada que o vento, por ser muito fraco, não conseguia dissipar.

Afonso de Albuquerque

Aproveitando o empenhamento dos portugueses no combate com as naus e as nuvens de fumo que, em parte, cobriam os seus movimentos, as terradas de Ormuz atacaram várias vezes pelo bordo contrário. Começaram então as nossas naus a experimentar algumas dificuldades, pois tinham pouca gente e viam-se obrigadas a sustentar o combate de artilharia com as naus adversas por um bordo e, ao mesmo tempo, repelir os ataques das terradas pelo outro.

Porém, como estas, devido ao seu número, eram forçadas a avançar em massas compactas, ofereciam um alvo ideal aos nossos bombardeiros, que não perdiam um tiro. Depois de algumas delas terem sido afundadas e outras terem sofrido avarias graves e terem tido muitos mortos e feridos, desistiram dos seus ataques e regressaram à praia.

Marinha de Guerra Portuguesa

Albuquerque aceitou a rendição a troco do pagamento de um pesado tributo anual e da autorização para construir uma grande fortaleza na ponta norte da ilha, destinada a assegurar em definitivo o domínio do Golfo Pérsico e regiões circundantes pelos Portugueses.

Na batalha naval de Ormuz perderam os Ormuzinos cerca de oitenta naus, entre as que foram afundadas, queimadas no mar ou em terra, ou capturadas bem como cerca de trinta terradas afundadas ou capturadas e cerca de três mil mortos além de muitos mais feridos. Do lado português houve apenas onze feridos, entre os quais alguns graves.

Marinha de Guerra Portuguesa

Terminada a batalha os soldados portugueses puderam verificar que muitos dos inimigos mortos tinham flechas espetadas no corpo, arma que os portugueses não usavam. Supomos que terão sido flechas disparadas pelas terradas que, passando por cima das naus portuguesas, terão ido atingir as guarnições das naus de Ormuz que estavam do lado contrário. A versão que correu entre os nossos para explicar o facto foi que Deus tinha enviado os anjos, armados com arcos e flechas, para combater a seu lado!

Distinção – Marcelo condecora Aristides Sousa Mendes com Grã-Cruz da Ordem da Liberdade

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Presidente homenageia antigo cônsul numa cerimónia que decorrerá na Casa do Passal, Cabanas de Viriato, que pertenceu a Aristides de Sousa Mendes

Fonte: Distinção – Marcelo condecora Aristides Sousa Mendes com Grã-Cruz da Ordem da Liberdade

O infante D Henrique e o comércio de escravos

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Por acidente, descobriu-se mais um pedaço da história marítima portuguesa. Em Lagos, o tráfico negreiro quatrocentista tornou-se palpável.

 

Texto Paulo Rolão Fotografia Miguel Almeida/Dryas

 

 

Produzida quatro séculos depois do início do tráfico negreiro, esta gravura do século XIX destinava-se a sensibilizar o público para os horrores da escravatura. Gravura: Johan Moritz Rugendas, “Viagem pitoresca ao interior do Brasil”.

Para quem gosta de quebra-cabeças intrincados, com peças de encaixe difícil e cuja solução só se vislumbra após longo trabalho de sapa, esta é a história ideal. Aconteceu em Lagos, na sequência da construção de um novo parque de estacionamento a cargo da empresa Estacionamentos de Lagos, S.A (EL, SA). Entre o início e o fim deste quebra-cabeças distam quase seiscentos anos. No tabuleiro de jogo, o tempo, a erosão e a acção humana distorceram algumas peças, quebraram outras e retiraram o significado imediato de muitas.

No início de 2009, depois de trabalhos de avaliação do impacte arqueológico, foi descoberto um importante conjunto de ossadas humanas, muitas das quais colocadas em posição anormal.Com apoio da EL, SA, uma área da obra foi devidamente delimitada pela Dryas, uma empresa de arqueologia com sede em Coimbra e que presta serviços neste âmbito. Sabia-se que naquele local teria existido no final do século XV uma leprosaria (o próprio termo gafaria ainda persiste na toponímia), o que talvez explicasse os esqueletos, mas, na verdade, a disposição de alguns deles, a descoberta de mulheres com filhos nos braços e os traços negróides de mais de centena e meia de indivíduos lançaram para o ar várias dúvidas. Estavam ali mais do que restos mortais de doentes com lepra, embora a descoberta da gafaria, por si só, fosse inédita no contexto arqueológico português.

Cronologia e as rotas dos principais movimentos de tráfico negreiro. Mapa: NGM-P. Fonte: “An Atlas of the Transatlantic Slave Trade”, de David Eltis e David Richardson. reproduzido com autorização de Yale University Press.

“Quem quer passar além do Bojador / Tem que passar além da dor”, refere o poema “Mar Português”, escrito em 1934 por Fernando Pessoa. Não deixa de ser curiosa esta alusão, exactamente 500 anos após Gil Eanes ter dobrado o também designado cabo Medo. Corria o ano de 1434 quando essa entrada de terra mar adentro, no actual Saara Ocidental, foi por fim vencida e, com esse feito, se inaugurou um novo marco na expansão marítima nacional.

Para trás, já tinham ficado as descobertas das Canárias em 1341, Porto Santo e Madeira respectivamente em 1418 e 1419 e os Açores em 1427, sob o impulso da conquista de Ceuta de 1415, que corresponde à data “oficial” do arranque da Expansão.

Apesar das regalias oferecidas a quem pretendesse colonizar alguns destes territórios encontrados vagos de gente aquando das suas descobertas, cedo se percebeu que os incentivos não sensibilizaram quem tivesse vontade de abandonar a pátria continental e partir um pouco à aventura para terras desconhecidas. Mas, mais do que isso, os primeiros colonos depressa se aperceberam das dificuldades em desbravar aquela terra. Tornava-se premente a necessidade de mão-de-obra.

Mas, mais do que isso, os primeiros colonos depressa se aperceberam das dificuldades em desbravar aquela terra. Tornava-se premente a necessidade de mão-de-obra.

Depois de as caravelas esquadrinharem à bolina o golfo da Guiné e costa da Mina e dobrarem em 1441 o cabo Branco, avistaram-se em 1456, pela primeira vez, as ilhas cabo-verdianas. Na costa ocidental africana, foram iniciados contactos com os habitantes locais, que se poderiam tornar na tal “força de braços” que tanto urgia para aproveitar os territórios já encontrados.

Não surpreende, então, que nos inícios da década de 1440 diversos navios lançassem âncora em algumas cidades portuárias de Portugal com o intuito de desembarcar indivíduos de raça negra provenientes da costa ocidental africana, com a finalidade de serem vendidos como escravos após licitação em praça pública. É aqui que o “mistério” de Lagos entronca.

Embora se soubesse que havia comercialização de escravos, escasseava informação no registo arqueológico – existiam só alguns documentos, um dos quais escrito por Gomes Eanes de Zurara.

No capítulo XXIV da sua “Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné” (1451), este cronista escreve sobre o dia 8 de Agosto de 1444: “Chegaram as caravelas a Lagos (…) Pelo qual me parece que será bem que de manhã os mandeis tirar das caravelas, e levar àquele campo que está além da porta da vila, e farão deles cinco partes, segundo o costume (…) O Infante disse que lhe prazia; e no outro dia muito cedo mandou Lançarote, aos mestres das caravelas, que os tirassem fora e que os levassem àquele campo, onde fizessem suas repartições (…)”

A descoberta de esqueletos com indícios de manietamento e sem a orientação tradicional de sepultamento foi a primeira prova de que o conjunto de esqueletos de Lagos incluiria escravos.

Voltamos a olhar para o Vale da Gafaria. Aquele campo para lá da porta da vila a que se refere o cronista ajusta-se ao local da construção do parque de estacionamento, fora das muralhas citadinas. Lagos era então a base das navegações, sendo legítimo que, ao atracarem no seu porto, as caravelas descarregassem os escravos. A substanciá-lo, volta a estar a crónica de Zurara, que refere o sofrimento dos cativos. “Uns tinham as caras baixas e os rostos lavados com lágrimas, olhando uns contra os outros; outros estavam gemendo mui dolorosamente, esguardando a altura dos céus (…) outros feriam seu rosto com suas palmas, lançando–se estendidos em meio do chão”, escreveu. cena seguinte deste quebra-cabeças passa-se na privacidade de um laboratório. Mais de um ano depois de terminarem as escavações de emergência, a equipa da Dryas prossegue a investigação associada aos elementos recolhidos no Vale da Gafaria. Apesar dos indícios que suportam a hipótese de que se trata de um local de sepultamentos, falta a prova dos nove, ou melhor, a “prova dos quatrocentos”: será que a datação por radiocarbono dos vestígios osteológicos comprova que estes indivíduos terão vivido no século XV?

Numa lixeira perto da muralha de Lagos, foram encontrados os restos de 155 indivíduos africanos. Os trabalhos científicos permitiram concluir que estes terão sido dos primeiros escravos a aportar à cidade algarvia no século XV.

Apoiados pelo Centro de Investigação em Antropologia e Saúde, os arqueólogos retiraram fragmentos de costela de um dos primeiros indivíduos inumados no contexto arqueológico – o esqueleto conhecido por “indivíduo 169” – e enviaram-nos para datação. No contexto da arqueologia, as disputas sobre datação costumam ter um árbitro inatacável. A datação por radiocarbono é como o algodão: não engana.

Após algumas semanas de espera, o resultado comprovou as expectativas. O indivíduo em causa terá morrido entre os anos 1420 e 1480 d.C. – os primeiros momentos da história portuguesa (e de Lagos) associados ao tráfico de escravos de África para a Europa. “Parece que temos mesmo algumas das primeiras vítimas deste comércio inaugurado no tempo do infante Dom Henrique”, sintetiza Maria João Neves, arqueóloga da Dryas.

Não subsistem dúvidas, portanto, de que os esqueletos encontrados em Lagos são referentes a escravos – exceptuando os da gafaria, evidentemente.

Não subsistem dúvidas, portanto, de que os esqueletos encontrados em Lagos são referentes a escravos – exceptuando os da gafaria, evidentemente. A juntar a estes elementos, foram descobertos ainda utensílios tipicamente africanos associados a duas sepulturas. A configuração craniana não caucasóide valida igualmente esta dedução. Mas havia mais um elemento desagradável à espera dos arqueólogos: muitos dos esqueletos apresentavam-se com as mãos juntas como se ainda estivessem amarrados segundo técnicas de imobilização características da época. “Há um desrespeito claro pelas regras de enterramento canónico, o que indicia uma desvalorização dos indivíduos falecidos”, diz Miguel Almeida, o arqueólogo que coordenou os trabalhos. O agrilhoamento foi posto de parte, uma vez que não se encontraram grilhetas ou outros vestígios arqueológicos. Teriam sido, ao invés, manietados com cordas ou outros materiais perecíveis.

O agrilhoamento foi posto de parte, uma vez que não se encontraram grilhetas ou outros vestígios arqueológicos.

Também na mesma linha de importância, realce-se o local onde estes foram encontrados – além da casa da leprosaria, aquele terreno fora das muralhas serviu até ao século XVII como lixeira. Maria João Neves fundamenta a ideia: “Juntamente com os escravos, foram encontrados inúmeros desperdícios e vestígios, e não se deve esquecer que, à época, os escravos também eram encarados como ‘lixo’”. No entanto, ressalve-se que existem dois tipos de enterramentos: “Alguns foram simplesmente atirados para o aterro, mas outros denotam preocupação de enterro, com alguma dignidade, digamos assim, talvez porque fossem escravos de segunda ou terceira geração, já nascidos em Lagos, talvez por terem morrido já depois de terem sido comprados ou até por diferenças de crenças entre quem os sepultou. No fundo, eram marginais à sociedade de então, daí terem sido depositados na lixeira.”

Lagos foi o primeiro porto continental português utilizado como entreposto do tráfico negreiro. Aqui chegaram milhares de escravos durante o século XV.

Não se pense, contudo, que o comércio esclavagista se circunscrevia a Lagos ou ao Algarve. Com efeito, as caravelas podiam parar em Lagos, mas seguiam a sua rota, na maior parte dos casos na direcção de Lisboa. Aqui, obviamente, eram também licitados e podiam seguir para diversos destinos – a capital, outros pontos de Portugal e, inclusive, outras paragens europeias e até para as Américas. Basta lembrar que na toponímia de Lisboa, Elvas ou Rio de Janeiro, há travessas do Poço dos Negros e a tradição oral de Lagos ainda recorda um Mercado dos Escravos. O que realmente distingue o caso de Lagos em relação aos restantes em Portugal é que nunca, como ali, foram encontrados tantos vestígios de comercialização de escravos deste período.

O trabalho não acabou com a recolha dos 155 indivíduos – dos quais 99 adultos – entre homens, mulheres e crianças.

O trabalho não acabou com a recolha dos 155 indivíduos – dos quais 99 adultos – entre homens, mulheres e crianças. Apesar de as escavações terem sido dadas como concluídas há sete anos, os dados ainda estão a ser estudados e analisados pela equipa da Dryas. Maria João Neves assegura que “ainda só estamos no início. É um trabalho minucioso, paciente, mas feito com muita paixão. E porque se trata realmente de uma situação extraordinária em termos mundiais, temos imensa força de vontade de que, um dia, se conte a verdadeira história deste caso de Lagos”.

Mesmo com toda a experiência arqueológica, uma escavação que envolva esqueletos humanos é sempre especial para os investigadores e para os transeuntes. Muitos dos trabalhadores que construíram o parque de estacionamento eram portugueses, mas havia igualmente brasileiros e africanos.

Crânio com evidentes modificações dentárias, uma prática tradicional na costa ocidental africana.

“Depois de saberem a história, os brasileiros comoviam-se por pena, como que imaginando o que alguns deles poderiam ter penado se tivessem ido para as terras de Vera Cruz e que poderiam por lá ter disseminado o seu sangue”, conta Maria João Neves. “Da parte dos africanos, senti respeito, como se estivessem a lidar directamente com os seus ascendentes. Uma imagem que me fica na memória é vê-los a observarem silenciosamente os esqueletos que recolhíamos…”

Por ora, esta é uma história incompleta, pois a investigação vai continuar. Há uma questão que ainda atormenta Miguel Almeida e Maria João Neves. De onde vinham estes escravos? Com as tecnologias modernas, cruzando informação morfológica, registos etnográficos sobre práticas de modificação dentária (abundantes nos esqueletos de Lagos) e informação documental sobre as rotas de escravos mais comuns nos séculos XV e XVI, talvez seja possível determinar a origem geográfica daqueles seres humanos que, involuntariamente, escreveram uma página dos Descobrimentos.

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Coisas que você não sabia: 11 marcas de carros portugueses | VortexMag

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Foram criados, desenhados e construídos em Portugal. Mas infelizmente nenhum projecto vingou. Descubra 11 marcas de carros portugueses.

Fonte: Coisas que você não sabia: 11 marcas de carros portugueses | VortexMag

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Baçaim, a capital desconhecida da Índia portuguesa

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Baçaim: A AngKor Vat de origem portuguesa

13.09.2015 às 8h00

Mais de 600 quilómetros percorridos de comboio, em condições extremamente precárias, levam a equipa do filme até Bombaim e à cidade abandonada de Baçaim, antiga capital do estado da Índia portuguesa do norte.

Bombaim antigo território português foi oferecido aos ingleses como dote de casamento de Dona Catarina de Bragança que, também acabaria por introduzir na corte inglesa o hábito do chá das cinco. É com esta oferta que se inicia a queda do império português do chamado “Estado do Norte da Índia”.

A equipa irá visitar várias cidades que possuem ainda resquícios da presença portuguesa: Damão, Diu e as ruínas de Baçaim antiga capital, hoje tomada pela selva.

Durante as filmagens é interessante perceber como alguns descendentes de portugueses confundem o seu catolicismo com o ser português. Aos seus olhos quem é católico é português.

“É meio estranho você caminhar por aquilo que vc percebe ter sido grandioso.”
Giovane Brisoto

Ruínas portuguesas em Baçaim, estado de Maharashtra, Índia
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Ruínas portuguesas em Baçaim, estado de Maharashtra, Índia

Ruínas portuguesas em Baçaim, estado de Maharashtra, Índia
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Ruínas portuguesas em Baçaim, estado de Maharashtra, Índia

Miguel Gonçalves Mendes à esquerda e Giovane, ao fundo, nas ruínas. Baçaim, estado de Maharashtra, Índia
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Miguel Gonçalves Mendes à esquerda e Giovane, ao fundo, nas ruínas. Baçaim, estado de Maharashtra, Índia

Pedro Souza, editor, técnico de som e piloto de drone, nas ruínas portuguesas. Baçaim, estado de Maharashtra, Índia
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Pedro Souza, editor, técnico de som e piloto de drone, nas ruínas portuguesas. Baçaim, estado de Maharashtra, Índia

Praia em Damão, Índia
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Praia em Damão, Índia

Giovane à frente da porta do pequeno forte de Damão e Pedro e Miguel atrás da câmera
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Giovane à frente da porta do pequeno forte de Damão e Pedro e Miguel atrás da câmera

Moradora de Damão canta em português
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Moradora de Damão canta em português

Paragens
27 Damão, Índia
28 Diu, Índia

km percorridos 21.789
km a percorrer 34.211
Dias de Filmagens 80
Dias para o término da viagem

Nova Portugalidade
35 mins ·
Baçaim, a capital desconhecida da Índia portuguesa

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