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o uruguai português – O PRIMEIRO GOVERNADOR australiano LUTOU PELA MARINHA PORTUGUESA

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extraído de CHRONICAÇORES VOL 5 LIAMES E EPIFANIAS AUTOBIOGRÁFICAS ED LETRAS LAVADAS 2022

6.2.5. O PRIMEIRO GOVERNADOR australiano LUTOU PELA MARINHA PORTUGUESA

Finalmente, a História repõe factos reais, desimbuídos de conotações patrioteiras. É assim que devemos considerar, um livro de 1984 do australiano Kenneth Gordon McIntyre, “The Rebello Transcripts, Governor Phillip’s Portuguese Prelude.” Para os desconhecedores da história da colonização da Austrália, o Capitão Arthur Phillip foi o Comandante da Primeira Armada que chegou à Austrália em janeiro 1788, oito anos depois da alegada descoberta do Capitão Cook, após 257 dias de tormentosa viagem, com 11 barcos, 730 degredados (160 mulheres), 250 marinheiros e homens livres, para criarem a primeira colónia britânica no continente.

Arthur Phillip nasceu em Fulham em 1738, filho de Jacob Phillip, professor de línguas, de origem alemã, e de Elizabeth Breach, viúva dum Capitão da Marinha Real Inglesa. Estudou no Hospital de Greenwich tornou-se aprendiz de marinheiro, aos treze anos na Marinha mercante na Gronelândia.

Aos quinze, alistou-se na Marinha Real e esteve na Guerra dos Sete Anos de 1756-1763. Tomou parte na Batalha de Minorca (1762), promovido a Tenente, com meio soldo logo que a Guerra terminou, casou, estabeleceu-se numa quinta (Lyndhurst, Hampshire) recorrendo à agricultura para sobreviver durante os dez anos seguintes.

Esteve depois nas colónias sul-americanas na guerra opondo a Espanha (e França), contra Portugal e Inglaterra, e da qual estas sairiam vencedoras, com a exceção de Rio Grande, que ficaria espanhol. O Tratado de Paris (1763) gerou trocas de territórios coloniais entre as potências europeias: a Espanha troca a Flórida por Havana, recupera Manila e as Filipinas, e devolve a Portugal a Colónia do Sacramento.

Em 1773, os Portugueses recrutavam oficiais de Marinha, e Phillip, Tenente Naval, obtém o posto de Capitão. Três anos mais tarde, comandava uma fragata portuguesa encarregue da proteção de Colónia. Era uma praça penal permanentemente ameaçada pela Espanha. Os habitantes foram obrigados a comer ratos, cães e gatos para sobreviverem ao cerco. O profissionalismo de Phillip granjeou-lhe a admiração dos portugueses. Em 1777, a Armada espanhola tentava provocar um confronto com os portugueses ao largo da costa, o comodoro irlandês, MacDoual, depois de consultar Phillip, disse ser de evitar um confronto direto.

Ao contrário do escrito nas biografias, a nomeação para Governador da colónia australiana, não corresponde à brilhante carreira na Real Marinha Britânica, mas aos relevantes serviços na Marinha Portuguesa.

O livro de McIntyre “The Rebello Transcripts” baseia-se num estudo de finais do séc. XIX, do General Jacintho Ignácio de Brito Rebello, arquivista da Torre do Tombo, que, a pedido de historiadores australianos, estudou a carreira do Capitão Phillip ao serviço dos portugueses. Embora os dados tenham estado à disposição dos historiadores, o desconhecimento da história não permitiu o seu aproveitamento.

Consagrados, como George MacKaness ao publicar, em 1937, a biografia do Almirante referem erradamente a defesa da “colónia” (Brasil), em vez de Colónia del Sacramento, hoje território uruguaio.

Mais tarde, 1778, por fidelidade, Phillip coloca-se à disposição da Inglaterra para a Guerra da Independência (EUA), após a dispensa pelos portugueses dos seus notáveis serviços.

Colocado na Reserva por 16 meses, aos 43 anos (1781) o Almirantado deu-lhe o comando dum navio de 64 canhões “Europa”. Phillip foi recomendado para o lugar, pela meritória ação ao serviço da Armada Portuguesa.

Tal como Colónia do Sacramento, de difícil linha de abastecimentos, também Botany Bay representava enorme desafio. Em 1786 conduzia a Primeira Armada a Botany Bay, daí a importância de Phillip para a história da Austrália.

A Primeira Armada arribara após meses de tormentosa viagem. Phillip escolheu Sydney Cove, vasto porto natural, a norte de Botany Bay. Das 1030 pessoas 3/4 eram condenados, e os restantes marinheiros e oficiais. Durante cinco anos com inabalável otimismo, tentou criar uma colónia viável com material humano inadequado. A maioria dos condenados pertencia às mais baixas classes. Concedeu terras para amanharem ao terminarem as sentenças. Isto não os transformou em classe diligente de agricultores. Apenas 13 colonos livres embarcaram na sua governação para criarem uma colónia viável. A fome era uma ameaça constante.

A Primeira Armada levara mantimentos para dois anos. A 2ª Armada chegaria a junho 1790 e a 3ª em julho 1791. Até ao reabastecimento, todos os bens eram racionados. Fundou-se Parramatta como centro agrícola com os condenados na lavoura. Faltavam animais de carga e equipamento, o que aliado às condições locais e à dificuldade de criar uma colónia nova tornavam bem difícil tal desiderato.

Quando, doente, regressou a Inglaterra em dezº 1792, o núcleo urbano de três mil pessoas não produzia os géneros necessários para sobreviver. Os marinheiros foram substituídos pelo New South Wales Corps, em 1791, promovendo trocas comerciais mercantis entre a Índia e os EUA. A colónia sobreviveria com mais navios, mas com o futuro incerto devido ao elevado custo duma colónia longínqua e cara.

A visão de Phillip para a viabilidade com colonos livres demorou tempo, após anos de privações. Antes de sair deixou as linhas mestras de sobrevivência económica. Foi promovido a Contra-Almirante (1798), reformou-se (1805) em Bath onde faleceu (1814) Almirante.

 

QUADRO I – A LUTA PELA COLÓNIA DE SACRAMENTO

1494 TRATADO DE TORDESILHAS Espanhol n
1679 Fundação de Colónia pelo Príncipe Pedro Português
1680 Destruição de Colónia pelos Espanhóis Espanhol
1683 Devolução de Colónia após negociações Português
1705 Captura. Guerra da Sucessão em Espanha Espanhol
1713 Devolução. Tratado de Utreque (Utrecht) Português
1750 Renegação do Acordo. Tratado de Madrid Espanholn
1761 Revogação do Acordo. Tratado do Pardo Portuguêsn
1762 Captura. Guerra dos Sete Anos Espanhol
1763 Devolução. Tratado de Paris Português
1777 Destruição pelos espanhóis Espanhol
1821 Anexação por Portugal Português
1822 Independência do Brasil Brasileiro
1828 Fundação do Uruguai Uruguaio

n Denota apenas mudança teórica do domínio legal, já que na prática (fisicamente) nada se alterou.

QUADRO II – CARREIRA DO CAPITÃO PHILLIP NA MARINHA PORTUGUESA
 177425 agostoSolicita autorização para admissão na Marinha Portuguesa 
  22 dezºParte de Londres para Lisboa 
 177514 janºNomeado Capitão da Marinha Portuguesa 
  09 fevºParte de Lisboa ao comando da “Belém” 
  ? maioChega ao Rio de Janeiro 
  28 setºAo comando da “Pilar” com destino a Colónia 
  22 outºA “Pilar” parte do Desterro 
  ? novºRegressa ao Rio, partindo logo a seguir. 
 177627 janºAo comando da “Pilar” ruma a Colónia 
  18 agoA “Pilar” intervém na defesa de Colónia 
  29 dezºParte de Colónia 
 177720 fevºFica baseado na Ilha de Santa Catarina 
  marçoIntegrado num Esquadrão Naval no Rio de Janeiro 
  01 abrParte ao comando da “Pilar” numa missão de defesa a sul 
  26 abrRegressa triunfante com um barco inimigo aprisionado 
  29 maioNova partida em patrulha às águas do sul 
  23 outºNomeado Capitão do “Santo Agostinho” 
 177810 maioParte do Brasil com destino a Lisboa 
  04 agoChegada a Lisboa 
  24 agoPagamento e exoneração da Marinha Portuguesa 

extraído de CHRONICAÇORES VOL 5 LIAMES E EPIFANIAS AUTOBIOGRÁFICAS ED LETRAS LAVADAS 2022

O Uruguai Já Foi Português

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♔ | Sabia Que… O Uruguai Já Foi Português
Em 31 de Julho de 1821, a Banda Oriental (actual Uruguai) foi incorporada oficialmente ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. A partir dessa data, o território, que estava ocupado desde 1817, passou a ser administrado sob a denominação de Cisplatina.
A região cisplatina era disputada pelas coroas de Portugal e da Espanha desde a fundação da Colónia do Santíssimo Sacramento (1680), sendo objeto de vários tratados territoriais, dos quais os principais foram o Tratado de Madrid (1750), o Tratado de Santo Ildefonso (1777), também, chamado Tratado dos Limites e o Tratado de Badajoz (1801). Na posse espanhola, com a independência da Províncias Unidas do Rio da Prata, constituiu-se em território daquele país até 1816 quando foi invadida pelo general Carlos Frederico Lecor, comandante da Divisão de Voluntários Reais do Príncipe, para a Coroa portuguesa, na Guerra contra Artigas. Ali desenvolveu uma inteligente política de ocupação, com a fundação das Escolas Mútuas do Método Lancaster e o apoio às elites Orientais. Em 1821, foi incorporado ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves pelo príncipe-regente português, com o nome de Província Cisplatina. A anexação foi justificada, à época, pelos alegados direitos sucessórios que sua esposa, a rainha Carlota Joaquina, teria sobre a região.
Com a proclamação da independência do Brasil em 7 de Setembro de 1822, o Imperador D. Pedro I estava na prática a declarar guerra a Portugal, e na Bahia e na Cisplatina, houve grande resistência à separação do Brasil do Reino Unido com Portugal.
A Guerra da Cisplatina ocorreu de 1825 a 1828, entre Brasil e Argentina, pela posse da Província de Cisplatina, actual Uruguai.
O conflito foi travado entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata (recém-independentes de seus colonizadores, Portugal e Espanha) pela posse da Província Cisplatina, a região da atual República Oriental do Uruguai. Localizada na entrada do estuário do Rio da Prata, a província era uma área estratégica, já que quem a controlava tinha grande domínio sobre a navegação em todo o rio da Prata, além de acesso aos rios Paraná e Paraguai.
Os argentinos reivindicavam-na, assim, como parte do antigo Vice-reinado da Prata. O Império do Brasil a mantinha como necessária para a defesa das províncias do Sul.
Em 27 de Agosto de 1828, o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata assinaram o Tratado do Rio de Janeiro. O documento estabeleceu a independência da República Oriental do Uruguai. No dia seguinte, com a assinatura do Tratado de Montevidéu, chegava oficialmente ao fim a Guerra da Cisplatina, iniciada três anos antes.
O desfecho desfavorável ao Brasil agravou a crise política no país. A perda da província foi mais um motivo para a insatisfação dos brasileiros com o Imperador D. Pedro I, que acabou renunciando, em 1831.
Miguel Villas-Boas | Plataforma de Cidadania Monárquica
José Bárbara Branco

Sobre esta extraordinária campanha militar e política, cujo fim era trazer a fronteira brasileira até ao Rio da Prata, vale a pena ler o II volume da obra de F.S. de Lacerda Machado (1933) “Expedição a Montevideo”:
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MORREU HÁ 10 ANOS

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Hoje assinala-se uma década sem Manuel Ferreira (1916–2012). O jornalista, escritor, biógrafo e historiador, autor de mais de três dezenas de publicações, entre elas o icónico conto açoriano «O Barco e o Sonho», continua bem presente na minha memória, “alto como as estrelas, livre como o vento”.
Estas duas fotografias, da autoria de José António Rodrigues, pertencem ao arquivo da Publiçor e foram recentemente partilhadas comigo pelo major-general José Alfredo Ferreira Almeida, que teve o privilégio de acompanhar o trabalho do pertinaz defensor da autonomia e da açorianidade e com quem tenho vindo a trocar impressões sobre aquele período áureo.
Urbano Bettencourt, Maria João Ruivo and 28 others
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Santos Narciso

O grande jornalista e escritor Manuel Ferreira morreu há dez anos, era 1 de Dezembro de 2012. Recordo-o aqui com aquilo que escrevi no Correio dos Açores no dia 29 de Janeiro de 2016, no centenário do seu nascimento.
Pouco tempo antes da inesperada morte de Mário Mesquita, tínhamos conversado sobre a ideia de uma grande homenagem pública à memória de Manuel Ferreira. Pensava Mário Mesquita constituir uma Comissão para levar a efeito esta homenagem, para a qual me convidava, estando também a pensar na edição de um livro sobre o escritor. Com a morte de Mário Mesquita, nunca mais ouvi falar no projecto.
Fica aqui, em jeito de homenagem, o que escrevi em 2016.
Pedras para o Templo
Não! Não é apenas o título de um dos mais marcantes livros de Manuel Ferreira! Um livro em que ele quis condensar os mais marcantes editoriais que escreveu nos anos sessenta e setenta do século passado, aqui, neste “Correio dos Açores” de que, em dois períodos distintos, foi Chefe de Redacção. Manuel Ferreira, cujo centenário de nascimento está a decorrer este ano, desde o dia 29 de Janeiro, é ele mesmo uma “Pedra para o Templo” desta catedral de sonhos e lutas que é a Autonomia dos Açores.
Os editoriais de Manuel Ferreira não se mediam por parágrafos! Contavam-se por números, escarrapachados, a romano, a duas colunas, de alto abaixo, a abrir a primeira das duas ou quatro páginas que era o “seu jornal”, um lençol de papel, com cheiro de tinta fresca, quando ainda pontificava a tipografia à moda de Gutenberg, prova de galeão e prova repetida de página, batida a soco, húmida de água e suor de horas de composição, letra a letra, com o carinho de quem amassava o pão da opinião e a força da cultura que a tecnologia de hoje remeteu para honras de museu.
Manuel Ferreira quando agarrava num assunto, jamais dele se afastava. Ia até às últimas consequências. Era brusco, severo e de difícil trato, mas para ele, os ideais não se compadeciam com “paninhos quentes”.
Entrei no “Correio dos Açores” em 1973, levado pela mão de Ruy-Guilherme de Morais. Encontrei Manuel Ferreira e Gustavo Moura, todos os dias à noite, porque fechar o jornal antes da meia-noite, era milagre que raramente acontecia. Manuel Ferreira fez com que eu me “enfarinhasse” nas questões políticas e sociais de então, lendo, recortando e arquivando muito daquilo que ele e seus colaboradores escreviam. E posso aqui citar: Engenheiro Costa Matos, Dias de Melo, Branco Camacho, Deodato Magalhães, e tantos outros, para além de Ruy-Guilherme e Gustavo Moura.
Com Manuel Ferreira passei a noite do 25 de Abril no jornal: lembro-me, às tantas da noite, a aflição do Dr. Ernesto Macedo, o último censor, porque o jornal não tinha ido à censura… Manuel Ferreira, com aquele brilho que qualquer triunfo dava ao seu olhar, apenas lhe disse, mais ou menos isto: “ Nem hoje, nem nunca mais; a censura acabou. Você está despedido”.
Mais do que jornalista de casos, Manuel Ferreira era um jornalista de causas e como tal, com a sua inconfundível verve, tornou-se um temível polemista, como eu jamais vi outro. Sem querer ser exaustivo, cito apenas algumas das sua célebres intervenções, durante semanas ou meses, sobre temas quentes da actualidade então, com Agostinho Sá Vieira, Carreiro da Costa, Cândido Pamplona Forjaz, ou mesmo com seu cunhado e outro grande jornalista e homem de cultura que foi Luciano Mota Vieira, com quem debateu ao longo de meses, no início dos ano setenta, a questão de aterrar ou não o portinho da Calheta para o prolongamento da Avenida.
Manuel Ferreira saiu do Correio dos Açores numa época conturbada e de deriva ideológica que, filtrada à distância, talvez tenha sido a causa de o jornal ainda hoje estar vivo. Fiel a Gustavo Moura, foi colaborador do “Açoriano” durante alguns anos, mas, sempre que editava mais um livro, aí estava ele na redacção do Correio dos Açores para o entregar.
O sonho da Autonomia dos Açores, da libertação de amarras e de colonialismo, deve muito a Manuel Ferreira. Ele foi “pedra para o templo”, pela força da palavra, pela garra e pelo indomável amor que nutria por estes calhaus; ele é ainda hoje esteio seguro de que há vozes que não morrem neste brado imenso de quem se considera “alto como as estrelas e livre como o vento”.
Santos Narciso
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Paula De Sousa Lima, Artur Neto and 24 others
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  • Roberto Rodrigues

    O retrato incompleto de um Homem de um só temor. o da luta que faia sua .
  • Miguel Simas

    Caro Narciso parabéns pelo texto. Nunca tinha visto uma fotografia escrita à mão tão bonita! Importas que partilhe?