Categoria: ChronicAçores

  • predições infelizmente cumpridas de 2007

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    O Big Brother está nas nossas vidas e aceitamo-lo sem pruridos. Sabe o que fazemos através dos cartões de crédito e débito, do cartão de cidadão, da passagem pelas portagens da autoestrada, pelo Metro e “Cartão Andante”, pelas câmaras nos centros comerciais. Não se admirem se qualquer dia com a nossa inconformidade e individualismo pudermos ser privados da pseudoliberdade por não termos cumprido as normas de higiene e de saúde que “eles” determinaram obrigatórias. Já não há espaço para seres pensantes e questionadores. Só espero que isto não acelere demasiado para os anos de vida que ainda tenho. Não se preocupem, sou assim e a fobia excessiva que tenho contra as bases de dados, é um sinal evidente da minha hipocondria e da necessidade absoluta que existe de me internarem como um perigo que sou para a sociedade uniforme e cinzenta que me querem impor. Ah! Se eu ao menos tivesse cá a cicuta, repetia-se o destino. Parecia que o mundo real lá fora estava a conspirar, mas a maior parte das pessoas nem se apercebia e vivia tranquila na morrinha da lufa diária pela sobrevivência, que a mais não podiam aspirar. …

    (o artigo todo abaixo:

    12.6. GEORGE ORWELL 1984 A transformação da realidade é o tema principal – CRÓNICA 47 NOVº 2007

     

    Como muitos o citam sem o lerem extraio um resumo adaptado sincreticamente por mim…

     

    … a história passa-se no “futuro” ano de 1984 na Inglaterra, Pista de Pouso Número 1, megabloco da Oceânia, congregação de países dos oceanos. Disfarçada de democracia, a Oceânia vive um totalitarismo desde que o IngSoc (Partido) chegou ao poder sob o omnipresente Grande Irmão (Big Brother). …é a história de Winston Smith, membro do partido externo, funcionário do Ministério da Verdade, cuja função é reescrever e alterar dados de acordo com o interesse do Partido.

     

    Nada diferente do que faz um qualquer jornalista ou historiador nos dias de hoje.

     

    Antes da Terceira Guerra, Winston desfrutava uma vida normal com os pais, mas tinha dificuldade em lembrar o passado. A propaganda do Partido e duplipensamento tornavam a tarefa quase impossível, o futuro, presente e passado eram controlados pelo Partido. Winston questiona a opressão do Partido. Se alguém pensa diferente, comete crimideia, capturado pela Polícia do Pensamento e é vaporizado, desaparecendo como se nunca tivesse existido. Winston é o cidadão comum vigiado pelas teletelas e pelas diretrizes do Partido. Qualquer atitude suspeita pode significar o fim, desaparecer de facto. Os vizinhos e os filhos eram incentivados a denunciar quem cometesse crimideia. Mas algo estava errado, Winston sentia-o e precisava extravasar. Comprou clandestinamente um bloco e um lápis (venda proibida). Atualiza o diário usando o canto “cego” do apartamento, sem ser focado pela teletela. A primeira frase que escreve é: Abaixo o Big Brother! O seu trabalho era transformar a realidade. No MINIVER (Ministério da Verdade), alterava dados de tudo que contradissesse a verdade do Partido e incinerava os originais (Buraco da Memória). O Partido informa: a ração de chocolate aumenta para 20 g. Winston apagava os dados antigos quando a ração era de 30 g. e a população agradece ao Grande Irmão o aumento.

    O medo de comentar era a arma do Partido para controlar a população. Havia os “Dois minutos de ódio”, em que os membros do partido viam propaganda do Grande Irmão e, direcionavam o ódio contra os inimigos. A mulher de Winston separa-se por não querer participar em sexo por prazer (era crime), sexo apenas para procriar. Apesar de proibido e muito perigoso Winston anota tudo, revoltado por ver os últimos sobreviventes da Revolução, confessarem assassinatos e sabotagens, sendo perdoados mas. Sabia que estavam na Eurásia (na época a inimiga), mas de súbito, a Lestásia passara a ser a inimiga.

    Bastante atual se se comparar o apoio dado a Saddam Hussein, Kadhafi, bin Laden antes de serem os inimigos eternos.

    Revoltado, escreve “liberdade é escrever 2+2=4”, mas as fábricas têm placas 2+2 são cinco se o partido quiser. Winston entrevista pessoas sobre a vida antes da guerra, mas os idosos não se lembram. Vê uma mulher e desconfia que seja espia da Polícia do Pensamento. No dia seguinte, encontra-a no Ministério e recebe um bilhete: “Eu te amo”. Os membros do Partido, de sexo oposto, não deviam comunicar. Marcaram encontro num lugar secreto, e após beijá-lo, Júlia confessa-se atraída. O rosto de Winston ia contra o partido e o desejo dela era corromper o estado por dentro. Apaixonado, recupera peso e saúde.

    O’Brien, membro do Partido Interno, percebe que Winston era diferente e convida-o a ir ao seu apartamento ver a edição do dicionário de Novilíngua. O convite era incomum e fez Winston animar-se e leva Júlia. Para espanto do casal, O’Brien desliga a teletela do luxuoso apartamento. Alguns membros do Partido Interno tinham permissão para se desconetar. Winston confessa acreditar na Fraternidade. Os planos eram regados a vinho, proibido aos do Partido Externo. Dias depois, Winston recebe a obra e devora-a. Ouve uma mulher cantar música prefabricada em máquinas de fazer versos. Nada distante da música atual. “Nós somos os mortos” filosofa Winston. “Nós somos os mortos” repete a voz metálica da teletela atrás de um quadro. Guardas irrompem no quarto e Winston é preso e vai para o Ministério do Amor. As celas tinham teletelas que vigiavam cada passo. Numa sala, O’Brien torna-se o seu torturador e explica o duplipensar, o funcionamento do Partido e questiona-o acerca das frases sobre liberdade. Winston, torturado e drogado aceita o mundo de O’Brien e passa ao estágio seguinte aprender, entender e aceitar. e confessa que a Eurásia era a inimiga e que nunca tinha visto a foto dos revolucionários. Faltava a reintegração, ritual de passagem a concluir no Quarto 101, um inferno personalizado. Como Winston tem pavor de roedores, os torturadores colocam a máscara no rosto com abertura para uma gaiola de ratos famintos. A única forma de escapar é renegar o perigo maior ao Partido, o amor a outra pessoa acima do Grande Irmão. Winston, libertado, termina os dias sozinho, aparece na teletela confessando vários crimes, sendo libertado, despromovido num trabalho ordinário num subcomité.

     

    Trajetória de milhares de pessoas de regimes totalitários, como o checo Thomaz de “A Insustentável Leveza do Ser[1]. Inspirado na opressão dos regimes totalitários das décadas de 1930 e 1940, o livro de Orwell critica o estalinismo e o nazismo e a nivelação da sociedade, tal como pretendem fazer em Portugal depois do 25 de abril. Uma redução do indivíduo a peça para servir o estado ou o mercado através do controlo total, incluindo o pensamento e a redução do idioma. Tudo isto acontece já e só vai piorar.

     

    Júlia escapa do Quarto 101. O Partido separou-os e encontram-se ocasionalmente. Já não eram os mesmos. Tinham “crescido”. Winston sorri, completamente adaptado. Finalmente ama o Grande Irmão.”

     

    O Big Brother está nas nossas vidas e aceitamo-lo sem pruridos. Sabe o que fazemos através dos cartões de crédito e débito, do cartão de cidadão, da passagem pelas portagens da autoestrada, pelo Metro e “Cartão Andante”, pelas câmaras nos centros comerciais. Não se admirem se qualquer dia com a nossa inconformidade e individualismo pudermos ser privados da pseudoliberdade por não termos cumprido as normas de higiene e de saúde que “eles” determinaram obrigatórias. Já não há espaço para seres pensantes e questionadores. Só espero que isto não acelere demasiado para os anos de vida que ainda tenho. Não se preocupem, sou assim e a fobia excessiva que tenho contra as bases de dados, é um sinal evidente da minha hipocondria e da necessidade absoluta que existe de me internarem como um perigo que sou para a sociedade uniforme e cinzenta que me querem impor. Ah! Se eu ao menos tivesse cá a cicuta, repetia-se o destino. Parecia que o mundo real lá fora estava a conspirar, mas a maior parte das pessoas nem se apercebia e vivia tranquila na morrinha da lufa diária pela sobrevivência, que a mais não podiam aspirar. …

     

    Também isto constava das previsões de George Orwell[2].

     

    Adquiri pés de galinha, os cabelos e pelos eriçaram-se como se tivesse visto um fantasma, isto, claro está, no caso de existirem. Comecei a olhar por sobre o ombro à cata de alguém que me espiolhe ou esquadrinhe as ideias, tão diversas do pensamento “aprovado e oficial”. Não me apetecia ser vaporizado pois tinha um legado que queria imune à ação de um qualquer ministério da verdade. A privacidade de há 10, 20 anos ou mais, seria impensável hoje. Tudo em nome da defesa dos valores sagrados da civilização ocidental. Da luta contra o terrorismo. Doutra qualquer peleja que os líderes hão de inventar. Como as armas químicas que o velhaco genocida do Saddam Hussein afinal não tinha. O mesmo que os EUA forjaram com Bin Laden. Desde há um século que “inventam” personalidades destas para fazerem o que lhes convém, lembremo-nos do Xá da Pérsia, ou do Panamá e mais as centenas de golpes falhados e os que fizeram ricochete…

    [1] o caso do médico que vira pintor de paredes ao renegar as ordens do partido não é diferente dos que não se adaptam nas profissões no mundo livre, de Milan Kundera

    [2] (n. Eric Arthur Blair, Bengala, 1903-1950

  • CRÓNICA 357, Timor 45 anos depois

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    CRÓNICA 357, Timor 45 anos depois 20.8.2020

     

    Era agosto 1975, passava uns meses de férias em São Martinho do Porto em Portugal quando ouvi na rádio, primeiro, a notícia do golpe de estado da UDT a 11 e depois a sublevação da Fretilin dia 20 e o começo da guerra civil que iria mudar a vida a milhões de pessoas em vários países. Um terço da população (200 mil) foi aniquilada pela invasão e colonização indonésia de 24 anos, milhares de mortos e estropiados, a destruição quase total em 1999 até a ONU patrocinar o referendo que deu a independência em maio 2002.

    Eu deixei Timor e Bali em maio 1975 e planeara regressar passados uns meses de descanso e férias, provavelmente depois do meu aniversário em outubro, aproveitando a viagem a que tinha direito num avião das FAP (Força aérea portuguesa, como todos os oficiais milicianos que tinham estado no exército colonial português e que queriam regressar à província ultramarina onde tinham estado em serviço).

    Em outubro as forças avançadas e infiltradas da Indonésia antecipando a Operação Komodo assassinaram os 5 de Balibó (os colegas jornalistas australianos, britânicos e neozelandeses o repórter Greg Shackleton, 29, o operador de som Tony Stewart, 21; o Kiwi, Gary Cunningham, 27, cameraman do canal 7 HSV-7 em Melbourne; dois britânicos, cameraman Brian Peters, 24, e o repórter Malcolm Rennie, 29, do canal 9 TCN-9 em Sydney). Havia um sexto, Roger East de 53 anos, (jornalista australiano da AAP Reuters) que seria executado pelos indonésios no cais de Díli na invasão de 7 de dezembro… desesperadamente a Fretilin proclamara unilateralmente a independência a 28 de novembro e a sua liderança seria tragicamente abatida pelos indonésios nessa guerra sem quartel que se prolongou por 24 anos. O resto é história e todos a conhecem. Hoje, Timor tem 40% da população abaixo do limiar da pobreza (menos de USD 1,25 ao dia), 50% de analfabetos, 97% de católicos, milhões de dólares em fundos da exploração de petróleo, muitas estradas novas foram construídas e dessas quando chove há derrocadas e ficam intransitáveis como aconteceu recentemente no Suai onde existe um inútil e enorme aeroporto internacional sem movimento. Em menos de 20 anos, Timor já teve sete governos, estando atualmente no 8º, mas raramente atingem o fim dos mandatos devido a lutas intestinas, conflitos internos alianças feitas e desfeitas (como no tempo tribal), muita corrupção, nepotismo, laivos ditatoriais de personalidades de destaque. Atentados, sublevações da polícia, do exército, de ex-guerrilheiros resumem os anos de independência. Costumo ironizar que além da língua portuguesa, a velha guarda aprendeu os truques da cunha corrupta portuguesa, mas doutoraram-se em corrupção com os indonésios. Tanto poderia ter sido feito e não foi, à exceção de Díli que cresceu desmesuradamente (éramos 25 mil, hoje são mais de 250 mil habitantes) se modernizou, mas continua a inundar-se sempre que chove. Os membros do governo e uma certa elite vivem em boas casas com carros de topo de gama, mas no resto do país a miséria assemelha-se à dos anos 70 sobre a qual tanto escrevi ao longo dos anos.

    Tanto podia ter sido feito e não foi mas eles são soberanos nas suas escolhas políticas e nas suas opções, eu não, eu nem a opção de regressar tive, nem a de voltar a visitar a terra que o sol em nascendo vê primeiro, a mim restam as memórias que o tempo ajudou a mitificar, as recordações da beleza das terras e das gentes, e imaginar como tudo teria sido diferente se as datas de 11 e 20 agosto de 1975 não tivessem alterado o nosso futuro para sempre. Resta-me o amor incondicional pela terra e pelas gentes.

    Chrys Chrystello, Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713 [Australian Journalists’ Association] MEEA] Para o Diário dos Açores (desde 2018) Diário de Trás-os-Montes (desde 2005) e Tribuna das Ilhas (desde 2019)

     

     

     

     

  • CRÓNICA 354, FIQUEI OUTRA VEZ ÓRFÃO DE PAI, RIP PAI NENÉ BATALHA, 10.8.2020

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    CRÓNICA 354, FIQUEI OUTRA VEZ ÓRFÃO DE PAI, RIP PAI NENÉ BATALHA, 10.8.2020

    em 2016 escrevi uma prece para o Leonel A Jorge Batalha (19 maio 1927-10 ago 2020) a quem desde 1979 chamei sempre pai, mesmo depois do a separação e divórcio da sua filha em 1992, hoje foi a vez dele se libertar desta vida e subir lá, onde quer que seja. Continuarei a falar com ele, partilhando desaires e vitórias, preocupações e escritos, como faço com o meu pai biológico desde 1992, sabendo que ele e Mãe Lala sempre estarão a olhar e a cuidar de mim, dos filhos e netos.

    687. PRECE DE ATEU, AO PAI NENÉ, 24 julho 2016

    pedem-me hoje que ore

    como se um ateu rezasse

    pedem-me hoje as minhas preces

    como se vozes de ateu chegassem aos céus

    mas nem sei nem posso

    tentarei enviar energias positivas

    pensamentos sãos

    lembrar os momentos bons

    as discussões que nunca tivemos

    o apoio e amor que recebi

    a partilha de parte da minha vida

    apesar de sogro

    foi um pai sempre presente

    confidente e amigo

    cúmplice

    não sei se isto serve de prece

    quero crer que sim

    apesar dos continentes que nos separam

    estivemos sempre perto

    na china, na europa e na austrália

    e nunca deixou de ser pai

    desde que me aceitou há 37 anos

    seremos sempre família

    estará sempre comigo

    nas preces que não sei

    nas memórias que evoco

    nos sorrisos que recordo

    na sua bondade e tolerância

    na sua ingenuidade sem malícia

    para ti pai nené batalha

    para onde quer que vás

    estarei sempre contigo

    É difícil quando se perde uma pessoa amiga, a quem se chama pai e que fez parte da nossa vida ao longo de 41 anos, desde que em 1979 me meti num avião de Macau a Perth para raptar a filha e dela fazer minha mulher em 1980. Sinto-me como se nesta fase da vida , eu fosse uma construção Lego e me começassem a retirar peças do puzzle que sempre fui para ficar apenas um desenho incompleto de tudo o que ainda sou. Quando essa peça sempre esteve comigo nos momentos bons e nos maus a dor é maior, e daí o título deste escrito. Quando casei em junho 1980 não podia ausentar-se (sob pena de perder o emprego) e ir a Macau e apenas foi a Lala.

    Quando definitivamente fui para a Austrália em janeiro 1983 por não poder atrasar mais a minha efetiva residência, sob pena de perder o meu visto de residente, acabamos por ir viver numa “unit” em Macherson St. Waverley mesmo por cima da deles. Era uma casa geminada em quatro, com duas garagens e um quintal relvado. Ajudou-me a pintar a casa, a fazer trabalhos de marcenaria e carpintaria (que nisso tinha uma habilidade e uma paciência extremas). Tiramos camada após camada de papel de parede, retiramos as carpetes octogenárias da casa, e tornamo-la habitável em menos de um mês. Pouco depois tive de lhe dar a noticia das preferências alternativas de uma filha (que continua ser a cunhada com quem mais contacto ainda mantenho hoje), preparei-lhe um gin tónico duplo e dei a notícia de chofre e ele nem pestanejou, enquanto a Lala aceitava com a sua naturalidade possível. Depois mudaram para uma vivenda em Maroubra e eu mudei para Centennial Park e depois, para Randwick, mantendo sempre a nossa tradição de Yum Cha ao domingo em Chinatown ou então um barbecue com amigos nossos e deles, sempre muita gente num convívio dominical que jamais esquecerei de camarões tigre, bacalhau assado ou bifes, em que toda a família ajudava.

    Jamais esquecerei que, depois de se ter mudado para a China onde fixou residência há mais de dez anos depois da morte da Lala, com 84 anos guiou duas horas até Macau para estar na Livraria Portuguesa a partilhar o lançamento do meu segundo volume de ChrónicAçores em pleno 15º colóquio da lusófona, junto com duas filhas e uma amiga de Macau dos meus tempos.

    Lembro o apoio que me deu quando me arranjou emprego supranumerário no Consulado Geral de Portugal em Sydney entre março ou abril 1983 e janeiro 1984, no tempo do cônsul Dr Sarmento (a quem ajudamos a montar uma exposição de pintura). Fiquei encarregue de várias funções, oficiosamente, pois não podia ser contratado oficialmente, e o vice-cônsul V. Farinha pagava-me diretamente das suas ajudas de custo para eu desempenhar as funções de Adido Comercial, de Imprensa e das Comunidades. Isto antes de o meu amigo Eduardo Guedes de Oliveira ser nomeado pela Secretaria de Estado da Emigração como cônsul dos assuntos da emigração.

    Foram meses intensos a tratar dos livros que enchiam uma arrecadação do 1º andar do consulado em Edgecliff e que nunca tinham sido distribuídos às escolas nem às bibliotecas. Fui a escolas, representei o Consulado em assuntos comunitários, de emigração, atuei como adido de imprensa, mantive contactos com a comunidade emigrada fugida de Timor sob ocupação indonésia. Todos os dias o pessoal almoçava junto, com o Viana macaense, que era secretário do consulado, a Modesta (que agora vive no seu Timor natal), e os restantes e havia sempre pitéus macaenses a degustar nesses almoços. Nunca havia horário de serviço e as horas do dia nunca chegavam e todos trazíamos serviço para completar em casa fora das horas de expediente.

    Antes disso e depois de emigrar em 1977 para Perth passaram tempos difíceis em Perth com dificuldades económicas e a adaptação a meio da vida num país estranho onde estavam já os dois filhos mais velhos, a Angie e o Lito. Ele, que sempre foi de trabalhos manuais (como se chamava na época) trabalhou num supermercado, tomou conta da manutenção de um barco, até fazer o “overland” épico Perth – Sydney com a mulher e a sogra, a saudosa avó Maria (que, sem saber ler ou escrever foi sozinha de Sepins, Mealhada a Perth).

    O Nené era a pessoa com menos sentido de orientação que já conheci e em Perth perdia-se sempre que se deslocava da cidade para o arrabalde afastado onde viviam, mas conseguiu chegar a Sydney ao fim de cinco dias na sua carripana Ford Station Wagon atulhada de móveis. Mais tarde, com a vida mais orientada trocou-a por um Mazda 626 que sempre teve essa mania macaense de trocar de carro como eu troco de camisa. Perdia-se tantas vezes que nós gozávamos dizendo que até era capaz de se perder numa aldeia só com duas ruas.

    Não esqueço a alegria que tinha sempre que lhe pedi para me ir buscar a pequena Vanessa Ingrid à creche em Bondi Junction, por eu não poder chegar a horas cumulava-a de mimos, pois sempre teve um fraquinho especial por essa neta que está hoje prestes a completar 34 anos.

    Quando fui casar a Sydney com a minha mulher em abril 1996, ainda fomos convidados a ir lá jantar a casa (então ainda em Maroubra) e fomos recebidos como se fossemos da dinastia Qing.

    Mais tarde, depois de 1995 e durante alguns anos, passavam seis meses em Portugal, com a sogra dele em Sepins, e sempre tratou o meu filho João nascido em 1996 como se fosse outro neto, cumulando-o de prendas e mimos como tinha coma Vanessa na mesma idade. Íamos sempre almoçar e passar tempo com eles nesses meses de estadia expatriada em Portugal. Algumas vezes vinham duas das filhas, depois, a avó Maria morreu e desfizeram-se do casarão que foi comprado pelos rendeiros, quebrando seu vínculo a Portugal onde havia ainda irmãos e irmãs dele a viver no Porto, Lisboa e Algarve.

    É difícil tentar em meia dúzia de linhas recordar tantos momentos compartilhados, que apensa sofreram um pequeno hiato aquando da separação e divórcio em 1992. O que aqui deixo são os que evoco neste momento e que mais profundamente ficaram gravados na memória, entre tantos e tantos ao longo de 41 anos. Pude sempre contar com ele, senti-me sempre tanto filho dele como os restantes, ou mais até.

    Nesta data triste de hoje, as palavras-poema que acima escrevi em 2016 sumariam o que sempre senti. RIP, PAI NENÉ BATALHA

  • previ isto tudo em nov 2007

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    10.9. DO ENSINO AO JORNALISMO, CRIAMOS UMA MASSA CINZENTA DE CARNEIROS AMESTRADOS crónica 47 novembro 2007

    É importante, e (se bem que quase ninguém me leia e ninguém me ouça) há muito que ando a dizer nos labirintos esconsos das crónicas: o ensino em Portugal (como a democracia) segue o rumo globalizado de privatização. No futuro, haverá acesso universal ao ensino, de má qualidade e sem grande futuro. A alternativa será o ensino privado, levando algumas pessoas a engrenagens de dívidas perenes e endividamento, sem hipótese de saírem desse círculo vicioso. Entretanto, as elites com poder de compra irão optar por escolas privadas, donde sairão os futuros dirigentes da nação que optem por não ir estudar (sempre é mais fino) para o estrangeiro.

    Ter-se-á assim um país, e o mundo, a duas velocidades. A das massas, o antigo proletariado, já com melhores condições que no tempo da ditadura, ostentando títulos académicos (doutor, engenheiro, farmacêutico, arquiteto, etc.,) sem que isso represente emprego ou profissão duradoura. A das elites (à semelhança dos tempos da outra senhora) terá o privilégio de nomear os eleitos para todos os níveis de chefia a partir do intermédio. Mas não se iludam, não é só cá, é em todo o mundo ocidental. Agora com a passagem de ano (obrigatória) de todos os alunos, vai Portugal finalmente baixar o coeficiente de iletrados. Ao contrário do que muitos pensam, não vai deixar de os ter, o que vai ter é analfabetos com diplomas. Nada disto é à toa, nem por uma questão de birra. Já acontece nos EUA, na Austrália e no Reino Unido, onde há escolas secundárias (o antigo Liceu) que custam tanto ou mais que universidades privadas…

    Teremos um país dos que têm e dos que não têm. Ninguém se preocupa com desempregados vitalícios que começaram a surgir (no fim da década de 80 na Austrália e agora em Portugal). Ninguém perde o sono ou o apetite, pelos sem-abrigo, que se propagam nas ruas das cidades esvaziadas de Humanidade, autênticos desertos à noite. Isto enquanto o camartelo municipal não chega para demolir as casas que irão ser “gentrificadas” para condóminos de luxo. Os subúrbios do povo e classes menos abastadas passam a áreas VIP. O interior desertificado e abandonado do Portugal pequenino será a coutada de férias de ricos e poderosos.

    Decidi abdicar da habitual dose de livros de ficção. A realidade não para de se exceder e tornar-se mais inverosímil que a fantasia. Neste pequeno jardim à beira-mar plantado, as liberdadezinhas são ameaçadas e cidadania já é sinónimo de coragem. Há uma crise de instituições que ninguém ousa negar. A própria democracia de abril resvalou para a demagogia. Os representantes eleitos estão, sem ideias e sem horizontes, que não sejam os dos benefícios pessoais e dos mais próximos. Esta teia intrincada de corrupção e nepotismo coloca em causa a democracia, e isso nota-se no abstencionismo generalizado.

    Os ataques à liberdade começaram há muito com a autocensura, imposta pelos poderes económicos que dominam os meios de comunicação. Depois, seguindo um processo, a nível mundial, centrado no politicamente correto, assiste-se à criação artificial do ser imperfeito: agora é o fumador, daqui a uns tempos serão os obesos, depois os carnívoros, e por aí adiante….até que todos estejam controlados à distância por um microchip Tudo isso será tão grave como não pagar impostos. As represálias irão fazer-se sentir sobre os que exercem um mero ato de cidadania.

    Os jornalistas não ousam criticar a menos que “mandados”. Já não há espírito de missão nem a profissão pode ser levada a sério. Portugal nunca foi um país de “jornalismo de investigação”, agora ainda menos. A sociedade civil não se pronuncia e os jornalistas raramente o fazem. Os que querem ser esclarecidos contentam-se com o mundo “underground” dos blogues e das “fake news” que muitas vezes nem o são, assim como as teorias da conspiração que os donos disto tudo propagam para desacreditar essas mesmas teorias. O progresso tecnológico galopante, nas últimas décadas, permitiu a todos um acesso alargado à informação, mas as pessoas estão menos informadas. Vive-se a miragem de uma multiplicidade de jornais e de canais, um excesso de “infotainment ou infoentretenimento) retira o tempo e capacidade para discernir. Os telejornais são decalcados uns dos outros, apenas os apresentadores e a ordem das notícias muda.

    Os grandes grupos económicos que dominam os meios de comunicação (e os meios livreiros) promovem um cartel monopolizador da “verdade”, onde a independência e isenção são palavras vãs que se arriscam – em qualquer momento – a serem trucidadas. Os assalariados (leia-se jornalistas) se bem que hipoteticamente livres para escreverem sobre qualquer assunto, de qualquer forma ou feitio, só serão publicados se o conteúdo for conveniente aos interesses dos donos (leia-se patrões). Este tipo de censura é a pior. Cresceu incomensuravelmente nas últimas décadas e já me preocupava em meados de 80 na Austrália. É quase invisível. Mais brutal que o velho sistema do “lápis azul” do SNI que eliminou 64 das 100 páginas do meu primeiro livro de poesia em 1972 (Crónica do Quotidiano Inútil) para ficar elegantemente reduzido a 32.

    Agora, o Quarto Poder, a imprensa escrita e audiovisual, do célebre caso Watergate na década de 1960, deixou de funcionar em prol das liberdades e direitos dos cidadãos. Já não faz denúncias. Habituou-se a manipular, mentir e “orientar” mesmo com notícias falsas (as fake news) guiando os cidadãos no sentido que os patrões indicam. Agora pactua e esconde-se sob a ameaça velada das restritas leis que obrigam um jornalista a fornecer as fontes sob pena de ir para a cadeia ou pagar indemnizações milionárias. Os grandes grupos gabam-se de conseguirem eleger governos e presidentes e quando não o conseguem vale sempre a ajudinha duma batota. E o voto eletrónico pode ser manipulado por quem instala o software… Ninguém sabe quantas guerras e milhares de mortos foram causados por tais eleições. Em simultâneo, os grupos económicos que os apoiavam aumentaram desmesuradamente a influência, poder e lucros. Nem só de petróleo vive a administração dos EUA.

    Aqui vos deixo um alerta para a necessidade de acordarem. Todos. Mesmo os que têm a consciência escondida ou pesada pelas atoardas com que diariamente vos metralham na comunicação social ou que temem que tudo o que escrevo é fruto das teorias de conspiração (não é por minha culpa que a maioria se venha a comprovar verdadeira…). É preciso haver jornalistas dos que nunca se calam nem se vergam ao peso do que é conveniente, sem olhar a atenuantes ou consequências. Têm – agora, mais do que nunca – que ser arautos dos que não têm voz. Cada vez é maior o número dos desprovidos. Têm de ter uma probidade e ética inultrapassável para afrontar tudo e todos, sem encolher os ombros cómodos, tal como os antepassados fizeram. Assim surgiu o deflagrar da 2ª Guerra. Hoje já não há debates, mas fachadas de pretensa discussão, veículos de propaganda governamental da democracia “guiada”. Este cinzentismo acéfalo e monocórdico da comunicação social foi enriquecido pelo aparecimento dessa droga legal chamada “imprensa cor-de-rosa”. É soporífera e causa danos irreversíveis à mente humana. Nenhum governo se atreve a legislá-la, proibi-la ou sancioná-la. Pelo contrário, encontram nela um valioso aliado no obscurantismo que estão empenhados em criar e alastrar, para que o povo pense que está a ser governado enquanto eles se governam. Resta o mundo subterrâneo e alguns blogues para se saber o que é deveras importante.

    Quando os políticos falam não são eles, mas as agências de comunicação e os grandes grupos que os sustentam, isto quando não são os seus associados a criar sítios e tweets de notícias falsas, repetidas por bots e outros algoritmos…. Quer-se, teoricamente, um cidadão culto e educado, para ter a liberdade de fazer as suas opções em liberdade. Mas o que se criou foi um pateta manipulado. Pensa que vive em democracia e é livre, mas não passa de participante involuntário numa fraude democrática. Como se diz em inglês “read my lips”... O que o povo quer é ver revistas com os escândalos dum pseudojetset e da pseudonobreza sem sangue azul, só fama fácil. O que o bom povo quer é mortes, violações, abusos, desgraças, inundações, incêndios, bombas, guerras e as tragédias longínquas, desde que sejam só dos outros. As suas não lhe interessam.

    O povinho (tão bem retratado por Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão (ainda hoje atuais) quer ver as vergonhas dos outros para que não vejam a sua, “é disto que o meu povo gosta” como diria Pedro Homem de Mello, embora se referisse ao folclore… Assim se explica que a maior parte dos bons jornalistas portugueses se encontre desempregada sem ser por opção ou por reforma antecipada. Não eram fabricantes de notícias sensacionalistas para abrir o telejornal, empolando banalidades em transmissões diretas que se arrastam penosamente do nada. Nunca o país viu aumentar tanto e em tão pouco tempo o fosso entre ricos e pobres como nas últimas décadas. As pensões e reformas são das mais baixas da Europa, mas os Executivos portugueses ganham mais do que os milionários congéneres norte-americanos. Ninguém escreve sobre isto? Limitam-se todos a passar secretamente essas notícias em e-mails aos amigos.

    Uma idosa que roubou uma peça avaliada em menos de quatro euros foi levada a tribunal pelo supermercado, e o banqueiro x, y ou z (entre outros ladrõezinhos que existem por aí) nem sequer a tribunal vai? Claro, que o roubo de milhões é investimento falhado e o de uns cêntimos é um crime de lesa-majestade. Gosto de escrever a palavra REVOLTEM-SE, mas pode ser crime de traição ou de apelo ao terrorismo, face às novas leis, pelo que me coíbo de o fazer.

    Faltou frisar que a ideia da nova educação é fazer com que os professores estejam cada vez menos preparados e criem alunos ignorantes. É a teoria do mínimo denominador comum. Não interessa a nenhum governo uma população culta, educada e lida…depois era mais difícil regê-los. Segue-se uma nova versão da máxima salazarista “quanto mais ignorantes mais felizes…” ou como o amigo Daniel de Sá lestamente me avisou, no formato original, a máxima de Salazar era: “Um povo culto é um povo infeliz.” Sejamos felizes, sejamos incultos. A razão de todas as infelicidades reside na Santa Cultura que tanta dor pariu. Depois criam-se artificialmente castas (este país sempre foi um país de castas).

    Primeiro, havia a dicotomia entre professores primários, secundários e os universitários. Vasos não comunicantes e estanques. Para mim o erro foi acabar com a Escola do magistério e criar as ESE… que fabricaram diplomados com ignorância e falta de preparação …até dói. Já basta haver programas que pouco ou nada ensinam (mais curtos, inúteis e fúteis, cheios de imagens para contrabalançar a falta de conteúdo, para contrapor a asserção vigente no meu tempo de que aprendia coisas que para nada serviam). Claro que a falta de preparação dos professores aplicada numa educação de massas, caraterizada pelo mínimo denominador comum, vai perpetuar o ciclo descendente de conhecimentos, e cada vez haverá mais burros nas fileiras. Isso é altamente importante para os políticos no poder. Quanto mais iletrados os professores e alunos, melhor serão conduzidos os milhões de cordeiros do rebanho da nação. A educação é uma fábrica de analfabetos para ensinar mais analfabetos futuros. Nada mais perigoso que uma pessoa que lê e estuda. Até pode pensar por ela…

    Este país tem demasiadas leis e incumprimentos a mais…para quê se ninguém as cumpre? Quando as tentam impor, é sempre de forma arbitrária, bruta e cega de aderência à letra da lei e não ao espírito, ou então limita-se a uma mera caça à multa. Uma coisa é ter regras e normas. Outra é impor leis a uma população impreparada e ignorante pela força bruta.

    Há ainda os lóbis fortíssimos dos médicos, farmacêuticos e advogados em quem ninguém toca e são corresponsáveis pela má saúde do país. O que é preciso é civilizar [leia-se DOMESTICAR] o povo para se poderem impor regras e normas, o resultado está à vista…vive-se numa ditadura republicana, de esgares monárquicos, disfarçada de democracia. Tal como no tempo do Hitler só quando chegar à nossa porta é que nos daremos conta do caminho por onde nos levaram… As democracias só podem funcionar com gente culta e preparada e não com quase dez milhões de analfabetos como em Portugal. Nos outros países (e na Austrália vi isso) fazem-se sacrifícios e o país avança e progride, aqui obrigam-se a sacrifícios e o país fica na mesma. Aqui só se trabalhou para a estatística europeia e não para criar riqueza. É isso que acontece com os empresários portugueses na sua maioria.

    Como escrevia Mendo Henriques em agosto de 2008: “é altura de fazer uma revolução e dar o poder a quem tem cultura e não a quem tem dinheiro”.

    É tudo uma questão de visão, os portugueses têm-na tipo túnel (quando a têm). Outros veem mais longe e preocupam-se com o futuro. Eu aprendi imenso com os chineses. Foi essa a lição mais importante. Nunca me esqueço também do que mais me impressionara na aprendizagem com os aborígenes australianos: como sobreviver milhares de anos com uma cultura oral, sem escrita, sem posse de terras, sem matar a não ser o que é necessário para uma alimentação frugal, para preservar o meio ambiente. Assim foram capazes de manter um segredo durante séculos (como era o crioulo de português que uma tribo manteve durante mais de quatrocentos anos e da qual se falou atrás).O excesso de informação, desinformação e manipulação política acabam por condicionar o rebanho dócil dos que falam muito e se queixam ainda mais, mas pouco ou nada fazem. Sempre prontos a criticarem o governo e os outros sem perceberem que a verdadeira culpa radica neles. O país continua diariamente – há muitos anos – a gastar muito mais do que produz. A hipotecar-se sem construir ou criar algo de produtivo. Esta irresponsabilidade coletiva será paga pelas gerações futuras, hoje demasiado preocupadas na sua ignorância para se aperceberem de que a conta foi passada em seu nome coletivo. Mas ainda não chegámos lá.

    Os portugueses habituaram-se ao goze agora e pague depois, se não morrer antes. Não se importam com os que roubam à sua volta, sejam do governo ou da privada. Até os invejam e gostariam de poder fazer o mesmo. Por outro lado, os que se aproveitam desta e doutras crises, os que beneficiam das benesses do governo, dos subsídios que a Europa paga para outros fins, e os que orbitam nessas esferas continuam a ir aos stands de automóveis de desporto comprar Ferrari, Porsche etc. Não há rutura de abastecimentos, e os supermercados continuam a oferecem milhares de artigos à escolha. A maioria dos habitantes, da Lusitânia sem alma, não quer saber de princípios. Abomina quem os tem. Se bem que poucos existem alguns que os preservam e perseveram. Se não são mais ouvidos, quando têm tempo de antena nas rádios e televisões, é porque os programas só são transmitidos quando todos dormem e sós alcoólicos com insónia estão despertos.

    De qualquer modo o que é que o homem e a mulher comuns podem fazer, além de falar no café e queixarem-se aos amigos e conhecidos? Mesmo que soubessem rabiscar umas ideias e quisessem escrever uns artigos, provavelmente não seriam publicados, a não ser nas redes sociais, desacreditadas. Vive-se numa ditadura dissimulada em que mesmo com 200 mil pessoas em manifestações de rua nada se consegue. O poder não treme nem pestaneja, coça-se como se estivesse a ser atacado por uma ridícula e inofensiva pulga. É essa a opinião dos governantes sobre o povo que manietam. Para quê denunciar escândalos? Raro é o dia em que um ou mais são denunciados nas redes, na internet na rádio e televisão. A justiça, que sempre esteve ao lado dos poderosos, parece estar ao lado dos que mais roubam e lesam o país Viriato e Sertório foram apunhalados pelos seus conselheiros. Aprende-se mesmo pouco em Portugal. Falta agora um novo Viriato a liderar os Lusitanos contra os usurpadores da República..

  • jovens mimados

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    Mendo Henriques
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    A sociedade está feita para satisfazer toda e cada e cada uma das nossas necessidades, exceto a mais importante de todas: a necessidade de que a vida faça sentido. E quando na nossa vida não há sentido à vista, matamo-nos, aos poucos ou de uma vez só
    Viktor Frankl, sobrevivente de Auschwitz

    Quem primeiro me falou em Frankl há muitos anos foi o dr. Pedro Cunha que foi Secretário de estado de Roberto Carneiro. Dele herdei uma disciplina a leccionar na Universidade.
    Desde então,

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    Dr. Viktor Frankl fala sobre a falta de sentido entre os jovens na sociedade moderna. Tradução: Rita. Revisão: Gabriel. Ajude-nos a continuar: https://apoia….

    tenho escrito muito sobre este tema e extraio aqui excertos de uma crónica de 2006…

    11.10.ADOLESCENTES, 19 MAIO 2006 CRÓNICA 20.

    A maioria dos pais de jovens e adolescentes costuma enfrentar a situação desconcertante de terem filhos que, por um lado, se comportam irresponsavelmente sem dar importância às coisas que teoricamente lhes deveriam interessar e, por outro lado, se manifestam devastados pelo peso dos estudos, pela incerteza do futuro ou por pequenos reveses. Em vários aspetos da vida parece que nasceram sabendo tudo mas são incapazes de enfrentarem minúsculos contratempos. Estou deprimido, é uma das expressões mais constantes nesta geração paradoxal. Inconsciência crónica com um excesso de preocupações. Da banalidade despreocupada à angústia paralisante. Como é possível, que jovens tão pouco dados a levar a vida a sério se tornem em vítimas quando veem as coisas malparadas. Estarão a exagerar? Não se tratará dum estratagema de autodesculpa, um recurso para obterem compaixão e evitarem terem de atuar como é costume? Tudo leva a crer que não é assim. Poucas vezes se trata de excesso de birras e de espavento de crianças malcriadas tentando comover os adultos assustadiços a fim de conseguirem levar a sua avante.

    Aumentou substancialmente na última década o número de consultas de adolescentes nos serviços de urgência psiquiátrica. Num hospital de Barcelona as estatísticas indicam em primeiro lugar as alterações de conduta, seguidas das crises de ansiedade com quase 25% do total de casos. Se a estes acrescentarmos os 15% de tentativas de suicídio teremos de admitir que se trata dum problema grave e crescente.

    Trata-se, de facto, de intolerância à frustração. Muitos jovens não aguentam os revezes pois não foram treinados para os enfrentarem. Nasceram sobreprotegidos, acostumados a conseguirem da família mais próxima tudo o que querem, falta-lhes a experiência de sentirem necessidades ou de passarem pela penúria, carecendo de defesas face às dificuldades. Já se disse e redisse à saciedade, e com um certo fundamento, que os pais das últimas décadas criaram inválidos sem recursos para enfrentarem um mundo, regido pela competitividade e elevados padrões de exigência, quer a nível laboral quer profissional, nas relações interpessoais e integração social. Os adolescentes naufragam no trajeto entre a infância almofadada que nada lhes exigiu e um futuro eriçado de obstáculos. A geração paterna apenas tem a perpetuação desse estereótipo. A sobreproteção e a permissividade excessivas criaram jovens dependentes, sem autonomia quando se trata de fazer planos, de tomar decisões maduras e de confrontarem os próprios problemas.

    Não será totalmente justo adotar o discurso de serem os pais culpados como acontece com os diagnósticos sobre o mal-estar da juventude e a desventura da adolescência. As famílias apenas em parte são culpadas da irresponsabilidade dos filhos que pagam com angústias a sua vida mole e não adianta colocar mais esse peso nos ombros dos pais. Eles atuaram movidos pelo carinho mesmo que revestido de formas erradas. A maioria dos jovens deprimidos deixou de buscar apoio e cumplicidade nos amigos como acontecia, quando se refugiavam dos pais cheios de defeitos, mas mais eficazes a gerirem a segurança emocional que é necessária nesses momentos.

    Muitos especialistas concordam, as causas da intolerância e da frustração nos jovens estão intimamente ligadas aos valores propugnados pelos meios de comunicação. Quando, desde a nascença, um jovem recebe através da TV, mensagens, não é descabido pensar que alguém os incapacitou para enfrentar a dura realidade e esse alguém não foi nem o pai nem a mãe, incapazes de negarem os seus caprichos, mas os meios de comunicação capazes de enganar e de manipular as mentes dos recetores consumidores.

    A televisão (ou a publicidade que dirige como soberana implacável os conteúdos e as formas das mensagens) é o agente principal da frustração. Que capacidades de enfrentar os problemas terão os que nos anos mais recetivos da vida foram metralhados com promessas de felicidade virtual, de satisfação através do consumo, de êxito imediato, com visões da vida pintada como um show de diversões que nunca termina? O discurso mediático e mercantil alimenta uma falta de maturidade que só se revela quando a realidade nua e crua mostra a sua face e o jovem constata que nada é como lhe disseram, criando um desajustamento causador de insatisfação e ansiedade extrema.

    Assim como nos anos 60 e 70 se falava da geração rebelde, nos anos 90 foi a geração Prozac, agora podemos ter chegado à da frustração. Nem poderia ser doutra forma, mas a evidência não resolve o problema nem serve de consolo. Quando os adolescentes dizem que estão agoniados e deprimidos estão a falar a sério, sofrendo mais do que possamos imaginar. E convém fazer constatações mais comezinhas. A atual geração não passou em termos de privações familiares como a geração de “baby boomers” no pós-guerra (entenda-se 2ª Grande Guerra) a que pertenço. A geração rebelde que no fim dos anos 60 se revoltava contra o status quo na França e a guerra colonial em Portugal tinha algo contra que lutar. Vivia melhor que a geração dos pais em termos de conforto e de posses económicas, mas era arrastada para projetos militares que nada lhes diziam e aos quais se opunham. Queriam tomar parte na construção da História em vez de serem arrastados como nota de rodapé para ela tal como acontecera aos seus pais.

    Depois chegou o 25 de abril e as liberdades misturaram-se com as libertinagens e os jovens dos anos 70 e 80 nasceram com o rei na barriga, tudo era permitido e nada era proibido, podiam almejar a uma sociedade sem classes com acesso ilimitado a todos os bens e seriam felizes para todo o sempre. As crises económicas que atravessaram o mundo não se fizeram sentir na Europa Ocidental (exceção feita à crise do petróleo de 1972) e a máquina da publicidade assenhoreou-se da televisão e demais órgãos de comunicação social moldando aquilo que hoje temos em casa ou que dela saíram há pouco. Por mais que lhes tenhamos dito que a vida era feita de sacrifícios eles não passaram pelas nossas experiências dolorosas, nem as viram nem as sentiram. Frequentar uma universidade não era um apanágio de elites, nem mesmo frequentar universidades privadas era já considerado elitista. Os cursos facilitaram o acesso a canudos que tinham a fama de servirem para distinguir entre os que vencem na vida e os outros, embora na prática começasse a ser diferente.

    Numa conferência sobre educação e conflitos de gerações, o médico inglês Ronald Gibson começou citando quatro frases:

    1) A nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, troça da autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Os nossos filhos são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem aos pais e são simplesmente maus.

    2) Não tenho nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque essa juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível.

    3) O nosso mundo atingiu o ponto crítico. Os filhos não ouvem os seus pais. O fim do mundo não pode estar muito longe.

    4) Esta juventude está estragada até ao fundo do coração. Os jovens são malfeitores e preguiçosos. Jamais serão como a juventude de antigamente. A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura.

    Após ter lido as citações, ficou satisfeito com a aprovação dos espetadores. Então, revelou a origem:

    – A primeira é de Sócrates (470-399 a.C.)

    – A segunda é de Hesíodo (720 a.C.)

    – A terceira é de um sacerdote do ano 2.000 a.C.

    – E a quarta foi escrita num vaso de argila nas ruínas da Babilónia (atual Bagdad) com mais de 4.000 anos de existência.

    Aos que são pais: RELAXEM, POIS SEMPRE FOI ASSIM… GRAÇAS A DEUS!

    As classes sociais esbateram-se e o grande fosso, entre os que tinham e os que não tinham, passou a ser uma memória do passado. Claro que como pais fizemos o que nos competia dando o máximo de bens materiais aos filhos, já que no nosso tempo não tínhamos tido livre acesso aos mesmos. Aproveitámos também para nos rodearmos desses mesmos bens e deixamos de poder viver sem eles. Parecia uma sociedade de abundância e não haver limite ao que os nossos filhos podiam aspirar a ter, a pressão dos pares a nível social e movida pela insaciável máquina da publicidade ajudou a comprar tudo e mais alguma coisa. Só que quando a árvore das patacas seca, i.e., quando os filhos saem de casa dão-se conta que as pequenas coisas têm um custo e a vida está feita de pequenas coisas, o que os irrita profundamente porque quando chega a altura das grandes coisas já não há dinheiro para nada.

    Como crianças mimadas em vez de lutarem por trabalhar mais e ganhar mais, queixam-se, entram em depressão apática e sofrem na inação e deprimem-se anda mais. Para eles tudo é um direito divino que compete aos pais satisfazer e quando estes não podem ou não continuam a alimentar a ilusória vida fácil, sentem-se traídos pela sociedade e pela família. Mas o que eles não sabem é que um dia irão ter de pagar pelas dívidas que o mundo e a sociedade dos seus pais lhes deixaram, porque só então teriam razão para se sentirem deprimidos, mas ainda não chegaram lá e não se preocupam. Parece a história deste país que habito, mas não é.

  • o admirável mundo de 1984 existe hoje e aqui (crónica de 2007)

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    Inspirado na opressão dos regimes totalitários das décadas de 1930 e 1940, o livro de Orwell critica o estalinismo e o nazismo e a nivelação da sociedade, tal como pretendem fazer em Portugal depois do 25 de abril. Uma redução do indivíduo a peça para servir o estado ou o mercado através do controlo total, incluindo o pensamento e a redução do idioma. Tudo isto acontece já e só vai piorar. O Big Brother está nas nossas vidas e aceitamo-lo sem pruridos. Sabe o que fazemos através dos cartões de crédito e débito, do cartão de cidadão, da passagem pelas portagens duma autoestrada, pelo Metro e seu “Cartão Andante”, pelas câmaras nos centros comerciais e em toda a parte. Não se admirem se qualquer dia com a nossa inconformidade e individualismo pudermos ser privados da pseudoliberdade por não termos cumprido as normas de higiene e de saúde que “eles” determinaram obrigatórias. Já não há espaço para seres pensantes e questionadores. Só espero que isto não acelere demasiado para os anos de vida que ainda tenho. Não se preocupem demasiado pois sou assim e esta fobia excessiva que tenho contra as bases de dados, é um sinal evidente da minha hipocondria e da necessidade absoluta que existe de me internarem como um perigo que sou para a sociedade uniforme e cinzenta que me querem impor. Ah! Se eu ao menos tivesse cá a cicuta, repetia-se o destino.

    Parecia que o mundo real lá fora estava a conspirar contra mim, e estava, mas a maior parte das pessoas nem se apercebia e vivia tranquila na morrinha da lufa diária pela sobrevivência, que a mais não podiam aspirar. … Também isto constava das previsões de George Orwell[1]. Adquiri rapidamente pés de galinha, os cabelos e pelos eriçaram-se como se tivesse visto um fantasma, isto, claro está, no caso de existirem. Comecei a olhar por sobre o ombro à cata de alguém que me espiolhe ou esquadrinhe as ideias, tão diversas do pensamento “aprovado e oficial”. Não me apetecia ser vaporizado pois tinha um legado que queria imune à ação de um qualquer ministério da verdade.

    A privacidade de há 10, 20 anos ou mais, seria impensável hoje. Tudo em nome da defesa dos valores sagrados da civilização ocidental. Da luta contra o terrorismo. Doutra qualquer peleja que os líderes hão de inventar. Como as armas químicas que o velhaco genocida do Saddam Hussein afinal não tinha. O mesmo que os EUA forjaram com Bin Laden. Desde há um século que “inventam” personalidades destas para fazerem o que lhes convém, lembremo-nos do Xá da Pérsia, ou do Panamá e de mais umas centenas de golpes falhados e aqueles que fizeram ricochete…

    [1] (n. Eric Arthur Blair, Bengala, 1903-1950

     

    10.12. DO ENSINO AO JORNALISMO, CRIAMOS UMA MASSA CINZENTA DE CARNEIROS AMESTRADOS crónica 47 novembro 2007

    É importante, e (se bem que ninguém me leia e ninguém me ouça) há muito que ando a dizer nos labirintos esconsos das minhas conversas: o ensino em Portugal (tal como a democracia) segue o rumo globalizado de privatização. No futuro, haverá acesso universal ao ensino, mas de má qualidade e sem grande futuro. A alternativa será o ensino privado, levando algumas pessoas a engrenagens de dívidas perenes e endividamento, sem hipótese de saírem desse círculo vicioso. Entretanto, as elites com poder de compra irão optar por escolas privadas, donde sairão os futuros dirigentes da nação que optem por não ir para o estrangeiro.

    Ter-se-á assim um país, e o mundo, a duas velocidades. A das massas, o antigo proletariado, com melhores condições que no tempo da ditadura, ostentando títulos académicos sem que isso represente emprego ou profissão duradoura. A das elites (à semelhança dos tempos da outra senhora) terá o privilégio de nomear os eleitos para todos os níveis de chefia a partir do intermédio. Mas não se iludam, não é só cá, é em todo o mundo ocidental. Agora com a passagem de todos os alunos, vai Portugal finalmente baixar o coeficiente de iletrados, mas ao contrário do que muitos pensam, não vai deixar de os ter, o que vai ter é analfabetos com diplomas. Nada disto é à toa, nem por uma questão de birra. Já acontece nos EUA, na Austrália e no Reino Unido, onde há escolas secundárias que custam tanto ou mais que universidades privadas…

    Teremos um país dos que têm e dos que não têm. Ninguém se preocupa com desempregados vitalícios que começaram a surgir (no fim da década de 80 na Austrália e agora em Portugal). Ninguém perde o sono ou o apetite, pelos sem-abrigo, que se propagam nas ruas das cidades esvaziadas de Humanidade, autênticos desertos à noite. Isto enquanto o camartelo municipal não chega para demolir as casas que irão ser “gentrificadas” para condóminos de luxo. Os subúrbios da gente do povo e classes menos abastadas passam a áreas VIP. O interior desertificado e abandonado do Portugal pequenino será a coutada de férias de ricos e poderosos.

    Decidi não mais comprar a habitual dose de livros de ficção. A realidade não para de se exceder e tornar-se mais inverosímil que a própria ficção. No pequeno jardim à beira-mar plantado, as liberdadezinhas são ameaçadas e cidadania é sinónimo de coragem. Há uma crise de instituições que ninguém ousa negar. A própria democracia do 25 de abril resvalou para a demagogia. Os representantes eleitos estão, sem ideias e sem horizontes, que não sejam os dos benefícios pessoais e dos mais próximos colaboradores. Esta teia intrincada de corrupção e nepotismo coloca em causa a democracia.

    Os ataques à liberdade começaram há muito com a autocensura, imposta pelos poderes económicos que dominam os meios de comunicação. Depois, seguindo um processo, a nível mundial, centrado no politicamente correto, assiste-se à criação artificial do ser imperfeito: agora é o fumador, daqui a uns tempos serão os obesos e depois os carnívoros…. Tudo isso será tão grave como não pagar impostos. As represálias irão fazer-se sentir sobre os que exercem um mero ato de cidadania. Os jornalistas não ousam criticar ninguém a menos que “mandados”. Já não há espírito de missão nem a profissão pode ser levada a sério. Portugal nunca foi um país de “jornalismo de investigação” e agora ainda menos. A sociedade civil não se pronuncia e os jornalistas raramente o fazem. Os que querem ser esclarecidos contentam-se com o mundo “underground” dos blogues. O progresso tecnológico galopante, nas últimas décadas, permitiu a todos um acesso alargado à informação, mas as pessoas estão menos informadas. Vive-se a miragem de uma multiplicidade de jornais e de canais. Os telejornais são decalcados uns dos outros, apenas os apresentadores e a ordem das notícias muda.

    Os grandes grupos económicos que dominam os meios de comunicação (e os meios livreiros nacionais) promovem um cartel monopolizador da “verdade”, onde a independência e isenção são palavras vãs que se arriscam – em qualquer momento – a serem trucidadas. Os assalariados (leia-se jornalistas) se bem que hipoteticamente livres para escreverem sobre qualquer assunto, de qualquer forma ou feitio, só serão publicados se o conteúdo for conveniente aos interesses dos donos (leia-se patrões). Este tipo de censura é a pior. Cresceu incomensuravelmente nas últimas décadas e já me preocupava em meados de 80 na Austrália. É quase invisível. Mais brutal que o velho sistema do “lápis azul” do SNI que eliminou 64 das 100 páginas do meu primeiro livro de poesia em 1972 (Crónica do Quotidiano Inútil) para ficar elegantemente reduzido a 32.

    Agora, o quarto poder, a imprensa escrita e audiovisual, na sequência do célebre caso Watergate na década de 1960, deixou de funcionar em prol das liberdades e direitos dos cidadãos. Já não faz denúncias. Antes pactua e se esconde sob a ameaça velada das restritas leis que obrigam um jornalista a fornecer as fontes sob pena de ir para a cadeia ou pagar indemnizações milionárias. Os grandes grupos gabam-se de conseguirem eleger governos e presidentes e quando não o conseguem vale sempre a ajudinha duma batota. E o voto eletrónico pode ser manipulado por quem instala o software… Ninguém sabe quantas guerras e milhares de mortos por causa de tais eleições. Em simultâneo, os grupos económicos que os apoiavam aumentaram desmesuradamente a influência, poder e lucros. Nem só de petróleo vive a administração dos EUA.

    Aqui vos deixo um alerta para a necessidade de acordarem. Todos. Mesmo os que têm a consciência escondida ou pesada pelas atoardas com que diariamente vos metralham na comunicação social. É preciso haver jornalistas. Daqueles que nunca se calam nem se vergam ao peso do que é conveniente ou não dizer, sem olhar a atenuantes ou consequências. Têm – agora, mais do que nunca – que ser arautos dos que não têm voz. Cada vez é maior o número dos desprovidos. Têm de ter uma probidade e ética inultrapassável para afrontar tudo e todos, sem encolher os ombros cómodos, tal como os antepassados fizeram. Assim surgiu o deflagrar da 2ª Grande Guerra. Hoje já não há debates, mas fachadas de pretensa discussão, veículos de propaganda governamental da democracia “guiada”. Este cinzentismo acéfalo e monocórdico da comunicação social foi enriquecido pelo aparecimento dessa droga legal chamada “imprensa cor-de-rosa”. É soporífera e causa danos irreversíveis à mente humana. Nenhum governo se atreve a legislá-la, proibi-la ou sancioná-la. Pelo contrário, encontram nela um valioso aliado na luta obscurantista em que estão empenhados, para que o povo pense que está a ser governado enquanto eles se governam. Resta o mundo dos blogues para se saber o que é deveras importante.

    Quando os políticos falam não são eles, mas as agências de comunicação e os grandes grupos que os sustentam. Quer-se, teoricamente, um cidadão culto e educado, para ter a liberdade de fazer as suas opções em liberdade. Mas o que se criou foi um pateta manipulado. Pensa que vive em democracia e é livre, mas não passa de participante involuntário numa fraude democrática. Como se diz em inglês “read my lips”… O que o povo quer é ver revistas com os escândalos dum pseudojetset e da pseudonobreza sem sangue azul, só fama fácil. O que o bom povo quer é mortes, violações, abusos, desgraças, inundações, incêndios, bombas, guerras e as tragédias longínquas, dos outros. As suas não lhe interessam.

    O povinho (tão bem retratado por Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, ainda hoje atuais) quer ver as vergonhas dos outros para que não vejam a sua, “é disto que o meu povo gosta” como diria Pedro Homem de Mello, embora se referisse ao folclore… Assim se explica que a maior parte dos bons jornalistas portugueses se encontre desempregada sem ser por opção ou por reforma antecipada. Não eram fabricantes de notícias sensacionalistas para abrir o telejornal, empolando banalidades em transmissões diretas do nada. Nunca o país viu aumentar tanto e em tão pouco tempo o fosso entre ricos e pobres como nas últimas décadas. As pensões e reformas são das mais baixas da Europa, mas os Executivos portugueses ganham mais do que os seus milionários congéneres norte-americanos. Ninguém escreve sobre isto? Limitam-se todos a passar secretamente essas notícias em e-mails aos amigos.

    Uma idosa que roubou uma peça avaliada em menos de quatro euros foi levada a tribunal pelo supermercado, e o banqueiro x, y ou z (entre outros ladrõezinhos que existem por aí) nem sequer a tribunal vai? Claro, que o roubo de milhões é investimento falhado e o de uns cêntimos é um crime de lesa-majestade. Gosto de escrever a palavra REVOLTEM-SE, mas pode ser crime de traição ou de apelo ao terrorismo, face às novas leis, pelo que me coíbo de o fazer.

    Faltou frisar que a ideia da nova educação é fazer com que os professores estejam cada vez menos preparados e criem alunos ignorantes. É a teoria do mínimo denominador comum. Não interessa a nenhum governo uma população culta, educada e lida…depois era mais difícil regê-los. Segue-se uma nova versão da máxima salazarista “quanto mais ignorantes mais felizes…” ou como o amigo Daniel de Sá lestamente me avisou, no formato original, a máxima de Salazar era: “Um povo culto é um povo infeliz.” Sejamos felizes, sejamos incultos. A razão de todas as infelicidades reside na Santa Cultura que tanta dor pariu. Depois criam-se artificialmente castas (este país sempre foi um país de castas).

    Primeiro, havia a dicotomia entre professores primários, secundários e os universitários. Vasos não comunicantes e estanques. Para mim o erro foi acabar com a Escola do magistério e criar as ESE… que fabricaram diplomados com ignorância e falta de preparação …até dói. Já basta haver programas que pouco ou nada ensinam (mais curtos, inúteis e fúteis, cheios de imagens para contrabalançar a falta de conteúdo, para contrapor a asserção vigente no meu tempo de que aprendia coisas que para nada serviam). Claro que a falta de preparação dos professores aplicada numa educação de massas, caraterizada pelo mínimo denominador comum, vai perpetuar o ciclo descendente de conhecimentos, e cada vez haverá mais burros nas fileiras. Isso é altamente importante para os políticos no poder. Quanto mais iletrados os professores e alunos, melhor serão conduzidos os milhões de cordeiros do rebanho da nação. A educação é uma fábrica de analfabetos para ensinar mais analfabetos futuros. Nada mais perigoso que uma pessoa que lê e estuda. Até pode pensar por ela…

    Este país tem demasiadas leis e incumprimentos a mais…para quê se ninguém as cumpre? Quando as tentam impor, é sempre de forma arbitrária, bruta e cega de aderência à letra da lei e não ao espírito, ou então limita-se a uma mera caça à multa. Uma coisa é ter regras e normas. Outra é impor leis a uma população impreparada e ignorante pela força bruta.

    Há ainda os lóbis fortíssimos dos médicos, farmacêuticos e advogados em quem ninguém toca e são corresponsáveis pela má saúde do país. O que é preciso é civilizar [leia-se DOMESTICAR] o povo para se poderem impor regras e normas, o resultado está à vista…vive-se numa ditadura republicana, de esgares monárquicos, disfarçada de democracia. Tal como no tempo do Hitler só quando chegar à nossa porta é que nos daremos conta do caminho por onde nos levaram… As democracias só podem funcionar com gente culta e preparada e não com quase dez milhões de analfabetos como em Portugal. Nos outros países (e na Austrália vi isso) fazem-se sacrifícios e o país avança e progride, aqui obrigam-se a sacrifícios e o país fica na mesma. Aqui só se trabalhou para a estatística europeia e não para criar riqueza. É isso que acontece com os empresários portugueses na sua maioria.

    Como escrevia Mendo Henriques em agosto de 2008: “é altura de fazer uma revolução e dar o poder a quem tem cultura e não a quem tem dinheiro”.

    É tudo uma questão de visão, os portugueses têm-na tipo túnel (quando a têm). Outros veem mais longe e preocupam-se com o futuro. Eu aprendi imenso com os chineses. Foi essa a lição mais importante. Nunca me esqueço também do que mais me impressionara na aprendizagem com os aborígenes australianos: como sobreviver milhares de anos com uma cultura oral, sem escrita, sem posse de terras, sem matar a não ser o que é necessário para uma alimentação frugal, para preservar o meio ambiente. Assim foram capazes de manter um segredo durante séculos (como era o crioulo de português que uma tribo manteve durante mais de quatrocentos anos e da qual se falou atrás).

    O excesso de informação, desinformação e manipulação política acabam por condicionar o rebanho dócil dos que falam muito e se queixam ainda mais, mas pouco ou nada fazem. Sempre prontos a criticarem o governo e os outros sem perceberem que a verdadeira culpa radica neles. O país continua diariamente – há muitos anos – a gastar muito mais do que produz. A hipotecar-se sem construir ou criar algo de produtivo. Esta irresponsabilidade coletiva será paga pelas gerações futuras, hoje demasiado preocupadas na sua ignorância para se aperceberem de que a conta foi passada em seu nome coletivo. Mas ainda não chegámos lá.

    Os portugueses habituaram-se ao goze agora e pague depois, se não morrer antes. Não se importam com os que roubam à sua volta, sejam do governo ou da privada. Até os invejam e gostariam de poder fazer o mesmo. Por outro lado, os que se aproveitam desta e doutras crises, os que beneficiam das benesses do governo, dos subsídios que a Europa paga para outros fins, e os que orbitam nessas esferas continuam a ir aos stands de automóveis de desporto comprar Ferrari, Porsche etc. Não há rutura de abastecimentos, e os supermercados continuam a oferecem milhares de artigos à escolha. A maioria dos habitantes, da Lusitânia sem alma, não quer saber de princípios. Abomina quem os tem.

    Se bem que poucos existem alguns que os preservam e perseveram. Se não são mais ouvidos, quando têm tempo de antena nas rádios e televisões, é porque os programas só são transmitidos quando todos dormem e sós alcoólicos com insónia estão despertos.

    De qualquer modo o que é que o homem e a mulher comuns podem fazer, além de falar no café e queixarem-se aos amigos e conhecidos? Mesmo que soubessem rabiscar umas ideias e quisessem escrever uns artigos, provavelmente não seriam publicados. Vive-se numa ditadura dissimulada em que mesmo com 200 mil pessoas em manifestações de rua nada se consegue. O poder não treme nem pestaneja, coça-se como se estivesse a ser atacado por uma ridícula e inofensiva pulga. É essa a opinião dos governantes sobre o povo que manietam. Para quê denunciar escândalos? Raro é o dia em que um ou mais são denunciados nas redes, na internet na rádio e televisão. A justiça, que sempre esteve ao lado dos poderosos, parece estar ao lado dos que mais roubam e lesam o país Viriato e Sertório foram apunhalados pelos seus conselheiros. Aprende-se mesmo pouco em Portugal. Falta agora um novo Viriato a liderar os Lusitanos contra os usurpadores da República..

  • da escravidão perpétua CRÓNICA 198, 18.6.2018

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    17.1. DA ESCRAVIDÃO PERPÉTUA, CRÓNICA 198, 18.6.2018

    Por vezes acontecem ideias a meio da noite ou em sonhos de despertares súbitos. Foi o que sucedeu quando totalmente exsudado despertei e entendi a máquina que move os humanos. Lembrei-me de todas as civilizações existentes na História Moderna desde a Grécia a Roma e mais recentes civilizações. Entendi agora pontos mais obscuros da teoria dos multiversos, ou universos paralelos e tudo que há de comum em toda a História da Humanidade.

    Locke é considerado pelos seus críticos como sendo “o último grande filósofo que procura justificar a escravidão absoluta e perpétua”. Ao mesmo tempo que dizia que todos os homens são iguais, Locke defendia a escravidão a exemplo de Aristóteles, que foi o primeiro a fazer um tratado político defendendo a escravidão. Na época, era uma prática comum, e isso classificaria Locke como um homem da época – o que não diminuiria a importância das suas ideias, revolucionárias em relação ao seu tempo.

    A escravidão não é coisa do passado e de países pobres, e nunca foi tão lucrativa. O alerta vem do advogado, autor e ativista Siddharth Kara, um dos principais especialistas do mundo em tráfico de pessoas e escravidão, temas que estuda e leciona na Universidade de Harvard. “Nenhum país é imune e somos todos cúmplices. A escravidão permeia a economia global mais do que em qualquer momento do passado”, diz ele.

    A estimativa é que a indústria da escravidão gere lucros de 150 bilIões de dólares por ano. Há 21 milhões de escravos no mundo, segundo a Organização Internacional do Trabalho. Nos últimos 17 anos, Kara entrevistou mais de 5 mil pessoas que estão ou estiveram nestas condições em mais de 50 países. Mas afinal de que escravidão falamos, pois existem tantas formas e variadas manifestações? Há uma forma generalizada e comum a quase todos: “Nunca ninguém foi verdadeiramente livre” por mais aparência de liberdade que existisse, como foi o caso das gerações que viveram entre 1960 e 2000, considerado, por alguns, o período em que mais liberdadezinhas tiveram os humanos no mundo ocidental.

    Desde sempre sujeita a normas e convenções, com mais ou menos liberdade de opções, a humanidade esteve sempre sujeita aos desígnios da pequena minoria mandante que dita os moldes da escravidão de cada era, desde a fixação do trabalho, à remuneração, recompensas por bom comportamento dos súbditos, à existência ou não de tempos de lazer, desde que a engrenagem produtiva não seja afetada. Ninguém escapa, nem mesmo os que, pretensamente, vivem off-the-grid (fora da rede), pois continuam a necessitar de bens produzidos pelo sistema e o sistema de “barter”, troca direta, nem sempre é possível para aquisição do que precisam para viverem fora da rede. Isto é verdade em todas as ocupações e profissões e os desprovidos são os desempregados, sem-abrigo e outros que fugiram ao ciclo produtivo, com toda a liberdade de fazerem o que quiserem desde que seja gratuito, o que os limita a viverem à sombra da bananeira, nalguma ilha deserta e tropical, rica em produtos para a alimentação, vestuário e outras necessidades primárias. E todos sabemos que isto só é possível em literatura ou em casos, muito isolados. Os senhores do mundo, usam os instrumentos ao seu dispor desde a escravatura materialista das sociedades contemporâneas à religião, à contrainformação, aos espetáculos circenses que reproduzem a velha máxima romana de “política do pão e circo (panem et circenses) ” que vai dos mundiais de futebol, a desportos de massas, anestesiando as massas e dando fuga a sentimentos reprimidos.

    Aborígenes australianos em cativeiro séc. XIX-XX.

    Basta averiguar o mito das férias. Se estiver numa ocupação produtiva remunerada, provavelmente recebe um montante extra para gastar, caso contrário se viver, como eu, na Lomba da Maia, sem dinheiro extra nem carro, terá de ir a pé 4 km até à Praia da Viola e chamará a isso férias, ou aproveitará esse tempo livre para cuidar da casa, pintá-la, renová-la com o seu trabalho gratuito e chama a isso de férias. Se entrou num esquema de crédito ao consumo, nunca mais se libertará do ciclo vicioso de trabalhar para pagar ao banco o que pediu emprestado e os juros exorbitantes da invenção a que chamam dinheiro.

    Em qualquer outra esfera da vida será o mesmo. Endividou-se para estudar, então trabalhe, explorado para reembolsar a banca, a mesma que não vai à falência e sobrevive explorando-o a si e aos dinheiros dos demais. Seria uma vida mais livre e menos escrava antes de se ter inventado o dinheiro? Não temos relatos fidedignos … Se depois desta curta resenha ainda pensa que não é um escravo, pense nos antepassados e imagine como será o futuro dos seus descendentes e verá como é apto o título desta crónica. E se pensa que os mandantes e donos disto tudo são livres desengane-se, sem os escravos perpétuos eles nada são e têm de se certificar constantemente de que há escravos suficientes para manterem o sistema a funcionar. Por mais oleado que o esquema esteja terão sempre de inventar novas normas e retribuições, fake news, para que a roda dentada da engrenagem continue a funcionar. E os poetas, sonhadores, escritores, enganam-se pensando que ao escreverem isto são livres, mas é só na realidade virtual da escrita que atingem esse modicum enganoso de liberdade.

  • QUEREM MATAR O HUMOR

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    Escrevi há 11 anos: (CRÓNICA 49, PICO, 13 janeiro 2008)

    “Ter humor é possuir a capacidade de perceber a discrepância entre duas realidades: entre os factos (brutos) e o sonho, entre as limitações do sistema e o poder da fantasia criadora. No humor ocorre um sentimento de alívio face às limitações da existência e até das próprias tragédias. O humor é sinal da transcendência do ser humano que sempre pode estar para além de qualquer situação. O humor é libertador. Por isso sorrir e ter humor sobre o que nos rodeia, sobre a violência com a qual a sociedade e as suas regras limitadoras nos pretendem submeter, é uma forma de nos opormos a ela. Somente aquele que é capaz de relativizar as coisas mais sérias, embora as assuma, pode ter bom humor. O maior inimigo do humor é o fundamentalista e o dogmático. Ninguém viu um terrorista sorrir ou um severo conservador cristão esboçar um sorriso. Geralmente são tão tristes como se fossem ao seu próprio enterro. Basta ver os seus rostos crispados. Como afirmava Nietzsche, “festejar é poder dizer: sejam bem-vindas todas as coisas”. Pela festa o ser humano rompe o ritmo monótono do quotidiano. Façamos uma festa…!

  • da próxima virão por si, virão buscá-lo

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    Para se pensar !

    Quando vieram ….
    Quando vieram contra os negros,
    eu não era negro e não fiz nada.
    Quando vieram contra os favelados,
    eu não era favelado, não fiz nada.
    Quando vieram contra os homossexuais,
    eu não era homossexual e não fiz nada.
    Quando vieram contra as mulheres,
    eu não era mulher e não fiz nada.
    Quando vieram contra os analfabetos,
    eu não era analfabeto, não fiz nada.
    Quando vieram contra os pobres,
    eu não era pobre e não fiz nada.
    Quando vieram contra os aleijados,
    eu não era aleijado e não fiz nada.
    Quando vieram contra os outros,
    o assunto não me dizia respeito e
    não fiz nada.
    Quando vieram contra mim,
    ninguém me defendeu.
    Quem não é vitima de discriminação e abuso
    sempre pensará que o sofrimento do outro não é
    grande coisa, que é exagero.
    Alguns acham que discriminação
    nem existe, que não existe discriminação contra
    negros, contra mulheres, contra homossexuais,
    aleijados, favelados, pobres…
    Assim seguimos e fazemos todos os dias,
    desprezamos ou diminuímos
    o sofrimento alheio.
    Não dando atenção à dor do outro nos
    condenamos a sofrermos em silêncio, a
    sofrermos sozinhos a nossa própria dor.
    O preconceito só existe porque o silêncio
    favorece os opressores.
    Quem, acovardado, se omite,
    concorda com o abuso.
    Quem concorda com o abuso,
    será abusado ouvindo o silêncio cúmplice dos
    outros.
    E tudo parece muito normal,
    tão normal quanto sofrido e solitário.
    Aquelas frases acima poderiam ser
    reescritas assim?
    Quando vieram contra os negros,
    eu não era negro e não fiz nada e,
    calado, também eu era contra os negros.
    Quando vieram contra os homossexuais,
    eu não era homossexual e não fiz nada e, calado,
    também eu era contra os homossexuais.
    Quando vieram contra as mulheres,
    eu não era mulher e não fiz nada e,
    calado, também eu era contra as mulheres.
    Quando vieram contra os analfabetos, eu não era
    analfabeto, não fiz nada e, calado, também eu era
    contra os analfabetos.
    Quando vieram contra os favelados, eu não era
    favelado, não fiz nada e, calado, também eu era contra
    os favelados.
    Quando vieram contra os pobres, eu não era pobre
    e não fiz nada e, calado, também eu era contra os
    pobres.
    Quando vieram contra os aleijados,
    eu não era aleijado e não fiz nada e,
    calado, também eu era contra os aleijados.
    Quando vieram contra mim, ninguém me
    defendeu, usaram o silêncio e a indiferença
    para apoiar meus inimigos.
    Uma lição a ser aprendida:
    o que nos faz iguais é que somos, todos,
    diferentes uns dos outros.
    De onde vem o medo de ser diferente?
    Do silêncio?

    (Inspirado no documentário: “Olhos azuis” de Jane Elliott)

    Porquê? Pense nisso.

     

    in chronicaçores

    10.12. DO ENSINO AO JORNALISMO, CRIAMOS UMA MASSA CINZENTA DE CARNEIROS AMESTRADOS crónica 47 novembro 2007