Categoria: ChronicAçores

  • Crónica 423 sociedade de valores invertidos CHRYS C

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    Crónica 423 sociedade de valores invertidos 7.11.2021

     

    A imagem acima retrata bem a sociedade global em que vivemos de valores invertidos. Não precisa de legenda nem de explicação, o mesmo se aplica aos falsos heróis sejam eles do desporto ou de outras áreas. Ganham milhões, são bons profissionais a preço de ouro e são idolatrados, outros que sem meios nem salários milionários fazem ações meritórias nem uma nota de rodapé merecem.

    O voyeurismo é rampante, temos um primeiro-ministro, ministro ou presidente a fotografar uma família pobre a quem deu uma esmola com o dinheiro de todos nós e isso ocupa parangonas de jornais e telejornais. Outros que ajudam sem ser a caridadezinha salazarenta passam despercebidos. Cientistas, novos e velhos com grandes descobertas e invenções passam ao largo dos noticiários e qualquer “fait-divers” de uma pseudo-celebridade enche páginas de jornais e revistas cor-de-rosa.

    Há uma inversão total de valores que insidiosamente permeia a mente dos mais jovens desde muito jovens e em vez de inculcar princípios de justiça, equidade e mérito apenas incentiva à futilidade. Infelizmente é nesse mundo que vivemos há já umas décadas e não se espera que a situação mude, a programação e os algoritmos que comandam a sociedade não o permitiriam para não alterar a agenda global de massificação e formatação mental.

    Outro exemplo de inversão de valores são os milhões desperdiçados no Novo Banco e outros em vez de se indemnizarem os que ali tinham poupanças duma vida inteira e dinheiro investido. Por seu lado a justiça tem sempre dois pesos e medidas, uma para os ricos e poderosos cheia de leniência e uma draconiana para os restantes.

    A selva em que a sociedade se transformou perdeu o respeito pelos mais velhos e sua imensa experiência e sabedoria para emular a gratificação instantânea e fútil da trivialidade e superficialidade. Não me revejo nesta sociedade de valores invertidos e sei que somos poucos a vê-la e escalpelizá-la deste modo. Nos anos poucos que me restam, disponho apenas deste espaço para o denunciar e esperar pela clarividência de outros.

    Chrys Chrystello, drchryschrystello@journalist.com

    Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713

    [Australian Journalists’ Association – MEEA]

    Diário dos Açores (desde 2018)

    Diário de Trás-os-Montes (desde 2005)

    Tribuna das Ilhas (desde 2019)

    Jornal LusoPress Québec, Canadá (desde 2020)

    Jornal do Pico (desde 2021)

     

     

  • O FIM DO HUMOR E O POLITICAMENTE CORRETO (2009)

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    . O FIM DO HUMOR E O POLITICAMENTE CORRETO 2009

     

    Ter humor é possuir a capacidade de entender a discrepância entre duas realidades: os factos e o sonho ou criatividade, as limitações do sistema e o poder da fantasia criadora. O humor é a forma de expressão em que ocorre um sentimento de alívio face às limitações dramáticas da existência e da tragédia, sinal da transcendência humana. O humor é libertador. Rir, mesmo parecendo fútil, é importante.

    Sorrir e ter humor sobre o que nos rodeia é uma forma de oposição à norma. Só quem é capaz de relativizar as coisas sérias, embora as assuma, pode ter humor. O maior inimigo é o fundamentalista e o dogmático. Ninguém viu um terrorista ou um severo conservador esboçar um sorriso. Geralmente são tristes como se fossem ao seu enterro, rostos crispados. Afirmou Nietzsche, “festejar é dizer: sejam bem-vindas todas as coisas. Pela festa o ser humano rompe a monotonia do quotidiano”. Façamos a festa…!

    Não me espantam os blogues politicamente corretos pois vivo num mundo diferente. Sem questionar o feminismo (ou outros ismos) todas as piadas são objecionáveis por se basearem em estereótipos (humanos, animais, ambos ou nenhum). Depois dos defensores dos “ismos” terem colocado as objeções contra clichés de louras, alentejanos, judeus, cristãos, islâmicos, pobres, professores, animais (os que estão na mala dos carros com a esposa), o que fica: NADA. Acaba-se o humor. Sinto-me incomodado com a violência gratuita, insinuações da TV, telejornais e séries, pois são armas de estupidificação globalizante que a todos corroem. O humor usa a linguagem dos estereótipos. Desde 1980 vi surgir a censura, dissimulada em fundamentos aceitáveis, pretendendo sanitizar as mentes. Começou na Austrália quando o politicamente correto foi introduzido naquela década. Como tradutor profissional tive de o seguir, mas como ser inteligente (pensante) recuso-o hoje, como ontem. Deve-se lutar contra a discriminação, sob todas as formas, assédio sexual, político e outros, contra o salário de miséria e exploração (reminiscente da Revolução Industrial), contra as quotas ou falta delas nos elencos femininos do governo, a falta de acesso a pessoas com deficiências. Lute-se contra isso tudo mas deixem o humor de lado. Com o politicamente correto acaba-se o humor. Esse é o cerne da questão. O politicamente correto era a forma mais fascista de sanitizar a língua, o pensamento e a vida, criando uma sociedade assética e inócua. Todos iguais e cinzentos de acordo com a norma.

    Não é só no humor que a situação é preocupante, a educação merece aturada atenção.

    Há canudos, por encomenda, a passagem de iletrados, a massificação da ignorância nacional, o entorpecimento da mente através de programação subliminar, preparada em gabinetes de psicologia de guerra. O alvo é a destruição dos pilares tradicionais: família, professores, médicos, rumo ao Homo Novus, plano sabiamente arquitetado por maçonarias, Bilderberg. Do livro de Daniel Estulin[1]):

    “A história do Clube Bilderberg é a da subjugação da população. Um Estado Policial Global, que formula a Nova Ordem Mundial, um governo invisível, omnipresente, que manipula, controla os EUA, União Europeia, OMS, ONU, Banco Mundial, FMI e similares.

    A ideia é criar uma sociedade dócil, de ignorância massificada através das “Novas Oportunidades” e diplomas a “martelo”, incapaz de pensar, argumentar, discursar ou filosofar. Os professores mais novos já pertencem a essa “colheita”, em breve, toda a nação se rege por esse protocolo entorpecente. Será muito mais fácil, manipulá-los, enganá-los e explorá-los. Por outro lado, quando introduzirem o salário universal, a sociedade irá depender economicamente do Estado para desenvolver projetos e atividades. Cada vez mais, a teia se enrola, como uma cascavel, sugando a vida e liberdade.

    Nem Salazar nem Orwell conceberiam um plano tão maquiavélico, nem teriam meios de o implementar. Perguntar-se-á, ninguém dá conta? Alguns darão, mas como não podem escrever livremente, nem os jornais ou telejornais aceitariam um discurso crítico, o povo fica sem acesso a opiniões divergentes. Incapaz sequer as equacionar e, como não tem capacidade de discernir não as distinguiria das notícias falsas. Dentro de uma ou duas gerações, Portugal terá a população mais dócil e manipulável. Todos diplomados, licenciados, doutorados, com diplomas mas sem literacia, sem saberem ler ou escrever e sem a capacidade de discernir ou pensar livre e criticamente. A nova ditadura, instaurada subrepticiamente como um vírus informático, esconder-se-á sob o manto diáfano da democracia.

     

    [1] “A Verdadeira História do Clube Bilderberg” nos últimos 50 anos, um grupo de poderosos reúne-se secretamente para planear as decisões que movem o mundo e depois acontecem. O jornalista e especialista em comunicação Daniel Estulin, há 13 anos investiga as atividades do Clube. Ganhou três prémios, EUA e Canadá, e aponta quem manipula na sombra as organizações. O livro foi editado em 28 países, 21 idiomas

  • se houvesse cultura nos açores teríamos Casas-Museu

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    Crónica 422 se houvesse cultura nos açores teríamos Casas-Museu 26.10.2021

    Já em 2003 recém-chegado da Austrália imaginei Portugal com roteiros culturais dedicados aos seus autores, como se podia ler em A língua portuguesa e a UE alargada, 2003-06-02 | Revista ELO |

    Quem se lembrou já de incluir roteiros turísticos literários a locais celebrizados pelos monstros sagrados da literatura dos sécs XIX e XX? Alguns constam já dos vulgares roteiros paisagísticos, havia que organizar a leitura de livros desses autores, e a divulgação nesses locais, [como em abril 2003 com a atribuição do prémio Camilo Castelo Branco a Mega Ferreira]. Disponibilizavam-se traduções ou faziam-se reedições (económicas, sem luxos) para os milhares de turistas desses novos países que quererão vir a Portugal. Lucrava o país, editores, operadores turísticos e a língua. Podíamos começar com o José Saramago e um roteiro às terras de origem acompanhado de leitura de obras suas, disponibilizadas em línguas dos países da UE, passando por locais evocados em “A Cidade e as Serras” e outras paisagens dos Açores de Nemésio, à Brasileira de Pessoa ou à Monsanto de Fernando Namora. Convidavam-se professores jubilados que amam a Língua Portuguesa para falarem das mil e uma nuances de cada um, pedia-se aos autores vivos que disponibilizasse um dia do calendário para falar da sua obra ou lê-la num cenário apropriado. Estou certo de que a organização de tais eventos custaria menos do que muitas funções oficiais já agendadas.

    Posteriormente, com a morte em 2008 de Dias de Melo e a de Daniel de Sá em 2013 propugno a criação de casas-museu como forma de homenagear aqueles autores e a sua obra, uma na Calheta de Nesquim e outra na Maia micaelense.

    Agora que o Cristóvão de Aguiar abandonou as vestes terrenas, e depois de falar com os filhos reitero essa necessidade de uma Casa-Museu na localidade de S. Miguel Arcanjo, São Roque do Pico para onde ele se mudou na década de 1990 e ali fez a sua segunda casa. Os filhos estão dispostos a repor toda a sua biblioteca e manter a casa tal como estava quando ele a habitava a fim de que possa ser convertida num local dedicado ao autor e às suas obras.

    Se a região autónoma dos Açores tivesse uma verdadeira Secretaria da Cultura esta deveria inscrever já no orçamento regional montantes destinados a adquirir as casas daqueles autores e convertê-las em Casa-Museu. Uma região que não honra a memória dos seus maiores nas letras e artes não pode arrogar-se o direito de falar na sua história e muitos menos dizer que tem cultura.

    É essa visão que sempre faltou a esta autonomia envergonhada em que vivemos. Propositadamente deixei de fora todos os outros autores que merecem idêntico tratamento e concentro-me nestes três pois com eles lidei e deram contributo de relevo aos nossos Colóquios da Lusofonia.

    Se o governo não quiser, que seja a autarquia de São Roque do Pico a tomar a dianteira e a iniciativa e a ficar na vanguarda desta merecida homenagem ao prolífico autor Cristóvão de Aguiar. Fico à espera.

    Imagem da casa em S. Miguel Arcanjo

    Chrys Chrystello, Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713

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  • prendas a quem as merece

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    Hoje tive uma prenda!
    Obrigada Chrys Chrystello .
    Vão comigo para Timor.
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  • SOLIDARIEDADE QUE ME FAZ CRER NA HUMANIDADE

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    (exemplos de lipas atuais e antigas)

     

    Crónica 418 SOLIDARIEDADE QUE ME FAZ CRER NA HUMANIDADE

    De repente dou comigo a acreditar, de novo, na humanidade. Em tempos, pedi num fórum de Timor, a qualquer alma caridosa que me enviasse uma “lipa” timorense, para substituir a minha esfarrapada, com mais de 47 anos e que ainda uso. Na Austrália usava-a na praia, aqui sou mais comedido e só a uso em casa. A lipa é uma espécie de “sarong” ou “sari” que os homens usam enrolada à cintura e que adotei desde que vivi em Timor (1973-75).

     

     

    Nesse fórum uma pessoa que não conheço pessoalmente (Helena Olga Jesus, cooperante no ensino em Liquiçá), amiga dum amigo comum, o editor Francisco Madruga, ofereceu-se logo e hoje recebi no correio, não uma mas três lipas, uma pequena bolsa ou saca típica que as mulheres usam e mais umas pequenas lembranças de Timor.

    Ora bem, numa era em que as pessoas se insultam e agridem verbalmente por mera divergência de opinião, é deveras reconfortante registar esse gesto solidário, que merece da minha parte um agradecimento público, pela generosidade da dádiva, pela simpatia e compreensão do meu insólito pedido.

    Só quem viveu pelos orientes entenderá o que aqui escrevo, eu que sou um ocidental muito orientalizado e eternamente ligado a Timor. Bem-hajas, Helena Olga Jesus, por este gesto que muito nos sensibilizou e que fica gravado para memória futura.

    Chrys Chrystello, Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713

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  • ELEICOES-AUTARQUICAS-CHRYS C

    ELEICOES-AUTARQUICAS-CHRYS C

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    https://blog.lusofonias.net/wp-content/uploads/2021/09/ELEICOES-AUTARQUICAS-POR-CHRYS-C.pdf

  • Novas eleições à porta, vários partidos e personalidades esperam pelo meu voto.

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    Crónica 415 eleições autárquicas 7.9.2021

    Novas eleições à porta, vários partidos e personalidades esperam pelo meu voto.

    Gostava e espero que os partidos e as pessoas pensem nos Açores, como um todo, uma família de nove filhas a quem é preciso dar dote valioso com políticas de transportes urbanos, interurbanos, interilhas e de carga, políticas de emprego (em vez da exploração desenfreada do salário mínimo), aumento de qualificações académicas e profissionais dos que ainda resistem ao apelo da emigração, política agropecuária para o século XXI e política agrícola de produção e distribuição adequada às novas realidades europeias, melhoria da política de água e saneamento (construção de reservatórios que evitem o desperdício das águas das chuvas) e construção de ETAR que evitem a poluição fecal das praias e surf, política social de apoio aos necessitados e incentivos ao aumento da produtividade baixa da classe trabalhadora, redução da carga fiscal (os impostos sobre combustíveis são uma enormidade, tal como na energia elétrica e na água), uma política de cultura que deixe de ser esmoler e premeie os que mais produzem (desde a cultura elitista clássica às novas formas culturais e à manutenção da herança cultural, seja ela folclórica, filarmónica ou outra). Uma política de recuperação urgente do enorme património abandonado, arruinado e desprezado existente nas nove ilhas.

    Um povo inculto continuará a poluir, deitar lixo para o chão, menosprezando as riquezas naturais e ecológicas, sem prezar a lingua e cultura, a educação e a formação, sem visão de futuro, repetindo modelos ancestrais de desenvolvimento que são inadequados aos tempos que aí vêm, novas tecnologias, Inteligência artificial e robótica, mecanização de tarefas que dantes empregavam a mão-de-obra pouco qualificada, em tarefas repetitivas, monótonas e de baixa produtividade.

    Quero uns Açores verdes, sustentáveis , capazes de resistir à massificação e funchalização das ilhas em busca de lucro rápido e dos elefantes brancos de 5 estrelas.

    Quero políticos que saibam pensar as ilhas independentemente da cor partidária, capazes de limpar os mortos dos cadernos eleitorais, capazes de defender os interesses locais e regionais duma verdadeira autonomia mesmo que tenham de confrontar o centralismo lisboeta e que pensem em criar o futuro já que o presente parece muito comprometido por mais bazucas que se anunciem quando a população continua a fazer o que sempre fez, abster-se de votar e vota com os pés rumo à emigração de outras paragens, onde o seu trabalho seja mais reconhecido e remunerado e onde pode construir carreiras, futuro e sonhar viver em vez de aqui permanecer e mal sobreviver

    É só isso que desejo em troca do meu voto.

    Chrys Chrystello, Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713

    [Australian Journalists’ Association MEEA]

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  • AQUI JAZ A CULTURA AÇORIANA CRÓNICA 404 chrys c

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    CRÓNICA 404 AQUI JAZ A CULTURA AÇORIANA 11.7.2021

    (esta e anteriores em https://www.lusofonias.net/mais/as-ana-chronicas-acorianas.html

     

     

     

     

     

     

    O meu pai sempre me disse que era feio pedir ou pedinchar, mas é o que tenho andado a fazer há vinte anos em nome dos Colóquios da Lusofonia, porque vivo num país de ladrões, corruptos e pessoas para quem a bola é quase o único interesse nacional.
    Quando se fala de leitura, de cultura, de literatura todos torcem o nariz dizendo umas patacoadas, na maior parte das vezes, pinoquiadas, pois nunca se editaram tantos livros e nunca houve tão poucos leitores, mesmo entre a classe dos professores que tem uma aversão generalizada à leitura, quiçá por traumas educacionais antigos.
    Nos Açores a Direção Regional da Cultura e a Secretaria desses assuntos debatem-se há anos neste paradi-gma de falar imenso sobre os apoios que dão sem mencionarem que não têm verbas para apoiar decente-mente seja o que for, se o quisessem fazer, e mesmo isso é matéria de debate.
    Dos escassos meios de que dispõem têm de satisfazer clientelas várias entre os votantes e – sem dúvida – a das filarmónicas é a que tem mais votos. Livros, cinema, teatro, artes em geral ou em particular, congressos, colóquios, simpósios só mesmo os estrangeiros com nomes sonantes que para os outros são umas migalhas de centenas de euros ou pouco mais pois devem ser atividades elitistas com poucos votos a ganhar na distribuição eleitoral.
    Apesar de termos editado livros, antologias, coletâneas, traduzido em 15 línguas autores açorianos, andar-mos com eles pelas ilhas e pela Ibéria, Brasil, Galiza e Macau, musicado as suas obras, declamado os seus poemas, a direção regional da cultura só não nos ignora totalmente por parecer mal.
    Este ano porém, ignorou os pedidos de apoio formulados regulamentarmente em 2020 nas normas então vigentes. Quando pedi uma audiência aos novos responsáveis tive-a após meses de insistência em que falei, em solilóquio, e apenas me disseram para reenviar os projetos pendentes. Passados dias recebi a resposta INDEFERIDA POR SE REALIZAREM ESTE ANO. Quando disse, “claro que se realizam este ano, eles são os pedidos do ano passado”, fiquei sem resposta e sem apoios. Ainda pensei em fazer uma tourada com poesia declamada na arena, que parece ser mais do gosto dos dirigentes que andam a ferrar touros, mas não havia praça de touros disponível na ilha de São Miguel. Podia aqui citar dezenas de pensadores como Edward B. Tylor segundo a qual cultura é “todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. Num estudo mais aprofundado, Alfred Kroeber e Clyde Kluckhohn encontraram, 167 definições diferentes. Clifford Geertz, discutia nega-tivamente a quantidade de definições, e definiu cultura como sendo um “padrão de significados transmitidos historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de conceções herdadas expressas em formas simbó-licas por meio das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem o seu conhecimento e as suas atividades em relação à vida.” Há uma relevante distinção entre cultura e entretenimento. Segundo Mario Vargas Lhosa o objetivo do entretenimento é divertir e dar prazer, sem referenciais culturais concretos.