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teve lugar ontem em ponta delgada a apresentação pública destes dois livros na celebração dos meus 50 anos de vida literária
Agradeço a disponibilidade da Diretora da BPARD Dra Iva Matos, que presidiu à sessão como anfitriã,
ao Sr Ernesto Rezendes que, de novo edita obras minhas, ao Dr José Andrade que fez a apresentação do autor,
à Dra Mª João Ruivo que apresentou Crónica do quotidiano Inútil obras completas de poesia) ,
à Professora Susana Goulart Costa que apresentou Liames e Epifanias autobiográficas (Chronicaçores vol. 5),
ao Aníbal Pires que disse poemas do vol 6 QI e
às dedicadas senhoras do grupo Palavras Sentidas que sentiram bem os poemas que escolheram do volume 1 de 1972
e que ajudaram a tornar 22.11.22 uma data memorável para este autor e
Aos que connosco estiveram na sessão o meu agradecimento
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apresentação dos livros “Crónica do Quotidiano Inútil – 50 anos de vida literária” e “Liames e Epifanias Autobiográficas”, de Chrys Chrystello
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Há dias ouvi um comediante português dizer: muitos são os culpados, mas nem todos vão presos. Com efeito e na sequência do que a Bíblia nos diz “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos” [Mt 22: 14], a lei portuguesa não discrimina quem vai preso, mas o pragmatismo da sociedade assim o obriga. Vejamos, se todos os culpados fossem presos, Portugal ficava sem políticos, sem deputados, sem presidentes da câmara, sem vereadores, sem ministros, sem secretários de estado, sem diretores gerais, sem inspetores, e por aí diante. Ora convenhamos que a Assembleia da República, o atual Parlamento, pode funcionar poucos dias, mas dá ocupação a 230 deputados e seus assessores. Não se imagina aquele órgão de soberania vazio, por estarem arguidos, detidos preventivamente ou a cumprirem pena pelos inúmeros crimes de que obviamente deveriam ser acusados. O país pararia se a justiça fosse cega como deveria ser e prendesse todos os culpados.
Seria difícil acontecer, e Portugal teria de pedir ajuda aos países vizinhos para encontrar celas disponíveis para tanta gente. À medida que fossem presos os representantes do povo iriam, na boa tradição inquisitorial portuguesa, incriminar os constituintes que os corromperam, e teríamos um efeito bola de neve. Assim, à medida que iam presos os políticos, também iria com eles a turbamulta dos que neles votaram. O país pararia, deserto. Seria possível governar o jardim à beira-mar plantado. Isto enquanto não surge quem queira pôr o interesse nacional à frente do interesse próprio ou partidário. Mas cuidem-se entre sebastianismos e salvadores da pátria se escondem ditadores e tiranos insuspeitos.
Dê-se razão a Sérgio Sulpício Galba, capitão das Legiões Romanas que invadiram a Ibéria onde só venceram a Lusitânia, à traição com o assassinato de Viriato. Quando Galba escreveu a César Augusto a dar notícias deste extremo disse: “ E os séculos parecem dar-lhe razão. Foi difícil aos Romanos pacificarem esta terra e gentes há vinte séculos:
Em Cartago o general Amílcar Barca embarca com um exército em 237 a.C., para alargar o domínio púnico, desembarcando em Gadir (Cádis) em 237 a.C.. Morre em combate, substituído pelo genro Asdrúbal que fundou Cartagena, das minas de prata. Aníbal (filho de Amílcar) fica comandante da Península e inicia um processo expansionista. Conquista Salmantica (Salamanca) e Arbucala (Zamora), e funda Portus Hannibalis (Portimão, Algarve), havendo vestígios cartagineses em Ossonoba (Faro).
Em 197 a.C., Roma divide a Península na Hispânia Ulterior (ocidente) e Citerior (oriente). Após 194 a.C., há confrontos com os Lusitanos, vencedores em Ilipa, no Guadalquivir. Em 155 a.C., Roma controlava o território basco, Andaluzia, e parte do Alentejo, quando lusitanos e Vetões atacam a Ulterior, Desde 152 a.C. com dificuldades em recrutar legionários, as legiões evitavam o contacto com os indígenas. Em 151 Roma rompe as tréguas, exigindo a vitória incondicional. Mas há vitórias dos Lusitanos, até que em 150 uma derrota os força à paz. Galba concedeu aos 30 mil Lusitanos três locais de residência, chacinando 8 mil e aprisionando 20 mil que vendeu como escravos. Os Lusitanos pretendiam novos territórios mas os confrontos provocaram a queda demográfica. Após a matança, há acalmia. Em 147 a.C., lusitanos irrompem na Ulterior, forçando Vetílio a propor redistribuição de terras. Interveio Viriato, sobrevivente da primeira matança, que relembrou a anterior traição. Aclamado chefe, Viriato atrai Vetílio a uma emboscada em Tríbola, onde o matou.
O mito de Viriato começa no séc. I a.C., com os historiadores Possidónio e Teodoro e a imagem de herói puro e justo, não corrompido pela civilização. Portugal reclamou o herói e o nascimento, mas é comemorado na Espanha. Terá nascido no Monte Hermínio na serra da Estrela [nem todos aceitam] pode ter sido pastor de Lobriga, atual Loriga. Pode ter nascido junto ao mar, próximo de Coimbra. Casou com a filha de um terratenente indígena e instalou-se em cidades meridionais durante a guerra. Simboliza uma civilização, se bem que a formação portuguesa deva mais à romana do que à celtibérica, Viriato faz parte da mitologia, do panteão e da História. Os romanos dominaram os cartagineses e os celtiberos, imaginando que a Península era deles. Viriato congrega rebeldes do centro e do ocidente e inflige às legiões derrotas humilhantes. Foi grande líder e hábil estratega
Os Romanos reagiram com mercenários celtibéricos que foram chacinados. Seguiram-se vitórias lusitanas. Os guerreiros locais com longas lanças e os mortíferos gladius hispaniensis de guerrilha, não deram tréguas à infantaria romana habituada a lutar em campo aberto. A segunda guerra lusitana surge na Turdetânia. Os lusitanos vencem Cláudio Unímano (146), e Caio Nigídio (145); mas Quinto Fábio Máximo Emiliano, cônsul da Citerior provoca Viriato em campo aberto no Guadalquivir e os lusitanos são derrotados (144).
Viriato retira-se para Baecula (hoje Bailen), refaz as forças e contra-ataca no ano seguinte, repelindo os romanos para Córdova. As vitórias militares de Viriato entusiasmam os celtiberos da Meseta revoltados em apoio aos lusitanos. Começa a guerra Numantina. Divididas as legiões, Viriato derrota em 143 as tropas de Quinto Pompeio, e no ano seguinte as de Lúcio Cecílio Metelo Calvo. Quinto Fábio Máximo Serviliano ataca Viriato (141) que recua e contra-ataca destroçando as legiões. Serviliano persegue-o, mas é obrigado a recuar. O banditismo organizado era um problema endémico na Península. Viriato ataca Serviliano e cerca-o. Em Erisane celebra um tratado de paz (140) e recebe o título de Amigo do Povo Romano. Na Ulterior, Quinto Servílio Cipião desencadeia uma ofensiva e força Viriato a retirar para Badajoz. Face ao avanço romano, Viriato vê-se obrigado a enviar três emissários para negociar a paz, Audax, Ditalco, e Minuro, que são aliciados com ouro para matarem o chefe. Viriato é assassinado de noite, por aqueles em quem confiava. No regresso ao acampamento, os três ouviram de Cipião que “Roma não paga a traidores”.
Em 140 a.C., Fábio Serviliano, após saquear cidades fiéis a Viriato na Andaluzia, é vencido. Quinto Pompeio falha a tomada de Numância na Citerior. Face a estes desaires, os romanos são forçados à paz com a posse das terras já conquistadas, mas renunciando à conquista de mais territórios. É uma humilhação para o Senado romano. Havia em Roma uma corrente pacifista, mas no Senado existia uma corrente belicista encabeçada pelos Cipiões. Viriato ficou para a História, a par de Espártaco, como um dos poucos que pôs Roma de joelhos enquanto travava uma guerra justa pela liberdade do seu povo.
Por Estrabão, sabemos que em 138 a.C., Décimo Júnio Bruto, governador da Ulterior, efetuou campanha militar e fortificou Olissipus (Lisboa) com cidades muralhadas no Tejo, e após o fim da Guerra Lusitana o Algarve e Alentejo se sujeitaram aos romanos. Viriato morreu, mas não acabou a resistência dos lusitanos.
O cônsul Décio Júnio Bruto, o Galaico, domina (138 a 136) as tribos a norte do Douro, incluindo os brácaros. Em 133 os celtiberos rendem-se. Em 107, Cipião domina uma rebelião lusitana, mas é derrotado em 105. Os lusitanos, revoltam-se contra os romanos em 99, mas o pretor Lúcio Cornélio Dolabela derrota-os. O governador Sertório retira-se para a África. Ali foram emissários lusitanos, ficando às suas ordens. Sertório chefia as tropas lusitanas e em 81 entra em guerra contra o imperador Mário.
Apesar de muitas vitórias, Sertório acaba como Viriato: assassinado à traição em 72. Com ele termina a última campanha lusitana. Dez anos depois houve uma rebelião de galaicos e lusitanos, que César dominou. Nas campanhas de Pompeu (55-49) alguns lusitanos já figuram como auxiliares das tropas romanas.
Pacificada a Península, Augusto determina maior divisão administrativa: a Hispânia Ulterior é dividida em Lusitânia e Bética, capital em Córdova. A Lusitânia passa a divisão do Império e a capital, em terras de vetões, Emérita, Mérida, em 25 a.C.
Mais tarde a Calécia (Galiza) foi incorporada na Tarraconense, e Caracala cria uma província, com capital em Braga. Os lusitanos saem da história como relatado por Plínio, Pompónio Mela ou na Geografia de Ptolomeu.
No início do século V a História de Orósio, provavelmente galaico, censura os romanos pelas crueldades contra os lusitanos, como a traição no assassinato de Viriato e a do cônsul Fábio que reuniu quinhentos líderes com promessas de paz e quando os desarmou, lhes mandou cortar as mãos.
A pacificação final pelos romanos foi uma vitória sem glória. Em 409 a Península é invadida por germanos. Orósio deixa Braga e refugia-se em Hipona. Os alanos (de origem iraniana) fundaram um reino na Lusitânia, sediado em Pax Júlia, atual Beja, chefiado por Átax, destroçado em 418, obrigando-os a seguir para o norte de África onde sob os reis Gunderico e Genserico, fundam o Reino dos Vândalos e dos Alanos, extinto no séc. VI, com a dominação bizantina..
Os proto-germânicos, Suevos invadem a Península Ibérica juntamente com os Vândalos e os Alanos e fundam um reino que duraria entre 409 e 585 d.C., data em que foi anexado pelos visigodos. O Reino Suevo, também denominado Reino da Galécia, existiu no noroeste da Península Ibérica e um dos primeiros reinos a separar-se do Império Romano. Em 416 partindo da Calécia (Galiza) os suevos estendem o domínio até à Bética. Em 439 Emérita era a capital sueva, abrangendo a Lusitânia e a Calécia.
Os romanos chamam os visigodos da Gália e derrotam os suevos em 456. No ano seguinte dominavam a Lusitânia.
O domínio visigótico era fraco e em 459 os suevos saqueavam a Lusitânia e massacravam romanos. Em 467 os suevos destruíram Conímbriga, importante cidade lusitana, arrasando as muralhas.
O rei visigodo Eurico (crónica 466 -484) em 470 na reforma administrativa extingue a Lusitânia.
Nos concílios de Toledo (século VI) o grupo dos bispos lusitanos manteve a identidade comum e o Metropolita de Mérida reclama e consegue a jurisdição das dioceses da Lusitânia (656?) pelo rei visigodo Recesvindo.
Em 711 os muçulmanos invadiram a Península, conquistando-a em seis anos. A Lusitânia manteve a designação, alterada para Lugidânia. A reconquista cristã começou em 722 em Cangas de Onis, região dos Cântabros e Bascos. No final do século IX a Calécia (Galiza) estava em poder dos cristãos. No século XI Entre Douro e Tejo, era reconquistada: Viseu em 1057, Coimbra em 1064. Em 1146 D. Afonso Henriques toma Santarém, em 1147 conquista Lisboa, atravessa o Tejo e penetra no território céltico.
A antiga Lusitânia entrava nas brumas da memória, como diz o Hino Nacional, para dar lugar ao Reino de Portugal. Falta agora um novo Viriato a liderar os Lusitanos contra os usurpadores da República.
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A maioria dos pais de jovens e adolescentes costuma enfrentar a situação desconcertante de terem filhos que, por um lado, se comportam irresponsavelmente sem dar importância às coisas que teoricamente lhes deveriam interessar e, por outro lado, se manifestam devastados pelo peso dos estudos, pela incerteza do futuro ou por pequenos reveses. Em vários aspetos da vida parece que nasceram sabendo tudo mas são incapazes de enfrentarem minúsculos contratempos. Estou deprimido, é uma das expressões mais constantes nesta geração paradoxal. Inconsciência crónica com um excesso de preocupações. Da banalidade despreocupada à angústia paralisante. Como é possível, que jovens tão pouco dados a levar a vida a sério se tornem em vítimas quando veem as coisas malparadas. Estarão a exagerar? Não se tratará dum estratagema de autodesculpa, um recurso para obterem compaixão e evitarem terem de atuar como é costume? Tudo leva a crer que não é assim. Poucas vezes se trata de excesso de birras e de espavento de crianças malcriadas tentando comover os adultos assustadiços a fim de conseguirem levar a sua avante.
Aumentou substancialmente na última década o número de consultas de adolescentes nos serviços de urgência psiquiátrica. Num hospital de Barcelona as estatísticas indicam em primeiro lugar as alterações de conduta, seguidas das crises de ansiedade com quase 25% do total de casos. Se a estes acrescentarmos os 15% de tentativas de suicídio teremos de admitir que se trata dum problema grave e crescente.
Trata-se, de facto, de intolerância à frustração. Muitos jovens não aguentam os revezes pois não foram treinados para os enfrentarem. Nasceram sobreprotegidos, acostumados a conseguirem da família mais próxima tudo o que querem, falta-lhes a experiência de sentirem necessidades ou de passarem pela penúria, carecendo de defesas face às dificuldades. Já se disse e redisse à saciedade, e com um certo fundamento, que os pais das últimas décadas criaram inválidos sem recursos para enfrentarem um mundo, regido pela competitividade e elevados padrões de exigência, quer a nível laboral quer profissional, nas relações interpessoais e integração social. Os adolescentes naufragam no trajeto entre a infância almofadada que nada lhes exigiu e um futuro eriçado de obstáculos. A geração paterna apenas tem a perpetuação desse estereótipo. A sobreproteção e a permissividade excessivas criaram jovens dependentes, sem autonomia quando se trata de fazer planos, de tomar decisões maduras e de confrontarem os próprios problemas.
Não será totalmente justo adotar o discurso de serem os pais culpados como acontece com os diagnósticos sobre o mal-estar da juventude e a desventura da adolescência. As famílias apenas em parte são culpadas da irresponsabilidade dos filhos que pagam com angústias a sua vida mole e não adianta colocar mais esse peso nos ombros dos pais. Eles atuaram movidos pelo carinho mesmo que revestido de formas erradas. A maioria dos jovens deprimidos deixou de buscar apoio e cumplicidade nos amigos como acontecia, quando se refugiavam dos pais cheios de defeitos, mas mais eficazes a gerirem a segurança emocional que é necessária nesses momentos.
Muitos especialistas concordam, as causas da intolerância e da frustração nos jovens estão intimamente ligadas aos valores propugnados pelos meios de comunicação. Quando, desde a nascença, um jovem recebe através da TV, mensagens, não é descabido pensar que alguém os incapacitou para enfrentar a dura realidade e esse alguém não foi nem o pai nem a mãe, incapazes de negarem os seus caprichos, mas os meios de comunicação capazes de enganar e de manipular as mentes dos recetores consumidores.
A televisão (ou a publicidade que dirige como soberana implacável os conteúdos e as formas das mensagens) é o agente principal da frustração. Que capacidades de enfrentar os problemas terão os que nos anos mais recetivos da vida foram metralhados com promessas de felicidade virtual, de satisfação através do consumo, de êxito imediato, com visões da vida pintada como um show de diversões que nunca termina? O discurso mediático e mercantil alimenta uma falta de maturidade que só se revela quando a realidade nua e crua mostra a sua face e o jovem constata que nada é como lhe disseram, criando um desajustamento causador de insatisfação e ansiedade extrema.
Assim como nos anos 60 e 70 se falava da geração rebelde, nos anos 90 foi a geração Prozac, agora podemos ter chegado à da frustração. Nem poderia ser doutra forma, mas a evidência não resolve o problema nem serve de consolo. Quando os adolescentes dizem que estão agoniados e deprimidos estão a falar a sério, sofrendo mais do que possamos imaginar. E convém fazer constatações mais comezinhas. A atual geração não passou em termos de privações familiares como a geração de “baby boomers” no pós-guerra (entenda-se 2ª Grande Guerra) a que pertenço. A geração rebelde que no fim dos anos 60 se revoltava contra o status quo na França e a guerra colonial em Portugal tinha algo contra que lutar. Vivia melhor que a geração dos pais em termos de conforto e de posses económicas, mas era arrastada para projetos militares que nada lhes diziam e aos quais se opunham. Queriam tomar parte na construção da História em vez de serem arrastados como nota de rodapé para ela tal como acontecera aos seus pais.
Depois chegou o 25 de abril e as liberdades misturaram-se com as libertinagens e os jovens dos anos 70 e 80 nasceram com o rei na barriga, tudo era permitido e nada era proibido, podiam almejar a uma sociedade sem classes com acesso ilimitado a todos os bens e seriam felizes para todo o sempre. As crises económicas que atravessaram o mundo não se fizeram sentir na Europa Ocidental (exceção feita à crise do petróleo de 1972) e a máquina da publicidade assenhoreou-se da televisão e demais órgãos de comunicação social moldando aquilo que hoje temos em casa ou que dela saíram há pouco. Por mais que lhes tenhamos dito que a vida era feita de sacrifícios eles não passaram pelas nossas experiências dolorosas, nem as viram nem as sentiram. Frequentar uma universidade não era um apanágio de elites, nem mesmo frequentar universidades privadas era já considerado elitista. Os cursos facilitaram o acesso a canudos que tinham a fama de servirem para distinguir entre os que vencem na vida e os outros, embora na prática começasse a ser diferente.
Numa conferência sobre educação e conflitos de gerações, o médico inglês Ronald Gibson começou citando quatro frases:
1) A nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, troça da autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Os nossos filhos são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem aos pais e são simplesmente maus.
2) Não tenho nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque essa juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível.
3) O nosso mundo atingiu o ponto crítico. Os filhos não ouvem os seus pais. O fim do mundo não pode estar muito longe.
4) Esta juventude está estragada até ao fundo do coração. Os jovens são malfeitores e preguiçosos. Jamais serão como a juventude de antigamente. A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura.
Após ter lido as citações, ficou satisfeito com a aprovação dos espetadores. Então, revelou a origem:
A segunda é de Hesíodo (720 a.C.)
A terceira é de um sacerdote do ano 2.000 a.C.
E a quarta foi escrita num vaso de argila nas ruínas da Babilónia (atual Bagdad) com mais de 4.000 anos de existência.
Aos que são pais: RELAXEM, POIS SEMPRE FOI ASSIM… GRAÇAS A DEUS!
As classes sociais esbateram-se e o grande fosso, entre os que tinham e os que não tinham, passou a ser uma memória do passado. Claro que como pais fizemos o que nos competia dando o máximo de bens materiais aos filhos, já que no nosso tempo não tínhamos tido livre acesso aos mesmos. Aproveitámos também para nos rodearmos desses mesmos bens e deixamos de poder viver sem eles. Parecia uma sociedade de abundância e não haver limite ao que os nossos filhos podiam aspirar a ter, a pressão dos pares a nível social e movida pela insaciável máquina da publicidade ajudou a comprar tudo e mais alguma coisa. Só que quando a árvore das patacas seca, i.e., quando os filhos saem de casa dão-se conta que as pequenas coisas têm um custo e a vida está feita de pequenas coisas, o que os irrita profundamente porque quando chega a altura das grandes coisas já não há dinheiro para nada.
Como crianças mimadas em vez de lutarem por trabalhar mais e ganhar mais, queixam-se, entram em depressão apática e sofrem na inação e deprimem-se anda mais. Para eles tudo é um direito divino que compete aos pais satisfazer e quando estes não podem ou não continuam a alimentar a ilusória vida fácil, sentem-se traídos pela sociedade e pela família. Mas o que eles não sabem é que um dia irão ter de pagar pelas dívidas que o mundo e a sociedade dos seus pais lhes deixaram, porque só então teriam razão para se sentirem deprimidos, mas ainda não chegaram lá e não se preocupam. Parece a história deste país que habito, mas não é.
“Estou deprimido” é uma expressão recorrente nesta geração paradoxal. Inconsciência crónica com um excesso de preocupações. Da banalidade despreocupada à angústia paralisante. A propósito convirá recordar que a atual geração não passou por nada em termos de privações familiares comparado com a geração de “baby boomers” a que pertenço, nascida no pós-guerra (2ª Grande Guerra). A geração rebelde que, no fim dos anos 60, se revoltava contra o status quo na França e contra a guerra colonial em Portugal tinha algo contra que lutar. Vivia melhor que a geração dos pais, em conforto e posses económicas, mas era arrastada para projetos militares alienígenas aos quais se opunham. Queria tomar parte na construção da História e não ser arrastada como nota de rodapé como acontecera aos pais.
Depois chegou o 25 de abril e as liberdades misturaram-se inicialmente com as libertinagens em que tudo era permitido. Os jovens dos anos 70 e 80 nasceram já com o rei na barriga. Nada era proibido, tudo era permitido e podiam almejar a uma sociedade sem classes em que todos tinham acesso ilimitado a todos os bens, sendo felizes até todo o sempre.
As crises não se fizeram sentir severamente na Europa Ocidental (exceção à crise do petróleo 1972-1974) e a máquina da publicidade assenhoreou-se da televisão e órgãos de comunicação social moldando os jovens que temos em casa ou os que dela saíram há pouco. Por mais que se lhes tenha dito que a vida era feita de sacrifícios, não passaram pelas suas experiências dolorosas, nem as viram nem as sentiram.
Frequentar a universidade não era um apanágio de elites, nem mesmo as universidades privadas. Os cursos facilitaram o acesso a canudos com a fama de distinguir entre os que vencem na vida e os outros, embora na prática começasse a ser diferente. As classes sociais esbateram-se e o grande fosso educacional, passou a ser memória do passado.
Claro que como pais fizeram o que lhes competia dando o máximo de bens materiais aos filhos, pois no tempo deles não tinham tido esse acesso. Aproveitaram, também, para se rodearem desses bens e não podiam viver sem eles. Parecia uma sociedade de abundância sem limites. A pressão dos pares a nível social, e engendrada pela insaciável máquina da publicidade, ajudou-os a que lhes comprassem tudo e mais alguma coisa. Quando a árvore das patacas seca, i.e. só quando saem de casa é que se dão conta de que até as mais pequenas coisas têm um custo.
A vida está feita de pequenas coisas, o que os irrita profundamente e quando chega a altura das grandes coisas já não há dinheiro. Como crianças mimadas, em vez de lutarem por trabalhar e ganhar mais, queixam-se, entram em depressão, sofrem, apáticos (na inação em vez da ação) e deprimem-se mais. Para eles tudo é um direito divino que compete aos pais satisfazer. Quando os progenitores não podem ou não querem alimentar a ilusão, sentem-se obviamente traídos pela sociedade e família. Mas o que não sabem é que um dia pagarão as dívidas que o mundo e a sociedade lhes deixaram. Então, sim, terão razão.
Parece a história deste país que habitamos, mas não é. Foi tudo inventado numa deprimente tarde chuvosa de inverno aqui na ilha de S. Miguel.