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Categoria: ChronicAçores
Chrónicaçores vol. 5 LIAMES E EPIFANIAS
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À VENDA EM LETRAS LAVADAS, wook, fnac, etc
VASCO PEREIRA DA COSTA – ChrónicAçores: Circum-Navegação (vol. 2 abril 2011)
Almeida Garrett, num arremedo de Proposição às Viagens na Minha Terra, protesta que de quanto vir e ouvir, de quanto eu pensar e sentir se há de fazer crónica. Ora, Chrys Chrystello assume, neste livro, o papel do cronista que vai relatar observações e relatos, divagações e sentimentos sobre uma relação de proximidade com as ilhas (o tópos) que escolheu para viver.
Digamos que se trata de uma vontade de conhecer para amar – e só se pode amar o que se conhece. As ilhas atlânticas – a Macaronésia, assim designada – surgem, deste modo, como uma realidade geográfica, histórica, simbólica para um homem que carrega ilhas que são continentes, História que abarca centúrias pejadas de heterodoxias, símbolos dispersos sem coesão nem coerência na vastidão cronológica e espacial.
Porém, em vez de adotar um discurso meramente denotativo, o seu passado de jornalista perscruta realidades e conjeturas para construir hipóteses de cidadania cultural, que só pode ser universalista e pancrónica. Donde, estas crónicas são aliciantes, de leitura facilitadora para um entendimento de um modo de ser português sem clausura no retângulo europeu nem nas massas de água que separam continentes: é o Mundo – físico e mágico – que neste livro navegamos, jubilosamente, descobrindo o que sabe-se lá.
Vasco Pereira da Costa
VAMBERTO FREITAS SOBRE CHRÓNICAÇORES VOL. 5
PREFÁCIO – QUANDO UM ANDARILHO DO MUNDO ACABA NOS AÇORES
… Vivi três vidas numa só, carreiras distintas em paralelo e nada de material tinha para mostrar, mas teimava em acarretar essa pesada bagagem de conhecimentos e cultura.
Chrys Chrystello, Liames E Epifanias 1949-2005 (ChrónicAçores V)
Vamberto Freitas
Falar de Chrys Chrystello é falar de um Fernão Mendes Pinto da nossa época (menos as supostas mentiras do autor de Peregrinação, publicado em 1614), e que desde há anos vive e dinamiza a cultura literária (e não só) aqui nas ilhas, e levando tudo para o exterior adentro de Portugal e no estrangeiro. Esta não é em uma feroz anticruzada como Peregrinação, a primeira da Europa ou do mundo após os Descobrimentos portugueses, como a classificou Rebbeca Catz há muitos anos, numa distinta tese de doutoramento defendida na Universidade da Califórnia. Uma estudiosa falecida, mas que permaneceu sempre uma grande amiga e admiradora de Portugal, e foi na altura elogiada largamente por alguns escritores e intelectuais do nosso país, como Augusto Abelaira. O seu livro fulminante (mesmo sendo uma tese de doutoramento defendida na Universidade da Califórnia) foi publicado em Inglês em 1972, e depois traduzido em Portugal em 1978 sob o título de A sátira social de Fernão Mendes Pinto: análise crítica da Peregrinação.
Não pretendo fazer aqui paralelismos com a dividida e complexa experiência vivencial ou profissional de Chrys Chrystello, seja como jornalista ou como escritor. Só que este seu livro contém passos semelhantes, apesar de ele nunca lido Rebbeca Catz. Na contracapa do livro desta americana judia vem uma citação mais do que demolidora: “… escrita em Almada, no auge dos conflitos político-religiosos que constituíram o pano de fundo da famigerada Inquisição e Contrarreforma ibéricas, a Peregrinação é um exemplo prematuro – senão mesmo o primeiro, em toda a literatura europeia – de sátira corrosiva que, denunciando a ideologia da Cruzada, põe em dúvida a moralidade das conquistas ultramarinas portuguesas, que Fernão Mendes Pinto é o primeiro a condenar como atos de bárbara pirataria”.
Chrys Chrystello é natural do Porto (embora se diga sempre australiano de origem transmontana). A verdade é que Chrys traça as suas origens a Afonso Henriques, mesmo antes de Portugal o ser, reduzido ainda ao Condado Portucalense, e depois, do lado materno aos Novos Cristãos, aos judeus que só no século passado assumiriam quem eram perante o mundo na História rica a partir do momento que D. Manuel I tanto obedece como contraria as ordens dos seus sogros no lado de lá da nossa fronteira, e sempre à espreita do momento de nos conquistar ou absorver através dos estranhos casamentos do tempo de monarquias mandantes e poderosas. Vamos ao essencial, que coloca este livro no seu devido contexto açoriano.
Chrys Chrystello cresce numa família tradicional cuja fortuna haveria de desaparecer, e entre 1972-1975 foi para Timor (ano em visitaria pela primeira vez a Austrália, e lá se fixando a partir de 1982), testemunhando toda a complexidade da transição para a liberdade daquele país cobiçado por potências ali por perto. Depois veio Macau nos anos de 1976-1982, o momento em que ele decide de mudar de nome por duas razões. Primeiro, insistiam em chamá-lo “Chrys”. Segundo, viu nisso a oportunidade de adotar esse nome para esquecer, ou mesmo rejeitar todo um passado num Portugal que raras vez atinava com os seus próprios interesses ou identidade ante um mundo em mutação, mas do qual se encontrava longe. O autor deste e de outros livros, após o seu serviço irrequieto à Nação e ao longe, tornar-se-ia um jornalista profissional, fundador do Público, no tempo, mais ou menos em que foi repórter da LUSA durante 11 anos.
Começou logo em 2001 a organizar os Colóquios sobre a Lusofonia, e quando se instala permanentemente no nosso arquipélago (a sua companheira tinha sido colocada numa escola de cá), retoma-os em 2006, até hoje, com dois encontros por ano, em ilhas diferentes e no resto de Portugal e além-fronteiras, editando sempre os “Cadernos de Estudos Açorianos” que já somam 40, e em cada qual distingue um dos nossos escritores e/ou poetas. Nunca nada disto tinha sido feito entre nós.
Estou à vontade neste texto: nunca deixei de ser convidado, e nunca participei ativamente, com a exceção da apresentação de um livro de Zeca Soares no pátio do seu próprio e mítico restaurante da Praia dos Moinhos. A minha ausência das suas imparáveis iniciativas tem a ver com questões sobre as quais não quero nem devo falar neste espaço. Segui sempre afastado, no entanto, os trabalhos em curso, com admiração e saudade de alguns amigos e colegas da escrita que estiveram e estarão presentes. Da Lomba da Maia para o mundo, onde Chrys e a sua companheira professora vivem no que ele chama o seu “castelo”.
“Outra deficiência – escreve o autor – que adquiria em novo, por influência paterna era a sôfrega sede do direito inalienável à liberdade de expressão e de pensamento, malformação congénita que valera muitos dissabores pessoais. A relação com os outros era sempre problemática e resumia-se â aversão pelos ditames alheios. Fora assim com a autoridade paternal, com os militares como oficial do exército e na vida profissional. Era avesso aos “carneiros” e talvez por isso acabaria por casar com uma pessoa desse signo. Desrespeitava a inveja alheia, noção que me era alienígena, pois inveja nada e ninguém. Criticava os outros pela fachada que mantinham, pelos estereótipos com que se regiam: conversas balofas e mesquinhas, sem profundidades. Ansiava por conversas profundas, preferia argumentos ‘intelectuais’ ou ‘pseudointelectuais’ em que se esgrimissem argumentos, ideias e propostas concretas de melhorar o mundo…”
A escrita de Chrys Chrystello, neste livro, é mais uma sequência de memórias do que “crónicas”. O segredo está nos detalhes que incluem História, acontecimentos, nomes, datas, tudo num tom de linguagem muito pessoal que nos agarra de página em página, que nos apresenta a mundos conhecidos e desconhecidos, que contextualiza uma vida singular no meio das mais diferentes – por vezes, divergentes – culturas, línguas e modo de estar e ser que nos parecem estranhos, quando depressa nos damos conta da tragicomédia que a vida em toda a parte. Este estilo literário não é nada comum entre nós, preferimos o mexerico e maldizer do café ou das tertúlias exclusivistas que sempre proliferou entre nós. Direi do autor o que uma vez um grande amigo residente no Canadá me disse: és um crítico americano que escreve em língua portuguesa.
Com Chrys Chrystello tenho, esta afinidade, sem nunca ser declarada: um passado anglo-saxónico que nos transformou para sempre a nossa identidade e visão do mundo, e isto sem nunca abjurar as nossas origens multisseculares e que nada ficam a dever aos nossos outros mundos íntimos e significantes do nosso ser como cidadãos do mundo. Só os provincianos estranham estas experiências entre os mais diversos povos e presença, ora conhecida, ora desconhecida, no mundo.
Raramente me tenho encontrado com Chrys Chrystello ao longo destes anos em que ele se tornou uma espécie de cidadão honorário ou real dos Açores. Falamos pouco, mas estou convencido que o respeito é mútuo, assim com o reconhecimento do trabalho de cada um. Tínhamos em comum um grande amigo, Daniel de Sá, o grande escritor da Maia, aqui em São Miguel. Foi-me irónico ler que “Maia”, desde Portugal Continental, tem sido sempre os seus lugares de tristeza e outras lembranças menos agradáveis. Ele não sabe disto, mas tivemos outro amigo em comum, e esse foi um Capitão de abril de nome Vítor Alves. Foi o primeiro representante após 25 de abril (tinha colocado a sua vida em perigo com toda a coragem da conspiração e da libertadora madrugada em Lisboa) das nossas comunidades espalhadas pelo mundo fora. Não só o apresentei numa comunidade do sul da Califórnia, tomei uns copos com ele, e avisou-me que eu falava nesses eventos mais do que era necessário. Muitos anos mais tarde dei-lhe o último abraço na Universidade de Lisboa num congresso sobre as narrativas pessoais e gerais na vasta diáspora norte-americana. Faleceu um pouco depois, mas ser-nos-á inesquecível para sempre. A memória permanece das pessoas que nos tocaram profundamente na vida, ou que foram, o que fizeram neste caso parte dos nossos libertadores.
O mundo é pequeno, sabemos, como no título de num dos romances de David Lodge, que goza à brava da Academia e dos seus encontros que poucas vezes resultam seja no que for, e quase só servem para longas viagens de escritores com egos muito maiores dos aviões em que se sentam de continente para continente.
“Digamos – escreve o escritor e poeta Vasco Pereira da Costa num breve nota a CHRÓNICAÇORES II – que se trata de uma vontade de conhecer para amar – e só se pode amar o que se conhece. As ilhas atlânticas – a Macaronésia, assim designada – surgem deste modo, como uma realidade geográfica, histórica, símbolos dispersos sem coesão nem coerência na vastidão cronológica e espacial”.
É isso mesmo. Este livro de Chrys Chrystello é um outro testemunho de alcance universal das nossas vidas, da nossa sorte, da nossa tragédia e, sim, da nossa felicidade.
Vamberto Freitas
NOV.º 2020
há 9 anos havia dois livros novos
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Chrys, we care about you and the memories that you share here. We thought that you’d like to look back on this post from 9 years ago.9 years ago
This won’t appear in anyone else’s feed unless you share itSendShareSee more memories1º de dezembro
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https://blog.lusofonias.net/wp-content/uploads/2022/12/1o-de-dezembro.pdf
2.7. DO IBERISMO AO 1º DE DEZEMBRO
2.7.1. IBERISTAS
Gostava de ter algumas réstias do meu sempiterno otimismo, mas a reserva desoladamente está no nível mínimo desde há duas décadas. Quando, ano após ano, a chuva cai dentro de casa e alaga o chão ou os móveis como se não houvesse teto, temos de assumir que estas casas são de péssima qualidade e estes “mestres” de construção não passam de biscateiros incapazes de fazerem uma obra como deve ser. Mas se vou a um restaurante o resultado é similar com um serviço deficiente a preços de luxo. Se vou a um mecânico automóvel idem aspas. Ou na saúde, na justiça, na ignorância santa dos novos professores e seus alunos, na incompetência dos que governam e mandam. É esta a tradição e não é de hoje, vem de há muitos anos como constatei ao traduzir este parágrafo:
Enquanto a Terceira e as ilhas próximas resistiam ao assalto dos espanhóis à Coroa portuguesa, S. Miguel franqueou-lhes a entrada. Isto deveu-se ao facto de o Corregedor Ciprião de Figueiredo estar sedeado em Angra. Fiel apoiante do Prior de Crato, terá proferido a frase “antes morrer livres que em paz sujeitos”. … a capitania de S. Miguel estava na mão da influente família Gonçalves da Câmara. Além disso, residia em S. Miguel o Bispo dos Açores, D. Pedro de Castilho, fiel a Filipe II. Viria a ser Vice-Rei de Portugal em paga da fidelidade à causa castelhana. Mais tarde, o Capitão do Donatário de S. Miguel recebeu o título de Conde de Vila Franca. Abundam ainda agora os que esquecem o terror do domínio castelhano e pressurosos querem entregar o país ao vizinho ibérico. Miguel Urbano Rodrigues escrevia em 2006 (“Alentejo Popular” (Beja) 02-11-06):
Os iberistas, ao esboçarem uma Espanha pletórica de energias, de progresso e criatividade, simulam esquecer a mais alta taxa de desemprego da União Europeia. Não aludem ao racismo e à xenofobia que fazem hoje da pátria de Cervantes um dos países europeus onde os imigrantes, sobretudo os magrebinos, equatorianos e colombianos, são mais discriminados. Preferem discorrer sobre a localização da capital, a estrutura institucional do Estado, Federação ou simples transformação de Portugal em mais uma Região Autónoma, e, o papel do Rei. Fala-se do bacalhau, do fado, do flamenco, de marialvas e senhoritos, dos dois idiomas, … longe de serem «muito parecidos», portugueses e espanhóis distanciaram-se progressivamente, exibindo atitudes quase antagónicas. Trabalham e comem a horas diferentes, transformam o culto do aperitivo num instrumento de convívio.
Outra omissão é a falta de referências à colonização económica de Portugal pela Espanha. O processo em curso é avassalador. Há três décadas a Espanha não existia como parceiro comercial. Hoje ocupa o primeiro lugar nas importações portuguesas. A banca espanhola conquistou parcela importante do mercado português. O mesmo ocorre com a hotelaria e as grandes transnacionais como El Corte Inglês e Zara. As imobiliárias espanholas invadem as cidades. O processo de colonização pacífica assume facetas particularmente alarmantes no Alentejo onde capitalistas espanhóis compraram as melhores terras no Alqueva. Adquiriram milhares de hectares para criação de porcos, instalação de lagares e plantação de oliveiras e vinhas. A invasão é festejada pelo Governo e pela grande burguesia. Agradecem.
Saúdam os espanhóis como agentes do progresso. Com a espontaneidade da nobreza de 1383 a saudar D João De Castela e a nobreza de 1580 a alinhar com Filipe II. Essa forma de dominação económica encobre uma modalidade de intervenção imperial. Hoje, ninguém se surpreenderia se Portugal passasse a dependência espanhola, como se de um banco se tratasse. Como se falássemos em abrir um escritório no litoral já que o interior está desertificado de gentes e de economias de mercado viáveis. Por outro lado, despontam iniciativas de união ibérica, nem sempre dissimuladas, que causam engulhos.
Por ser um estudioso que condensou o que penso, sigamos Carlos Fontes,
O iberismo é típico do séc. XIX. As pequenas nações condenadas a serem absorvidas pelas grandes (teoria darwinista). É uma manifestação patológica de indivíduos que sofreram influência espanhola ou se assumiram como agentes de interesses espanhóis. Quando a situação é melhor no outro lado da fronteira, a integração surge como a solução para resolver a crise, sem trabalho.
Alguns assassinatos de iberistas ficaram célebres, como defesa de valores fundamentais – dignidade, identidade cultural e liberdade -, mas também respeito por si próprios. Um povo que não se respeita a si próprio, nunca será respeitado por outros. Ora, o iberista sempre manifestou um profundo desprezo pela dignidade e liberdade do português, agindo de modo a destruir a comunidade que o viu nascer… As mortes de dois iberistas assumiram uma enorme carga simbólica na história
A morte do Conde de Andeiro, fidalgo galego, foi o símbolo de liberdade de um povo que recusa as ingerências externas e os jogos palacianos. Este traidor castelhano participou em conspirações ao serviço de Portugal e de Inglaterra. Em Lisboa, ascendeu a uma elevada posição na corte, tendo recebido de D. Fernando o título de Conde de Ourém, e na crise de 1383-85, esteve ao serviço de Castela.
Foi assassinado, em 1383, por D. João, mestre de Avis e futuro rei. A sua nefasta ação traduziu-se numa violenta guerra civil que só terminou quando os portugueses exterminaram os aliados de Castela.
Já a morte de Miguel de Vasconcelos exprime simbolicamente a afirmação da identidade cultural de um povo, cuja forte individualidade saiu reforçada após uma opressão de 60 anos. Ficou tristemente célebre pelo ódio que nutria pelos seus concidadãos.
Em 1634 tentaram-no matar. Se o tivessem feito, muitas vidas teriam sido provavelmente poupadas. Na manhã de 1 de dezembro de 1640, quando os portugueses restauraram a independência foi o primeiro a ser morto… depois, o povo português travou, durante 28 anos, uma sangrenta guerra na Europa e na América do Sul pela defesa da sua liberdade e dignidade.
Ora bem, como ninguém estuda História, episódios como este perdem a força e não são transmitidos de geração para geração, perdendo-se a memória coletiva do povo. Continuemos com as palavras de Carlos Fontes. Nas últimas décadas, órgãos de comunicação social, usando da liberdade de expressão, têm procurado abrir fraturas na sociedade. O objetivo é:
- Mostrar através de “sondagens” encomendadas ou “discussões” públicas que na sociedade portuguesa existe um grupo cujo objetivo é a dissolução do Estado português;
- Dar “voz” à hipotética minoria iberista portuguesa. Ao mesmo tempo, a imprensa espanhola mostra a aceitação à integração.
- Os supostos iberistas não constituem uma corrente de opinião nem um movimento organizado. Oliveira Martins (1845-1894) é o melhor exemplo dos esbirros iberistas. É difícil de determinar a causa do profundo ódio que manifestava. Foi um típico vira-casaca: anarquista, socialista, republicano, monárquico, liberal, antiliberal. Defendeu a liberdade, mas também a ditadura. Atacou os ditadores, mas apoiou João Franco, sendo apontado como um dos introdutores das ideias socialistas e como um protofascista. Muitas das ideias foram aplicadas por ditadores (Sidónio Pais ou Oliveira Salazar). Antero de Quental (1869) era um confesso iberista, dois anos depois já nem fala no assunto, e mais tarde abomina a ideia. Algo idêntico ocorreu com Teófilo Braga.
Durante as eleições legislativas de setembro de 2009 – a TVI -, canal de televisão controlado por espanhóis interferiu diretamente na campanha eleitoral, e…afastou a “jornalista” (Manuela Moura Guedes) que desde 2008 promovia uma campanha de propaganda contra o governo socialista…e a comunicação social espanhola procurava lançar nova campanha em defesa das teses iberistas, apoiada na “sondagem” realizada pela Universidade de Salamanca, com a colaboração de alienados no ISCTE (Lisboa).
A razão por que escolhi este tema é a data que ora se celebra, o dia da Restauração da Independência de 1 de dezembro de 1640. Para que os mais jovens nunca o esqueçam e deixem de a tratar como um dia sem aulas. Infelizmente, é para a maioria, um dia como qualquer outro nos Açores, sem que o povo se dê conta do seu significado:
“…arrebatados do generoso impulso, saíram todos das carroças e avançaram ao paço. Neste tempo andava D. Miguel de Almeida, venerável e brioso, com a espada na mão gritando: — Liberdade, portugueses! Viva El-Rei D. João, o Quarto!”
A ideia de nacionalidade esteve por trás da restauração da independência plena após 60 anos de monarquia dualista. Cinco séculos de governo próprio haviam forjado a nação, rejeitando a união com o país vizinho. A independência fora sempre um desafio a Castela. Entre os dois estados houve sucessivas e acerbas guerras, as únicas que Portugal travou na Europa. Para os Portugueses, os Habsburgo eram usurpadores, os Espanhóis inimigos e os partidários, traidores. Avançara depressa a castelhanização do País de 1580 a 1640. Autores e artistas gravitavam na corte espanhola, fixavam residência, aceitavam padrões espanhóis e escreviam em castelhano, enriquecendo o teatro, a música ou a arte pictórica espanholas. A perda da individualidade cultural era sentida por portugueses, a favor da língua pátria e da sua expressão em prosa e poesia. Contudo, os intelectuais sabiam perfeitamente que os esforços seriam vãos sem a recuperação da independência política. Muitas razões que justificavam a união das coroas ficaram ultrapassadas. O Império Português atravessava uma crise com a entrada em jogo de holandeses e ingleses. Perdera o monopólio comercial (Ásia, África e Brasil) e a Coroa, a nobreza, o clero e a burguesia haviam sofrido severos cortes de receitas.
Os Espanhóis reagiam contra a presença portuguesa nos seus territórios, mediante vários processos, entre os quais a Inquisição. Isso suscitou grande animosidade nacionalista em Portugal aprofundando o fosso entre os dois países. Margarida, duquesa de Mântua, neta de Filipe II, exerceu o governo de Portugal de 1634 a 1640, como vice-rei e capitão-general. Economicamente, a situação piorara desde 1620 e estava longe de brilhante. Os produtores sofriam com a queda dos preços do trigo, azeite e carvão. A crise afetava as classes baixas, cuja pobreza aumentou. O agravamento dos impostos tornava a situação pior. Para explicar os tempos difíceis, a solução apresentava-se fácil e óbvia: a Espanha, causa de todos os males.
A conspiração independentista era heterogénea [nobres, funcionários da Casa de Bragança e do clero]. Em novembro conseguiram o apoio do duque de Bragança. Na manhã do 1º de dezembro, um grupo de nobres atacou a sede do governo (Paço da Ribeira) prendeu a duquesa de Mântua, matou e feriu membros da guarnição militar e funcionários, como o Secretário de Estado, Miguel de Vasconcelos. Já dizia Camões: “Também dos Portugueses alguns traidores houve, algumas vezes…” Lusíadas, C. IV, 33. Seguidamente, os revoltosos percorreram a cidade, aclamando o novo estado, secundados pelo entusiasmo popular, a mudança do regime foi recebida e obedecida sem dúvida. Só Ceuta permaneceu fiel à causa de Filipe IV.
- João IV entrou em Lisboa a 6 de dezembro. Proclamar a separação fora fácil, difícil seria mantê-la. Tal como em 1580, em 1640 os portugueses estavam desunidos. As classes inferiores mantinham a fé nacionalista em D. João IV, mas o clero e a nobreza, com laços em Espanha, hesitavam. O novo monarca estava numa posição pouco invejável. Do ponto de vista teórico, tornava-se necessário justificar a secessão não como usurpador, mas a reaver o que por direito legítimo lhe pertencia.
Abundante bibliografia (em Portugal e fora dele) procurou demonstrar os direitos reais do duque de Bragança. Se o trono jamais estivera vago de direito, em 1580 ou 1640, não havia razões para eleição em cortes, o que retirava ao povo a importância que teria, fosse o trono declarado vago.
in Oliveira Marques, “A Restauração e suas Consequências”, in História de Portugal, vol. II, Do Renascimento às Revoluções Liberais, Lisboa, ed. Presença, 1998, pp. 176-201). Todo o reinado (1640-56) foi orientado por prioridades. Primeiro, a reorganização militar, reparação de fortalezas, linhas defensivas fronteiriças, fortalecimento das guarnições e obtenção de material e reforços. Paralelamente, a intensa atividade diplomática nas cortes da Europa, para obter apoio militar e financeiro, negociar tratados de paz ou de tréguas, conseguir o reconhecimento da Restauração, e a reconquista do império ultramarino. A nível interno, a estabilidade dependeu, do aniquilamento da dissensão a favor de Espanha. A guerra da Restauração mobilizou todos os esforços e absorveu enormes somas. Pior, impediu o governo de conceder ajuda às atacadas possessões ultramarinas. Mas, se o Império, na Ásia, foi sacrificado, salvou a Metrópole da ocupação pelos espanhóis. Portugal não dispunha de exército moderno, as forças terrestres escassas, as coudelarias extintas e os melhores generais lutavam pela Espanha, e a guerra se limitou a operações fronteiriças de pouca envergadura.
Do lado espanhol, a Guerra dos Trinta Anos (até 1659) e a questão da Catalunha (até 1652) atrasavam ofensivas de vulto. A guerra, que se prolongou por 28 anos, teve altos e baixos até se assinar o Tratado de Lisboa, em 1668, entre Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, em que este reconhece a independência do nosso País. Hoje, gente com passaporte português celebra o 1º de dezembro como desastre ou deplorável evento. Esquecem que se tratou da reconquista da liberdade do povo e da nação subjugada pela dinastia dos Filipes de Castela. Mais vale um povo pobre e livre do que rico na gaiola dourada com as cores do reino de Espanha. Assim o dizem os galegos que se aproximam das origens portuguesas preservando a língua e cultura comuns: a memória dos homens é curta.
São interessantes os “pequenos detalhes” que determinam a História e que legalizaram de pleno direito a sucessão de Filipe II ao trono de Portugal em 1580 por morte sem descendência do herdeiro varão cardeal D. Henrique (68 anos) 9º filho do rei D. Manuel I. A candidatura de Filipe era fortíssima e indiscutível pelo casamento da filha terceira de D. Manuel I, com Carlos V, pais de Filipe I (II de Espanha). Paradoxalmente, antes da candidatura de Filipe, a situação poderia ter sido invertida, unificando as coroas ibéricas “para o lado português”. Em 1499, foi proclamado herdeiro das coroas de Portugal e de Espanha, Miguel da Paz, primeiro filho de D. Manuel I com Isabel, filha dos Reis Católicos. Azar dos portugueses ou conspiração castelhana, morreu com 2 anos de idade.
Os portugueses serão sempre saudosistas, dos espanhóis, de Salazar e do sonho chamado 25 de abril.
— Quem diria que Portugal estaria melhor como província espanhola do que independente?
(Os galegos dizem que não).
- Quem garante que não seria Portugal uma célula independentista, tipo ETA, (aliada ou não à Galiza)?
E se fosse ao contrário? Se o Reino de Espanha fosse hoje uma província de Portugal?
Que aconteceria aos Bourbon?
Só tinham utilidade nos EUA. Lá emborcam todos os Bourbon que encontram.
Infelizmente, aqui ao lado, entronizam-nos e chamam-lhes Reis.
CRÓNICA 184. CELEBRAR O 5 DE OUTUBRO SEM ESQUECER O 1º DE DEZEMBRO 5 OUT.º 2017
Eu sei que não estudam história, mas deviam lembrar-se de que perderam Portugal em 1 de dezembro de 1640 quando deslocaram todas as tropas para a Catalunha não se autonomizar. Felizmente ainda não se lembraram de repor a verdade histórica reintegrando Portugal no seio da nação unitária espanhola, com base na ilegalidade de Afonso Henriques ao declarar a independência unilateralmente à revelia de Leão (na altura, o estado nem era Espanha nem era unitário). Pode ser que ainda se venham lembrar de anexar Portugal para compensar a perda a Catalunha pois com a campanha de ilegalidades que o governo espanhol está a cometer, se a maioria dos catalães não queria ser independente, a partir de agora vai passar a querer. Como já houve há menos de cem anos uma guerra civil espanhola, tudo está composto para nova guerra, perante a passividade da EU. Nem consigo imaginar como isto pode acabar bem… pois os condimentos para acabar mal estão lá todos.
E como hoje andam todos a celebrar o desastre de 1 de dezembro de 1640 eu resolvi recordar que o jovem Miguel da Paz nascido em 1499 tinha sido Rei de Portugal e de Espanha se não morresse ao fim de dois anos. É verdade amigos, como são interessantes os “pequenos detalhes” da História, que vieram legalizar de pleno direito a sucessão de Filipe II de Espanha ao trono de Portugal em 1580, por morte sem descendência do herdeiro varão o cardeal D. Henrique com 68 anos, 9º filho do rei D. Manuel I. A candidatura de Filipe é fortíssima e praticamente indiscutível, já que resultava do casamento da filha terceira de D. Manuel I, com Carlos V (I de Espanha), pais do “nosso” Filipe. Os tais detalhes da vida que determinam o curso da História… Paradoxalmente algum tempo antes desse acontecimento a situação poderia ter sido de certo modo invertida, unificando as coroas ibéricas “para o nosso lado” *, pois em 1499 um menino chamado Miguel da Paz, primeiro filho de D. Manuel I com Isabel, filha dos Reis católicos, foi proclamado herdeiro das coroas de Portugal e de Espanha. Só que morreu com 2 anos.
Há quem tenha saudades dos espanhóis, há quem tenha saudades do Salazar e ainda há quem tenha saudades do sonho chamado 25 de abril.
Quem me garante que éramos melhor como província espanhola do que independentes?
Quem me garante que não seríamos hoje uma célula independentista como as da ETA?
Quem me garante que teríamos aqueles magníficos jogadores de futebol? Eusébio nunca teria existido…Figo não era um “pesetero” e Deco não tinha necessidade de arranjar outra nacionalidade porque como o Brasil tinha ficado espanhol ele ia jogar pela Argentina… São conjeturas apropriadas de ler num dia destes,
Relembremos o que em 2009, escrevi sobre o tema: CRÓNICA 77 – DO IBERISMO AO 1º DE DEZEMBRO – 22-30 novembro 2009
Gostava de ter algumas réstias do meu sempiterno otimismo, mas a minha reserva desoladamente está no seu nível mínimo desde há duas décadas. Mas quando a chuva cai dentro de casa e alaga o chão ou os móveis como se não houvesse teto, ano após ano, tenho de decididamente assumir que estas construções são de péssima qualidade e estes “mestres” de construção não passam de biscateiros incapazes de fazerem uma obra como deve ser. Mas se vou a um restaurante o resultado é similar com um serviço deficiente a preços de luxo. Se vou a um mecânico automóvel idem aspas. Ou na saúde, na justiça, na ignorância santa dos novos professores e seus alunos, na incompetência dos que governam e mandam. É esta a tradição e não é de hoje, vem de há muitos anos como constatei ao traduzir este parágrafo:
Desde há muito também que se sabe da vinda dos Templários às terras da antiga Lusitânia em 1126, recebendo em doação os terrenos da Fonte Arcada [Póvoa de Lanhoso], por Dona Teresa, mãe de Afonso D. Henriques, sendo seu mestre Guilherme Ricardo.
Dona Teresa também lhes doara o castelo de Soure como primeiro fasto da Ordem. A investida mourisca contra este posto avançado dos cristãos de Coimbra no ano de 1144, foi o grande batismo de guerra dos cavaleiros templários que, então, já haviam transformado esta velha ruína numa fortaleza.
Dizia-se que na convicção templária: «a morte era, de facto, mais bela que a vida comprada com a cobardia». É precisamente este o sentido da divisa ainda hoje utilizada pelos açorianos, que a inscreveram no seu brasão.
Nela é citada a célebre frase de Cipião de Figueiredo e Vasconcelos), conde da vila de São Sebastião (por D. António I) distinguiu-se como corregedor dos Açores durante a crise de sucessão de 1580, tendo governado o arquipélago durante o período conturbado que se seguiu à aclamação nas ilhas de D. António, Prior do Crato como rei de Portugal.
Enquanto a Terceira e as ilhas próximas resistiram ao assalto dos espanhóis à Coroa portuguesa, São Miguel franqueou-lhes a entrada. Estas diferenças tinham que ver essencialmente com o facto de o Corregedor Ciprião de Figueiredo estar sedeado em Angra. Fiel apoiante de D. António Prior de Crato, terá proferido a frase «MAIS VALE MORRER LIVRES DO QUE EM PAZ SUJEITOS».
Por outro lado, a capitania de S. Miguel estava na mão da influente família Gonçalves da Câmara. Além disso, residia nessa altura em São Miguel o Bispo dos Açores, D. Pedro de Castilho, fiel a Filipe II. Além de outros cargos, viria a ser Vice-Rei de Portugal em paga da sua fidelidade à causa castelhana. Mais tarde, o Capitão do Donatário de São Miguel receberia o título de Conde de Vila Franca.
A ele se deve a fortificação e organização da defesa da ilha Terceira que levou à vitória na batalha da Salga.
Foi ele que se negou a entregar os Açores ao poder espanhol, preferindo morrer a favor do Prior do Crato, o último monarca da ímpar dinastia de Avis.
Será simples coincidência de convicção, ou serão mesmo os Açores um dos últimos refúgios da mente templária?
Também em Portugal abundam os que querem fazer esquecer o terror do domínio castelhano e se apressam a entregar o país ao vizinho ibérico. Tal como Miguel Urbano Rodrigues escrevia há apenas três anos:
Os iberistas, ao esboçarem uma Espanha pletórica de energias, de progresso e criatividade, simulam esquecer que o país exibe a mais alta taxa de desemprego da União Europeia anterior ao alargamento. Não aludem sequer ao racismo e à xenofobia que fazem hoje da pátria de Cervantes um dos países europeus onde os imigrantes, sobretudo os magrebinos e os equatorianos e colombianos, são mais discriminados.
Preferem discorrer sobre a localização da capital de uma Ibéria unida, a estrutura institucional do Estado – Federação ou simples transformação de Portugal em mais uma Região Autónoma – e, o papel do Rei D Juan Carlos de Bourbon. …
Nas peculiaridades que diferenciam e aproximam portugueses e espanhóis fala-se do bacalhau, do fado, do flamenco, de marialvas e senhoritos, dos dois idiomas, … longe de serem «muito parecidos», portugueses e espanhóis distanciaram-se progressivamente, exibindo atitudes quase antagónicas.
Trabalham a horas diferentes, transformam o culto do aperitivo num instrumento de convívio, comem a horas diferentes.
O ruído é ali componente da vida, do conceito dos lazeres.
Outra omissão é a falta de referências à colonização económica de Portugal pela Espanha. O processo em curso é avassalador.
Há três décadas a Espanha não existia praticamente como parceiro comercial de Portugal. Hoje ocupa o primeiro lugar nas importações portuguesas.
A invasão do capital espanhol é diluviana. A banca espanhola conquistou uma parcela importante do mercado português.
O mesmo ocorre com a hotelaria e as grandes transnacionais como El Corte Inglês e Zara. As imobiliárias espanholas invadem as cidades, do Minho ao Algarve.
O processo de colonização pacífica, no âmbito do funcionamento do mercado, assume facetas particularmente alarmantes no Alentejo onde capitalistas espanhóis compraram já as melhores terras no perímetro do Alqueva.
Adquiriram milhares de hectares para criação de porcos, instalação de lagares e plantação de oliveiras e vinhas.
Essa invasão do capital espanhol é obviamente festejada pelo Governo de Sócrates e pela grande burguesia como muito positiva. Saúdam os investidores espanhóis como empresários agentes do progresso. Agradecem.
Com a espontaneidade da nobreza de 1383 a saudar D João De Castela e a nobreza de 1580 a alinhar com Filipe II. Essa forma de dominação económica encobre, afinal, uma modalidade de intervenção imperial.
Miguel Urbano Rodrigues, in “Alentejo Popular” (Beja) 02-11-06
Portugal atingiu uma tal irrelevância internacional que ninguém se surpreenderia se fosse uma dependência espanhola, como se de um banco se tratasse e estivéssemos a falar de abrir um escritório na faixa litoral já que o interior está desertificado de gentes e de economias de mercado viáveis. Por outro lado, despontam a nível governamental várias iniciativas de união ibérica, nem sempre dissimuladas, que pessoalmente me causam engulhos. Porque é um profundo estudioso do assunto e condensou aquilo que se pretende aqui dizer, iremos seguir em duas ou três páginas o que Carlos Fontes escreveu na sua página Lusotopias:
http://lusotopia.no.sapo.pt/indexPTmortedeiberistas.html
O iberismo é um fenómeno típico do século XIX, que emergiu em Portugal e em Espanha, como resposta à teoria das grandes nações então em voga na Europa.
Segundo os seus defensores as pequenas estariam condenadas a serem absorvidas pelas grandes, tal como teria acontecido entre os animais onde os mais fortes extinguiram os mais fracos (teoria darwinista).
O iberismo emerge na sociedade portuguesa como uma manifestação patológica de indivíduos que num dado momento sofreram uma forte influência espanhola ou se assumiram como agentes de interesses espanhóis. Sempre que a situação é melhor no outro lado da fronteira, a integração de Portugal em Espanha surge aos olhos dos iberistas como a solução para resolver a crise, sem trabalho.
Os portugueses consideram os iberistas como elementos degenerados de um povo orgulhoso da sua história e identidade cultural.
A sua atuação em cerca de 9 séculos de História traduziu-se sempre em divisões e conflitos que degeneraram em guerras civis, com um cortejo interminável de mortes.
Alguns assassinatos de iberistas ficaram célebres na História de Portugal. A morte dos iberistas era entendida como um ato de defesa de valores que consideravam fundamentais – dignidade, identidade cultural e liberdade -, mas também uma manifestação de respeito por si próprios.
Um povo que não se respeita a si próprio, nunca será respeitado por outros. Ora, o iberista sempre manifestou um profundo desprezo pela dignidade e liberdade do povo português, agindo de modo a destruir a comunidade que o viu nascer.
É por isso que as razões que os portugueses apresentaram para justificar a morte dos iberistas são em tudo idênticas às apresentadas depois da IIª. Guerra Mundial (1939-1945), para a condenação à morte de nazis e fascistas…existem princípios que não podem ser transgredidos, nomeadamente o respeito que todos os seres humanos merecem na sua dignidade, identidade e liberdade.
As mortes de dois iberistas assumiram uma enorme carga simbólica na história portuguesa, sendo continuamente evocadas: a morte do Conde Andeiro e a de Miguel de Vasconcelos. A morte do Conde de Andeiro, fidalgo galego, foi assumida como o símbolo de liberdade de um povo que recusa as ingerências externas e os jogos palacianos para lhes imporem o que não quer.
Este iberista, um típico traidor castelhano, participou em diversas conspirações ao serviço de Portugal e de Inglaterra. Em Lisboa, acabou por ascender a uma elevada posição na corte, tendo recebido de D. Fernando o título de Conde de Ourém, pondo-se durante a crise de 1383-85, ao serviço de Castela.
Foi assassinado, a 6 de dezembro de 1383, por D. João, mestre de Avis e futuro rei de Portugal.
A sua nefasta ação e de outros esbirros traduziu-se numa violenta guerra civil que só terminou quando os portugueses exterminaram os aliados de Castela.
A morte de Miguel de Vasconcelos exprime simbolicamente a afirmação da identidade cultural de um povo, cuja forte individualidade saiu reforçada após uma opressão de 60 anos.
Este secretário do governo espanhol, ficou tristemente célebre pelo ódio que nutria pelos seus concidadãos.
Em 1634 tentaram-no matar pela primeira vez. Se o tivessem feito, muitas vidas teriam sido provavelmente poupadas. Na manhã de 1 de dezembro de 1640, quando os portugueses restauraram a independência de Portugal, foi o primeiro a ser morto.
A ação destes iberistas, entre 1580 e 1640, traduziu-se numa brutal opressão da população portuguesa. Após a morte deste esbirro, o povo português travou com a Espanha, durante 28 anos, uma sangrenta guerra na Europa e na América do Sul pela defesa da sua liberdade e dignidade.
Ora bem, como hoje em dia ninguém estuda História, episódios como este perdem a sua força e não são transmitidos de geração para geração, perdendo-se a memória coletiva do povo.”
Continuo a fazer minhas as palavras de Carlos Fontes:
Nas duas últimas décadas, órgãos de comunicação social, em Portugal, usando da liberdade de expressão própria de um regime democrático, têm procurado de forma sistemática abrir fraturas na sociedade, aproveitando momentos particularmente difíceis do país. As personagens são quase sempre as mesmas, ligadas a interesses obscuros e grupos económicos espanhóis. O seu objetivo é simples:
- Mostrar através de “sondagens” encomendadas ou “discussões” públicas que na sociedade portuguesa existe um grupo de iberistas, cujo objetivo é a dissolução do Estado português;
- Dar “voz” à hipotética minoria iberista portuguesa. Ao mesmo tempo, a imprensa espanhola mostra a aceitação à possível integração.
- Os supostos iberistas não constituem qualquer corrente de opinião, muito menos são um movimento organizado.
A imprensa afeta aos interesses espanhóis trabalha no terreno das hipóteses…descarada tentativa de desestabilizar a sociedade portuguesa, introduzindo elementos de discórdia e desmoralização coletiva.
Oliveira Martins (1845-1894) é o melhor exemplo dos esbirros iberistas. É difícil de determinar a causa do profundo ódio que manifestava pelos seus concidadãos e o país. Ao contrário de outros, não foi um iberista de circunstância, mas manteve um percurso político coerente com esta aberração.
Antero de Quental, em 1869 era um confesso iberista, dois anos depois já nem fala no assunto, e mais tarde abomina semelhante ideia.
Algo idêntico ocorreu com Teófilo Braga.
Oliveira Martins foi um típico vira-casaca: anarquista (Proudhoniano), socialista, republicano, monárquico, liberal, antiliberal. Defendeu a liberdade, mas também a ditadura. Atacou os ditadores, mas apoiou João Franco. É apontado como um dos introdutores das ideias socialistas em Portugal, mas também como um protofascista. Muitas das suas ideias foram aplicadas por ditadores como Sidónio Pais ou Oliveira Salazar.
Tirando partido da crescente debilidade mental de Saramago, o “Diário de Notícias” (15 de julho de 2007), relançou a questão do iberismo. Este velho comunista, a viver em Espanha afirma que em breve Portugal irá transformar-se numa das suas províncias, não porque os portugueses o queiram, mas porque é melhor para eles. Quem o diz é este adulador de ditadores como Estaline, Ceausescu ou Fidel de Castro.
Como sempre, outros jornais trataram de fazer eco deste insulto ao povo português. Uma educação salazarenta, 45 anos no PCP e 14 em Espanha, a que se juntou o casamento com uma espanhola foram a receita ideal para produzirem um típico iberista.
Para consubstanciar a ação, Saramago cria uma Fundação cujo objetivo será promover a contestação pública em Portugal, tendo à sua frente uma espanhola….
Três dias depois, uma jornalista da agência de notícias espanhola EFE, aproveita para promover a discussão do Iberismo em torno das afirmações de Saramago. O alvo foi o presidente Cavaco Silva que se limita a afirmar que a união entre Portugal e a Espanha era uma “hipótese absurda”.
Durante as eleições legislativas de setembro de 2009 – a TVI -, um canal de televisão português controlado por espanhóis interferiu diretamente na campanha eleitoral, lançando a suspeita de uma possível interferência do governo português na comunicação social. Sem qualquer respeito pelas leis de Portugal, a administração resolveu afastar a “jornalista” (Manuela Moura Guedes) que desde 2008 promovia uma campanha de propaganda contra o governo socialista. Ao contrário do que se procurou fazer crer, não se tratou do apoio dos espanhóis a um qualquer partido político. Estamos perante um canal de televisão onde a propaganda pró-espanhola é constante, e onde os noticiários e a maioria dos programas possuem um objetivo muito claro: desestabilizar a sociedade portuguesa, fomentando os conflitos sociais e denegrindo internamente a autoestima da população. Não deixa de ser curioso constatar que, enquanto estes factos ocorriam, a comunicação social espanhola procurava lançar nova campanha em defesa das teses iberistas, apoiada numa “sondagem” realizada pela Universidade de Salamanca, com a colaboração de alienados no ISCTE (Lisboa).
A razão por que escolhi este tema para a Crónica de hoje é a data que ora se celebra, o dia da Restauração da Independência de 1 de dezembro de 1640, para que os mais jovens nunca o esqueçam e o deixem de tratar como um dia em que se não trabalha ou não há aulas. Infelizmente, é para a maioria, um dia como outro qualquer aqui nos Açores, sem que o povo se dê conta do seu significado:
“…arrebatados do generoso impulso, saíram todos das carroças e avançaram ao paço. Neste tempo andava D. Miguel de Almeida, venerável e brioso, com a espada na mão gritando: — Liberdade, portugueses! Viva El-Rei D. João, o Quarto!”
A ideia de nacionalidade esteve por trás da restauração da independência plena de Portugal após 60 anos de monarquia dualista. Cinco séculos de governo próprio haviam forjado a nação, fortalecendo-a a rejeitar qualquer união com o país vizinho.
A independência fora sempre um desafio a Castela e uma vontade de não ser confundido com ela. Entre os dois estados foram sucessivas e acerbas as guerras, as únicas que Portugal realmente travou na Europa.
Para a maioria dos Portugueses, os Habsburgo eram usurpadores, os Espanhóis inimigos e os seus partidários, traidores. Culturalmente, avançara depressa a castelhanização do País de 1580 a 1640. Autores e artistas gravitavam na corte espanhola, fixavam residência, aceitavam padrões espanhóis e escreviam cada vez mais em castelhano, contribuindo para a riqueza do teatro, da música ou da arte pictórica espanholas.
Dão a impressão errada de decadência cultural após 1580.
A perda da individualidade cultural era sentida por muitos portugueses, com reações diversas a favor da língua pátria e da sua expressão em termos de prosa e poesia. Contudo, os intelectuais sabiam perfeitamente que os seus esforços seriam vãos sem a recuperação da independência política.
Economicamente, a situação piorara desde 1620 ou até antes. Muitas razões que justificavam a união das coroas ficaram ultrapassadas.
O Império Português atravessava uma crise com a entrada em jogo de holandeses e ingleses. Perdera o monopólio comercial (Ásia, África e Brasil) e a Coroa, a nobreza, o clero e a burguesia haviam sofrido severos cortes de receitas.
Os Espanhóis reagiam contra a presença portuguesa nos seus territórios, mediante vários processos, entre os quais a Inquisição. Isso suscitou grande animosidade nacionalista em Portugal aprofundando o fosso já cavado entre os países. D. Margarida, duquesa de Mântua, neta de Filipe II, exerceu o governo de Portugal, de 1634 a 1640, com autoridade de vice-rei e capitão-general.
A situação económica estava longe de brilhante. Os produtores sofriam com a queda dos preços do trigo, azeite e carvão. A crise afetava as classes baixas, cuja pobreza aumentou sem disfarces.
O agravamento dos impostos tornava a situação pior. Para explicar os tempos difíceis e apaziguar o descontentamento geral, a solução apresentava-se fácil e óbvia: a Espanha, causa de todos os males.
A conspiração a favor da independência congregava um grupo heterogéneo de nobres, clientes e funcionários da Casa de Bragança e elementos do alto e baixo clero.
Em novembro de 1640 conseguiram o apoio formal do duque de Bragança. Na manhã do 1º de dezembro, um grupo de nobres atacou a sede do governo em Lisboa (Paço da Ribeira), prendeu a duquesa de Mântua e matou ou feriu membros da guarnição militar e funcionários, entre os quais o Secretário de Estado, Miguel de Vasconcelos.
Seguidamente, os revoltosos percorreram a cidade, aclamando o novo estado, secundados pelo entusiasmo popular. Por todo o Portugal, metropolitano e ultramarino, as notícias da mudança do regime e do novo juramento de fidelidade foram recebidas e obedecidas sem qualquer dúvida.
Apenas Ceuta permaneceu fiel à causa de Filipe IV.
- João IV entrou em Lisboa a 6 de dezembro. Proclamar a separação fora fácil. Mais difícil seria mantê-la. Tal como em 1580, os portugueses de 1640 estavam longe de unidos. As classes inferiores conservavam intacta a fé nacionalista aquiescendo a D. João IV, mas a nobreza, com laços familiares em Espanha, hesitou e só parte alinhou com o duque de Bragança. O mesmo se passou em relação ao clero.
O novo monarca não gozava de uma posição invejável. Do ponto de vista teórico, tornava-se necessário justificar a secessão: longe de figurar como usurpador, reaveria simplesmente aquilo que por direito legítimo lhe pertencia.
Abundante bibliografia (em Portugal e fora dele) a partir de 1640, procurou demonstrar os direitos reais do duque de Bragança.
Se o trono jamais estivera vago de direito, em 1580 ou 1640, não havia razões para eleição em cortes, o que retirava ao povo a importância que teria, fosse o trono declarado vacante.
Todo o reinado (1640-56) foi orientado por prioridades. Primeiro, a reorganização do aparelho militar, com reparação de fortalezas das linhas defensivas fronteiriças, fortalecimento das guarnições e obtenção de material e reforços no estrangeiro.
Paralelamente, uma intensa atividade diplomática nas cortes da Europa, para obter apoio militar e financeiro, negociar tratados de paz ou de tréguas, e conseguir o reconhecimento da Restauração, e a reconquista do império ultramarino.
A nível interno, a estabilidade dependeu, do aniquilamento de toda a dissensão a favor de Espanha.
A guerra da Restauração mobilizou todos os esforços que Portugal podia despender e absorveu enormes somas de dinheiro.
Pior, impediu o governo de conceder ajuda às frequentemente atacadas possessões ultramarinas. Mas, se o cerne do Império, na Ásia, teve de ser sacrificado, salvou a Metrópole de uma ocupação pelas forças espanholas.
Portugal não dispunha de um exército moderno, as suas forças eram escassas na fronteira terrestre, as suas coudelarias extintas, os seus melhores generais lutavam pela Espanha algures na Europa. Do lado português, isto explica por que motivo a guerra se limitou em geral a operações fronteiriças de pouca envergadura.
Do lado espanhol, é preciso lembrar que a Guerra dos Trinta Anos (até 1659) e a questão da Catalunha (até 1652) atrasavam ofensivas de vulto.
Regra geral, a guerra, que se prolongou por 28 anos, teve altos e baixos até se assinar o Tratado de Lisboa, em 13 de fevereiro de 1668, entre Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, em que este reconhece a independência do nosso País. [1]
Hoje anda aí muita gente com passaporte português a celebrar o 1º de dezembro como se tivesse sido um desastre ou péssimo acontecimento. Esquecem que se tratou da reconquista da liberdade do povo e da nação subjugada pelo poder dinástico dos Filipes de Castela. Mais vale um povo pobre e livre do que rico na gaiola dourada com as cores do reino de Espanha. Assim dizem os galegos que se aproximam das origens portuguesas preservando língua e cultura. Por vezes, a memória dos homens é curta. Quase ninguém sabe nem evoca o jovem Miguel da Paz (nascido em 1499) que teria sido Rei de Portugal e de Espanha se não morresse aos dois anos.
É verdade, e infelizmente este “se” é desconhecido da maioria dos portugueses, clamem ou não pelo regresso ao trono espanhol. São deveras interessantes os “pequenos detalhes” da História, que vieram legalizar de pleno direito a sucessão de Filipe II ao trono de Portugal (1580), por morte sem descendência do herdeiro varão, cardeal D. Henrique (68 anos), 9º filho do rei D. Manuel I.
A candidatura de Filipe era fortíssima e praticamente indiscutível. Resultava do casamento da filha terceira de D. Manuel I, com Carlos V (I de Espanha), pais de Filipe I de Portugal (II de Espanha).
São estes pequenos detalhes da vida, que determinam o curso da História. Paradoxalmente, antes da candidatura de Filipe ao trono em Lisboa, a situação poderia ter sido invertida, unificando as coroas ibéricas “para o lado português”.
Em 1499, fora proclamado herdeiro das coroas de Portugal e de Espanha, Miguel da Paz, primeiro filho de D. Manuel I com Isabel, filha dos Reis Católicos.
Azar dos portugueses ou conspiração castelhana, o certo é que morreu com 2 anos de idade
[1] (Adaptado de Oliveira Marques, “A Restauração e suas Consequências”, in História de Portugal, vol. II, Do Renascimento às Revoluções Liberais, Lisboa, Ed. Presença, 1998, pp. 176-201).
MEMÓRIAS ANOS 60
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