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a mudança de hora, 20.10.2025

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  1. a mudança de hora, 20.10.2025

esta e as anteriores crónicas estão em https://www.lusofonias.net/mais/as-ana-chronicas-acorianas.html

No último fim de semana de outubro mudou a hora, pelas 01:00 passamos a estar na meia-noite o que me desagrada assim como a muita gente que preferia estar sempre na hora de verão, mas a proposta da EU é precisamente o oposto, passarmos a ter a hora de Inverno todo o ano – porque é o que está mais de acordo com a dinâmica da exposição solar terrestre.

Como escrevia Ana Oliveira (Letras Lavadas e Publiçor) nesta data: “Os jornalistas sabem que o povo só lê o título, e agora está na moda nem sequer pôr subtítulo para contextualizar – contribuindo ainda mais para a ignorância das pessoas. Tudo em favor do tão maravilhoso «click-bait». O problema é que ninguém clica e fica ignorante. E o facto de só trazerem à baila este tópico quando a mudança da hora é do Verão para o Inverno, infere-se que este tipo de iniciativas é para acabar com o horário de Inverno. Só que não é, é para acabar com ele. É por estas e por outras que tenho vergonha de ter tirado o curso de Jornalismo. O lixo em que se tornou esta profissão.”

Tudo começou em 1916, durante a I Guerra Mundial, quando obrigaram à mudança da hora com o intuito de poupar carvão (combustível) usado na iluminação. Os primeiros países foram a Alemanha e a Áustria, mas rapidamente outros, nomeadamente Portugal, fizeram o mesmo. Nessa época houve uma poupança de energia. Em língua inglesa a hora de verão é conhecida como “Daylight Savings Time”, que se pode traduzir como “tempo de poupança de luz do dia”.

Os efeitos de atrasar e adiantar a hora: no outono, no dia anterior à mudança, quem sai para trabalhar pelas 07:30 levanta-se de noite, com o Sol a pôr-se às 18:30. Em compensação, no dia seguinte, às 07:30 é dia, e o Sol põe-se às 17:30. Na primavera o efeito é oposto. Mas se o objetivo é aproveitar a iluminação do Sol, só funciona para países a latitudes médias. Como o eixo de rotação da Terra é inclinado, perto do equador, a duração do dia muda pouco ao longo do ano, pelo que não há necessidade de mudança. Em Svalbard, Noruega, latitude 80º N, desde abril até agosto, o Sol nunca se põe, e desde o novembro até fevereiro, o Sol nunca nasce! Adiantar ou atrasar a hora torna-se, assim, inútil. Por isso, só nas latitudes médias, nem demasiado perto do equador, nem dos polos é que a hora de verão significa uma “poupança de luz do dia”.

Em 1996, a União Europeia decidiu padronizar a hora de verão entre os Estados (exceções: Islândia e Rússia). A convenção é avançar os relógios 60 minutos do último domingo de março e voltar a atrasá-los 60 minutos do último domingo de outubro. Em 2018, o Parlamento Europeu lançou um inquérito para determinar se os cidadãos preferiam manter ou terminar com a mudança de hora. A maioria dos votos foi a favor de acabar com a mudança da hora, mas só 0,85% dos Europeus votaram, dos quais 70% eram alemães. O voto alemão é compreensível: no dia do solstício de verão, Berlim tem mais duas horas de luz do dia do que Lisboa, enquanto no solstício de inverno, o dia dura menos duas horas do que na capital portuguesa, com o Sol a nascer às 8h15 e a pôr-se antes das 16h00. Assim se explica que, na Alemanha, a mudança é irrelevante em termos de aproveitamento de luz solar.

Baseado nos resultados do inquérito, em 2019 o Parlamento Europeu votou para terminar a mudança da hora, em 2021. No entanto, o Conselho da UE exigiu um estudo do impacto detalhado que o fim da mudança acarretaria, ainda por elaborar. Há variadíssimos estudos que analisam o impacto no consumo de energia, número de acidentes rodoviários, perturbações do ciclo circadiano (o nosso relógio biológico), impacto na economia e o simples bem-estar da população. Destes, uns apontam para vantagens em manter a mudança (por exº, sair para a Escola de noite, no pico do inverno, aumenta a hipótese de atropelamento das crianças), outros mostram vantagens em manter a mesma hora todo o ano (o stress da mudança pode ser nocivo para a saúde de imunodeprimidos ou com doenças de sono) e outros afirmam não haver qualquer diferença entre manter ou não a mudança (como o relatório do Laboratório Nacional de Energia e Geologia, que analisa o impacto da mudança da hora na penetração da geração de energia renovável no consumo).

Em Portugal, a Comissão Permanente da Hora é o órgão consultivo da República, para “estudar, propor e fazer cumprir as medidas de natureza científica e regulamentar ligadas ao regime de hora legal e aos problemas da hora científica”. Em 2018, a comissão elaborou um parecer e concluiu que “nenhuma das hipóteses é boa solução, sendo a UTC+1 a pior delas”. Manter UTC+1 corresponderia a manter permanentemente a hora de verão, algo semelhante ao que aconteceu entre 1992 e 1996, durante o Governo de Cavaco Silva, quando Portugal adotou o fuso horário CET (Central European Time), o mesmo que o resto da Europa. Nessa altura, no pico do inverno, o Sol nascia por volta das 9h00. No entanto, em 2021, um conjunto de peritos assinou a Declaração de Barcelona sobre Políticas do Tempo, sustentando que se deve acabar com a mudança, pois “não tem efeitos significativos na poupança energética, nem melhora a saúde, economia, segurança e meio ambiente”.

Na Região, a mudança ocorre pelo Decreto Legislativo Regional 6/96/M. Como pessoa da quarta idade, cada vez simpatizo menos com a mudança de hora. Em novo gostava da mudança invernal para dormir mais uma hora, não sinto nenhuma vantagem, antes pelo contrário. A alteração no ritmo circadiano afeta-me, e demoro semanas infindas a ajustar-me. No inverno acordo à hora habitual e não me deito uma hora mais cedo como devia. Para mim, isto é um negócio que favorece as companhias de eletricidade, pois são menos as pessoas e as horas em que se liga a luz de manhã comparadas com mais pessoas e mais horas de luz ligada no fim do dia.

Resultado: maior consumo de energia e quem disser o contrário mente. Como país carneirento ninguém protesta, todos fazem o que mandam e mudam os relógios duas vezes ao ano, esqueceram-se de avisar os animais que são as maiores vítimas da mudança de hora para alterarem o relógio biológico.

O Governo espanhol vai propor à EU, ainda este ano de 2025, o fim definitivo da mudança da hora na Europa. No inverno de 1992 para 1993, o governo de Cavaco Silva decidiu não mudar a hora em outubro, mantendo o horário de verão durante todo o inverno. A ideia era alinhar Portugal com o horário da Europa Central (como França e Alemanha) e avaliar os efeitos na economia e na produtividade. No entanto, a medida foi muito impopular: os dias amanheciam demasiado tarde (em alguns sítios, só havia luz natural perto das 9h da manhã), o que causou muitas queixas, sobretudo no norte e interior do país.

Por isso, em 1993, Portugal voltou ao regime habitual de mudança de hora — GMT no inverno e GMT+1 no verão. A malta reclama do horário de inverno (pois o horário de inverno o ano todo é deprimente, é um facto sem controvérsia), mas obrigar os miúdos a acordar de noite e entrarem na escola de noite em dezembro pode ser puxado…claro que é melhor levar os miúdos de noite porque muitos vão com os pais e à saída muitos saem sozinhos, porque os pais estão a trabalhar e pelo menos ainda é de dia. Para quem diz que as crianças entram ou saem de noite da escola, que no horário de inverno, “fica de noite” ainda mais cedo, lembrem-se de que só os estamos a preparar para o futuro, quando tiverem de trabalhar, pois irão ter horários que os vão obrigar a tal situação. Mas não somos nós que decidimos.

Noutra área há quem se recorde afetiva e emocionalmente desta cena. Como eu nunca o fiz, nem achava qualquer piada na época, agora, em idade avançada, também me chateava profundamente quando a miudagem aqui da Lomba o fazia, em especial quando saía da catequese (aqui ao lado da casa). Irritava-me sem entender qual o gozo das crianças fazerem isso, mas deve ser defeito meu e da minha infância reprimida.

DEFICIENTE NÚMERO DE LUGARES PARA DEFICIENTES

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571.
DEFICIENTE NÚMERO DE LUGARES PARA DEFICIENTES NO HDES

Há poucas semanas escrevi sobre o tema mas tenho de voltar a ele. Escrevi para a administração do HDES a dar conta da insatisfação mas a política de Relações Públicas do Hospital não é conhecida pela sua celeridade em responder aos utentes, o que faria semanas mais tarde. Esta minha embirração diz também respeito a deficientes (meramente visuais ou mentais) que não sabem ler este sinal e

estacionam para ficarem mais perto da entrada / saída de qualquer edifício. Quando uma pessoa que utiliza esse dístico quer estacionar, encontra os lugares ocupados por esses deficientes (que, assinale-se não têm direito a dístico!). Nunca há seguranças, nem PSP, nem GNR nem Polícia Municipal, a jeito para mandar retirar as viaturas em contraordenação. É a impunidade e o desrespeito total.

E gostava de pedir encarecidamente à Administração do HDES que plante lugares para deficientes pois os 9 ou 10 existentes são manifestamente insuficientes, em especial para os doentes da oncologia com dificuldades de mobilidade.…é um tormento para quem tem tratamentos diários ou regulares, arranjar lugar é tarefa quase impossível, quase como ganhar o Euromilhões… A falta de respeito e de civismo dos que não têm direito a esse dístico tem de ser punida.

Para quem vive longe da cidade não pode depender de transportes coletivos pois estes pararam nos anos 70 e têm horários ainda do tempo em que os dinossáurios vagueavam pela Terra.

Nem todos se fazem transportar nas ambulâncias de transporte não-urgente de doentes pois as demoras no regresso muitas vezes levam a que todo o dia seja consumido no transporte de e para a residência, por mais boa vontade que os bombeiros possam ter..

A deslocação de 35 km, ida e volta, por táxi custa quase 10% do salário mínimo. Já houve quem me sugerisse deixar a viatura nos parques do Parque Atlântico e deslocar-me ao Hospital de táxi. Seria mais seguro e barato, mas há uma estranha tendência para encontrar o carro batido ou riscado naqueles parques, como, infelizmente, já constatamos por mais de uma vez.

Os mais afortunados que dispõem de viatura própria, devidamente identificada terão de chegar com muita antecedência para encontrar um lugar disponível, agora que o HDES plantou pinos (bolardos) nos passeios e outros obstáculos e manda a PSP autuar os que se encontram estacionados nos passeios (centenas deles)

 

Esta semana tive de me deslocar ao HDES, como infelizmente fruto do meu diagnóstico oncológico faço frequentemente. Cheguei ainda não eram 08.30 e pelas 09.00 tinha análises marcadas junto às antigas Urgências, sem lugar disponível na rua, ou em cima do passeio…o novo hospital modular roubou mais um estacionamento. Os lugares reservados estavam ocupados por viaturas sem dístico e tive de deixar a viatura, em infração, numa curva em perigo de sofrer danos. Eram quase 11.00 quando saí da colheita de sangue e a poucos metros da viatura já rondava (que nem um abutre sobre os cadáveres) um solícito agente da PSP que alegremente distribuía dezenas de pequenos papeis de notificação de infração.

Sei que não há milhões para se construírem parques subterrâneos ou silo autos em altura, sei que há pessoas que vão à cidade e estacionam ali o dia todo, sei que o pessoal médico, de enfermagem e auxiliar não tem também estacionamento suficiente para eles. Andamos nisto há anos, eu só constatei o problema há 20 anos quando cá cheguei, mas afeta todos os doentes (não só os da oncologia com tratamentos diários ou regulares) pelo que se esperaria que a administração tivesse já feito algo para minorar as deficiências apontadas, em vez de nos tratar com o silencioso desdém com que trata a maioria das queixas dos utentes.

Nunca me esqueço de que em Melbourne 1994 a minha companheira da época, cheia de pressa numa compra de sábado, a minutos do híper fechar, estacionou num desses lugares, “só por um minuto”. “Um minuto” depois, ao regressar, estava a multa no para-brisas, menos 4 pontos na carta de condução e uma coima de 200 dólares…Se cá fizessem o mesmo, eu perdia essa embirração…

A SOCIEDADE DA SOLIDÃO,por chrys c

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  1. 613. A SOCIEDADE DA SOLIDÃO,por chrys c14.10.2025

 

Um idoso foi encontrado em outubro 2025, em avançado estado de decomposição no apartamento onde vivia sozinho, em Valência, Espanha. O homem terá morrido em 2010, sem que ninguém tenha dado pela sua ausência, segundo o El País.

O corpo foi descoberto depois de os bombeiros terem sido chamados por um vizinho do andar de baixo, devido a uma infiltração causada pela chuva. Quando entraram pela janela do sexto andar, depararam-se com uma “imagem macabra”: o corpo do idoso, rodeado por pombas mortas, insetos e um ambiente de extrema degradação.

Os relatos recolhidos pelo El País descrevem o reformado como um homem reservado e solitário. Após o divórcio, afastou-se da família e passou a viver sozinho. Tinha dois filhos com quem já não mantinha contacto há muitos anos. Sempre que era visto na rua, fosse no restaurante ou no supermercado, estava sempre sozinho.

“Cumprimentava, mas não se metia com ninguém. Quando deixámos de o ver, pensámos que estava num lar de idosos”, recorda um vizinho.

Durante todos estes anos, a pensão de reforma continuou a ser depositada regularmente na conta do homem. Graças a isso, as despesas da casa foram sendo pagas sem que ninguém suspeitasse da morte do idoso. Segundo as autoridades, não há sinais de crime.

Aqui há um outro culpado, a entidade que pagava a reforma (Estado ou privado) e que não exigia anualmente a prova de vida daquele idoso, pois se o fizesse o cadáver teria sido encontrado em 2011.

Motivo para dizer, uma vez mais, que nós idosos somos transparentes ou invisíveis. De facto na maioria dos casos, gente deste grupo etário nem é vista nem se quer vista pela maioria dos seus descendentes, demasiado ocupados com a mesquinhez das suas vidas materialistas, sem tempo nem empatia para com os mais velhos, como deveriam ter aprendido dos seus avós e demais antepassados.

Raro é o dia em que a comunicação social não nos narra outros casos de abandono de idosos em hospitais onde foram abandonados pela sua prole, e lá ficam esquecidos para não serem levados por eles para suas casas onde seriam um incómodo sempre presente e a precisar de atenção. Por isso é mais fácil deixá-los nos hospitais, ou se forem afortunados num qualquer lar, legal ou ilegal, tanto faz, desde que não chateiem. Mesmo que nesses lares sejam objeto de sevícias, ou vítimas de uma qualquer megera a sedar, bater e insultar idosos. Os lares de idosos continuarão a ser depósitos de vivos sem valor para a sociedade, sem inspeções nem fiscalizações, mas serão construídos mais e melhores hospitais para animais.

Uma sociedade injusta e desigual, onde nalguns casos mais vale sermos mesmo invisíveis.

No natal de tanta falsidade pintada com cores róseas na TV ninguém falou do lar de idosos onde (quase) todos esperaram visitas de quem nunca chegou…. seria o melhor retrato da sociedade em que vivemos. Os filhos na creche ou ATL, os velhos em asilos e os novos a passearem os seus cãezinhos…

Já há tempos um ministro japonês e a senhora FMI (Christine Lagarde) diziam que se tinha de acabar com os velhos…mais precisamente as suas palavras foram: “os idosos vivem demasiado e isso é um risco para a economia global! Há que tomar medidas urgentes.” Podem dar o exemplo e desaparecerem já da face da terra…

 

Dado que a maioria da população em Portugal tem mais de sessenta anos, não vai tardar que se multipliquem casos destes e venham os sociólogos falar do problema da solidão na terceira idade, os geógrafos políticos venham lamentar a desertificação humana do interior profundo de Portugal, os políticos se expliquem com a introdução de alterações inócuas às leis, as instituições de solidariedade social se queixem da crise e da falta de apoios para prestarem ajuda solidária aos idosos, a PSP se lastime da falta de meios humanos para uma política de proximidade, e os filhos e os netos continuem a colocar em asilos os idosos para não terem o trabalho de cuidar deles ou a ignorá-los só por que são velhos.

Vou já começar a tomar medidas para quando estiver só, velho e desamparado, para não me deixarem morrer sozinho com o gato e os periquitos que não tenho nem quero ter.

Sendo uma pessoa dada às letras é provável que mantenha um diário.

Um diário sobre a dor…a dor que sentiu por ter sido abandonada pela família… Talvez o sofrimento fosse muito maior, mas as palavras só permitiram extravasar uma parte desses sentimentos, gravados em algumas frases:

Onde andarão os filhos?

Aquelas crianças sorridentes que embalei no meu colo, que alimentei, de que cuidei com tanto desvelo, onde andarão?

Estarão tão ocupadas?

Talvez não me possam visitar, nem ao menos para me dizerem olá?

Ah! Se soubessem como é triste sentir a dor do abandono…

A mais deprimente solidão… Se ao menos pudesse caminhar…,

Os anos passam e os meus filhos não entram por aquela porta, de braços abertos, para me envolver com carinho…. Os dias passam… E com eles é a esperança que se vai… No começo, era a esperança que me alimentava, ou eu a alimentava, não sei… Mas, agora….

Como esquecer que fui esquecido?

Como engolir esse nó que teima em ficar na minha garganta, dia após dia?

Todas as lágrimas que chorei não foram suficientes para desfazê-lo…

Sinto que o crepúsculo desta existência se aproxima…

Queria saber dos meus filhos…. Dos meus netos….

Será que ao menos se lembram de mim?

A esperança, agora, parece estar atrelada aos minutos…

Que a arrastam sem misericórdia…para longe de mim…

Em Ponta Delgada (2018), dois anos depois de terem surgido alegações de maus-tratos a idosos na Santa Casa da Misericórdia, nos jornais locais e na RTP Açores, veio a TVI fazer uma reportagem e todos ficaram chocados, até o governo regional que (quase) não sabia de nada…nestes casos o melhor é mesmo matar o mensageiro e a Santa Casa intentou uma ação contra a malvada TVI.

Aqui nos Açores escondida sob tanta miséria humana havia também a pedofilia, a violência doméstica, o mau aproveitamento escolar e outras maleitas além dos maus tratos a idosos e a cientistas, que aparentemente não são muito apreciados por estas bandas. Lá surgia de vez em quando um ou outro escândalo, mas como sempre a indignação das gentes nunca durava mais do que três dias bem contados que aquele povo temente a deus, amante da bola e da música dolente não tinha capacidade de se concentrar muito tempo sobre um só tema.

 

 

393. O 25 de abril sempre 2021

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393. O 25 de abril sempre 2021

Houve tempos difíceis depois da primeira grande Guerra e durante a segunda. Com o racionamento faltavam bens essenciais que nenhum dinheiro podia comprar. Depois veio a esperança, a reconstrução, novas tecnologias após 1950. Nesta bela casa, hoje dilapidada e desabitada, à espera do camartelo municipal para se construir uma qualquer gaiola de cimento sem vida nem alma, habitaram famílias (felizes ou não), nasceram jovens, cresceram, foram à Guerra colonial, e voltaram ou não, para casar e arranjar emprego, terem filhos, seguirem o curso de vida normal nesses tempos. Naquela casa houve festas, aniversários, dançaricos, celebrações, ouviram-se risos e choros, alegrias e tristezas. Em tempos, criadas fardadas de preto e branco serviram à mesa, na escravatura de só saírem umas horas, ao domingo de tarde, para namorarem um magala do quartel mais próximo.

Foi nessa altura que o mundo calmo e salazarento se desmoronou e perdeu a inocência. Primeiro a ocupação de Goa, Damão, Diu, a que se seguiram as chacinas em África, que deram início a 14 anos de Guerra colonial sangrenta, estúpida, sem senso. Um confronto militar perdido antes de ter começado, seguindo a teoria de dominó de Henri Kissinger, onde Portugal nunca teve hipóteses face ao xadrez dos EUA e Rússia em África. Mais de uma dezena de milhares de mortos e muitos milhares de feridos e estropiados que ainda hoje penam com stresse pós-traumático. Tudo deixou marcas na velha casa, onde um jovem revolucionário, embandeirou em arco com o 25 de abril, ameaçando as fundações da família. Velhos e irrelevantes, os donos da casa foram-se consumindo com o tempo, sem se ajustarem aos ventos democráticos cuja voragem aniquilou as escassas reservas amealhadas em gerações. Quando se finaram, a casa também se finou com eles sem ninguém interessado em manter e preservar o velho casarão que, há muito necessitava de obras custosas, para manter a aparência senhorial.

E que acontecia entretanto? Na época eu, e qualquer jovem, vivia com dois dilemas, a espada de Dâmocles da malfadada tropa (o exército colonial português que decepava vidas e esperança dos jovens ao enviá-los para a Guerra colonial que ninguém queria nem entendia), a outra, era não pertencermos à Europa (nem ao mundo) na política do “orgulhosamente sós” a que a ditadura salazarenta se agarrava. Mas havia esperança, a Guerra colonial acabaria, tal como a do Vietname. A democracia havia de chegar a Portugal como chegou à Europa após a segunda Grande Guerra. Não sabíamos quando.

Estive como aspirante a oficial miliciano, no RAL-4 Leiria, e nos passeios longos de tertúlia com o (major) Melo Antunes nas margens do Rio Lis (abril a setembro 1973) ele dizia que se estava a preparar algo para daí a dois ou três anos (no pior cenário, cinco anos). Falava-se de vida, filosofia, aspirações e sonhos. Felizmente vivi o suficiente para ver a maior parte desses sonhos concretizados. Jamais esquecerei o que era viver sem liberdade. Sempre afirmei, e reitero, mesmo que não sirva para grande coisa, o 25 de abril trouxe o bem mais precioso: a liberdade de expressão.

A REVOLUÇÃO E O ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

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574. A REVOLUÇÃO E O ADMIRÁVEL MUNDO NOVO 21.02.2025

 

Ano de eleições autárquicas que prometem virar o país de alto a baixo como nunca se viu. Parece ser verdade, os nossos políticos vão fazer o que prometeram durante a campanha eleitoral.

Agora, todos os funcionários dos departamentos governamentais vão ser prestáveis e até vão preencher os próprios formulários que estão sempre a fazer perguntas para as quais eles já sabem as respostas.

As Finanças deixam de atender por marcação prévia.

Os Hospitais deixam de ter esperas de 6, 10 ou 15 horas e terão médicos e enfermeiros suficientes para todos serem atendidos em menos de 15 minutos.

Nenhum médico privado ou público atenderá os pacientes com mais de 10 minutos de atraso em relação á hora marcada e terá de pedir desculpas e garantir que isso não se repete sob pena de pesadas coimas.

As reuniões escolares nunca durarão mais de 2 horas, os envolvidos estarão familiarizados com a agenda e terão fins e objetivos facilmente comprováveis.

Quando telefonamos a uma empresa, vão mesmo atender a chamada.

Nos cafés e restaurantes açorianos quando pedirmos uma garrafa de água ela virá acompanhada de um copo.

Nos restaurantes, o “couvert” será gratuito e fará parte do cartão-de-visita de Relações Públicas local.

O “Em espera” está a ser banido de todos os telefones.

As pessoas vão “falar” em vez de enviar mensagens de texto.

Os adolescentes vão ser prestáveis em vez de se queixarem.

O Governo está a eliminar os impostos sobre o vinho, gás , gasolina, cerveja.

A publicidade está a ser banida da televisão.

A fidelização de telecomunicações nunca será superior a 30 dias, podendo ser cancelada a qualquer momento sem aviso prévio.

Vamos ser servidos em grandes armazéns em vez de sermos ignorados e, sim, Pingo Doce, Continente, etc. estou a olhar para ti. Deve ser divertido no nosso admirável mundo novo.

Admirável era constatar que a lei de Português Simples tinha sido posta em prática e que os contratos da NOS; MEO etc. em vez de 27 páginas tinham apenas 12 linhas que toda a gente entendia e podiam ser lidos sem lentes de aumento. Outra novidade que pensei: qualquer documento de seguro passara a conter 3 páginas incluindo a descrição completa e detalhada do bem seguro.

As rotundas passaram a ter obstáculos que obrigavam os que circulavam mais à direita a virar tal como a lei propugna.

As trotinetas e bicicletas de aluguer deixaram de ser abandonadas em qualquer ponto onde acabava o aluguer ou a falta de civismo impelia.

A Meta, X, Microsoft e outras deixam de ter acesso aos seus dados pessoais, aos locais na internet que visitam, aos seus gostos e escolhas pessoais, ao seu registo de compras, de pesquisas, preferências de música, cinema, etc.

A IA deixara de ter acesso às bases de dados donde retirava as suas informações plagiadas para partilhar como se fossem muito inteligentes. Os algoritmos tinham sido proibidos em todas as áreas comerciais, na saúde, na justiça, na educação.

O dinheiro gasto em contratações milionárias para abrilhantar as festas da paróquia, da passagem de ano ou outra qualquer efeméride seria gasto em apoio a artistas locais e regionais, o fogo-de-artifício ruidoso (causador de tantos problemas em idosos, doentes e animais) fora substituído por fogo silencioso de belos efeitos luminosos.

As touradas finalmente abolidas tal como acontecera já às lutas de gladiadores que eram bem menos dolorosas e injustas.

Os processos judiciais passaram a ter um prazo limite de 12 meses para irem a julgamento e os culpados (em especial em casos de corrupção) nunca teriam penas suspensas. Deixou de haver prescrição de penas e foi abolida a limitação de 25 anos de pena máxima.

A SATA não foi privatizada e dá prejuízo como a Carris, a CP e similares mas servia o desígnio de unir as 9 ilhas e estas ao continente. A diáspora era servida pela TAP.

Trump pedira 5% do orçamento (PIB) da Europa dedicado à defesa mas nos Açores 5% do PIB eram alocados à cultura (nas suas vertentes popular, clássica, elitista em todos os ramos) a qual passou a ser um dos itens mais exportados e não só nos mercados da memória e da saudade..

Afinal os mundos perfeitos só existem em filmes e livros, de repente acordei e estava ainda em fevereiro 2025, nada mudara nem mudaria, mas foi bom enquanto durou.

apresentação do livro “Diário de um homem só”

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consegui montar uma reprodução da apresentação do livro “Diário de um homem só”

com os poemas iniciais, a música e os discursos de Diana Zimbro e Almeida Maia (em texto e em voz gerada por IA)

além das fotos que a livraria recolheu pela lente de Paulo R. Cabral.

ver e ouvir em

/coloquios.lusofonias.net/2025diario

 

/coloquios.lusofonias.net/2025diariohttps://blog.lusofonias.net/wp-content/uploads/2025/10/diarion-de-um-homem-so.pdf

PSP E GNR INOPERANTES

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610. PSP E GNR INOPERANTES 18.9.2025

 

Todos os dias em páginas do ciberespaço como #”Carros Abandonados/Roubados – Portugal#” surgem relatos de viaturas roubadas e ou abandonadas nos mais distintos pontos, desde campos ermos a parques de estacionamento de centros comerciais…

Primeiro este serviço que cidadãos prestam à comunidade devia ele mesmo pertencer às autoridades, afinal é a elas que nos dirigimos quando nos roubam as viaturas (se bem que ainda não seja um grave problema aqui nos Açores, os casos têm aumentado).

Segundo (apesar de sabermos da falta de pessoal na PSP e GNR) deveria naquelas forças haver uma secção dedicada a seguir estes exemplos e pela matrícula das viaturas expostas contactar os seus legítimos donos e retirarem estes monos das vias públicas ou não.

Dado o número de viaturas reportadas roubadas e as que são encontradas não seriam precisos muitos agentes a efetuar essa função e todos nos sentiríamos mais seguros.

Aliás nem entendo como as novas chefias daquelas forças policiais, agora todas licenciadas e doutoradas ainda se não lembraram de o fazer. Há muito que passou a era do estereotipo do agente bonacheirão e pançudo, os novos têm formação capaz para desempenharem esse novo papel.

Fico a aguardar a concretização desta sugestão.

Pedro Almeida Maia sobre Diário de um homem só, uma viagem interior in memoriam de Helena Chrystello

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a todos, aqui deixo o extraordinário texto do Pedro Almeida Maia na apresentação em s Miguel do meu último livro “Diário de um homem só, uma viagem interior in memoriam de Helena Chrystello”. Espero que gostem como os que lá estavam presentes na Letras Lavadas gostaram.

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Meu caro Chrys,

Espero que tenha apreciado a apresentação de ontem. Não me considero apresentador de livros, mil vezes prefiro escrevê-los a ter de falar deles. Tenho recusado imensos convites para apresentá-los: a agenda não permite e, caso contrário, não me restaria tempo nenhum para escrever.
De qualquer forma, segue em anexo o texto que li ontem. Acabou de seguir para o Norberto do jornal LusoPresse, que mo pediu logo após o evento.
Aquilo que digo no texto, repito-o: o Chrys fez uma excelente autoterapia com estas crónicas. Aconselho que continue a escrevê-las. Talvez fosse interessante ajustar o centro da temática para algum outro tema que também seja significativo para si, equivaleria a dar mais um pequeno passo em frente. Não se esqueça que a Helena não desapareceu: estará sempre a seu lado.

Um abraço forte,
Pedro Almeida Maia
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<VOL 8 2023-2024.pdf>

2025-10-04 Chrys Cro´nica 8