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Homenagem de Anabela Freitas a Helena Chrystello

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🤍Homenagem de Anabela Freitas a Helena Chrystello🤍
«Não, não venho falar de Helena (Nini) Chrystello, dessa que conheci há mais de vinte anos, porque essa vocês também conhecem. A mulher sensata, conciliadora, discreta e trabalhadora, humilde admiradora da obra dos outros que a levava a antologiar muitos autores.
Sim, há outra Helena ou Nini – é a Helena/Nini Simões e é dela que vos quero falar. Tive o privilégio de agora estar a descobri-la, por especial deferência do Chrys Chrystello, a quem estou muito grata por isso mesmo.
A Helena era tão modesta que se esqueceu da outra Helena. Acho que era por modéstia que ela se dizia compiladora, não escritora. Não era verdade. A Nini começou a escrever muito novinha e seguiu escrevendo na sua juventude. Escrevia poemas (em português e francês), escrevia ficção.
O primeiro escrito com que me deparei data de 1965! E é uma novela que ficou incompleta. Era uma aventura de crianças em férias. Um pequeno policial, cheio de ação e de crianças traquinas. Já aí revela um grande sentido de organização do discurso, capacidade para transmitir diálogos realistas, um certo sentido de humor.
Que não foi um mero acaso pueril, prova-o facto de mais tarde ter voltado a escrever uma novela. Esta entre 1975-1976. Um texto de maturidade, apesar da juventude, muito ao gosto do existencialismo, muito introspetivo. Nela, Clara Viel, a protagonista, viaja entre o sonho e a realidade, numa obsessão por um amor perdido. Como pano de fundo, a Europa de finais dos anos 60, a primavera de Praga, Berlim dividida pelo Muro, mas também outras cidades, outros países e a presença constante do mar. Encontra-se manuscrito numa sebenta e num caderno, ainda conheceu alguns ensaios num outro caderninho.
Quantos aos poemas, o mais antigo data de 1963. São poemas simples, como seria de esperar dada a idade tão precoce em que foram escritos. Falam de amores adolescentes, de bonecas e de cavalos. Estão escritos em português e em francês, e nestes pode-se atestar o domínio perfeito da língua francesa.
Mas sim, a Nini, já nesses recuados anos, tinha vocação de compiladora. Em cadernos e sebentas, compilava frases de grandes pensadores, excertos de pequenos livros da ITAU (anos 70, pós 25 Abril), poemas e excertos de obras, quase todos identificados. Com uma tenacidade admirável de colecionadora de pensamentos, de belos pedaços de prosa ou verso. Sempre a sua abnegação, a sua admiração pelos outros!
Mas, pela Helena, urge ouvir a sua voz, dar-lhe a ela o que ela se negou. Por isso, trabalhamos para dar a conhecer o seu escrito maior, a novela, de que conto dar notícias em breve. Esta é a minha forma de lhe dizer como gosto dela».
Anabela Freitas
*No dia Mundial da Poesia, a Escola Básica e Integrada da Maia foi palco da cerimónia de homenagem póstuma à professora e escritora Helena Chrystello, falecida a 26 de Janeiro deste ano.
A cerimónia contou com um painel de escritores e amigos da homenageada, na qual foi apresentada a sua mais recente obra “9 Poetas 9 Línguas”. Entre os presentes estavam também antigos alunos que partilharam com saudade alguns dos momentos que passaram com a professora.
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