Arquivo da Categoria: AICL Lusofonia Chrys Nini diversos

A REVOLUÇÃO E O ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

Views: 4

574. A REVOLUÇÃO E O ADMIRÁVEL MUNDO NOVO 21.02.2025

 

Ano de eleições autárquicas que prometem virar o país de alto a baixo como nunca se viu. Parece ser verdade, os nossos políticos vão fazer o que prometeram durante a campanha eleitoral.

Agora, todos os funcionários dos departamentos governamentais vão ser prestáveis e até vão preencher os próprios formulários que estão sempre a fazer perguntas para as quais eles já sabem as respostas.

As Finanças deixam de atender por marcação prévia.

Os Hospitais deixam de ter esperas de 6, 10 ou 15 horas e terão médicos e enfermeiros suficientes para todos serem atendidos em menos de 15 minutos.

Nenhum médico privado ou público atenderá os pacientes com mais de 10 minutos de atraso em relação á hora marcada e terá de pedir desculpas e garantir que isso não se repete sob pena de pesadas coimas.

As reuniões escolares nunca durarão mais de 2 horas, os envolvidos estarão familiarizados com a agenda e terão fins e objetivos facilmente comprováveis.

Quando telefonamos a uma empresa, vão mesmo atender a chamada.

Nos cafés e restaurantes açorianos quando pedirmos uma garrafa de água ela virá acompanhada de um copo.

Nos restaurantes, o “couvert” será gratuito e fará parte do cartão-de-visita de Relações Públicas local.

O “Em espera” está a ser banido de todos os telefones.

As pessoas vão “falar” em vez de enviar mensagens de texto.

Os adolescentes vão ser prestáveis em vez de se queixarem.

O Governo está a eliminar os impostos sobre o vinho, gás , gasolina, cerveja.

A publicidade está a ser banida da televisão.

A fidelização de telecomunicações nunca será superior a 30 dias, podendo ser cancelada a qualquer momento sem aviso prévio.

Vamos ser servidos em grandes armazéns em vez de sermos ignorados e, sim, Pingo Doce, Continente, etc. estou a olhar para ti. Deve ser divertido no nosso admirável mundo novo.

Admirável era constatar que a lei de Português Simples tinha sido posta em prática e que os contratos da NOS; MEO etc. em vez de 27 páginas tinham apenas 12 linhas que toda a gente entendia e podiam ser lidos sem lentes de aumento. Outra novidade que pensei: qualquer documento de seguro passara a conter 3 páginas incluindo a descrição completa e detalhada do bem seguro.

As rotundas passaram a ter obstáculos que obrigavam os que circulavam mais à direita a virar tal como a lei propugna.

As trotinetas e bicicletas de aluguer deixaram de ser abandonadas em qualquer ponto onde acabava o aluguer ou a falta de civismo impelia.

A Meta, X, Microsoft e outras deixam de ter acesso aos seus dados pessoais, aos locais na internet que visitam, aos seus gostos e escolhas pessoais, ao seu registo de compras, de pesquisas, preferências de música, cinema, etc.

A IA deixara de ter acesso às bases de dados donde retirava as suas informações plagiadas para partilhar como se fossem muito inteligentes. Os algoritmos tinham sido proibidos em todas as áreas comerciais, na saúde, na justiça, na educação.

O dinheiro gasto em contratações milionárias para abrilhantar as festas da paróquia, da passagem de ano ou outra qualquer efeméride seria gasto em apoio a artistas locais e regionais, o fogo-de-artifício ruidoso (causador de tantos problemas em idosos, doentes e animais) fora substituído por fogo silencioso de belos efeitos luminosos.

As touradas finalmente abolidas tal como acontecera já às lutas de gladiadores que eram bem menos dolorosas e injustas.

Os processos judiciais passaram a ter um prazo limite de 12 meses para irem a julgamento e os culpados (em especial em casos de corrupção) nunca teriam penas suspensas. Deixou de haver prescrição de penas e foi abolida a limitação de 25 anos de pena máxima.

A SATA não foi privatizada e dá prejuízo como a Carris, a CP e similares mas servia o desígnio de unir as 9 ilhas e estas ao continente. A diáspora era servida pela TAP.

Trump pedira 5% do orçamento (PIB) da Europa dedicado à defesa mas nos Açores 5% do PIB eram alocados à cultura (nas suas vertentes popular, clássica, elitista em todos os ramos) a qual passou a ser um dos itens mais exportados e não só nos mercados da memória e da saudade..

Afinal os mundos perfeitos só existem em filmes e livros, de repente acordei e estava ainda em fevereiro 2025, nada mudara nem mudaria, mas foi bom enquanto durou.

Catarina Valadão Desconexão gourmet

Views: 4

Desconexão gourmet
Lembram-se de quando o telemóvel servia para pouco mais do que telefonar? Era uma coisa prática: ligar à mãe, marcar um jantar, chamar um táxi e jogar Snake. Agora é um pequeno ditador de bolso, sempre a vibrar e a pedir atenção. Nós, obedientes, largamos a conversa, o garfo, a vida, só para ver se alguém no planeta se lembrou de nós. E quando não vibra? Crash! “Será que o mundo acabou e ninguém fez update?” Calma: o bug não é do planeta, é teu.
Entrar hoje num restaurante é como assistir a uma convenção de zombies tecnológicos. As cabeças mergulham nos ecrãs com tanta devoção que só falta o cântico gregoriano como beat de fundo. O prato chega, tira-se a fotografia, põe-se o filtro “vida perfeita” e deixa-se a comida arrefecer – a comida arrefece, mas pelo menos a selfie sai em 4k. Entretanto, o diálogo é reduzido a “Passa-me o sal” escrito no WhatsApp, porque falar em voz alta parece intrusão. E quando finalmente se mastiga, a refeição já é um ficheiro saído de uma disquete.
As redes sociais são o all-you-can-eat da bisbilhotice. Fazemos scroll como quem folheia um menu de humanos. “A prima fica top de bikini” ou “O vizinho do terceiro partilhou um reel do cachorro”. Lá vamos nós, curiosos, a dar like, quando na verdade nem falamos pessoalmente com a prima ou com o vizinho.
É uma tragédia cómica: conhecemos a dieta do influencer de Silicon Valley, mas ignoramos se o nosso melhor amigo jantou ontem. É mais fácil emocionar-nos com o TikTok de um cão vestido de unicórnio do que com a avó ao nosso lado a contar histórias de quando as pessoas falavam cara-a-cara. O afeto, esse coitado, anda a viver de restos. Abraço? Só com marcação. Beijo? Só com filtro vintage e # kiss. É como se estivéssemos mais próximos de quem está a dez mil quilómetros do que do amigo sentado a meio metro.
Os jantares são hoje encontros de estranhos unidos pelo carregador múltiplo. O ambiente é tão íntimo como a fila das finanças. Cada um trata do seu feed com o ar compenetrado de quem está a encriptar segredos de Estado, quando na verdade só está a ver memes de preguiças em loop. E quando alguém se lembra de iniciar conversa, aparece o ecrã azul: “Mas… porquê?”
A vida real, aquela com cheiro, vento e gente, anda em stand-by e parece menos interessante porque não tem botão de like. O céu muda de cor, o mar faz surround, os pássaros cantam sem login e nós nem reparamos, porque estamos ocupados a ver se alguém reagiu ao nosso “bom dia” de ontem – aquele que nunca vivemos offline.
E não é culpa do telemóvel, coitado – hardware inofensivo. O bug somos nós. Seres humanos que preferem olhar para um ecrã retina do que para a cara, às vezes igualmente luminosa, de quem está mesmo à nossa frente.
A solução? Simples e barata: fazer logout. Sem drama. Ninguém vai morrer se não mexericarmos o Instagram por uma hora. Pelo contrário, talvez ganhemos vida. Pousar o telemóvel, erguer a cabeça, melhorar a postura e descobrir que as pessoas têm olhos, expressões e piadas medonhas. Que o jantar sabe melhor quando não está frio e pixelizado.
Arrisco-me a chamar esta mania de “desconexão gourmet”: a arte de ignorar a realidade com (uma tentativa de) requinte. Mas nada é mais chique do que estar (e ser) presente, sem lag.
Hoje, o premium é retro: conversar ao vivo, rir sem emoji, ouvir sem fones, abraçar sem hashtag.
Desconetar é o verdadeiro refresh: reaver o presente, a vida e a humanidade. E, convenhamos, é um espetáculo muito mais divertido do que qualquer vídeo viral de gatos – e eu adoro gatos!
A vida, a verdadeira, não acontece através de um ecrã.
Catarina Valadão
Publicado no jornal Açoriano Oriental a 11.10.2025

May be an image of newsagent and text
João Mendes Coelho

Maravilhoso texto!

os nossos livros mais recentes 2022-2025 (AICL Colóquios da lusofonia)

Views: 4

CHRÓNICAÇORES

(Volume 7 – 2021-2023)
todos estes livros (menos o ChronicAçores vol 7 em pdf /flipbook) estão disponíveis na livraria Letras Lavadas,
https://www.letraslavadas.pt/contacto/

Grupo Nova Gráfica, Lda.
Largo da Matriz, 69 R/C – 9500-094 Ponta Delgada – São Miguel – Açores
Tef +351 296 283 113 (Chamada para a rede fixa nacional) | livraria@letraslavadas.pt
publicor@publicor.pt ​ | www.letraslavadas.pt

Wook, Fnac, Bertrand, worten, etc…

imigrantes indesejados, anos 60

Views: 11

O que era dito na França a propósito dos emigrantes portugueses:
“São esquisitos, baixos e com bigodes e barbas. Chegam, na esmagadora maioria, homens. Elas, quando vêm, cobrem os cabelos com panos e não usam saia acima do joelho. Muitas são proibidas pelos maridos de cortarem o cabelo. Por vezes, eles ameaçam-nas com uma chapada ou um murro; elas, subservientes, baixam a cabeça e colam as mãos ao ventre. Trazem com eles uma paixão fervorosa pela religião. Usam colares com o símbolo das suas crenças e são capazes de dar mais do que têm para que o seu local de culto, na sua terra natal, tenha um relógio ou um telhado novo. Rezam, pelo menos, de manhã e à noite. Se puder ser, ao final da tarde, cumprem mais um ritual.
Chegam sem falar uma palavra da nossa língua. Parece que fogem de uma guerra qualquer lá no país deles, da fome e da miséria. (…) Atravessam países inteiros a pé ou à boleia para chegarem aqui. Pagam milhares para saírem do seu país e vêm ficar na miséria. Alguns têm muitos filhos, muito mais do que aquilo a que estamos habituados. Deixam-nos sozinhos ou com os irmãos mais velhos, que não vão à escola. Mas são muito trabalhadores.
(…)
São diferentes de nós e isso causa-nos má impressão. Não são muito limpos, cospem para o chão e as suas maneiras em público deixam muito a desejar. Vivem em bairros de lata que mais parecem campos de refugiados. Não sei como conseguem.”
___
“́ “. Ricardo M. Santos.2015
Foto de Immigrées portugaises dans un bidonville. Saint-Denis (Seine-Saint-Denis), 1966-1967.
Do mural de Paulo Maia Fernandes.May be a black-and-white image of 3 people and crowd

Prémio Nobel da Paz atribuído à opositora venezuelana Corina Machado

Views: 2

O Comité Norueguês anunciou esta sexta-feira a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Corina Machado, rosto da oposição venezuelana a Nicolás Maduro. Corina Machado foi laureada “pelo seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos para o povo da Venezuela”.

Source: Prémio Nobel da Paz atribuído à opositora venezuelana Corina Machado

Trabalhadores portugueses ao serviço dos EUA nas Lajes sem salário atualizado – jornalacores9.pt

Views: 5

Os trabalhadores portugueses ao serviço do contingente militar norte-americano na Base das Lajes, nos Açores, estão sem o aumento salarial anual e desconhecem o futuro dos colegas temporários, revelou hoje a Comissão Representativa. A Comissão Representativa Trabalhadores das Forças dos Estados Unidos Estacionadas nos Açores, liderada por Paula Terra, denuncia a “grave situação laboral, marcada […]

Source: Trabalhadores portugueses ao serviço dos EUA nas Lajes sem salário atualizado – jornalacores9.pt

apresentação do livro “Diário de um homem só”

Views: 3

consegui montar uma reprodução da apresentação do livro “Diário de um homem só”

com os poemas iniciais, a música e os discursos de Diana Zimbro e Almeida Maia (em texto e em voz gerada por IA)

além das fotos que a livraria recolheu pela lente de Paulo R. Cabral.

ver e ouvir em

/coloquios.lusofonias.net/2025diario

 

/coloquios.lusofonias.net/2025diariohttps://blog.lusofonias.net/wp-content/uploads/2025/10/diarion-de-um-homem-so.pdf

Poeta e historiadora angolana Ana Paula Tavares vence Prémio Camões 2025

Views: 11

A poeta e historiadora angolana Ana Paula Tavares, autora de uma vasta obra literária em prosa e poesia e de textos científicos, venceu o Prémio Camões 2025, anunciou a Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB).

Source: Poeta e historiadora angolana Ana Paula Tavares vence Prémio Camões 2025