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Categoria: AICL Lusofonia Chrys Nini diversos
o crime do vale do Tua
Um artigo de Daniel Deusado, jornalista (JN – 08SET2011).Atentamente,Célia Quintas.NOVAS BARRAGENS = CRIMESO JN trazia esta semana dois artigos que se interligam profundamente. Num, o Norte como região turística preferida dos portugueses, sobretudo pela natureza e paisagem. No outro, o retrato da futura barragem do Tua. Questão: é possível destruir um rio como o Tua e manter-se a ficção de que o turismo é o maior activo do país?As barragens foram propagandeadas por Salazar como o milagre da energia barata e são hoje responsáveis por uma parte da produção de electricidade nacional, além de terem melhorado o controlo do caudal dos rios. Foi assim por todo o Mundo. Mas já se evoluiu muito desde então e hoje percebe-se melhor que elas têm um custo implícito, porque os ecossistemas vão sendo profundamente alterados e a nossa saúde paga todos os dias a factura…Infelizmente, para a maioria das pessoas, isto é conversa. O que importa é se a conta da luz é mais barata. Começo então por aqui: o plano de barragens posto em marcha pelo Governo Sócrates inclui uma engenharia financeira tipo “scut” cujo custo só vamos sentir daqui a uns anos de forma brutal – e aí já será tarde. Uma plataforma de organizações ambientais entregou esta semana à troika um documento que explica onde nos leva o plano da outra “troika” (Sócrates-Manuel Pinho-António Mexia). As 12 obras previstas que incluem novas barragens e reforço de outras já existentes produzem apenas o equivalente a três por cento de energia eléctrica do país, mas vão custar ao Orçamento do Estado e aos consumidores 16 mil milhões de euros… O documento avisa que a conta da electricidade vai, a prazo, incluir um agravamento de 10% para suportar mais este negócio falsamente “verde”. A EDP, a Iberdrola, etc., receberão um subsídio equivalente a 30% da capacidade de produção, haja ou não água para produzir. Mesmo paradas, recebem. A troika importa-se com isto?Os especialistas das organizações ambientais dizem, desde o princípio, que as novas barragens poderiam ser evitadas se houvesse aumento de capacidade das barragens existentes. Era mais barato e a natureza agradecia. Infelizmente a EDP apostou milhões para conseguir novas barragens, e isso incluiu antecipação de pagamentos de licenças que ajudaram o ex-ministro das Finanças Teixeira dos Santos a cobrir uma parte do défice de 2009, além da mais demagógica e milionária campanha publicitária da década, em que se fazia sonhar com barragens como se fossem os melhores locais do Mundo para celebrar a natureza…Estes monstros de betão vão agora destruir dois rios da região do Douro, desnecessariamente. O Sabor, por exemplo, é uma jóia de natureza ainda selvagem. À medida que o turismo ambiental cresce globalmente, mais Portugal teria a ganhar com um Parque Natural do Douro Internacional ainda inóspito, genuíno. Já não será assim. A barragem em construção inclui uma albufeira de 40 quilómetros onde se manipula o rio de trás para a frente, com desníveis súbitos, acabando com a vida fluvial endógena e o habitat das espécies em redor.Não menos grave é a destruição do rio Tua e da centenária linha do comboio. Uma vez mais o argumento é “progresso” – os autarcas e as populações acreditam que os trabalhadores da construção civil, que por ali vão andar por uns anos a comer e a dormir nas pensões locais, garantem a reanimação da economia… Infelizmente, não vêem o fim definitivo daquela paisagem e da mais bela história ferroviária de Portugal. Uma linha erigida a sangue, suor e lágrimas. Única. E que deveria ali ficar, mesmo que não fosse usada ou rentável, até ao dia em fosse entendida como um extraordinário monumento da engenharia humana e massivamente visitada enquanto tal.Ao deixarmos cometer mais estes crimes, em troca de um mau negócio energético, não percebemos mesmo qual o nosso papel no Mundo. Esquecemos que a Natureza nos cobra uma factura muito pesada quando destruímos a fauna e a flora. Estamos a comprometer a qualidade da água e das colheitas de que precisamos para viver, com consequências para a nossa saúde e a das gerações vindouras. Se ainda não sabemos isto, sabemos zero. E ainda por cima vamos pagar milhões. É triste.autobiografia Saramago
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AutobiografiaNasci
numa família de camponeses sem terra, em Azinhaga, uma pequena povoação
situada na província do Ribatejo, na margem direita do rio Almonda, a
uns cem quilómetros a nordeste de Lisboa. Meus pais chamavam-se José de
Sousa e Maria da Piedade. José de Sousa teria sido também o meu nome se o
funcionário do Registo Civil, por sua própria iniciativa, não lhe
tivesse acrescentado a alcunha por que a família de meu pai era
conhecida na aldeia: Saramago. (Cabe esclarecer que saramago é
uma planta herbácea espontânea, cujas folhas, naqueles tempos, em épocas
de carência, serviam como alimento na cozinha dos pobres). Só aos sete
anos, quando tive de apresentar na escola primária um documento de
identificação, é que se veio a saber que o meu nome completo era José de
Sousa Saramago… Não foi este, porém, o único problema de identidade
com que fui fadado no berço. Embora tivesse vindo ao mundo no dia 16 de
Novembro de 1922, os meus documentos oficiais referem que nasci dois
dias depois, a 18: foi graças a esta pequena fraude que a família
escapou ao pagamento da multa por falta de declaração do nascimento no
prazo legal.Talvez
por ter participado na Grande Guerra, em França, como soldado de
artilharia, e conhecido outros ambientes, diferentes do viver da aldeia,
meu pai decidiu, em 1924, deixar o trabalho do campo e trasladar-se com
a família para Lisboa, onde começou a exercer a profissão de polícia de
segurança pública, para a qual não se exigiam mais “habilitações
literárias” (expressão comum então…) que ler, escrever e contar.
Poucos meses depois de nos termos instalado na capital, morreria meu
irmão Francisco, que era dois anos mais velho do que eu. Embora as
condições em que vivíamos tivessem melhorado um pouco com a mudança,
nunca viríamos a conhecer verdadeiro desafogo económico. Já eu tinha 13
ou 14 anos quando passámos, enfim, a viver numa casa (pequeníssima) só
para nós: até aí sempre tínhamos habitado em partes de casa, com outras
famílias. Durante todo este tempo, e até à maioridade, foram muitos, e
frequentemente prolongados, os períodos em que vivi na aldeia com os
meus avós maternos, Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha.Fui
bom aluno na escola primária: na segunda classe já escrevia sem erros
de ortografia, e a terceira e quarta classes foram feitas em um só ano.
Transitei depois para o liceu, onde permaneci dois anos, com notas
excelentes no primeiro, bastante menos boas no segundo, mas estimado por
colegas e professores, ao ponto de ser eleito (tinha então 12 anos…)
tesoureiro da associação académica… Entretanto, meus pais haviam
chegado à conclusão de que, por falta de meios, não poderiam continuar a
manter-me no liceu. A única alternativa que se apresentava seria entrar
para uma escola de ensino profissional, e assim se fez: durante cinco
anos aprendi o ofício de serralheiro mecânico. O mais surpreendente era
que o plano de estudos da escola, naquele tempo, embora obviamente
orientado para formações profissionais técnicas, incluía, além do
Francês, uma disciplina de Literatura. Como não tinha livros em casa
(livros meus, comprados por mim, ainda que com dinheiro emprestado por
um amigo, só os pude ter aos 19 anos), foram os livros escolares de
Português, pelo seu carácter “antológico”, que me abriram as portas para
a fruição literária: ainda hoje posso recitar poesias aprendidas
naquela época distante. Terminado o curso, trabalhei durante cerca de
dois anos como serralheiro mecânico numa oficina de reparação de
automóveis. Também por essas alturas tinha começado a frequentar, nos
períodos nocturnos de funcionamento, uma biblioteca pública de Lisboa. E
foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas guiado pela curiosidade e pela
vontade de aprender, que o meu gosto pela leitura se desenvolveu e
apurou.Quando
casei, em 1944, já tinha mudado de actividade, passara a trabalhar num
organismo de Segurança Social como empregado administrativo. Minha
mulher, Ilda Reis, então dactilógrafa nos Caminhos de Ferro, viria a
ser, muitos anos mais tarde, um dos mais importantes gravadores
portugueses. Faleceria em 1998. Em 1947, ano do nascimento da minha
única filha, Violante, publiquei o primeiro livro, um romance que
intitulei A Viúva, mas que por conveniências editoriais viria a sair com o nome de Terra do Pecado. Escrevi ainda outro romance, Clarabóia, que permanece inédito até hoje, e principiei um outro, que não passou das primeiras páginas: chamar-se-ia O Mel e o Fel ou talvez Luís, filho de Tadeu…
A questão ficou resolvida quando abandonei o projecto: começava a
tornar-se claro para mim que não tinha para dizer algo que valesse a
pena. Durante 19 anos, até 1966, quando publicaria Os Poemas Possíveis , estive ausente do mundo literário português, onde devem ter sido pouquíssimas as pessoas que deram pela minha falta.Por
motivos políticos fiquei desempregado em 1949, mas, graças à boa
vontade de um meu antigo professor do tempo da escola técnica, pude
encontrar ocupação na empresa metalúrgia de que ele era administrador.
No final dos anos 50 passei a trabalhar numa editora, Estúdios Cor, como
responsável pela produção, regressando assim, mas não como autor, ao
mundo das letras que tinha deixado anos antes. Essa nova actividadepermitiu-me
conhecer e criar relações de amizade com alguns dos mais importantes
escritores portugueses de então. Para melhorar o orçamento familiar, mas
também por gosto, comecei, a partir de 1955, a dedicar uma parte do
tempo livre a trabalhos de tradução, actividade que se prolongaria até
1981: Colette, Pär Lagerkvist, Jean Cassou, Maupassant, André Bonnard,
Tolstoi, Baudelaire, Étienne Balibar, Nikos Poulantzas, Henri Focillon,
Jacques Roumain, Hegel, Raymond Bayer foram alguns dos autores que
traduzi. Outra ocupação paralela, entre Maio de 1967 e Novembro de 1968,
foi a de crítico literário. Entretanto, em 1966, publicara Os Poemas Possíveis, uma colectânea poética que marcou o meu regresso à literatura. A esse livro seguiu-se, em 1970, outra colectânea de poemas, Provavelmente Alegria, e logo, em 1971 e 1973 respectivamente, sob os títulos Deste Mundo e do Outro e A Bagagem do Viajante
, duas recolhas de crónicas publicadas na imprensa, que a crítica tem
considerado essenciais à completa compreensão do meu trabalho posterior.
Tendo-me divorciado em 1970, iniciei uma relação de convivência, que
duraria até 1986, com a escritora portuguesa Isabel da Nóbrega.Deixei a editora no final de 1971, trabalhei durante os dois anos seguintes no vespertino Diário de Lisboa como coordenador de um suplemento cultural e como editorialista. Publicados em 1974 sob o título As Opiniões que o DL teve,
esses textos representam uma “leitura” bastante precisa dos últimos
tempos da ditadura que viria a ser derrubada em Abril daquele ano. Em
Abril de 1975 passei a exercer as funções de director-adjunto do
matutino Diário de Notícias, cargo que desempenhei até Novembro
desse ano e de que fui demitido na sequência das mudanças ocasionadas
pelo golpe político-militar de 25 de daquele mês, que travou o processo
revolucionário. Dois livros assinalam esta época: O Ano de 1993,
um poema longo publicado em 1975, que alguns críticos consideram já
anunciador das obras de ficção que dois anos depois se iniciariam com o
romance Manual de Pintura e Caligrafia, e, sob o título Os Apontamentos , os artigos de teor político que publiquei no jornal de que havia sido director.Sem
emprego uma vez mais e, ponderadas as circunstâncias da situação
política que então se vivia, sem a menor possibilidade de o encontrar,
tomei a decisão de me dedicar inteiramente à literatura: já era hora de
saber o que poderia realmente valer como escritor. No princípio de 1976
instalei-me por algumas semanas em Lavre, uma povoação rural da
província do Alentejo. Foi esse período de estudo, observação e registo
de informações que veio a dar origem, em 1980, ao romance Levantado do Chão,
em que nasce o modo de narrar que caracteriza a minha ficção novelesca.
Entretanto, em 1978, havia publicado uma colectânea de contos, Objecto Quase, em 1979 a peça de teatro A Noite, a que se seguiu, poucos meses antes da publicação de Levantado do Chão, nova obra teatral, Que Farei com este Livro?. Com excepção de uma outra peça de teatro, intitulada A Segunda Vida de Francisco de Assis e publicada em 1987, a década de 80 foi inteiramente dedicada ao romance: Memorial do Convento, 1982, O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984, A Jangada de Pedra, 1986, História do Cerco de Lisboa , 1989. Em 1986 conheci a jornalista espanhola Pilar del Río. Casámo-nos em 1988.Em consequência da censura exercida pelo Governo português sobre o romance O Evangelho segundo Jesus Cristo
(1991), vetando a sua apresentação ao Prémio Literário Europeu sob
pretexto de que o livro era ofensivo para os católicos, transferimos,
minha mulher e eu, em Fevereiro de 1993, a nossa residência para a ilha
de Lanzarote, no arquipélago de Canárias. No princípio desse ano
publiquei a peça In Nomine Dei, ainda escrita em Lisboa, de que seria extraído o libreto da ópera Divara,
com música do compositor italiano Azio Corghi, estreada em Münster
(Alemanha), em 1993. Não foi esta a minha primeira colaboração com
Corghi: também é dele a música da ópera Blimunda, sobre o romance Memorial do Convento, estreada em Milão (Itália), em 1990. Em 1993 iniciei a escrita de um diário, Cadernos de Lanzarote, de que estão publicados cinco volumes. Em 1995 publiquei o romance Ensaio sobre a Cegueira e em 1997 Todos os Nomes e O Conto da Ilha Desconhecida . Em 1995 foi-me atribuído o Prémio Camões, e em 1998 o Prémio Nobel de Literatura.Em
consequência da atribuição do Prémio Nobel a minha actividade pública
viu-se incrementada. Viajei pelos cinco continentes, oferecendo
conferências, recebendo graus académicos, participando em reuniões e
congressos, tanto de carácter literário como social e político, mas,
sobretudo, participei em acções reivindicativas da dignificação dos
seres humanos e do cumprimento da Declaração dos Direitos Humanos pela
consecução de uma sociedade mais justa, onde a pessoa seja prioridade
absoluta, e não o comércio ou as lutas por um poder hegemónico, sempre
destrutivas.Creio ter trabalhado bastante durante estes últimos anos. Desde 1998, publiquei Folhas Políticas (1976-1998) (1999), A Caverna (2000), A Maior Flor do Mundo (2001), O Homem Duplicado (2002), Ensaio sobre a Lucidez (2004), Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido (2005), As Intermitências da Morte (2005) e As Pequenas Memórias (2006). Agora, neste Outono de 2008, aparecerá um novo livro: A Viagem do Elefante, um conto, uma narrativa, uma fábula.No
ano de 2007 decidiu criar-se em Lisboa uma Fundação com o meu nome, a
qual assume, entre os seus objectivos principais, a defesa e a
divulgação da literatura contemporânea, a defesa e a exigência de
cumprimento da Carta dos Direitos Humanos, além da atenção que devemos,
como cidadãos responsáveis, ao cuidado do meio ambiente. Em Julho de
2008 foi assinado um protocolo de cedência da Casa dos Bicos, em Lisboa,
para sede da Fundação José Saramago, onde esta continuará a
intensificar e consolidar os objectivos a que se propôs na sua
Declaração de Princípios, abrindo portas a projectos vivos de agitação
cultural e propostas transformadoras da sociedade.Nota – Depois de A Viagem do Elefante, José Saramago escreveu Caim e O Caderno I e O Caderno II, livros que não chegou a acrescentar à sua Autobiografia.© José Saramago 2010Como o falante galego é visto em Portugal?
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Como o falante galego é visto em Portugal? A esta pergunta de um leitor , Carlos Rocha, responde no Ciberdúvidas da língua portuguesa assim: Há realmente um grande desconhecimento em Portugal acerca das afinidades linguísticas com a Galiza. Perante um falante de galego, é típico um português tentar falar castelhano, muitas vezes porque não reconhece o que ouve como língua ainda muito próxima da que fala a sul do rio Minho. Lembro-me, por exemplo, de que, durante a crise do Prestige no final de 2002, os noticiários portugueses normalmente legendavam as respostas das entrevistas feitas aos habitantes do litoral galego; muitos deles falavam um galego que, apesar da “geada” (troca do "g" por um som parecido com o "jota" castelhano), tinha uma entoação familiar para ouvidos portugueses. Este comportamento dos canais de televisão em Portugal parecia obedecer ao atavismo de considerar castelhano tudo o que se fala para lá da fronteira. Penso ainda que a identidade galega nem sempre é clara para o português médio ou popular. Assim, é curioso que, dialetalmente, nem sempre um galego é apenas um habitante da Galiza. Por exemplo, no Alentejo um galego pode ser um natural das Beiras (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa). E suspeito que no Norte e no Centro de Portugal, em algumas regiões que não fazem fronteira com a Galiza, um zamorano, um salmantino ou até um estremenho de Cáceres – não sei se de Badajoz – sejam todos galegos (o que pode ter alguma verdade histórica em casos como os de San Martín de Trevejo, Valverde del Fresno e Eljas). É claro que também acontece que alguns (ou muitos?) portugueses ficam baralhados quando começam a ler o que se escreve a norte do Minho. É como se dissessem: «o que se passa, que os espanhóis andam a escrever num português estranho?» Recordo que há cerca de dez anos se dedicou um excelente número da revista Colóquio Letras (Fundação Calouste Gulbenkian) à cultura galega. Nele, a prof.ª Pilar Vázquez Cuesta abordava justamente o desconhecimento com que os portugueses (quase sempre não acadêmicos, mas também há acadêmicos) costumam “brindar” os galegos, quando se trata de falar dos laços comuns. Para esta situação contribui certamente o fato de a História ter dificultado desde muito cedo a descoberta ou o reforço desse elo: quando, com D. Dinis, os documentos notariais portugueses passaram a ser escritos na língua que se desenvolvera no Noroeste da Península e a que historicamente poderíamos chamar galego, o reino de Portugal já existia há mais de um século. Assim, ao querer dar nome ao “galego” que se falava do Minho ao Algarve, esse nome foi muito logicamente português, visto que se estava a designar o idioma do Reino de Portugal e do Algarve. Explica-se, deste modo, que se fale em português antigo, não porque se negue a relação ou mesmo a identificação com o galego, mas talvez porque se pensa que o Condado e, depois, Reino de Portugal é que deu consciência idiomática coletiva a uma parte dos dialetos galegos – os que eram falados pelos portugueses. Sobre este assunto, recomendaria uma obra que dedica alguns capítulos ao problema da designação da língua na faixa ocidental da Península: Ramón Mariño Paz, Historia da Lingua Galega, Santiago de Compostela, Sotelo Blanco, 1998. Carlos Rocha :: 30/06/2006 http://ciberduvidas.pt/pergunta.php?id=18099
Casamansa-o crioulo
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Casamansa-o crioulo, uma lingua que sintetiza o português e as culturas locais
Do contato com os portugueses do sec XV aos finais do XIX em Casamansa surgiu o crioulo, uma lingua que sintetiza o português e as culturas locais. O crioulo falado em Zinguincho,uma cidade do Senegal localiza-se no sul do país na região de Casamança, é do mesmo tipo que o de Cacheu (Guiné-Bissau, país que fica apenas a poucos km desta cidade), com alguns termos acreolizados do francês, sendo contudo intelegivel mutuamente com os crioulos guinienses e mesmo caboverdianos.
O crioulo da Casamansa provém da língua de Camões e de línguas africanas
A seguir passo o “Pai-Nosso” no crioulo de CasamansaNo Pape ki stana seu
Pa bu nomi santificadu
Pa bu renu thiga
Pa bu bontadi fasidu riba di tera suma na seu
Partinu aos pom di kada dia
Purdanu no pekadus, suma no ta purda kilas ki iara nu
ka bu disanu no kai na tentasom
Ma libranu di mal
AmenFonte: Dicionário temático da lusofonia, Fernando Cristóvão,Maria Helena Amorim,Maria Lucia Garcia Marques, Susana Brites Moita
coisa e coisar: PARA APRECIADORES DE QUESTÕES LINGUÍSTICAS
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Demasiado importante, para ficar na gaveta!!!!
(PARA APRECIADORES DE QUESTÕES LINGUÍSTICAS)
Achei muito bom, procurei autoria, mas…
permanece desconhecido! Vale a pena ler !!!!!!!!Coisa
A palavra “coisa” é um bombril do idioma. Tem mil e uma utilidades. É aquele tipo de termo-muleta ao qual a gente recorre sempre que nos faltam palavras para exprimir uma idéia. Coisas do português.
A natureza das coisas: gramaticalmente, “coisa” pode ser substantivo, adjetivo, advérbio. Também pode ser verbo: o Houaiss registra a forma “coisificar”. E no Nordeste há “coisar”: “Ô, seu coisinha, você já coisou aquela coisa que eu mandei você coisar?”.
Coisar, em Portugal, equivale ao ato sexual, lembra Josué Machado. Já as “coisas” nordestinas são sinônimas dos órgãos genitais, registra o Aurélio. “E deixava-se possuir pelo amante, que lhe beijava os pés, as coisas, os seios” (Riacho Doce, José Lins do Rego). Na Paraíba e em Pernambuco, “coisa” também é cigarro de maconha.
Em Olinda, o bloco carnavalesco Segura a Coisa tem um baseado como símbolo em seu estandarte. Alceu Valença canta: “Segura a coisa com muito cuidado / Que eu chego já.” E, como em Olinda sempre há bloco mirim equivalente ao de gente grande, há também o Segura a Coisinha.
Na literatura, a “coisa” é coisa antiga. Antiga, mas modernista: Oswald de Andrade escreveu a crônica O Coisa em 1943. A Coisa é título de romance de Stephen King. Simone de Beauvoir escreveu A Força das Coisas, e Michel Foucault, As Palavras e as Coisas.
Em Minas Gerais, todas as coisas são chamadas de trem. Menos o trem, que lá é chamado de “a coisa”. A mãe está com a filha na estação, o trem se aproxima e ela diz: “Minha filha, pega os trem que lá vem a coisa!”.
Devido lugar: “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça (…)”. A garota de Ipanema era coisa de fechar o Rio de Janeiro.“Mas se ela voltar, se ela voltar / Que coisa linda / Que coisa louca.” Coisas de Jobim e de Vinicius, que sabiam das coisas.
Sampa também tem dessas coisas (coisa de louco!), seja quando canta “Alguma coisa acontece no meu coração”, de Caetano Veloso, ou quando vê o Show de Calouros, do Silvio Santos (que é coisa nossa).
Coisa não tem sexo: pode ser masculino ou feminino. Coisa-ruim é o capeta. Coisa boa é a Juliana Paes. Nunca vi coisa assim!
Coisa de cinema! A Coisa virou nome de filme de Hollywood, que tinha o seu Coisa no recente Quarteto Fantástico. Extraído dos quadrinhos, na TV o personagem ganhou também desenho animado, nos anos 70. E no programa Casseta e Planeta, Urgente!, Marcelo Madureira faz o personagem “Coisinha de Jesus”.
Coisa também não tem tamanho. Na boca dos exagerados, “coisa nenhuma” vira “coisíssima”. Mas a “coisa” tem história na MPB. No II Festival da Música Popular Brasileira, em 1966, estava na letra das duas vencedoras: Disparada, de Geraldo Vandré (“Prepare seu coração / Pras coisas que eu vou contar”), e A Banda, de Chico Buarque (“Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor”), que acabou de ser relançada num dos CDs triplos do compositor, que a Som Livre remasterizou. Naquele ano do festival, no entanto, a coisa tava preta (ou melhor, verde-oliva). E a turma da Jovem Guarda não tava nem aí com as coisas: “Coisa linda / Coisa que eu adoro”.
Cheio das coisas. As mesmas coisas, Coisa bonita, Coisas do coração, Coisas que não se esquece, Diga-me coisas bonitas, Tem coisas que a gente não tira do coração. Todas essas coisas são títulos de canções interpretadas por Roberto Carlos, o “rei” das coisas. Como ele, uma geração da MPB era preocupada com as coisas.
Para Maria Bethânia, o diminutivo de coisa é uma questão de quantidade (afinal,“são tantas coisinhas miúdas”). Já para Beth Carvalho, é de carinho e intensidade (“ô coisinha tão bonitinha do pai”). Todas as Coisas e Eu é título de CD de Gal. “Esse papo já tá qualquer coisa…Já qualquer coisa doida dentro mexe.” Essa coisa doida é uma citação da música Qualquer Coisa, de Caetano, que canta também: “Alguma coisa está fora da ordem.”
Por essas e por outras, é preciso colocar cada coisa no devido lugar. Uma coisa de cada vez, é claro, pois uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. E tal coisa, e coisa e tal. O cheio de coisas é o indivíduo chato, pleno de não-me-toques. O cheio das coisas, por sua vez, é o sujeito estribado. Gente fina é outra coisa. Para o pobre, a coisa está sempre feia: o salário-mínimo não dá pra coisa nenhuma.
A coisa pública não funciona no Brasil. Desde os tempos de Cabral. Político quando está na oposição é uma coisa, mas, quando assume o poder, a coisa muda de figura. Quando se elege, o eleitor pensa: “Agora a coisa vai.” Coisa nenhuma! A coisa fica na mesma. Uma coisa é falar; outra é fazer. Coisa feia! O eleitor já está cheio dessas coisas!
Coisa à toa. Se você aceita qualquer coisa, logo se torna um coisa qualquer, um coisa-à-toa. Numa crítica feroz a esse estado de coisas, no poema Eu, Etiqueta, Drummond radicaliza: “Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente.” E, no verso do poeta, “coisa” vira “cousa”.
Se as pessoas foram feitas para ser amadas e as coisas, para ser usadas, por que então nós amamos tanto as coisas e usamos tanto as pessoas? Bote uma coisa na cabeça: as melhores coisas da vida não são coisas. Há coisas que o dinheiro não compra: paz, saúde, alegria e outras cositas más.
Mas, “deixemos de coisa, cuidemos da vida, senão chega a morte ou coisa parecida”, cantarola Fagner em Canteiros, baseado no poema Marcha, de Cecília Meireles, uma coisa linda. Por isso, faça a coisa certa e não esqueça o grande mandamento: “amarás a Deus sobre todas as coisas”.
ENTENDEU O ESPÍRITO DA COISA????
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portugueses descendem das mulheres das grutas de Altamira e Lascaux
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Origens. Metade dos portugueses descendem das mulheres das grutas de Altamira e Lascaux
por Marta F. Reis, Publicado em 19 de Julho de 2011 | Actualizado há 12 horasEstudos do genoma para conhecer os antepassados fazem dez anos. Também são procurados em PortugalParece um disparate, porém, depois de mais de uma hora a tentar
Parece um disparate, porém, depois de mais de uma hora a tentar perceber como é que qualquer coisa como uma dúzia de letras do nosso ADN (do total de 3 mil milhões) podem revelar o percurso dos nossos antepassados, a ideia até desperta algumas emoções. “Depois de saber que era descendente da avó Helena, fiz questão de ir a Lascaux”, diz José Carlos Soares Machado.
O presidente da Associação Portuguesa de Genealogia (APG) fala das grutas francesas, recheadas de desenhos nas paredes. Ao referir-se a Helena, mergulha naquilo que foram os últimos dez anos de estudos genéticos sobre ancestralidade. Em 2001, o cientista de Oxford Bryan Sykes explicou num livro que era possível alargar as tradicionais árvores genealógicas ao início do Homo sapiens (na região da Etiópia, há 200 mil anos). O público gostou da ideia e os centros de investigação com especialistas em genética começaram a disponibilizar-se para fazer o trabalho. Em Portugal, o Instituto de Medicina Molecular de Lisboa já fez 200 perfis.
Expliquemos a história da avó Helena, caso queira incluir Lascaux nos destinos de férias. Metade dos europeus, e também dos portugueses, descenderão das mulheres que habitaram as quentinhas grutas do Sul europeu (Lascaux mas também Altamira em Espanha e Vila Nova de Foz Côa) durante a última glaciação, há 12 mil anos. Se a mulher que desencadeou toda esta vasta descendência se chamava de facto Helena não se sabe, e talvez seja pouco provável, mas o nome surge no livro de Sykes “As Sete Filhas de Eva”, onde o investigador explica os diferentes perfis genéticos que descenderam da chamada “Eva mitocondrial”, a primeira mulher que passou sequências de ADN às suas filhas através das mitocôndrias dos óvulos.
Das cerca de 30 linhagens maternas já descobertas pelos investigados nas populações mundiais, há duas que parecem ter habitados as grutas do Sul da Europa. Em termos genéticos, chama-se a estes grupos de descendência “haplogrupos” e pode dizer-se que a maioria dos portugueses, como os europeus, descende do H e do U (em Portugal são 41% e 17% respectivamente). Sykes, que queria tornar a história fácil para os leigos em ciência, disse que os portadores da marca genética H eram netos da avó Helena e explicou no seu livro como a senhora era adepta das pinturas rupestres. Resta dizer que entre os famosos netos de Helena se encontra a rainha Maria Antonieta, factóide a que talvez nunca chegasse se se dedicasse a construir a sua árvore genealógica.
Do lado do pai, Soares Machado tem um legado viquingue (bastante comum na Escandinávia), mas mais de metade dos portugueses (55%) descende também dos celtas, que por sua vez descendiam dos homens que chegaram à Europa vindos do Sul da Sibéria, actual Cazaquistão e Usbequistão, antes de se enfiarem nas grutas do Sul. A segunda ascendência mais comum é a dos descendentes das populações que não deixaram África na altura das primeiras migrações, há 80 mil anos (Paleolítico Médio). Estes clãs que se mantiveram pelo Corno de África enquanto a maioria se dedicava a colonizar a Península Arábica parece ter começado a ganhar diferenças genéticas há 53 mil anos. Em Portugal representam 14% das linhagens paternas, mas são um ascendente muito mais comum na região do Magrebe, onde representam 33% a 80% do fundo genético das populações.
Como se faz Maria do Carmo Fonseca, directora do Instituto de Medicina Molecular onde a spin-off GenoMed começou a fazer estes testes há três anos (a pedido da APG), ajuda a compreender a análise que permite conhecer os antepassados. A matéria-prima é o genoma humano, a sequência de ADN onde estão contidas todas as informações genéticas para as células funcionarem e o organismo cumprir as funções vitais. “À medida que o nosso conhecimento sobre o genoma humano tem evoluído percebemos cada vez mais como funciona e que informação podemos encontrar sobre o nosso passado, o nosso presente e eventualmente o nosso futuro”, diz a investigadora Prémio Pessoa em 2010.
Os estudos mais comuns têm a ver com o diagnóstico ou a susceptibilidade a doenças – quando os investigadores procuram mutações ou genes já associados a patologias como o cancro ou a doença de Alzheimer. Mas cedo se percebeu que, além das instruções genéticas, inscritas em zonas que codificam proteínas, havia zonas do genoma que podiam querer dizer algo mais (as mesmas onde se procura informação sobre parentalidade ou maternidade). “O teste é o mesmo mas olhamos para zonas diferentes do ADN, a que chamamos silenciosas porque não codificam proteínas.” Restava um problema: se recebemos informação genética do nosso pai e da nossa mãe, que se mistura, era preciso olhar para regiões que viessem inequivocamente de um ou de outra. A aposta recaiu assim no cromossoma Y (transmitido dos pais para os filhos) e no ADN mitocondrial (contido no óvulo da mãe).
O processo de identificação do haplogrupo acaba por parecer um jogo. Sobretudo desde que passou a haver grandes estudos genéticos para diferentes populações. Confrontando sequências de ADN (a forma como as letras que compõem o código genético estão dispostas), os cientistas acabaram por perceber que a simples troca de letras em posições específicas permite identificar a ancestralidade. Depois de terem a sequência de ADN, folhas onde as letras A, C, G e T se dispõem em partes, os investigadores verificam manualmente as posições utilizadas para definir cada grupo. Assim, imagine-se, se no marcador x (entre seis e nove que é necessário observar até chegar ao veredicto possível mediante o conhecimento actual) há um C em vez de um G, é possível dizer se a pessoa descende por via paterna dos mercadores fenícios que passaram pela Península Ibérica há 3 mil anos ou dos viquingues que invadiram a Escandinávia há 7 mil.
Para ver a ascendência materna repete–se a análise, e as letras, consoante o sítio, podem revelar pegadas históricas mais comuns, ligadas aos refúgios nas grutas francesas e espanholas, ou então (como só acontece com 5% dos portugueses), uma linhagem materna ligada a refúgios da mesma época no Nordeste da Itália. Neste caso, em vez de se partilhar a família alargada com Maria Antonieta poderá chamar primo afastado a Ötzi, o homem do gelo, uma das múmias mais antigas conhecidas, de um homem que terá vivido há 5300 anos.
Apesar de para já ainda não serem muitos os grupos conhecidos, a expectativa dos investigadores é continuarem a aumentar os subgrupos dentro de cada população. A GenoMed tem ainda uma parceria com um grupo de investigação de Santiago de Compostela que permite quantificar o grau de mistura: ou seja, com fundo paterno celta e linhagem materna fenícia, poderá perceber o que pesa mais no seu código genético. Um mapa-múndi com a divisão de populações por haplogrupos permite perceber que entre os nativos da Península Ibérica existe uma grande mistura, enquanto nos americanos e africanos se mantém maior homogeneidade.
Para Maria do Carmo Fonseca, os factos curiosos não se ficam por aqui. Um estudo publicado em 2003 conclui, por exemplo, que 0,5% da população mundial parece ser descendente do imperador mongol Gengiscão, ilustre famoso a quem é atribuído um dos subgrupos do haplogrupo C (dominante no Norte da Ásia). “Na região ocupada pelos mongóis há um padrão que parece tão frequente que, por ter sido datado de há mil anos, permite pensar que 8% dos homens locais descendem de Gengiscão. Ele não podia ter tido mais que umas dezenas de filhos, mas deviam ser tão tortos que dominavam os outros.” Outra verificação que tem gerado polémica, assinada por Sykes, é que metade dos ingleses têm a mesma ascendência que alemães e dinamarqueses. E que não teriam sobrevivido ao frio glaciar sem os abrigos ibéricos.
A língua portuguesa é mestiça, diz Adriano Moreira
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A língua portuguesa é mestiça, diz Adriano Moreira Que a língua tem uma origem, um princípio todos sabemos. Que a língua tem particularidades, influências e transformações também entendemos, então porque não conviver com o seu dinamismo, com a sua mestiçagem? Foi pela vontade de descobrir os caminhos da terra incógnita, entre outras missões, que a língua portuguesa se expandiu para territórios impensáveis e hoje é a sexta língua mais falada no mundo e também o ponto de partida para a sustentabilidade da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa). Para o Professor Adriano Moreira, que defende a afirmação do português, a língua portuguesa é mestiça: "Desde as influências ameríndias, às africanas, às alemães no Brasil, por exemplo, às influências que existem em Moçambique, ou em Timor que dorme com o inimigo (Indonésia) e tem a pressão da Austrália, todas elas contribuem para o enriquecimento de qualquer um dos países, mas ao mesmo tempo cabe à CPLP defender a língua portuguesa, instrumento comum dos países que pertencem a este espaço. O Professor também reconhece tratar-se de uma missão complicada devido aos parcos recursos financeiros da organização. Sendo o Brasil a única economia emergente e nele estão depositadas as esperanças de que seja o país que vai conduzir a liderança do consenso da comunidade, segundo explicou Adriano Moreira. Que vantagens traz esta mestiçagem? Se por um lado há o medo, a resistência à mudança, por outro há um horizonte alargado a que a língua portuguesa deve estar aberta. Na semana em que se comemora o dia da língua portuguesa e da cultura da CPLP, Hélder Lucas, Embaixador de Angola junto da CPLP lança o repto: "olhar para a cultura da diversidade como um instrumento para a adversidade". Apesar da mistura, é cada vez mais evidente a vontade de uma maior simplificação, sem prejuízo de ninguém daquilo que une todos os povos da comunidade. Assim, em 1990 foi ratificado o novo Acordo Ortográfico, que Adriano Moreira defende, lembrando no entanto que nestas situações é melhor fazer Declarações e não Tratados, porque "a língua não é dominável, embora possa ser submissa no plano politico-económico". Ana Paula Laborinho, antiga presidente do Instituto Camões (IC), realçou a importância de uma maior investigação em torno dos números que demonstram a expansão da língua pelo mundo e também o papel do Instituto, numa comunicação que evidenciava o "valor da língua portuguesa". Para a professora universitária, há um interesse crescente na aprendizagem do português e também na adopção como segunda língua. Países como o Senegal, China ou República Democrática do Congo têm feito esforços nesse sentido. Aquilo que nos junta muitas vezes também é o que nos separa, desta feita importa saber o que quer dizer Domingos Simões Pereira, Secretário Executivo da CPLP, por cultura desta comunidade. "É algo que ainda estamos à procura de definir e identificar, mas no fundo é um encontro onde o português original se deixa influenciar pelas culturas africanas, brasileiras e timorenses". Se por um lado a miscigenação ajuda-nos a identificar as identidades e a sabermos de onde vimos, por outro ela também contribui para o desenvolvimento da ciência e do conhecimento, como instrumento comum. "A CPLP pode ajudar para uma maior liberdade na circulação de pessoas e de criação de obras, mas acima de tudo para uma maior abertura às instituições educativas, de saúde ou da cultura. Escolhemos a educação como o mais importante no meio de tudo isto, esse vai ser o nosso foco", explica o Secretário Executivo. @Mayra Prata Fernandes http://noticias.sapo.ao/vida/noticias/artigo/1150487.html http://videos.sapo.pt/5IusZPWYn6SdD52DnFSr
DICCIONARIO DA LÍNGUA BRASILEIRA 1832
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DICCIONARIO DA LÍNGUA BRASILEIRA
Olga Ferreira Coelho *
O Dicionário da Língua Brasileira (DLB) foi publicado em 1832, em Ouro Preto, pela Tipografia de Silva, pertencente a Luiz Maria da Silva Pinto (1775-1869), o autor. No título, a expressão língua brasileira, em referência ao português utilizado no Brasil, chama a atenção não só porque língua portuguesa seria o esperado, mas também porque o autor demonstra ter consciência da ambiguidade do adjetivo escolhido, fato que o leva a esclarecer que a obra não se dirige ao tratamento das palavras e frases que “proferem os Índios”, como seus contemporâneos talvez tendessem a deduzir.O DLB não reivindica, explicitamente, autonomia para o português falado na América. Diferentemente de trabalhos que seriam publicados no final do século XIX, não contém menção direta a qualquer nível de emancipação “do nosso Idioma” em relação ao português europeu. Não é também um dicionário que procure registrar exclusividades, isto é, um léxico somente empregado no Brasil. No entanto, apesar de estar aparentemente afastado dos projetos literários e linguísticos que animaram o século XIX, o DLB oferece rico registro de variantes do português que se usava àquela época no país. Curiosamente, parece ter sido decisivo para esse registro o fato de o autor ocupar-se da tipografia: das soluções gráficas e de organização de seu texto é que emergem dados sobre a diversificação da língua portuguesa no Brasil. Por exemplo, com o uso de asteriscos, demarca no corpo do texto os termos antiquados:
*Abrego, s.m. Vento Sudoeste.
*Fedo [com e aberto] por feio.
Outra solução, agora com vistas à ortografia, num momento em que ainda não há regulação oficial para isso, é dispor de modo especial os registros que se alternavam:
Lingoa, e melhor
Língua, s.f. parte carnosa, que se move dentro da boca. Linguagem, Idioma. Fig. Porção de terra, ou de mar. Língua de fogo, Labareda. Tomar língua Informar-se. Língua da balança, O fiel, o ponteiro que mostra o equilíbrio.
Com a apresentação de correções e sugestões, distingue usos populares aparentemente atestados de usos recomendáveis:
Parteleira, s.f. Outros dizem prateleira.
Preverso, por perverso.
Não há consistência absoluta na aplicação desses recursos ao longo da obra. Assim, por exemplo, ora se indicam as pronúncias e grafias concorrentes por meio da disposição sequencial das ocorrências envolvidas, seguidas da definição da palavra (v. lingoa / lingua), ora se fazem observações estritamente voltadas para a pronúncia (v. “Preverso por perverso”). Ainda assim, a variação linguística tende a ser registrada.
Ao lado desses aspectos relativos aos modos de apreensão e registro da língua, são dignos de nota os que dizem respeito ao perfil geral do texto: concebido como “portátil”, é um dicionário realmente sucinto, seja em relação à quantidade de itens lexicais descritos, seja em relação à composição dos verbetes. Estudiosos têm defendido, por meio da exposição de marcantes semelhanças, a hipótese de que ele corresponda a uma espécie de versão simplificada e resumida do Moraes. E, de fato, onde o Moraes apresenta séries de entradas pertencentes a uma mesma família de palavras, o Silva Pinto em geral contém apenas uma ou duas; enquanto o Moraes apresenta as variadas acepções de uma mesma palavra, o Silva Pinto destaca uma, ou algumas poucas delas. São ainda suprimidos exemplos e abonações. Não é o caso, no entanto, de tomar-se o DLB como simples resumo do de Moraes, seja porque, apesar do estilo o mais das vezes lacônico, nem
sempre seus verbetes são menos informativos (Moraes: Mamoeiro, s.m. Árvore que dá mamões; Silva Pinto: Mamoeiro, s.m. árvore do Brasil, que dá os mamões.), seja porque, por trás da brevidade, parece haver certo compromisso com a clareza (Moraes: Algaravia, s.f. Linguagem ininteligível, confusa: no mesmo sentido dizemos Falar Vasconso; Silva Pinto: Algaravia, s.f. Linguagem confusa, que não se entende).O DLB certamente não tem a estatura do Moraes: as descrições são mais apressadas, menos precisas e, em alguns casos, menos corretas também. Silva Pinto também parece não se preocupar com índices de erudição, tradicionalmente dados pela etimologia e pela abonação oferecida pelos “clássicos”. Soube, porém, juntar a seu interesse pela língua as habilidades de editor-tipógrafo e, com isso, desenhar um volume prático e despretensioso, no qual se encontram dados interessantes acerca da língua e dos modos e estilos de descrevê-la.
Há alguns estudos recentes e bem fundamentados acerca do sentido de uma obra como essa no contexto do Império Brasileiro. Tais estudos têm se desenvolvido principalmente nas áreas de História, Historiografia Linguística e História das Ideias Lingüísticas. Neles, fazem-se boas conexões desse dicionário, e de outros dos anos 1800, com questões candentes no Brasil da época, como a étnica e a da identidade nacional. Talvez também seja tempo de restabelecer o Dicionário da Língua Brasileira como fonte para o estudo do português no Brasil.
Sugestões de leitura:
LIMA, Ivana Stolze Lima. Luis Maria da Silva Pinto e o Dicionário da Língua Brasileira (Ouro Preto, 1832). Humanas. Porto Alegre, v. 28, n. 1, p. 33-67, 2006.
COELHO, Olga Ferreira. Os nomes da língua: configuração e desdobramentos do debate sobre a língua brasileira no século XIX. Revista do IEB, 47, set. de 2008, p. 139-160.
PINTO, Edith Pimentel. O português do Brasil: textos críticos e teóricos. Fontes para a teoria e a história. Vol. 1, 1820-1920. São Paulo/Rio de Janeiro: Edusp/Livros Técnicos e Científicos, 1978.
* Olga Ferreira Coelho (CEDOCH-DL-USP).Um verbo enjoadinho
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PASQUALE CIPRO NETO
Um verbo enjoadinho
Formas como “requisesse” ou “requiseram” não encontram abrigo no padrão formal da língua
O QUE NÃO FALTA na caixa postal da coluna é pergunta sobre a conjugação de verbos complicados. A lista é grandinha e inclui “preciosidades” como “adequar”, “precaver”, “reaver”, “requerer”, “falir”, “prover”, “prever”, “provir”, “intervir”, “satisfazer”, “ver”, “entreter” etc.
Embora muitos desses verbos sejam conjugados no dia a dia e em muitos escritos como se fossem regulares, nas modalidades formais da língua suas singularidades ou irregularidades continuam prevalecendo. Em outras palavras, isso significa que, ainda que frequentemente se ouçam e se leiam construções como “Se o ministro intervir” ou “Se ninguém se opor”, gramáticas, dicionários, manuais e guias de uso continuam indicando como cultas as construções “Se o ministro intervier” e “Se ninguém se opuser”.
Posto isso, vejamos a conjugação de alguns dos verbos citados, começando por “requerer”. A conjugação desse verbo é particularmente delicada, a começar pela sua perigosa semelhança com o verbo “querer”. Já na largada, ou seja, na primeira do singular do presente do indicativo, “querer” e “requerer” se separam: de “querer”, temos “eu quero”; de “requerer”, faz-se “eu requeiro”.
Como acontece com 99,99% dos nossos verbos, o presente do subjuntivo do verbo “requerer” se apoia na primeira pessoa do singular do presente do indicativo. Moral da história: de “requeiro”, faz-se “que eu requeira, que tu requeiras, que ele requeira, que nós requeiramos, que vós requeirais, que eles requeiram”. Mas a coisa se complica mesmo no pretérito perfeito do indicativo e nos tempos que dele derivam, em que “querer” e “requerer” se separam de vez. Nesse tempo, “querer” é irregular (“eu quis, tu quiseste, ele quis, nós quisemos, vós quisestes, eles quiseram”), enquanto “requerer” é regular (nesse tempo, convém deixar claro): “eu requeri, tu requereste, ele requereu, nós requeremos, vós requerestes, eles requereram”.
Como se sabe, são três os tempos derivados do pretérito perfeito do indicativo, mais especificamente do radical da segunda pessoa do singular desse tempo, que, no caso de “requerer”, é “requere-” (esse radical resulta da eliminação da terminação “-ste”, o que vale para 101% dos verbos da língua portuguesa).
O primeiro dos tempos derivados do pretérito perfeito do indicativo é o pretérito mais-que-perfeito do indicativo. Ao radical (“requere-“) somam-se as terminações “-ra, -ras, -ra, -ramos, -reis, -ram”: “eu requerera, tu requereras, ele requerera, nós requerêramos, vós requerêreis, eles requereram”. O segundo desses tempos é o pretérito imperfeito do subjuntivo. Ao mesmo radical (“requere-“, lembra?), somam-se as terminações “-sse, -sses, -sse, -ssemos, -sseis, -ssem”: “se eu requeresse, se tu requeresses, se ele requeresse, se nós requerêssemos, se vós requerêsseis, se eles requeressem”.
O terceiro tempo derivado do pretérito perfeito do indicativo é o futuro do subjuntivo. Ao mesmíssimo radical (“requere-“) somam-se as terminações “-r, -res, -r, -rmos, -rdes, -rem”: “se (ou “quando’) eu requerer, se tu requereres, se ele requerer, se nós requerermos, se vós requererdes, se eles requererem”.
Como se vê, diferentemente do verbo “querer” (que é irregular no pretérito perfeito do indicativo e, por conseguinte, nos três tempos que dele derivam -“eu quis”, “eu quisera”, “se eu quisesse”, “quando/se eu quiser”), o verbo “requerer” é regular nesses quatro tempos. Moral da história: formas como “requisesse” (“Se ele requisesse os documentos hoje…”) ou “requiseram” (“Eles requiseram o adiamento…”), embora comuns em alguns registros linguísticos, não encontram abrigo no padrão formal da língua. É isso.[Fonte: Folha de S. Paulo, 07.07.11]
ANGOLA 1594
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Vamos até Angola 1594 por Francisco Gomes Amorim
WWW.fgamorim.blogspot.com
História da residência dos Padres da Companhia de Jesu em Angola, e cousas tocantes ao Reino, e conquista
CAPITULO PRIMEIRO. INFORMAÇÃO DESTE REYNO E MINAS
O reyno dos Ambundos vulgarmente dito de Angola se chama nas cartas de mercês, e provisões dos Reys de Purtugal desdo tempo delrey dom Sebastião a esta parte novo Reyno de Sebaste na conquista de Ethiopia (2). Está em nove grãos na Etiópia meridional norte sul entre o de Congo e o de Benguella, leste oeste com Pernambuco na costa do Brasil. Os nomes das províncias mais nomeadas, que em si agora encerra são:
A liamba do rio de Coanza para a linha equinoxial. A Quiçama da banda do sul; o Mosseque, Dongo aonde está a cidade de Cabaça em que vive o Rey, o Are, o Ungo, e outras (3) Da villa de S. Paulo até Cabaça avera sesenta legoas (4). Todo o Reyno ao comprido (tomando por arraya Caçanze (5) que está oito da mesma villa) terá oitenta e de largo na mor dis¬tancia dizem que terá outras oitenta.Algumas partes da costa, e principalmente os lugares que estão ao longo do rio Coanza são doentios, por resão de lagoas e terras apauladas com a vizinhança do rio até a vila da Vitoria em Maçangano que também está cercado do Coanza e Lucalla. Com tudo sustentão os portugueses esta villa ainda que enferma e muito calmosa por estar no meio do Reyno em sitio muito forte, donde com facilidade se acode aos alborotos e novidades dos naturaes entre os lugares marítimos; este morro em que está situada a villa de S. Paulo, cabeça do Reyno, he muito sadio, e de bons ares. O mais do Reyno he fresco e temperado, antes tem exsseço de frio e nenhum de calma especialmente as terras do sertão, posto que também ao longo da costa ha muitas de bons ares, e sadias. A província do Ari e outras vezinhas com caírem mais para o nascente, e perto da linha, no tempo das aguas quando o sol anda sobre nós, he necessário aos portugueses que nelas se achão andarem
bem roupados e chegaremse ao fogo. Já nos meses de Junho até Setembro que na lingoa chamão o Quicivo quando o sol se aparta de nós para o trópico do norte são insofríveis naquelas províncias os frios, e ventos. A terra de Cambambe da província do Mosseque, aonde estão as minas de prata mais nomeadas he tão temperada que o governador Paulos Dyas (7) a comparava nos ares a Cintra. Andando nela o nosso campo no anno de oitenta e sete com tanta necessidade que se mantinhão só com pal¬mitos, por ser a terra de minas estéril, e falta de mantimentos, nenhum sol¬dado adoeçeo antes andavão tão bem despostos como se andarão em Lisboa com serem novos na terra.A maior parte deste Reyno he cuberta de grandes palmares donde tirão seu vinho, e azeite em muita quantidade, retalhado com muitos rios caudalozos e ribeiras muito frescas. Em algumas partes pela terra dentro tem larangeiras, e limoeiros, figueiras da terra, e bananeiras. De humas arvores muito grossas e altas a que nos chamamos cabaceiras tirão os naturaes os panos com que se cobrem da cinta para baixo, e em cima põem suas colmeias de que recolhem muito fermoso mel. Ha também inhames, batatas, bredos (8), mangericões pelo campo, beldroegas, jasmins e outras ervas proveitosas. Muitos géneros de ligumes da terra, e as sementes de Portugal em lugares frescos aonde não falta agoa, se dão muito perfeitas.
Ha muita variedade de aves de cores muy aprazíveis. Agueas, patos reaes de grandes cristas, e de tanta carne como hum carneiro, muitas aves de rapina, galinhas do mato, perdizes, galinhas corvaes, guinchos, pelica¬nos, paios bravos, adens, marrecas, corvos marinhos, outras aves de asas vermelhas a que chamão framengos (9). Entre estas ha huma ave de meãa grandura, de cores parda e branca a que chamão Fune, tem o voar muy sereno, e vão dando huns guinchos mui compassados. Nesta parece que reconhesem as outras superiolidade, como se vee em duas cousas, a pri¬meira que tanto que as outras aves vem, ou ouvem deixadas suas occupações a vão logo acompanhar. A segunda he que ao tempo de fazer o ninho as outras se aiuntão, e lho fazem em arvores altas com muitos e grandes paos. O ninho he comprido obra de vinte palmos, e no cabo delle cria dous filhos.De animaes ha muitas castas pelo mato. Alifantes, leões, onças, empa-caças (10), que são como vacas, empalangas (11) maiores que bois, zevras como mulas listradas, veados, corças, lobos, gatos dalgalea, lebres, coelhos, porcos espinhos, porcos montezes; nos rios ha grandes cavalos marinhos e lagartos de trinta e quarenta pees.
O pescado, asi do mar como de rios, he muito e sadio. Junto da ilha Loanda da banda do mar, e da terra firme se tomão os peixes seguintes. Pescadas, Imgoados, salmonetes, gorazes, canteiras, maçuços, corvinas, sei” gás, macoas, tainhas, cavalas, mugens, roncadores, pâmpanos, garoupas, chicharros, sardinhas, peixe espinha, peixe coelho, peixe prata, peixe viola, peixe agulha, ostras, briguigões, amejoas, caraguejos, polvos, arraias, tar¬tarugas, botos, pargos, meros, visugos, arenques, barbos e outro muito gé¬nero de pescado. Ha também em alguns rios hum peixe chamado Angulo que quer dizer porco, a que no Brasil chamão peixe boi (12).
Notas:
(1) Esta História terá sido escrita em 1594 pelo Padre Pedro, ou Pêro, Rodrigues, natural de Évora, onde se alistou na Companhia de Jesus em 1556, foi um dos mais categorizados jesuítas do século XVI e XVII. Era mestre em Artes, ensinara primeiro letras humanas por cinco anos e outros tantos teologia moral; foi sete anos reitor do colégio do Funchal e outros sete do colégio de Bragança, mais de um ano Visitador de Angola, de 1592 a 1594, e nove anos Provincial da Província do Brasil, onde chegara a 19 de Julho de 1594. Faleceu em Pernambuco a 27 de Dezembro de 1628. No Brasil escreveu, pelo ano de 1606, a Vida do P-‘ José de Anchieta, que serviu de fonte principal às que depois se publicaram do vene-rando apóstolo {Annaes da Bibliotheca do Rio de Janeiro, volume XXIX, páginas 181-286). Poucos anos antes ministrara também ele ao P. Quirino Caxa materiais para outra biografia menor de Anchieta, a qual ficou por largo tempo sepultada nos
arquivos. Foi descoberta em mais de um exemplar no ano de 1923; e no de 1934 a deu a lume, prefaciada e anotada, o P.° Serafim Leite.
(2) Paulo Dias de Novais edificou uma ermida de S. Sebastião na vila, depois ci¬dade, de S. Paulo, que fundou em frente da ilha de Luanda, em memória do Rei de Por¬tugal, D. Sebastião, como também deu àquela conquista de África o nome de «novo reino de Sebaste na conquista de Etiópia» em homenagem ao mesmo monarca. Mas em seguida passou esse nome ao esquecimento e ficou o primeiro de Angola.A essa parte do continente africano chamavam também os nossos portugueses Etiópia. nova Etiópia, conquista da Etiópia, e mais designadamente Etiópia meridional ou ociden-te;, como diziam Etiópia oriental a região do mesmo continente do lado de Moçambique, e a seus negros habitadores davam genericamente o nome de Etíopes. Teles, na sua Histo¬ria da Ethiopia, página 6, escreveu: «£ste nome de Ethiopia he muy geral e comprehende todas aquellas regiões cujos habitadores têm cores pretas, porque a todos estes costumam chamar Ethiopes… …O mesmo nome tem… tudo o que se estende até ao cabo de Boa Esperança e dobrando este cabo, tudo o que ha de terras até Angola e Cabo Verde, porque a todos os que povoam estas costas e o sertam delias chamam ethiopes e ás terras chamam Ethiopia».
3) O missionário Diogo da Costa, enumera só três províncias de Angola em carta datada de Luanda a 31 de Maio de 1586: «A primeira chamamos liamba que está entre o Rey [reino?] do Congo e o rio Lucala. A segunda he o Moseque [Mosseque] que está entre ai Lucala e o rio Coanza… A terceira a Guitama [Quissama] que está entre o Coanza e o Reyno de Benguella». Boletim da Sociedade de Geografia, IV, pagina; 382. A província de Are (Ari) fica ao norte de Coanza, e a de Ungo para o sul.
4) Cabaça ou Cabassa era a corte do rei Angola, a que os indígenas chamavam Dongo, segundo observa Franco, Synopsis Ann,. pág. 63: Urbs regia Dongus dieta ab indigenis, a lusitanis Cabassa. Lopes de Lima, Ensaios sobre a statistica, página XV, nota que o nome Cabassa é «corruptela da palavra Cabanza (capital)». Diz-se agora Pedras Negras de Pungo-Andongo.
(5) Caçanze ou Cassange.
(7) Assim, em vez de Paulo, escrevem outros autores, como Abreu de Brito, Sumario,…; Teles, Chronica, II, 620, e Franco, Imagem da Virtude. II, 460.(8) Planta herbácea, oriunda de Portugal, que serve para fazer esparregado. Seria bredo?
(9) Framengos, flamengos e flamingos.
(10) Empacaças ou pacaças, pacassas: mamíferos semelhantes a búfalos.
(11) Empalangas ou empalancas, palancas, do género dos antílopes.
(12) Angulo ou Ongulo, como lhe chama o padre Garcia Simões na carta de 20 de Outubro de 1575. Na língua bunda escreve-se N’gulo. (Porco)