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POEMAS À MINHA GALIZA LUSÓFONA
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ao celebrar 40 anos de vida literária criei um capítulo GALIZÓFONA501 partir ii (a uma galiza lusófona)
partir!cortar amarrascomo se ficar fosse já um naufrágioficarcomo quem parte nuncapartircomo quem fica nas asas do tempopartir!cortar grilhetascomo se viver fosse uma morte adiadavencer ameiascortar amarrasvelas ao ventoolhar o mundodescobrir liberdadesesta a mensagemlevar o desesperoao limiaraté erguer a vozsem medosaté rasgar as pedrase o ventre úberesemear desencantosorrirà grande utopianascerde novodar o saltotranspor a fronteiraentre o ter e o serimaginarcomo só os loucos sabeme então chegastecom primaveras nos dedose liberdade por nomeloucas promessas insinuavasdespontastecomo quem acorda horizontes perdidosdemos as mãossabor de início do mundopendão das palavras por dizeresta a revoluçãominha bandeira por desfraldar525. Galiza como Hiroshima mon amour
acordaste e ouviste o teu hinobandeira desfraldada ao ventoao intrépido som
das armas de breogánamor da terra verde,
da verde terra nossa,à nobre lusitânia
os braços estende amigos,desperta do teu sonopega nos irmãoscaminha pelas estradasergue bem alto a tua vozdiz a quem te ouvir quem ésorgulhosa, vetusta e altivaindomada criaturanenhum poder te subjugaránenhum exército te conquistaránenhuma lei te amiquilaráés a Galiza mon amour528. ah como eu gostava 16/11/2011
portugal lembra o filho ingratoque sai de casa levando as malascresce como um sem-abrigovivendo de expedientessujo, maltrapilho e destituídomas orgulhosamente só e independentealtivo olha a galiza do tempo dos aguadeirosda pobreza, fome e sofrimentoe sente-se superiornão reconhece pai ou mãenem partilha um cobertorcomporta-se como assaltantealiado ao invasoresqueceu a história e perdeu os genesah como eu gostava de ser galego530. pesadelo zoológico 3 dezembro 2011 à concha rousia
sonhei estar num circoera um leão amestradoo domador espanholsenti-me galegoeles não sabemque não há leões domadosvivem anestesiadosum dia acordamsem ronronar em castrapovou esperar pelo chicotedesobedienteaguardo que ele erga a cadeiraestreleje o látegoe me mande falaraí direi ao castelhanojá chega de circoo palhaço és tu.acordei e não vi bandeiras de castela531. lendas da minha galiza 11 dez 2011
Galiza és tão especialquando sorrispor que não sorris sempre?és tão belaquando ris com gargalhadas cristalinaspor que não ris sempre?és tão amorosaquando falas e ciciaspor que não falas sempre?no meu quintal tenho um poçosempre cheio de palavrasonde vou buscar inspiraçãoé lá que busco amorescomo se fora o monte das Ánimasna era dos Templáriosquando os cervos eram livres e não havia lobosfoi lá que aprendi a tua históriadepois de Ith filho de Breogánir à Torre de Hérculesdivisar Eirin a Verdemorto Ith, perdidas as Cassitéridesaprisionados os Ártabrosresta visitar Santo Andrés de Teixidoduas vezes de mortoque não o visitei uma de vivoe esta história queda silentenos livros e na memória dos velhospor que não a aprendem os nenos?agora que o rio Minho passa caladinhopara não despertar os meninoshoje quando fui ao poçoencontrei-o seco e mirradosem um fio de água sequernão havia pardais nas árvoresnem flores no jardimsenti o coração trespassadoas lágrimas secaram-meafincado no chãoatopei umas Meigasa dançar com o Dianhofoi então que o vi, o Chupacabrasestandarte de Castelanão mais haveria fadas ou sereiascronópios e polinópiosvou juntar ferraduras, alho e salcolares de conchas e tesouras abertasesconjuro-vos ó meigas castelhanasque me salve o burro farinheirovou ao banho santo em Lanzada (sansenxo)hei de te encontrar minha moura encantadanão tenho medo de travessuras de Trasgosnem Marimanta ou Dama de Castrosem temor da Santa Companhanem do Nubeiro vagueandoentre tempestades e tormentashei de te encontrar minha moura encantadae brotará áuga do meu poçoescreverei os versos e serão mágicoserguerei a tua flâmulano poste mais alto e cantareiGaliza livre sempre532. genevieve 13 dez 2011
genevieve era nome de mulherum restaurante japonêsno meio de chinatownsorrisos largos e astutosmansos como o rio minhoolhos profundos amendoadoscomo o canon do silprometia ribeiras sacrasseios amplos acolhedorescomo as rias baixasgenoveva da galizaamazonaem sidneyum pai na argentinauma mãe em pariscom saudades de arousapromovia sushi com sakéloucas bebedeiras em galego533. concha é nome de guerra 13 dezembro 2011
para ti não há música nem dançaapenas as artes marciaisguerrilheira de montes e valesurdidora de emboscadassob a copa das amplas árvoresbrandes teu gládio de palavras suavesnão usas as falas do inimigovingas a dor de seres galegaa montanha que herdaste sozinhaprenhada de mar na ilha dos nossoso povo desaparecido da Rousia aldeiaesse recanto insuspeito ao virar da raiaonde fui a férias em 2005 sem te sabereu que nasci galego do sulsendo galego de Celanovaapartado de meus irmãos e irmãsséculos de história ao desbaratodistavam mares que nunca navegámosmontes que nunca escalámosestrelas que jamais enxergámosaté um dia em que surgistevestias azul e branco orlada a ouroestandarte do nosso reinociciavas liberdades por atingirsonhos por realizarbrandias a tua utopianuma mesma lusofonia536. elegia à AGLP 16 dez 2011viver numa ilha é prisãosair dela é impossívelnem com a velocidade da chitanem com a força do elefantenem com o mergulho do cachalotede nada servem passaportesnem vistos consularessó água nos rodeiapreciso saber nadarviver na Galiza é prisãosair dela é possívelmas não elimina os carcereirosnão abate as grades do cárcerenão liberta do cativeiromas nas árvores de NottinGalizahá sempre uma Concha dos Bosquesou um Ângelo Merlimum Joám Pequeno Evans Pimum frei Tuck Montero Santalhae seu bando de lusofalantesmanejando o arcoinvencível besta da lusofoniaOnésimo Almeida na antologia bilingue
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interessante texto sobre Onésimo de Almeida e a antologia bilingue de autores açorianos contemporâneos na sua apresentação na universidade do minho (Braga) dia 6 de dezembrohttp://www.lusofonias.eu/cat_view/91-iniciativas-e-apoios/58-apoios/115-antologias.html?view=docman
Almedina-Braga, 6 de Dezembro de 2011Apresentação do livro Antologia Bilingue de Autores Açorianos ContemporâneosOnésimo e a questão da Literatura AçorianaEm vez de oferecer uma visão geral sobre esta Antologia Bilingue de Autores Açorianos Contemporâneos, optei por destacar um autor que nela figura: o Professor Onésimo Teotónio de Almeida. Confesso, desde já, o meu gosto pessoal pela prosa de Onésimo, pela sua limpidez, pelo seu humor (vd. “Que nome é esse, ó Nézimo?”, integralmente nesta antologia). Porém, a minha escolha, hoje, recai sobre um trecho não ficcional que extraí de A questão da literatura açoriana e que também consta da presente antologia:Embora haja quem suponha estéril o debate sobre a existência ou não de uma literatura açoriana, pessoalmente vejo nele uma riquíssima mina de elementos – dados, ideias perspetivas, conceitos, especulações, interpretações, explicações, análises – que refletem mundividências, posições teóricas sobre estética, pontos de vista sobre uma realidade humana num espaço geográfico específico (os Açores) de muitos dos melhores nomes das letras dos Açores. […] os textos de intervenção n[esse] debate […] representam a consciencialização teórica, uma explicitação de pontos de vista, intenções, demarcação e distanciamento de posições da parte exatamente de quem se tem preocupado por conjugar os Açores como tema, ou utilizá-los como espaço ou pano de fundo dentro do qual se move a realidade por eles criada ou recriada nos seus textos.Com certeza não será este o local, nem esta a hora, de debater a existência ou não da Literatura Açoriana. Questão apriorística, paradoxal, porquanto a sua formulação já expressa a identidade que está a questionar. Da mesma forma, esta antologia também não pretende dar nenhuma resposta a esta questão. Por outro lado, de maneira bem eloquente, a seleção de textos antologiados apresentam-nos as tais conjugações (a que Onésimo se referia) dos Açores como tema, as tais utilizações dos Açores como espaço ou pano de fundo, enfim, a tal realidade de formatação açoriana. Pode, então, o leitor conhecer, ainda que de forma fragmentária, os temas, os motivos, as histórias, as particularidades da língua e os demais recursos retórico-literários que fornecem os argumentos àqueles que defendem a existência de uma Literatura Açoriana. Claro que não se dispensa a leitura integral das obras — De resto, uma antologia é sempre um convite à procura da obra integral – e só assim se poderá formular uma opinião informada. Pela minha parte, reconheço obras que falam da experiência humana. Sem dúvida, obras que resultam de vivências próprias e estilos pessoais. Mas obras que espelham o mundo, os homens e as mulheres que nele vivem. Utilizando palavras de Claudio Guillén obras “entre o Uno e o Diverso”.A presente antologia acentua a universalidade das obras antologiadas. Promove-as e facilita que elas cumpram um propósito supranacional, de certa forma, enunciado por Goethe quando anunciava a chegada de uma Weltliteratur: cada literatura local tem um papel a desempenhar na grande sinfonia da Literatura Mundial. E, não abandonando a metáfora, esta antologia desempenha este papel a dois instrumentos: a Língua Portuguesa e a Língua Inglesa.Diz Onésimo no fim do mesmo artigo que “quem lucrará com isso [o reconhecimento da Literatura Açoriana] será a Literatura Portuguesa. Ficará menos monocórdica. E monótona.”. Depois desta antologia bilingue, independentemente de reconhecermos ou não a existência de uma Literatura Açoriana, quem lucra é a Literatura do Mundo: fica ainda mais polifónica e acessível a um maior número de leitores.João Peixe
Doutorando da Fundação para a Ciência e Tecnologia
Centro de Estudos Humanísticos
Instituto de Letras e Ciências Humanas
Universidade do MinhoO valor económico da língua portuguesa pode ser potenciado
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O valor económico da língua portuguesa pode ser potenciado
A Língua Portuguesa é um património muito acima da sua actual valorização (José Paulo Esperança). É fundamental que Portugal aposte, economicamente, nos países lusófonos (Sousa de Macedo).
09-12-2011
«O Valor Económico da Língua Portuguesa» foi o tema de uma conferência organizada pelo Observatório da Língua Portuguesa e que teve como conferencistas o professor universitário José Paulo Esperança e o ex-secretário de Estado das Comunidades Luís Sousa de Macedo. E se para o docente a Língua Portuguesa é um património muito acima da sua actual valorização, para Sousa de Macedo é fundamental que Portugal aposte, economicamente, nos países lusófonos. “Uma língua é tanto mais valiosa quanto mais parceiros de utilização tiver, porque quanto mais pessoas a conhecerem, maior será esse valor”, lembrou o professor José Paulo Esperança, na abertura da conferência, realizada no passado dia 29 de Novembro, na Fundação Cidade de Lisboa.
Falada actualmente por mais de 240 milhões de pessoas em todo o mundo – 3,7 por cento da população mundial – a língua portuguesa representa, em termos económicos 4 por cento do valor mundial, sublinhou o professor José Paulo Esperança.
O docente universitário – que integrou a equipa que realizou o estudo «O Valor Económico da Língua Portuguesa», encomendado pelo Instituto Camões (IC) e desenvolvido por 10 investigadores do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) – defendeu que “a proximidade linguística é um fator importante” nas relações económicas de Portugal, já que “países com uma língua comum têm maior facilidade em fazer negócios”.
Apesar de apenas 6 por cento das exportações nacionais se destinarem a países de expressão portuguesa, o saldo comercial é favorável, já que Portugal importa desses mesmos países, apenas 3 por cento do total do volume de importações, referiu José Paulo Esperança.
O professor afirmou ainda haver um aumento do interesse na língua falada por oito países – Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor Leste – dando como exemplo a sua presença ma internet. Segundo o Barômetro Calvet das línguas no mundo, é de 34,4509 o índice de penetração da língua portuguesa na Internet (dados de Novembro de 2009). O português é já o oitavo idioma em número de artigos divulgados na Wikipédia e ocupa o 15º lugar no índice «traduções de língua de origem». “Num período de dez anos, o português foi a língua que mais cresceu em termos de acesso na internet”, afirmou o docente.
José Paulo Esperança revelou ainda que a sua procura como língua estrangeira está a crescer exponencialmente em países de língua espanhola “como a Argentina e o Uruguai” onde, acrescentou “já é um idioma mais procurado do que o inglês”.
Mesmo assim, o investigador defende que é importante a definição de estratégias para a sua dinamização. “O Português é um património superior à sua atual valorização”, defendeu, acrescentando que este valor abaixo das potencialidades da língua ocorre “muito por uma inércia e indefinição tanto a nível de entidades públicas como privadas”.
“A língua promove relações e o seu valor para as empresas e para os países pode ser potenciado, já que o estudo («O Valor Económico da Língua Portuguesa») revelou que as indústrias e os serviços em que ela é um elemento chave, representam 17 por cento do Produto Interno Bruto de Portugal”, alertou.
Já Luis Sousa de Macedo recordou que a língua portuguesa é o veículo de comunicação de milhões de lusófonos na diáspora, com destaque para os 4,5 milhões de portugueses e luso-descendentes. Nesse sentido, foi ainda mais longe ao afirmar que “já que língua e cultura são factores de aproximação”, falar português “é tão importante” que as empresas portuguesas elegeram como mercados fundamentais “a África lusófona e o Brasil”.
“Neste momento de crise económica, é crucial apostar nos países onde ao longo de séculos criamos uma ligação de proximidade, com destaque para o Brasil e Angola”, defendeu o ex-secretário de Estado das Comunidades e actual administrador da Fundação PT.
Inserida no 1º Ciclo de Conferências do Observatório da Língua Portuguesa – que teve como temáticas anteriores «Que Política para a Língua Portuguesa?» e «A Internacionalização da Língua Portuguesa» – a palestra reuniu vários estudiosos da língua portuguesa. As três conferências tiveram por objetivo ser um espaço de reflexão e debate de ideias sobre questões relevantes da língua de Camões e ainda motivar a sociedade civil para a importância da II Conferência Internacional sobre Língua Portuguesa no Sistema Mundial que será realizada em Portugal no próximo ano.
17 por cento do PIB de Portugal
O estudo «O Valor Económico da Língua Portuguesa», focado na realidade portuguesa, avaliou o impacto da proximidade linguística em quatro dimensões: comércio externo, investimento directo estrangeiro em Portugal, fluxos de turismo e fluxos migratórios. Os dados iniciais permitiram perceber que as indústrias e os serviços em que a língua portuguesa é um elemento chave, representam 17 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal.
Encomendado pelo Instituto Camões (IC) em Setembro de 2007, e desenvolvido por uma equipa de investigadores do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), o estudo confirmou o elevado peso da proximidade linguística nas relações de Portugal com o exterior. “O papel da língua é um facilitador significativo nas dimensões de intercâmbio analisadas”, lê-se nas conclusões do estudo que apontam a área das migrações e a do Investimento Directo de Portugal no Estrangeiro (IDPE) como aquelas onde neste momento, a língua portuguesa tem mais peso.
Nesta área, revelou que Brasil e Angola representaram “19 por cento do total da saída de investimento directo a partir de Portugal, no período de 1996-2007”. No mesmo período, embora menos significativa, “também à entrada se verifica um peso superior ao «natural» do investimento directo oriundo principalmente do Brasil e de Angola, representando 13% do total”, refere o documento.
Idioma oficial em oito países, o português é uma das seis línguas mais faladas no mundo.Ana Grácio PintoFONTE: Mundo PortuguêsDO IBERISMO AO 1º DEZEMBRO in ChrónicAçores vol.2
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16.5. Do Iberismo ao 1º de dezembroGostava JC de ter algumas réstias do sempiterno otimismo mas adesoladamente, a sua reserva, está no nível mínimo desde há déca-das. Mas quando, ano após ano, a chuva cai dentro de casa e alaga o chão ou móveis como se não houvesse teto, tem de assumir a péssi-ma qualidade das casas e que os ”mestres” de construção não passam de biscateiros incapazes de fazerem a obra como deve ser. Mas se vai a um restaurante o resultado é similar com um serviço deficiente a preços de luxo, se vai a um mecânico automóvel idem aspas. E o mesmo se passa na saúde, na justiça, na ignorância santa dos novos professores, na incompetência dos que governam e dos que são man-dados. É esta a tradição. Não é de hoje, vem de longe como consta-tou hoje ao traduzir este parágrafoEnquanto a Terceira e as ilhas próximas resistiam ao assalto dos espanhóis à Coroa portuguesa, S. Miguel franqueou-lhes a entrada. Esta diferença deveu-se ao facto de o Corregedor Ciprião de Figueiredo estar sedeado em Angra. Fiel apoiante do Prior de Crato, terá proferido a frase “antes morrer livres que em paz sujeitos”. Por outro lado, a capitania de S. Miguel estava na mão da influente família Gonçalves da Câmara. Além disso, residia nessa altura em São Miguel o Bispo dos Açores, D. Pedro de Castilho, fiel a Filipe II. Viria a ser Vice-Rei de Portugal em paga da sua fidelidade à causa castelhana. Mais tarde, o Capitão do Donatário de São Miguel receberia o título de Conde de Vila Franca.Abundam assim os que esquecem o terror do domínio castelhano epressurosos querem entregar o país ao vizinho ibérico.Miguel Urbano Rodrigues escrevia em 2006:151J. Chrys ChrystelloOs iberistas, ao esboçarem uma Espanha pletórica de energias, deprogresso e criatividade, simulam esquecer que o país exibe a maisalta taxa de desemprego da UE. Não aludem ao racismo e à xenofobia…onde os imigrantes, sobretudo os magrebinos, equatorianos e colom-bianos são mais discriminados.Há três décadas a Espanha não existia como parceiro comercial. Hojeocupa o primeiro lugar nas importações portuguesas. A banca espanho-la conquistou uma parcela importante. O mesmo ocorre com a hotelariae grandes transnacionais como El Corte Inglês e Zara. As imobiliáriasespanholas invadem as cidades. … no Alentejo capitalistas espanhóiscompraram já as melhores terras no Alqueva. Adquiriram milhares dehectares para criação de porcos, lagares e plantação de oliveiras e vinhas. Essa invasão é festejada pelo Governo de Sócrates e pela grande burguesia. … Agradecem. Com a espontaneidade da nobrezade 1383 a saudar D João De Castela e a nobreza de 1580 a alinharcom Filipe II. Essa forma de dominação económica encobre uma moda-lidade de intervenção imperial. “Alentejo Popular”(Beja) 02-11-06Portugal atingiu tal irrelevância que ninguém se surpreenderia sepassasse a dependência espanhola, como se de banco se tratasse.Como se estivéssemos a falar de abrir um escritório no litoral já queo interior está desertificado de gentes e de economias de mercado viáveis. Por outro lado, despontam a nível governamental, iniciativas de união ibérica, nem sempre dissimuladas, que causam engulhos. Por ser um estudioso do assunto que condensou o que JC pensa, sigamos Carlos Fontes em LusotopiasO iberismo é um fenómeno do séc. XIX como resposta à teoria dasgrandes nações então em voga. …as pequenas estariam condenadasa serem absorvidas pelas grandes, tal como teria acontecido entre osanimais onde os mais fortes extinguiram os mais fracos (darwinismo).Sempre que a situação é melhor no outro lado da fronteira, a integra-ção de Portugal em Espanha surge aos olhos dos iberistas como asolução para resolver a crise, sem trabalho… as mortes de dois ibe-ristas assumiram enorme carga simbólica na história portuguesa, sendocontinuamente evocadas. A morte do Conde de Andeiro, fidalgo galego,foi assumida como o símbolo de liberdade de um povo que recusa asingerências externas. Acabou por ascender a elevada posição na corte,tendo recebido de D. Fernando o título de Conde de Ourém, pondo-se152ChrónicAçores:.na crise de 1383-85, ao serviço de Castela. Foi assassinado, em 1383, por D. João, mestre de Avis e futuro rei de Portugal. A sua nefasta ação traduziu-se numa violenta guerra civil.Já a morte de Miguel de Vascon-celos exprime simbolicamente a afir-mação da identidade cultural de um povo, após a opressão de 60 anos. Após a morte deste esbirro, o povo português travou com a Espanha, durante 28 anos, uma sangrenta guerra na Europa e na América do Sul pela defesa da sua liberdade e dignidade.…E como já ninguém estuda História, estes episódios perdema força, não são transmitidos de geração para geração, perde-se amemória coletiva do povo. Continuemos com Carlos Fontes:Nas últimas décadas, órgãos de comunicação social usando daliberdade de expressão, têm procurado abrir fraturas na sociedade.O seu objetivo é simples:1. Mostrar através de “sondagens” encomendadas ou “discussões”públicas que na sociedade portuguesa existe um grupo cujo objetivo é adissolução do Estado português;2. Dar “voz” à hipotética minoria iberista portuguesa. Ao mesmotempo, a imprensa espanhola mostra aceitação à possível integração.3. Os supostos iberistas não constituem uma corrente de opinião nemum movimento organizado.A imprensa trabalha no terreno das hipóteses…introduzindo elementos de discórdia e desmoralização coletiva.Oliveira Martins (1845-1894) é o melhor exemplo dos esbirros iberistas.É difícil de determinar a causa do profundo ódio que manifestava pelosseus concidadãos e o país. Foi um típico vira-casaca: anarquista, socia-lista, republicano, monárquico, liberal, antiliberal. Defendeu a liberdade,mas também a ditadura. Atacou os ditadores, mas apoiou João Franco,Muitas das suas ideias foram aplicadas por ditadores (Sidónio Pais ouOliveira Salazar).Antero de Quental (1869) era um confesso iberista, dois anos depois já nem fala no assunto, e mais tarde abomina a ideia. Algo idêntico ocorreu com Teófilo Braga. …Durante as legislativas de setembro 2009 – a TVI -, canal de TV controlado por espanhóis interferiu diretamente na campanha eleitoral, e…afastou a “jornalista” (Manuela Moura Guedes) que promovia uma campanha de propaganda contra o governo socialista… e a comuni-icação social espanhola procurava lançar nova campanha em defesa das teses iberistas, apoiada numa “sondagem” da Universidade de Salamanca, com a colaboração de alienados no ISCTE (Lisboa).153J. Chrys ChrystelloA razão por que se escolheu este tema e as citações supra para estacrónica é a data que ora se celebra, o dia da Restauração da Indepen-dência de 1 de dezembro de 1640. Para que os mais jovens nunca oesqueçam e deixem de a tratar como um dia sem aulas. Infelizmente,é para a maioria, um dia como qualquer outro nos Açores, sem queo povo se dê conta do seu significado:“…arrebatados do generoso impulso, saíram todos das carroças eavançaram ao paço. .. D. Miguel de Almeida, venerável e brioso, com aespada na mão grita: Liberdade, portugueses! Viva El-Rei D. João IV”A ideia de nacionalidade esteve por trás da restauração da inde-pendência plena de Portugal após 60 anos de monarquia dualista.Cinco séculos de governo próprio haviam forjado a nação, fortalecen-do a rejeição da união com o vizinho. A independência fora sempre umdesafio a Castela. Foram sucessivas e acerbas as guerras, as únicasque Portugal travou na Europa. Para a maioria, os Habsburgo eramusurpadores, os Espanhóis inimigos e os seus partidários, traidores.Culturalmente, avançara depressa a castelhanização de 1580 a 1640.Autores e artistas gravitavam na corte espanhola, aceitavam padrõesespanhóis e escreviam cada vez mais em castelhano, contribuindo paraa riqueza espanhola. Dão a impressão errada de decadência culturalapós 1580. A perda da individualidade cultural era sentida por muitosportugueses, com reações diversas a favor da língua pátria e da suaexpressão em prosa e poesia. Contudo, os intelectuais sabiam perfei-tamente que os seus esforços seriam vãos sem a recuperação daindependência política. O Império Português atravessava uma crisecom a entrada em jogo de holandeses e ingleses. Perdera o mono-pólio comercial (Ásia, África e Brasil) e a Coroa, a nobreza, o cleroe a burguesia haviam sofrido severos cortes de receitas.Os Espanhóis reagiam contra a presença portuguesa nos seus ter-ritórios, mediante vários processos, entre os quais a Inquisição. Issosuscitou grande animosidade nacionalista em Portugal aprofundan-do o fosso entre os dois países.Margarida, duquesa de Mântua, neta de Filipe II, exerceu o governode Portugal, de 1634 a 1640, como vice-rei e capitão-general. Econo-micamente, a situação piorara desde 1620 ou até antes. Os produtoressofriam com a queda dos preços do trigo, azeite e carvão. A criseafetava as classes baixas, cuja pobreza aumentou sem disfarces. Oagravamento dos impostos tornava a situação pior. A solução apre-sentava-se fácil e óbvia: a Espanha, causa de todos os males.154J. Chrys ChrystelloA conspiração independentista congregava um grupo heterogé-neo [nobres, funcionários da Casa de Bragança e elementos do clero(alto e baixo)]. Em novembro de 1640 conseguiram o apoio formaldo duque de Bragança. Na manhã do 1º de dezembro, um grupo denobres atacou a sede do governo (Paço da Ribeira), prendeu a du-quesa de Mântua, matou e feriu membros da guarnição militar efuncionários, como o Secretário de Estado, Miguel de Vasconcelos.Dizia Camões: “Também dos Portugueses alguns traidores houve,algumas vezes…” (Os Lusíadas, C. IV, 33). Seguidamente, os re-voltosos percorreram a cidade, aclamando o novo estado, secun-dados pelo entusiasmo popular. Em todo o Portugal, metropolitanoe ultramarino, a notícia da mudança do regime foi recebida e obe-decida sem qualquer dúvida. Só Ceuta permaneceu fiel a Filipe IV.D. João IV entrou em Lisboa a 6 de dezembro. Proclamar a separa-ção fora fácil. Mais difícil seria mantê-la. Tal como em 1580, em 1640 osportugueses estavam longe de unidos. As classes inferiores mantinhama fé nacionalista em D. João IV, mas o clero e a nobreza, com laços emEspanha, hesitava e a medo alinhava com o duque de Bragança.O novo monarca estava numa posição pouco invejável. Tornava-senecessário justificar a secessão não como usurpador, mas a reaver oque por direito legítimo lhe pertencia. Abundante bibliografia (emPortugal e fora dele) procurou demonstrar direitos reais do duquede Bragança. Se o trono jamais estivera vago de direito, em 1580ou 1640, não havia razões para eleição em cortes, o que retiravaao povo a importância que teria, fosse o trono declarado vago.Todo o reinado (1640-56) foi orientado por prioridades. Primeiro, a re-organização do aparelho militar, reparação de fortalezas das linhasdefensivas fronteiriças, fortalecimento das guarnições e obtenção dereforços no estrangeiro. Paralelamente, a intensa atividade diplomáticanas cortes da Europa, para obter apoio militar e financeiro, negociartratados de paz ou de tréguas, o reconhecimento da Restauração, e areconquista do império ultramarino. A nível interno, a estabilidade de-pendeu, do aniquilamento de toda a dissensão a favor de Espanha.A guerra da Restauração mobilizou todos os esforços e absorveuenormes somas. Pior, impediu o governo de conceder ajuda às ata-cadas possessões ultramarinas. Mas, se o cerne do Império, na Ásia,foi sacrificado, salvou a Metrópole da ocupação espanhola.155ChrónicAçores:Portugal não dispunha de exército moderno, as forças terrestresescassas na fronteira, as coudelarias extintas e os melhores generaislutavam pela Espanha na Europa. Isto explica por que motivo a guerra se limitou a operações fronteiriças de pouca envergadura.Do lado espanhol, a Guerra dos Trinta Anos (até 1659) e a questãoda Catalunha (até 1652) atrasavam ofensivas de vulto. A guerra, que seprolongou por 28 anos, teve altos e baixos até se assinar o Tratado deLisboa,1668, entre Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, emque este reconhece a independência do nosso País. (Adaptado deOliveira Marques, “A Restauração e suas Consequências”, in História dePortugal, vol. II, Lisboa, ed. Presença, 1998, pp. 176-201).Hoje anda muita gente com passaporte português a celebrar o 1ºde dezembro como desastre ou deplorável evento. Esquecem que setratou da reconquista da liberdade do povo e da nação subjugadapelo poder dinástico dos Filipes de Castela. Mais vale um povopobre e livre do que rico na gaiola dourada com as cores do reinode Espanha. Assim o dizem os galegos que se acercam das origensportuguesas preservando a língua e cultura comuns. A memória doshomens é curta e ninguém sabe nem evoca o jovem Miguel da Paz(n. 1499) que seria Rei de Portugal e de Espanha se não morresseaos dois anos. Infelizmente morreu e este “se” é desconhecido dosportugueses, clamem ou não pelo regresso ao trono espanhol.São deveras interessantes os “pequenos detalhes” que determinamo curso da História e que vieram legalizar de pleno direito a sucessão deFilipe II ao trono de Portugal em 1580, por morte sem descendência doherdeiro varão, cardeal D. Henrique (68 anos), 9º filho do rei D. Manuel IA candidatura de Filipe era fortíssima e indiscutível e resultava do ca-samento da filha terceira de D. Manuel I, com Carlos V (I de Espanha),pais de Filipe I de Portugal (II de Espanha). Paradoxalmente, antes dacandidatura de Filipe ao trono, a situação poderia ter sido invertida,unificando as coroas ibéricas “para o lado português”. Em 1499, foraproclamado herdeiro das coroas de Portugal e de Espanha, Miguel daPaz, primeiro filho de D. Manuel I com Isabel, filha dos Reis Católicos.Azar dos portugueses ou conspiração castelhana, morreu com 2 anos.Por estas e outras razões os portugueses serão sempre saudosistas,dos espanhóis, de Salazar e do sonho chamado 25 de abril.in CHRÓNICAÇORES UMA CIRCUM-NAVEGAÇÃO POR J CHRYS CHRYSTELLO ED CALENDÁRIO DE LETRAS 2011156J. Chrys Chrystello— Quem garante que Portugal estaria melhor como província espa-nhola do que independente? (Os galegos dizem que não)— Quem garante que não seria Portugal uma célula independentista,tipo ETA, (aliada ou não à Galiza)?E se fosse ao contrário e o Reino de Espanha fosse uma provínciade Portugal? Que aconteceria aos Bourbon? Só tinham utilidade nosEUA. Lá emborcam todos os Bourbon que encontram. Infelizmente,aqui ao lado, entronizam-nos e chamam-lhes Reis.Malaca povos cruzados
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NOTICIA PUBLICADA PELO CLUBE RAIZES
Malaca 500 anos – Portugal ao longe | Clube Raízes
Malaca 500 anos – Portugal ao longe
Posted on Novembro 20, 2011 by clube11raizes(Photography by: Antony D’Cruz)
Comemoram-se este ano os 500 anos da conquista da cidade – entreposto comercial – de Malaca,na Malásia, pelas forças portuguesas, comandadas por Afonso de Albuquerque.Malaca, do outro lado do mundo, no continente asiático, apesar da grande distância a que se encontra de Portugal,mantém uma comunidade de origem portuguesa que tenta manter vivas as raízes lá deixadas desde o século XVI.É grande o amor que esta comunidade nutre por Portugal, traduzido na manutenção dos nomes portugueses,comuns na maior parte destas famílias, e de mostrar aos outros, através das canções e das danças de influência lusa,da prática do catolicismo, da transmissão familiar da língua portuguesa localmente falada, preservada desde o tempode Albuquerque. A origem portuguesa é, para esta comunidade, um orgulho que pretendem manter. Ascomemorações tiveram o seu ponto alto nos finais de Outubro, com atividades diversas onde prevaleceu a ligaçãohistórica, cultural e religiosa a Portugal. Nelas esteve presente o Cónego António Rego, que além de participar namissa, ofereceu à comunidade uma imagem da padroeira de Portugal, Nossa Senhora da Conceição. Reproduzimosaqui as palavras de António Rego sobre a sua participação nas comemorações em Malaca, publicadas no site da AgênciaEcclesia e também no semanário figueirense ”O Dever”, de 10 de novembro.Portugal ao longe
Mesmo sem se entender a língua, ou falando um português do tempo de Afonso de Albuquerque, há
um povo que aí encontra a sua identidade, a venera, reza e ama com um enternecimento comovedor
solavancos, chegar a um lugar, ver uma pequena fortaleza, dois barquinhos a percorrer a cidade como se fossem duasimagens de santos, os jovens numa correria para os acompanharem, alguns mais tisnados, junto ao mar a cantar melodiasportuguesas tão distantes do original nas palavras como nas melodias, as casas marcadas por uma cruz, o bairro conhecidotanto como português, como cristão, faz, a quem chega, ainda que não seja pela primeira vez, estremecer de emoção poro povo a que pertence ser o mesmo que ali vive naquele bairro simples de pescadores. Não sabem o nome do presidenteda República nem do Cardeal-Patriarca de Lisboa, mas sentem-se transportados a uma origem que sendo, para umrecém-chegado igual ao resto do povo de Malaca, traz um registo indefinido de fé e portugalidade próximos e naturais sema mais pequena discussão sobre o laicismo, separação de poderes, profano e sagrado, passado e presente. Sabe-se que,mesmo sem se entender a língua, ou falando um português do tempo de Afonso de Albuquerque, há um povo que aíencontra a sua identidade, a venera, reza e ama com um enternecimento comovedor. Expliquei que a imagem de NossaSenhora de Fátima é a mais conhecida do mundo. Mas a que os portugueses agora lhes ofereceram é de Nossa Senhorada Conceição, foi coroada por um rei português e é a nossa padroeira. Foi um grupo de quinze jovens portugueses doensino superior que levou o bandolim, a guitarra, o traje, a voz, um sorriso doce com um imenso respeito e dignidade,que acordou no coração dos presentes não apenas uma casa portuguesa, mas um povo lá dentro, com uma identidadepara além do fado. “Aqui sou mais do que eu”, diria Pessoa. E nada disto foi de organização burocrática. Aconteceu pelasensibilidade de quem cá passou e se apercebeu que por vezes, quanto mais longe se está mais se ama Portugal. E a féque o integrou e integra, mudados os tempos e as vontades.António Rego
Para ver no original clique em:
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Clube de Divulgação e Defesa do Património
AICL REPUDIA EXCLUSÃO DA AGLP NA CPLP
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CONCLUSÕES DO XVI COLÓQUIO DA LUSOFONIA OUTUBRO 2011 SANTA MARIA
…4. Foi emitido um comunicado sobre a vergonhosa exclusão da AGLP após a CPLP ter aprovado em comunicado a sua inclusão com o estatuto de observadora. (anexo).AICL REPUDIA EXCLUSÃO DA AGLP NA CPLP1. BREVE HISTORIALEXTRATO DAS CONCLUSÕES – XIII COLÓQUIO ANUAL DA LUSOFONIA “AÇORIANÓPOLIS” EM FLORIANÓPOLIS, SANTA CATARINA, BRASIL 26 março a 11 de abril 2010Os Colóquios da Lusofonia lançaram o repto à Academia Brasileira de Letras, à Academia das Ciências de Lisboa e a todas as entidades que apoiem a imediata inclusão da AGLP – ACADEMIA GALEGA DA LÍNGUA PORTUGUESA – com o estatuto de observador na CPLP, e comprometeram-se a envidar todos os esforços para a consecução de tal desiderato.Concha Rousia comprometeu-se a enviar à CPLP os objetivos da Academia Galega para fundamentar o seu pedido de adesão com o apoio da sociedade civil aqui representada pelos Colóquios da Lusofonia, salientando que Goa e Galiza fazem falta à CPLP e que seria profícuo vir a criar um canal de televisão lusófono abrangendo todos os países, mas que seria necessária muita vontade política para tal se concretizar.ESTE PONTO FOI REITERADO NAS CONCLUSÕES DO XIV COLÓQUIO ANUAL DA LUSOFONIA DE Bragança EM OUTUBRO 2010.Pareciam bem encaminhadas as negociações resultantes do repto que os Colóquios da Lusofonia lançaram à Academia Brasileira de Letras e a todas as outras entidades para apoiarem a imediata inclusão da ACADEMIA GALEGA DA LÍNGUA PORTUGUESA com o estatuto de observador na CPLP até dia 22 de julho quando a CPLP anunciou a admissão da AGLP sob proposta do país anfitrião (Angola). A mesma admissão surpreendentemente foi retirada da página oficial da CPLP umas horas depois sem qualquer explicação, pelo que as celebrações de júbilo na Galiza e no resto do mundo duraram apenas oito horas. Veio, posteriormente a saber-se que fora Portugal que sempre apoiara esta proposta da AGLP integrar a CPLP com o estatuto de observador fora vetada no último momento por Portugal. A AICL em concertação com o MIL Movimento Internacional Lusófono de que faz parte tomou algumas medidas sendo a mais visível a da Petição ao Ministro dos Estrangeiros de Portugal Dr Paulo Portas:Preâmbulo:Temos apreciado a importância que tem dado às relações com os restantes países lusófonos, numa aparente reorientação estratégica de Portugal que o MIL sempre defendeu, dado o seu Horizonte ser, precisamente, o reforço dos laços entre os países e regiões do espaço da lusofonia – no plano cultural, mas também social, económico e político.Esta carta prende-se, tão-só, com a posição de Portugal relativamente à Galiza, a nosso ver uma dessas regiões integrantes do espaço lusófono – daí a nossa reiterada defesa da sua especificidade linguística e cultural. Com efeito, no Conselho de Ministros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, na sua XVI reunião, realizada em Luanda no passado dia 22 de Julho, soubemos que Portugal foi o único país a não apoiar a concessão da categoria de Observador Consultivo à Fundação Academia Galega da Língua Portuguesa, entidade que, como sabe, tem já um histórico muito apreciável, tendo sido por isso reconhecida para nossa Academia das Ciências, sendo ainda membro do Conselho das Academias de Língua Portuguesa.Petição:Ainda mais recentemente, também soubemos que o novo Governo Português tem expressado as suas dúvidas sobre a presença de observadores da Galiza no Instituto Internacional de Língua Portuguesa, assim como pela inclusão do seu Léxico no Vocabulário Ortográfico Comum que está a ser preparado por essa instituição, quando é sabido que uma Delegação de Observadores da Galiza participou nesse processo desde o princípio.Face a isto, perguntamos apenas até que ponto houve uma inflexão da posição do Estado Português relativamente à Galiza, já que, desde que foi apresentada a candidatura da Fundação Academia Galega da Língua Portuguesa, Portugal sempre deu o seu apoio expresso a essa candidatura nos diversos órgãos da CPLP. Muito cordialmenteMIL: Movimento Internacional Lusófono www.movimentolusofono.org****3. AICL REPUDIA EXCLUSÃO DA AGLPNa ilha de Santa Maria, em Vila do Porto entre 30 de setembro e 5 de outubro, o XVI Colóquio da Lusofonia aprovou uma declaração de repúdio pela atitude de PORTUGAL OLVIDANDO SÉCULOS DE HISTÓRIA COMUM DA LÍNGUA, AO EXCLUIR A GALIZA – REPRESENTADA PELA AGLP – DO SEIO DAS COMUNIDADES DE FALA LUSÓFONA.A GALIZA ESTEVE SEMPRE REPRESENTADA DESDE 1986 EM TODAS AS REUNIÕES RELATIVAS AO NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO E O SEU LÉXICO ESTÁ JÁ INTEGRADO EM VÁRIOS DICIONÁRIOS E CORRETORES ORTOGRÁFICOS.A SUA EXCLUSÃO À ÚLTIMA HORA DO SEIO DA CPLP REPRESENTA UM GRAVE ERRO HISTÓRICO, POLÍTICO E LINGUÍSTICO QUE URGE CORRIGIR URGENTEMENTE.A AICL entende que não faz sentido aceitar como observadores países sem afinidades diretas ou indiretas à Lusofonia, a Portugal e sua língua e deixar de fora a região onde nasceu a língua portuguesa há mais de dez séculos.É um crime de lesa língua de todos nós.A Língua que se fala na Galiza é uma variante do Português como a do Brasil, Angola, Moçambique e tantas outras, com a peculiaridade de ter sido o berço da mesma língua comum, e jamais houve exclusão por parte da CPLP das regiões lusofalantes do mundo.Trata-se de uma medida obviamente ditada por preconceitos políticos e contra a qual a AICL se manifesta veementemente não só apoiando a subscrição da Petição como encorajando todos os seus associados e participantes nas suas iniciativas a protestarem publicamente contra esta injustiça feita à língua portuguesa e à AGLP.Iremos manifestar o nosso desacordo de todas as formas possíveis e ao nosso alcance até ver reposta a equidade da proposta de admissão da Galiza através da AGLP no seio da CPLP.ass. Chrys Chrystello, Presidente da Direção da AICLVILA DO PORTO, 5 DE OUTUBRO 2011J. CHRYS CHRYSTELLO, Presidente da Direção,COLÓQUIOS DA LUSOFONIA (AICL, Associação [Internacional] Colóquios da Lusofonia) – NIPC 509663133O amor da ilha em Daniel de Sá
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CulturaO amor da ilha
em Daniel de SáFalo hoje aqui de Daniel de Sá, um escritor e um amigo, cuja obra comecei a traduzir antes de o ler, de ser amigo, antes mesmo de saber a cor e o cheiro dos seus lugares de infância e de calcorrear as ruínas onde habitou e das quais se serviu para essa obra que é o “O Pastor das Casas Mortas”.
Nesse livro e no plano da linguagem, o autor (ed. VerAçor 2007) dá-se ao luxo de exportar, por efeitos de mimética, para uma das regiões mais interiores e montanhosas de Portugal, a Beira Alta, o seu herói em busca de um amor perdido no léxico e na sintaxe dos velhos montes escalavrados por entre o pastoreio numa verdadeira apologia da solidão física e mental que é o retrato de Manuel Cordovão, esse lusitano de um amor só para toda a vida.
Como o autor diz, a começar, trata-se de um livro dedicado “Às mulheres e aos homens que ainda acendem o lume nas últimas aldeias de Portugal.”
Mas não é da Beira que se fala, nem do pastor, nem das casas, é sobretudo das memórias guardadas na infância de casas onde o autor viveu e construiu, lentamente, uma teia de imagens, sentimentos e de princípios que nortearam a sua vida.
Só conhecendo as suas ruínas, as pedras que foram casas, os campos que foram pastos e hoje perderam o cheiro, nos podemos vangloriar de entender a sua escrita mariense que sempre o marcou apesar de ter passado a maior parte da sua vida na micaelense Maia.
A narrativa utilizando terminologia neutra (i.e. não insular) acaba por poder ser lida como uma ode ao açoriano isolado, de si e do mundo, neste amor perdido que se encontra apenas quando Caronte ronda.
Como diz o autor, “Embora eu vivesse numa ilha pequenina, a cinco minutos de um passeio calmo até ao aeroporto de quase todas as companhias aéreas que havia no Mundo, isso para o caso pouco importa!
Aliás esta transposição da naturalidade geográfica do personagem deixa-nos permanentemente na dúvida se a Teresa do “Pastor” não será irmã gémea da outra personagem feminina que acompanha os seus passos numa digressão do livro “Santa Maria: a Ilha-Mãe”. Em ambas, “as palavras [são] tratadas suavemente, amenizando as arestas da fonética, como se com elas não pudesse nunca ofender-se alguém.”
Trata-se de uma visita não ao “despovoamento das ilhas” mas ao despovoamento do país real, montanhoso, interior e árduo de Portugal. Aqui não se resgata o imaginário coletivo naquilo que tem de mais genuíno e identificador, antes pelo contrário, se dá a palavra a uma erudição improvável de um apascentador de cabras.
Aqui não há a memória plural, que vem de Gaspar Frutuoso, mas sim uma ficcionalização dum fenómeno que não se mimetiza apenas nesta digressão pela Beira Alta.
As Casas Mortas são-nos apresentadas como um resultado inevitável e inelutável ao longo da vida do personagem principal, sem que a sátira ou o humor permeiem a couraça de convicções de Manuel Cordovão.
Existe uma interdependência do autor, dos personagens e do leitor que nos levou a ver e rever dezenas de vezes, uma só passagem do livro para lhe darmos o tom, o colorido, a sonoridade e a poesia das prosas. De início pensei que seria ocasião única, mas rapidamente me apercebi de que era recorrente à totalidade da obra ficcionada.
O resultado é uma prosa rica, densa e tensa, enovelando em diálogos simples e curtos um enredo que nos prende da primeira à última página e me levou a interrogar como é que fiquei órfão intelectual desde que acabei de traduzir o livro. As suas personagens e a sua escrita fazem de tal modo parte da minha vida que sinto uma espécie de síndroma de Estocolmo, fiquei cativo e apaixonei-me pelos captores… E agora, como vai ser?
Já o outro livro intitulado “Santa Maria Ilha-Mãe” (também editado pela VerAçor em 2007) é uma viagem ao passado, permeada de nostalgia quase lírica e pela magia da infância e das suas cores simples mas bem nítidas.
Fala-se de como os Açores conviveram com o isolamento ao longo dos séculos, dos ataques de piratas, uma ameaça constante a inculcar ainda mais vincadamente as crenças de origem religiosa — numa ilha que felizmente não foi muito assolada por terramotos nem explosões piroclásticas. Essa mundividência, leva-nos naquilo que pode ser considerado o mais interessante guia ou roteiro turístico jamais escrito.
O próprio título gerou controvérsia, quer na versão portuguesa quer inglesa (Santa Maria: Ilha-Mãe; Santa Maria, Island Mother”, ou como o próprio autor notaria: “Não se trata de “mãe” com valor de adjetivo, mas sim de dois substantivos, tanto mais que os liguei com hífen em Português. Como bem entendeu, uma ilha que é mãe também. Não é o caso de Ilha Verde, por exemplo…”
Diz-nos Daniel de Sá: “O Clube Asas do Atlântico era um dos meus quatro lugares míticos. Os outros três, também sagrado um deles, eram a capela de Nossa Senhora do Ar, o Externato e o Atlântida Cine. Ainda hoje recordo exatamente o seu cheiro” e todos nós – ao lê-lo – sentimos com ele, os cheiros, as cores e as toadas que nos descreve.
Estes dois livros pertencem a um mesmo tempo, em que “falar do passado açoriano é, também, falar do seu presente, e referir-se ao presente é remeter inapelavelmente ao passado, o que mostra a unidade e a solidez de propósitos do livro”, como diria Assis Brasil, referindo-se ao notável e quase único traço constante de profundo humanismo que informa os textos.
Todas as suas personagens, são de tal forma credíveis que nos sentimos transportados ao local e vivemos partilhando os sentimentos dos interlocutores.
Como magistralmente disse a escritora canadiana Ann-Marie MacDonald, “A tradução, tal como a escrita, é uma arte e uma maestria, com um toque de alquimia. Quando o autor e o tradutor se reúnem, o resultado pode ser inspirador. As nuances traduzem a língua numa forma de arte. (1)
E a este respeito escrevia o autor em 2/9/2010:
Emocionei-me mesmo, corisco adotivo dum raio. Eu sabia que facilmente descobririas a casa da Ribeira do Engenho bem como, mais facilmente ainda, as ruínas da casa do pastor de ovelhas, de cabras e de vacas. Aquela casinha da Ribeira do Engenho mantém-se tal e qual era há sessenta anos, quando nos mudámos para a de Santana, a tal que nunca tinha sido chamada casa antes de lá morarmos.
Um forte abraço, comovido.
DanielPara, mais tarde nessa data, acrescentar:
Apesar de tudo, tenho saudades daquelas pedras. Elas não tinham culpa de não terem qualquer nobreza. Nós demos-lhes a possível. De caráter, claro.
Obrigado. Obrigado.
Um forte par de abraços.Bastaram as fotos que eu tirara em Santa Maria às “ruínas do Daniel”, como lhes chamei para provocar uma avalancha de recordações que vinham à tona como se tivessem ocorrido na véspera:
2010/10/9, daniel.de.sa
Ana, a Sr.ª Francelina e a Almerinda! Meu Deus, como me lembro bem delas! Pois é, e além daquilo tudo ainda cabia a máquina de costura! O que valia é que as mãos de minha Mãe eram tão pequeninas que quase não ocupavam espaço. Mas olha que eram mãos de fada, lá isso eram. Iam várias senhoras do Aeroporto lá a casa à costura. E havia raparigas que iam aprender. Aquele retangulozinho dava para tantas coisas e tanta gente! Até se dançava pelas festas principais do ano. E pendurava-se o porco ou deixava-se a carne em alguidares pelo chão, vigiada pela Durana (a cadela que se tornou uma lenda, como tu mesma pudeste constatar naquela conversa com um senhor antes da missa). Havia senhoras com o corpo assim mais para o menos bem feito que gostavam muito do trabalho de minha Mãe, que lhes ajustava o tecido ao corpo como se elas fossem manequins. Quando meu Pai morreu, tínhamos uns blocos de cimento que tinham sido feitos nos Anjos e estavam postos a secar no murinho do adro da ermida. A minha irmã ia comigo todos os dias regá-los para não racharem. E ninguém os roubou nunca! Eram para fazer uma casita, que a Câmara tinha autorizado usar os terrenos baldios em frente aos nossos pastos, numa parte larga da canada. Vendemo-los e serviram para pagar a renda desse ano ao “menino” José António Arruda. A dívida corrente de uma mercearia, nas Pedras de Santo Antão, ficou por pagar. Só a pude pagar cinco anos mais tarde. (Lembra-te de que vim só com o 4º ano.) Pedi a um compadre meu que passasse por lá, a perguntar quanto era a dívida, que eu iria em breve na minha primeira visita de saudade e queria pagá-la. Eram 900$00. O dono da loja, que nunca imaginara poder receber aquele dinheiro, disse ao meu compadre: “Ainda há gente séria neste mundo!” Graças a Deus, não éramos dos piores… Mas que estou para aqui a dizer? Esta conversa não interessa a ninguém, só a mim e às minhas saudades. Culpa do Chrys, que me trouxe para aqui estas coisas memoráveis.
Abraços.
DanielEm 10 Outubro de 2010, o autor voltava à carga emocional que as fotos das ruínas da sua velha casa em Santa Maria lhe inspiravam:
Vou falar só mais um pouco a propósito das fotografias do Chrys. Só lhes falta o cheiro. Foi precisamente do cheiro que mais falta senti, quando no verão de 2009 fui a Santa Maria depois de dezanove anos sem lá ter posto os pés.
Os nossos pastos, sobretudo à volta da casa, eram amarelos e azuis da macela e do poejo. No resto a paisagem estava cheia de murta, giesta
ou juncos.Arrotearam tudo. Ficou nem pasto nem jardim. Já não cheira. No Aeroporto, dos velhos cheiros, nada. Só um arzinho dele na casa da Ana [Loura]. A capela de Nossa Senhora do Ar ardeu, e foi substituída por aquela, muito parecida, mas de cimento. Resistiu a torre, que é de pedra, como pudestes ver. Meu Pai trabalhou na sua construção. Chegou a levar às costas uma pedra de duzentos quilos, que está lá, com certeza. Foi no alto daquela torre que meu Pai me mostrou (a única vez que o fez) que ficara muito satisfeito com uma classificação minha. Só confessava a sua satisfação às escondidas, a minha Mãe. Creio que o dizia aos amigos. Ele pedira-me para eu ir fazer qualquer trabalho relacionado com as vacas. Eu tinha de estudar, porque ia haver chamadas orais de Francês, mas disse que não fazia mal, havia de me desenrascar. Meu Pai, que chegou a dizer que então iria ele, estava tão cansado que aceitou que eu fosse. No outro dia fui ter com ele ao cimo da torre, e perguntou-me de imediato: \”E então?\” Eu respondi: “Tive quinze.” Beijou-me, muito contente.
Aquelas silvas, em primeiro plano nas fotos das ruínas da casa, davam umas amoras diferentes de todas as que conheço. Embora gradas, não eram tão doces como as outras, e tinham uma pelica branca, muito
ligeira, a cobri-las em parte. Em buracos das pedras daqueles muros as abelhas selvagens construíam uns favos em barro (dois ou quatro) onde faziam um mel castanho, muito escuro, depositando um ovo em cada favo.
Eu ia muitas vezes, mais um amigo da minha idade, à procura desses favos, a que chamávamos casulos. Abríamo-los com um espeto e chupávamos o mel trazido na ponta do próprio espeto. Esta espécie de abelhas é tão rara que o Dr. Virgílio Vieira, biólogo, que estuda esse tipo de bicharada cá nos Açores, nunca tinha ouvido falar delas.As matas do Aeroporto perderam o cheiro também. As árvores cresceram muito e são muito menos do que antigamente. O hotel também ardeu, não poderia cheirar como antes. O Clube Asas do Atlântico envelheceu tanto que lhe fizeram uns transplantes, pondo cimento onde havia madeira. Pronto, não se fala mais nisso. Eu teria praticamente uma história para cada foto, já disse. Mas poupo-vos.
Abraços.
Daniel
10 outubro 2010Para se entender esta relação umbilical nunca cortada entre o autor e a ilha nada melhor do que um texto do Daniel intitulado:
Santa Maria, uma declaração de amor
Considero-me um privilegiado quando me chamam mariense. Porque, como filho destas ilhas, tenho a sorte de ter pai e mãe. Foi meu pai São Miguel, minha mãe, Santa Maria. E, se pode ter-se dupla nacionalidade, por certo que poderá ter-se dupla “insularidade”.
Sou mariense, sim, e julgo que de pleno direito. Cagarro e santaneiro. O que foi outro privilégio, ter vivido em Santana. Mais de oito anos, depois de quatro por São Pedro, na casa do Sr. Armando Monteiro, e seis meses na Ribeira do Engenho, numa casinha que era toda ao pé da porta e tinha o telhado à altura do caminho.
De São Miguel saí ainda de cabelos compridos, de que guardo uma vaga memória mas somente do dia em que mos cortaram, já em São Pedro. Antes disso, e da ilha onde fui gerado e onde nasci, só sei o que me contava minha mãe. Tempo esse em que uma criança de dois anos podia andar pelas ruas e ir até longe, no longe relativo do tamanho do corpo, sem deixar preocupado quem quer que fosse. Palmo e meio de pernas bastava para fugir facilmente das rodas de uma carroça ou de um carro de bois.
Muito cedo comecei a ser aluno da vida, em Santa Maria. Que belas lições recebi! Recordo a sabedoria de um povo a quem vi cavar um poço antes do tempo da sede. Aprendi a sua bondade em coisas tão simples como aquelas grandes pedras, postas ao alto à semelhança de pequenos menires, onde o gado ia roçar-se placidamente. A minha definição como pessoa começou a fazer-se com estes e com outros ensinamentos casuais ou espontâneos, sem pedagogia diplomada.
Pode parecer um contrassenso considerar um privilégio ter vivido em Santana, porque aquela era uma das aldeias mais rurais de Portugal. Nem havia sequer uma canada razoável que lhe fosse caminho. A que existia servia, em parte, como leito de uma ribeira, onde aflorava a rocha irregular posta a descoberto pela erosão. Durante séculos, foi a única via que levava a Vila do Porto. Maior isolamento do que aquele é difícil de imaginar. Ainda assim, em Santana nasceram e viveram pessoas de grande valor humano e social. Prodígios da superação.
De súbito, tudo mudou em 1945. Em Santana propriamente não, porque ela ficou imutável na sua rústica ancestralidade. Mas, mesmo ali ao lado, fora feito um aeroporto para ser um dos melhores e mais concorridos do Mundo. A Vila deixou de ser a principal referência, porque até na religião os de Santana se tornaram como que paroquianos da capela de Nossa Senhora do Ar, que antes fora lugar de culto de protestantes, católicos e judeus. Ia-se e vinha-se usando atalhos desenhados por milhões de passadas, cortados aqui e ali por muros que era preciso saltar. A aldeia isolada ficara a poucos minutos de um mundo novo e impensável. Mas aquela gente recebeu-o quase com a mesma naturalidade com que via nascer o Sol todos os dias, o Sol que gretava o solo árido no verão, depois de secos os lameiros do inverno. Aquela gente, que resistira à angústia da fome, numa penúria humilhante e indigna da condição humana. Como um pouco por toda a ilha, aliás. Mas que manteve uma dignidade bíblica, porque a dignidade é um estado de espírito mais do que uma afirmação social.
A nossa casa nunca fora chamada casa antes de lá morarmos. E, nesse tempo, era um absurdo pensar que quem tivesse menos de dezasseis anos não podia trabalhar. Não o proibia a lei, e a isso obrigava a necessidade de as mães não terem falta do que pôr na mesa à hora de comer. Apesar disso, não lamento nada da minha infância.
Fui pastor de cabras, de ovelhas e de vacas. Cavalguei em pelo e sem esporas nem freio, como os índios. Nunca ninguém me ensinou a ter medo do dia nem da noite. Fui cowboy ou índio na mata de Monserrate e nas do Aeroporto. Mas não estraguei nenhuma árvore, nem os meus companheiros de aventuras. Contei histórias ao meu amigo Elias, e contava-me ele outra por cada uma das minhas. Matávamos o menor número possível de personagens, quer fossem índios ou bandidos. Apenas o essencial para haver vencedores e vencidos.
Entretanto, ia aprendendo em livros ou num quadro preto. Primeiro na escola de Santana. Com a D. Eduarda na 1ª classe, a D. Doroteia, na 2.ª, a D. Úrsula, na 3.ª, a D. Francisca, na 4.ª. Continuam a ser das minhas heroínas preferidas. Fizeram o milagre de me ensinar a ler, de explicar que povo somos e a que terra pertencemos. Depois veio o Externato. Juntei à minha lista de heróis e de heroínas mais uns quantos predestinados para o bem e a sabedoria. Passei a pertencer também à geração do Cavaleiro Andante, sem dúvida a mais prodigiosa publicação juvenil que houve em Portugal. Não tínhamos dinheiro para livros nem revistas, por isso era o José Guilherme Correia que mo emprestava sempre. E alguns livros também, como o José Vieira Souto Martins, um amigo de que nada sei há meio século. Foi assim que pude ler Emílio Salgari, Mark Twain ou Enid Blyton.
E havia o Clube Asas do Atlântico. O Asas! Nunca ninguém me pôs na rua nem mostrou desagrado pela minha presença. Nem imaginavam o bem que me estavam fazendo. Ali ouvíamos os relatos do futebol e do hóquei das nossas alegrias patrióticas. Era onde eu tinha à disposição os principais jornais que se publicavam em Portugal. Um dos mais bem escritos era A Bola, e por isso, ao mesmo tempo que a rivalidade entre o Sporting e o Benfica era um dos principais fatores de unidade dos Portugueses, o desporto, contado naquele jornal que mudou tanto que se pode considerar extinto, era também uma lição de cultura.
Não longe, o campo dos jogos épicos do futebol romântico de dois defesas, três médios e cinco avançados. Com o mítico Badjana a dar os últimos pontapés na bola, jogando pela equipa da Direção do Serviço de Obras, onde meu pai trabalhava. Depois veio outro clube, o de Gonçalo Velho, para o qual minha mãe e minha irmã bordaram os primeiros emblemas.
No entanto, a alegria suprema tinha lugar reservado no Atlântida Cine. O seu porteiro deixava muitas vezes as crianças entrarem sem pagar bilhete. Por isso o Sr. Cardoso faz parte da minha lista de heróis particulares. E o grito “ó Cardoso, apaga a luz” ainda ecoa nas minhas recordações como o anúncio de todas as claridades. Outro benfeitor de homens a haver.
Na capela de Nossa Senhora do Ar aprendi o lado mais humano da vida. Aquele que pensa acima de tudo no que nos distingue dos irracionais. Se é certo que sem uma fé sobrenatural se pode ser boa pessoa, o cristianismo à maneira do Padre Artur é o testemunho do bem na Terra.
Mas qualquer pedaço de mundo vale pelo que vale a sua gente. A do meu tempo era feita destas e de outras figuras que marcaram o modo de ser de um tempo e de uma geração em que havia na ilha mais forasteiros do que naturais dela. Sorte nossa que a maior parte dos que em Santa Maria buscaram um pouco mais de fortuna ou um pouco menos de infortúnio eram pessoas de deixar saudades. Por isso o re-encontro com velhos pioneiros dos tempos modernos da Ilha de Gonçalo Velho é sempre um momento de festa que dificilmente tem semelhança quando as amizades foram feitas por outras bandas.
O próprio aeroporto, começado a construir durante a guerra, acabou por ser um lugar de passagem para a paz. Se, em 1918, Franklin Delano Roosevelt escolheu Ponta Delgada para apoio ao transporte de tropas a caminho da Europa, por aquelas pistas passaram sobretudo soldados de regresso a casa. O nome de código da operação, “Green Project”, era ele mesmo uma declaração de esperança numa nova era.
Foi neste ambiente, um dos espaços nacionais onde mais se concentravam pessoas com ensino superior ou com uma cultura acima da média, que começou a germinar a minha vontade de fazer das palavras escritas um uso para além da obrigação de alguma carta familiar. Sem Santa Maria, sobretudo sem o seu Externato, eu teria ficado pela 4.ª classe, tal como todos os rapazes que nasceram na Maia, em São Miguel, no mesmo ano que eu. Por um desses acasos que são difíceis de explicar, cresci logo nos primeiros anos de vida com uma curiosidade sem limites.
Um dia, ainda antes de completar seis anos, perguntei a meu pai como é que se faziam versos. Ele era um improvisador de quadras e de histórias como poucos conheci na vida. Chegou a fazer o negócio de uma burra cantando ao desafio. E, nos intervalos do almoço, contava casos a homens da sua idade, mas tão interessados como crianças. Vi muitos filmes pelos seus olhos, ou ouvi-os da sua boca. Ele levou a sério a minha pergunta sobre poesia, e respondeu como se deve sempre responder a uma criança: dizendo a verdade das coisas como se se falasse ao adulto que a criança será um dia. Logo a seguir exercitei o meu novo conhecimento cantando para uma vizinha da minha idade, de que só guardo a memória de uns longos caracóis loiros. Sei que começava assim, esse que foi em rigor o meu primeiro poema: “Sou Daniel/ da ilha de São Miguel”.
Era, sim, com a sorte de ser da Ilha-Mãe também. E nela vivia então um poeta que fez parte do meu imaginário, e de quem eu muito quis ser imitador: Lopes de Araújo. Não tive a sorte de ser seu aluno, mas a ânsia de alcançar um estatuto semelhante ao seu foi talvez o maior impulso que me levou a dedicar-me à escrita.
Mas Santa Maria veio a ser para mim cenário de drama também. Numa certa manhã, os responsáveis pela Direção do Serviço de Obras estavam reunidos para despedir pessoal. O critério escolhido foi o de optar pelos trabalhadores com menos filhos. O nome do meu pai foi um dos primeiros a serem falados, porque éramos só minha irmã e eu. Minha irmã não estudara porque as propinas equivaliam a um terço do ordenado de meu pai. Que levou um ano a decidir se eu deveria frequentar ou não o Externato. Acabou por resolver-se pela positiva, e eu revi a gramática da 4.ª classe, feita um ano antes, estudando-a enquanto vigiava as vacas. Valeu-nos que nunca paguei propinas no colégio, como chamávamos ao Externato.
O Miguel Côrte-Real, esse homem da linhagem dos primeiros povoadores e a quem Santa Maria muito deve, não concordou com a ideia, alegando que eu estudava, e que meu pai e minha mãe, costureira, se sacrificavam a trabalhar mais do que podiam para eu ter aquele privilégio. Estava a questão por decidir quando chegou um funcionário com uma notícia dramaticamente irónica. Meu pai acabara de deixar vago definitivamente o seu lugar na vida.
Este é o autor que primeiro descobri e traduzi, depois dele, viriam Cristóvão de Aguiar e Vasco Pereira da Costa e, aos três, conto-os como amigos especiais. Chegara a esta idade sem ter um autor amigo embora amigos houvesse que tivessem sido autores. Foi com eles que cresci a apreciar e a ler outros autores de matriz açoriana. Levei comigo nessa jornada muita gente, que, igualmente, se apaixonou por essa escrita singular, onde se sente a todo o instante a palavra mar.
(1) “Translation, like writing, is both art and craft, with a touch of alchemy. When translator and author actually get to meet, the result can be inspired. Nuance is what translates language into art.” Ann-Marie is a Toronto-based writer and actor. She has received accolades for her playwriting, acting and writing. Her play Goodnight Desdemona (Good Morning Juliet) won the Governor General’s Award for Drama, the Chalmers Award for Outstanding Play and the Canadian Authors’ Association Award for Drama. She won a Gemini Award for her role in the film Where the Spirit Lives and was nominated for a Genie for her role in I’ve Heard the Mermaids Singing. Her first novel, Fall On Your Knees, was published in 1995 to much critical acclaim in Canada and abroad. Her latest book, The Way the Crow Flies, was shortlisted for both the Giller Prize and Governor General’s Award.
http://www.banffcentre.ca/programs/93_words/2007/biltc/past_programs.aspxCHRYS CHRYSTELLOPresidente da Direção da AICL Colóquios da LusofoniaCidadão australiano residente na Lomba da Maia, S. Miguel, AçoresJeanne Pereira: «O galego é português e o português é galego»
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da AGAL SE TRANSCREVE
Jeanne Pereira: «O galego é português e o português é galego»
«O pequeno império deixa claro que a Galiza é unha periferia de Madrid e não uma nação com identidade própria»Sexta, 21 Outubro 2011 08:18Jeanne defende o galego como língua «extensa e útil»PGL – Jeanne Pereira, brasilega, achava estranho o galego se escrever com ortografia castelhana e pensa que temos que ter a ousadia de dizer a verdade sobre a língua da Galiza. É uma magnífica embaixadora do nosso país e da nossa língua.PGL: Jeanne Pereira é baiana. Que te motivou a vires para a Galiza e como sentiste a integração no nosso país?Jeanne Pereira: Por questões pessoais necessitava sair do Brasil. Eu já sabia que aqui havia um idioma que era parecido ao português. Por que era exatamente o que pensava por ter pesquisado algo em relação a Galiza, à sua historia, em sites de pesquisas que nada tinham a ver com a realidade do país. Lembro bem que procurei saber da realidade política, e porque esse idioma ‘parecido’ ao meu. O que me chamou a atenção foi a ortografia, achava estranho um idioma com uma escrita igual ao espanhol, principalmente porque diziam ser ‘parecido’ ao português. E pensei como é possível?PGL: Falando em integração, como foi o teu contato primeiro com o reintegracionismo?JP: Através de José Alvaredo, que foi um pessoa muito especial que no seu momento se dedicou a mostrar a verdade em relação a realidade da Galiza. Uma pessoa que foi importante para que eu pudesse chegar à realidade sociolinguística. Era interessante o que ele fazia, era uma preocupação diária, ja que colocava como página principal o site da AGAL e Vieiros. Quando eu abria o computador, estavam ali, então lia e tirava as dúvidas com ele, mesmo quando chegava em casa cansado do trabalho, nunca se negou a explicar-me e dedicar todo o tempo possível para dar-me esclarecimentos com uma paixão pela Galiza, pelo nosso idioma em comum, que me contagiava.Foi a primeira pessoa que me disse que…o português nasceu na Galiza. As dúvidas eram tiradas e muito bem esclarecidas ao ponto de me deixar mais curiosa. Inclusive a realidade política veio a través dele. O meu primeiro comentário sobre a língua foi em Vieiros, que passei a difundir a realidade do país através deste jornal.O primeiro dicionário consultado foi o Estraviz. Comecei a comentar artigos em Vieiros para chegar a outros brasileiros que não conheciam a realidade da Galiza. Aproveito para agradecer todo o apoio dado por esse grande mestre que no seu momento, como disse, foi extremamente importante para mim. Um muito obrigada Zé! Sigo adiante e com muita força valorizando tudo que aprendi.PGL: Estás a estudar galego, versão ILG-RAG, na EOI. Este formato de galego pode funcionar bem na interação com pessoas do Brasil e de Portugal?JP: Não, pela ortografia, que é espanhola, que nada tem a ver com português. É uma norma isolacionista que foi imposta pelo Estado espanhol, já que a Galiza pertence ao Estado e o governo autonômico, em vez de aproximar o galego ao português, pretende aproximá-lo ao espanhol, diluindo assim a identidade galega. É uma estratégia política do pequeno império, uma forma de colonizar a população galega, separando o nosso idioma em comum. Inclusive alguns brasileiros dizem que é um galego ‘feio’, ‘mal escrito’. É uma questão tanto da fala como da escrita. Existem vícios de linguagem que infelizmente são muito utilizados pelos/as galegos/as pela influência do espanhol, daí que os/as brasileiros/as se aproximem ao espanhol e não ao galego, já que o galego raguiano é um dialeto do espanhol, e vista como uma língua ‘misturada’ do espanhol.PGL: Não sei se sabias que nas EOI existe a figura de língua ambiental, aquelas que a priori existem na sociedade onde está inserido o centro. Na Galiza são três, galego, português e castelhano. Isto facilitou o teu dia a dia, não é?JP: Deixemos de lado esse discurso ultrapassado dito por muitos galegos de que o português se parece muito ao galego e de que um galego pode aprender português por ser parecido, e mudemos para este: que o galego é português e o português é galego. A prova é que o galego já está no dicionário da Porto Editora desde 2008 no vocabulário comum e breve nos dicionários brasileiros.A facilidade de entendimento é grande desde quando se abra a mente para isso. Para mim sempre tem sido fácil porque não importa se falam comigo em espanhol, eu falo em galego-português, estou na Galiza, e isso tenho claro. Já escutei muita gente falarem para mim “Não te entendo”. Eu respondo, “pois deveria, estamos na Galiza, a língua do meu país nasceu aqui, temos inclusive um vocabulário comum.Palavras que foram levadas daqui para o Brasil, que surgiram aqui”. Infelizmente, por questões de imposição do estado espanhol, não podemos usar a nossa língua nas traduções juramentadas. Por exemplo, um título universitário do Brasil, tem que ser traduzido ao espanhol e não à língua própria do país.PGL: No Brasil existe um desconhecimento da Galiza e da sua língua. Qual a reação média de uma pessoal do Brasil quando descobre?JP: Muitos galegos que visitam o Brasil, de férias, para estudar, os emigrantes que vivem ali uma boa parte não são vistos como galegos e sim espanhóis. Inclusive Santiago de Compostela é destino para quem está a aprender espanhol. O pequeno império deixa claro que a Galiza é unha periferia de Madrid e não uma nação com identidade própria. Escuto de muitos galegos como uma brasileira pode saber tanto da Galiza ao ponto de dizer que o português e o galego é o mesmo e que eles sendo galegos não sabem nada da realidade e alguns se aborrecem afirmando que tudo isso é uma mentira, que a história mostra claramente as diferenças nas duas línguas que é impossível serem um único idioma com variantes diferentes.Sempre cito como exemplo muitos galegos que estiveram ali no Brasil e que muitos brasileiros perguntavam de que região faziam parte, ou até mesmo de que estado. Infelizmente a realidade da Galiza ainda é desconhecida no meu país, mas faço minhas as palavras do José Carlos da Silva, que diz: “Reclamo um maior conhecimento da realidade da Galiza no Brasil”.Agora, o dia 6 de novembro estarei de volta a Salvador, mas levo comigo o compromisso de mostrar essa realidade, a de um país que possui um idioma em comum com o meu, e de que a sua língua nasceu aqui na Galiza. É com muito orgulho e muita gratidão por um país que aprendi a amar como sendo meu, um país que me acolheu, porque sempre deixo claro que fui acolhida pela Galiza e não pela Espanha, que lutarei para que esse conhecimento seja real no Brasil.PGL: Achas que existem diferenças entre a cidadania galega na sua perceção do Brasil e da lusofonia em geral?JP: Muitos galegos veem o Brasil como um destino turístico, não como um país com uma língua em comum. O Brasil ultimamente é visto por ser a sétima economia mundial e nos meios de comunicação aparece muito este facto, mais nada em relação questão da língua. O Brasil infelizmente não conhece essa realidade.PGL: Certos círculos sociais em Santiago falam da figura do(a) brasilego(a), uma pessoa que vive na nossa língua cá na Galiza frente a atitude mais habitual de desenvolver-se em castelhano no dia a dia. É exportável esta forma de viver a outras cidades?JP: Em Santiago sim, mais noutras cidades não porque a fala predominante é o espanhol. Em Santiago também depende do ambiente que frequente ou que esteja. Há lugares que inclusive falo o meu ‘baianês’ com uma rapidez como se estivesse em Salvador. Chego a mudar completamente o meu sotaque e falar com uma desenvoltura que as vezes não me dou conta que estou em Santiago.PGL: Tu segues os passos da estratégia luso-brasileira para o galego. Que tipo de táticas achas mais produtivas e quais achas que se deveriam implementar para a cidadania galega viver o galego como sendo extenso e útil?JP: Táticas temos muitas, inclusive as redes sociais, são meios de grande importância para divulgar a nossa realidade. Há que sensibilizar e ter muita valentia e ousadia no falar, na hora de dizer a verdade sobra a realidade o país, sobre o seu idioma próprio e cultura, afirmando com muita força que “Galiza não é Espanha”, e que isso fique bem claro, não tendo medo de falar a verdade em alto e bom som,para todo mundo ouvir.O incentivo a leitura dos jornais na nossa língua, dando prioridade as publicações em galego-português, também nas redes sociais. Ao invés de estarmos publicando notícias de meios espanholistas, publicarmos noticias com o nosso idioma.Aproveitar o momento político do Brasil pode ser algo importante, para mostrar que além de um país em crescimento com ofertas de emprego, para os galegos, há a vantagem de termos um idioma em comum, o que facilita muito no mercado de trabalho. A ousadia e a valentia de sempre dizer a verdade, sobre a realidade da Galiza, é importante. Já passou da hora de vencer todo esse auto-ódio que nos contamina de forma negativa, tirando a coragem e a força de muitos em falar a realidade e de lutar pelo seu país, livrando-se da colonização mental imposta pelo ‘Reino de Espanha’, por um pequeno Império fracassado, prepotente e complexado, em que infelizmente a Galiza tem sofrido por estar sendo Desgovernada por um partido que em nada representa o país, levando a Galiza ao retraso.PGL: Que visão tinhas da AGAL, que te motivou a te associares e que esperas da associação?JP: A nossa língua é extensa e útil, a nossa língua é internacional, e a AGAL cumpre perfeitamente esse papel como representante do nosso idioma, com muita seriedade e responsabilidade divulgando de forma séria o seu trabalho em prol da nossa língua e da realidade sócio-linguística do país. Levando ao conhecimento inclusive a nível internacional. Parabenizo a associação pelo grande trabalho que vem sendo realizado nesses 30 anos de existência, mostrando a internacionalidade da nossa língua em comum. Espero sempre o melhor e que esse trabalho cresça e continue recebendo todo o apoio merecido para dar continuidade a divulgação da nossa língua.PGL: Como vai ser o Brasil do futuro?JP: Espero que seja um país com menos desigualdade social, investindo em políticas sociais, fortalecendo a saúde pública como direitos de todos, com qualidade. Que o presidente ou presidenta que ali esteja, chegue a ONU, um dia no seu discurso, reivindicando e reconhecendo a liberdade e soberania de muitas nações como a Galiza.Conhecendo Jeanne Pereira
- Um sítio web: são vários, principalmente os relacionados a política e escritos no nosso idioma em comum. Por exemplo, leio todos os dias a revista Carta Maior.
- Um invento: o que traga beneficio à humanidade
- Uma música: Apesar de Você (Chico Buarque)
- Um livro: O Golpe de 64 e a Ditadura Militar, de Júlio José Chiavenato. Esse livro foi uma grande referência para mim, a nível político e um grande presente dado por meu pai, quando tinha apenas 15 anos de idade.
- Um facto histórico: a independência da Galiza
- Um prato na mesa: um caruru completo (comida baiana)
- Um desporto: Fórmula 1
- Um filme: O auto da compadecida, de Ariano Suassuna.
- Uma maravilha: a descoberta da vacina contra o vírus da Sida
- Além de brasileira: brasilega
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O termo “Machimbombo” generalizou-se em Angola (região de Luanda, sobretudo) para designar os autocarros de transportes públicos. Supunha-se que era um termo gentílico, mas afinal acabámos por constatar que é um vocábulo levado de Portugal para Angola em princípios do século XX.Veja o documento histórico abaixo. O artigo está muito bem escrito com ortografia antiga.Uma preciosidade!Machimbombo é uma palavra portuguesa que significa elevador mecânico, mas que caiu totalmente em desuso em Portugal – mas, como se refere nesta anterior resposta, de uso corrente em Angola e em Moçambique.
O que se transcreve em baixo é a história – e a morte – do antecessor do emblemático elétrico 28 de Lisboa, conforme notícia da revista Ilustração Portuguesa n.º 386, em 17 de julho de 1913. Chamava-se, então, “Machimbombo da Estrela“.
E, do que dela pelo menos parece legítimo concluir, é a comprovação de que a palavra machimbombo, provinda do inglês machine pump, já se usava em Portugal no início do século XX.