Categoria: AICL Lusofonia Chrys Nini diversos

  • ILHA DAS FLORES iNDONÉSIA

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    http://noticias.sapo.tl/portugues/lusa/artigo/17292544.html
    Descendentes do rei de Sica, nas Flores, Indonésia, querem museu para tesouro português. Os descendentes do rei de Sica, na região oriental da ilha indonésia das Flores, querem construir um museu para colocar o tesouro oferecido pelos portugueses em 1607 e vão pedir apoio a Portugal. http://observatorio-lp.sapo.pt/pt/noticias/descendentes-do-rei-de-sica-nas-flores-indonesia-querem-museu-para-tesouro-portugues

    Descendentes do rei de Sica, nas Flores, Indonésia, querem museu para tesouro português.

    Os descendentes do rei de Sica, na região oriental da ilha indonésia das Flores, querem construir um museu para colocar o tesouro oferecido pelos portugueses em 1607 e vão pedir apoio a Portugal.

     

    • Francisco Nuno Ramos O livro sobre a tradição da vila, onde existem dados sobre a história dos portugueses nas Flores e fotografias de caravelas e do folclore luso, e ainda sobre o Toja Bobu, na ilha das Flores, Indonésia, 30 de dezembro de 2013. A Toja Bobu, que para além de dança, inclui canções, com recurso a flautas e tambores, é uma representação teatral inspirada nos autos medievais portugueses que no Natal percorre a aldeia de Sica, numa espécie de Carnaval, desde a casa abandonada do rei até à casa do padre. ANDREIA NOGUEIRA / LUSA

      Sica, Ilha das Flores, Indonésia, 25 de janeiro de 2015. ANDREIA NOGUEIRA/LUSA

  • GOA – PATRIMÓNIO

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    IN DIÁLOGOS LUSÓFONOS

     

    “O património arquitectónico e artístico goês é riquíssimo”

    “O património arquitectónico e artístico goês é riquíssimo”

    1Arquitecto de profissão, o delegado da Fundação Oriente em Goa encontrou aqui um espólio cultural “fantástico”. Depois de 15 anos no Japão, onde a eficiência era a palavra de ordem, Eduardo Kol de Carvalho fala agora de “uma Ásia completamente diferente”. Da preservação do património à promoção da língua portuguesa, a delegação não tem mãos a medir.

    Inês Santinhos Gonçalves, em Goa

    – Qual é o maior desafio da Fundação Oriente em Goa?

    Eduardo Kol de Carvalho – Estamos de porta aberta desde 1995. Ao longo dos anos a situação mudou, tanto a da Fundação como a da própria Índia. Temos tido diferentes tipos de preocupações, embora algumas permaneçam desde a primeira hora, como é o caso da promoção da língua portuguesa. No início fizemos muita recuperação de património, até porque a Índia não tinha meios e equipas técnicas. Não é o caso hoje em dia, porque eles já têm as suas equipas e presentemente damos mais apoio técnico e tentamos fomentar. Quais são as principais preocupações? É manter este intercâmbio entre Portugal e a Índia, fomentar as relações culturais, trazer artistas portugueses à Índia, apoiar muito as populações locais na área cultural e promover a língua portuguesa.

    – Quais são as maiores dificuldades?

    E.K.C. – Para já, dificuldades orçamentais. A Índia deu um grande salto e o custo de vida já não é como era no passado, em que o investimento aqui era fácil, qualquer verba se traduzia em resultados palpáveis. Hoje já não é tanto assim. E a Fundação Oriente tem outros projectos, como o Museu do Oriente, e tem de prestar atenção à manutenção e promoção desse instrumento, tendo menos verbas disponíveis para a Índia. Depois, temos de ver que a Índia, e Goa, se move noutro ritmo e eventualmente é isso que nos perturba mais.

    – É a Fundação Oriente quem lidera as acções de promoção da língua portuguesa?

    E.K.C. – Não. A língua portuguesa está contemplada no programa escolar goês, é uma língua de opção a partir do 8º ano de escolaridade, é a terceira língua de opção, com o francês e o hindi. Depois, no superior, também há português. A Fundação Oriente não tem o monopólio do português no secundário, que tem os seus próprios professores, mas apoiamos muitas das outras escolas que não têm condições para manter um professor de português. Hoje em dia estamos a apoiar 848 estudantes, do 8º ao 12º ano. Temos um trabalho de cooperação muito profícuo com o Instituto Camões. Desde 2010 existe uma associação goesa de professores de português, de que também somos sócios e a quem damos apoio.

    – A Fundação Oriente organiza um concurso muito popular em Goa, o “Vem Cantar”.

    E.K.C. – Vamos para a 16ª edição, mas não foi uma iniciativa nossa, foi de um college [instituto superior] nos arredores de Margão. Era um bocadinho insipiente mas um dos meus antecessores trouxe-a para o seio da Fundação, sempre em colaboração com este college. Começámos a participar a partir da quarta edição e hoje é uma manifestação cultural em Goa, em torno da língua portuguesa. Porque realmente move a juventude e não só. Tem duas eliminatórias, uma em Pangim, outra em Margão e uma final. Inicialmente havia apenas uma prova, o que quer dizer que o número de participantes aumentou imenso. É um concurso de canção em português, com divisão entre grupos etários, dos mais miúdos até aos adultos, e também entre grupos e solos. No início ainda estavam muito presos às canções que tínhamos deixado aqui em 1961, os temas até se repetiam muito, como ‘Encosta a tua cabecinha no meu ombro e chora’. Entretanto, começámos a organizar workshops de preparação, para apresentar a canção contemporânea em português. Hoje em dia cantam Mariza, por exemplo. O fado está presente mas nem é o prato principal, há músicas de todos os tipos. No ano passado tivemos 52 solos e 33 grupos, o que é um número já fantástico. Na final conseguimos ter uma sala com mais de mil lugares cheia, durante quase cinco horas. É super popular.

    – Os participantes dominam todos os português?

    E.K.C. – Não, nem todos falam português e alguns dominam mal. Já estive em quatro concursos e já notei uma presença em palco muito diferente, estão muito mais sofisticados e estão a tomar muita atenção à forma como se apresentam.

    – É, então, um bom instrumento de promoção da língua?

    E.K.C. – Fantástico. Confesso que quando estava a preparar-me para vir para Goa, estava a ler os dossiers da delegação e vi aquilo, “Concurso da canção portuguesa ‘Vem Cantar’”, e pensei “É a primeira coisa com que vou acabar”. Parecia uma coisa muito tosca. Mas realmente é uma acção fantástica, que move imensa gente – são os participantes, os familiares, os amigos, as escolas. Não precisamos de fazer muita promoção.

    – Há cooperação entre a delegação da Fundação Oriente em Goa e a delegação em Macau?

    E.K.C. – Há diálogo mas não há muita cooperação, o ambiente de trabalho é muito diferente. Temos uma iniciativa, que vai ser agora a 7, 8 e 9 de Fevereiro, que é o Festival de Música do Monte. Tentei trazer grupos de Macau ao festival, a minha colega [Ana Paula Cleto] tentou mover mundos junto das instituições culturais em Macau, mas não se conseguiu.

    – Em que consiste o festival?

    E.K.C. – Como disse, uma das preocupações da Fundação foi a recuperação de património. O ex-libris desse trabalho foi a recuperação da Capela do Monte, que tem uma posição fantástica, uma vista linda sobre Velha Goa. É um edifício muito interessante histórica e arquitectonicamente, localizado num sítio maravilhoso. Após a conclusão da reparação, um dos meus antecessores teve a excelente ideia de instituir um festival de música. É a uma sexta, sábado e domingo à noite, com música do Oriente e do Ocidente. Trazemos sempre alguém da Europa – acabou de chegar a soprano portuguesa, de um coro italiano, que vem participar. Há vários palcos: a igreja não permite que se cante outra música que não seja música sacra, mas no exterior montamos outros palcos. Montamos o palco das seis da tarde, para se assistir ao pôr-do-sol. Portanto, temos em frente de nós o artista – normalmente é música ou dança indiana –, a paisagem de velha Goa com as suas igrejas a despontar na floresta de coqueiros e o pôr-do-sol. É realmente um espectáculo lindíssimo, que chama imenso público. Às vezes temos também um terceiro palco, o da noite. E terminamos sempre na capela, com música sacra e coros.

    – Faria sentido uma maior aproximação entre Macau e Goa?

    E.K.C. – Claro, sem dúvida.

    – Nalgum projecto em particular?

    E.K.C. – Acho que na área da música, sobretudo. Já houve artistas de Goa que foram cantar a Macau. Até em termos das relações entre a Índia e a China, seria muito recomendável. Mas infelizmente, quer o Governo de Macau, quero o Governo de Goa, se calhar não se aperceberam disso. As relações são um bocadinho frias e ter-nos a nós como interlocutores seria muito útil.

    – Como avalia o estado do património em Goa?

    E.K.C. – O património arquitectónico e artístico goês é riquíssimo. Ao longo dos 451 anos que estivemos aqui, construímos muito. Tem um património de arquitectura militar, civil, religiosa, tem um património ao nível de altares e púlpitos, de mobiliário de igreja, fantástico. As peças ligadas à arquitectura civil também são fantásticas. Todo o património indo-português é realmente fabuloso. Depois tem uma monção anual devastadora. Não é por acaso que Goa é muito verde e tem água por todos os lados. Durante quatro meses chove 48 horas por dia, como costumo dizer, e com uma intensidade absolutamente inacreditável. Para o património é muito mau, a arquitectura não gosta. Tem de haver um trabalho contínuo de conservação. [E há algum] desleixo em relação ao património arquitectónico, em Portugal isso [também] aconteceu durante algumas décadas.

    – Falamos apenas do património cristão?

    E.K.C. – Sobretudo. Diz-se que os portugueses destruíram muitos templos e é natural que sim, mas presumo que também não houvesse templos de grande envergadura em Goa.

    – Mas quando se fala em trabalhos de preservação, são para todo o património?

    E.K.C. – Para todo. Na região de Ponda há uns templos hindus de grande interesse arquitectónico e artístico, existem algumas mesquitas e edifícios históricos classificados e aí não há distinção. Mas, realmente, ressalta o valor da arquitectura militar, religiosa e civil indo-portuguesa. E aí não temos mãos a medir, os recursos são escassos para o valor do património. As populações, com a globalização, perderam um pouco esse instinto de conservação, como aconteceu em Portugal na década de 1960 e 1970. Em Macau, a arquitectura civil não teve a mesma expressão [que em Goa], embora tivesse coisas muito interessantes, quer da arquitectura chinesa, quer da ocidental.

    – Esteve 15 anos no Japão como professor e conselheiro cultural da Embaixada de Portugal. Porquê esse interesse pela Ásia?

    E.K.C. – Já tenho quase 21 anos de Ásia. Estive um ano no Golfo, um ano na Tailândia, 12 em Tóquio, três em Quioto e três e meio em Goa. Calhou. Sou arquitecto, neste momento não estou a executar arquitectura, mas na arquitectura uma área que sempre me foi cara foi a do património e foi isso que me trouxe à Ásia. Do património à cultura foi um pulo. A experiência no Japão foi muito rica, um bocadinho contrária à da Índia. As coisas funcionam a uma velocidade fantástica, idealiza-se um projecto e amanhã já está concretizado. Há recursos humanos, há recursos materiais. Tive a felicidade de conseguir realizar projectos interessantes e importantes, com a colaboração da área empresarial japonesa e dos municípios. Aqui é uma Ásia completamente diferente, são outros desafios.

    “Importante para Goa, para a lusofonia e para a língua portuguesa”

    – Como olha para os Jogos da Lusofonia?

    E.K.C. – A Fundação não colaborou, estou a ver como espectador. Acho que é desafio grande para Goa. Nunca aconteceu nada desta dimensão e estão obviamente orgulhosos disso. Devia ter acontecido em Novembro, as coisas atrasaram-se muito e foi pena, porque teríamos tido mais participações de outros países. Mas acho que é importante para Goa, para a lusofonia e para a promoção da língua portuguesa. Estes acontecimentos são sempre importantes para os países organizadores e vai ser importante para a lusofonia, não pode deixar de o ser. Tenho esperança de que, para já, elimine alguns preconceitos da Administração em relação a Portugal e à língua portuguesa, e depois é a adesão popular.

    – Como comenta a posição do chefe de missão de Portugal, que se recusou a falar inglês com os jornalistas indianos?

    E.K.C. – Respeito. Eu talvez não o tivesse feito porque haverá jornalistas que não serão sequer de Goa. Percebo que a organização não tenha capacidade para ter intérpretes disponíveis.

    – Seria realista esperar que os Jogos tivessem o português como língua de trabalho?

    E.K.C. – Deviam ter, mas são só os terceiros Jogos, num país que não é lusófono.

    JANEIRO 28, 2014

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  • LAS ÇARANDAS (mirandês)

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    quando não souberem o que fazer com as peneiras, “razoulas”, e afins
    http://vimeo.com/84696020

    Las Çarandas – “Ciranda”
    http://vimeo.com/84696020
    vimeo.com
    Projecto 885 Las Çarandas ,Ciranda Gravado em Duas Igrejas, Bragança, Norte (Alto Trás-os-Montes) 19 de Janeiro de 2014 Realização: Tiago Pereira Som: Telma…
  • poema Joana Félix

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    TRAGO-TE AMIZADE

    Sinto-me solidária

    E gela-me o teu frio

    mas se está bem

    vejo abrirem-se

    uma a uma as flores

    deste jardim

    sabes?

    é desta cércea

    que se fazem os amigos.

    Joana Félix

  • LENDAS DE TIMOR A Lenda de Rai Kotu

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    Quando era miúda, adorava ouvir lendas e fábulas, conheci muitas e esqueci outras tantas…partilho esta pensando especialmente na minha filhinha:

    A Lenda de Rai Kotu

    Era uma vez, vivia um casal nos arredores de Tasi Tolu que tinha uma filha única muito bonita que se chamava Bi Tasi. Ela tinha muitos pretendentes mas não se interessava por nenhum deles.
    Um belo dia, quando foi a fonte buscar água cruzou-se com um belo rapaz jovem que ela nunca tinha visto antes. Ele ao vê-la apresentou-se e disse que se chamava Mau Tasi, filho do Liurai Tasi. (Liurai = Rei)
    Apaixonaram-se e ele pediu-a em casamento.
    Bi Tasi correu para casa, levando o Mau Tasi com ela, para contar aos pais.
    Eles conversaram e os pais dela, de acordo com a tradição, pediram muitos búfalos e cavalos como dote. Os pais do Mau Tasi reuniram todos os búfalos e cavalos do reino que eram precisos para enviar aos pais da Bi Tasi.
    Havia uma montanha que separava os dois reinos, mas esses animais eram tantos que ao passarem pela montanha foram aplanando e construindo uma passagem que dividiu a montanha ao meio.
    Essa passagem ainda existe até aos dias de hoje, é a passagem de Rai Kotu que fica entre Tasi Tolu e Komoro.

    Baseada no livro “Lendas e Fabulas de Timor Leste” por Helena Marques Dias
    Quando era miúda, adorava ouvir lendas e fábulas, conheci muitas e esqueci outras tantas...partilho esta pensando especialmente na minha filhinha: A Lenda de Rai Kotu Era uma vez, vivia um casal nos arredores de Tasi Tolu que tinha uma filha única muito bonita que se chamava Bi Tasi. Ela tinha muitos pretendentes mas não se interessava por nenhum deles. Um belo dia, quando foi a fonte buscar água cruzou-se com um belo rapaz jovem que ela nunca tinha visto antes. Ele ao vê-la apresentou-se e disse que se chamava Mau Tasi, filho do Liurai Tasi. (Liurai = Rei) Apaixonaram-se e ele pediu-a em casamento. Bi Tasi correu para casa, levando o Mau Tasi com ela, para contar aos pais. Eles conversaram e os pais dela, de acordo com a tradição, pediram muitos búfalos e cavalos como dote. Os pais do Mau Tasi reuniram todos os búfalos e cavalos do reino que eram precisos para enviar aos pais da Bi Tasi. Havia uma montanha que separava os dois reinos, mas esses animais eram tantos que ao passarem pela montanha foram aplanando e construindo uma passagem que dividiu a montanha ao meio. Essa passagem ainda existe até aos dias de hoje, é a passagem de Rai Kotu que fica entre Tasi Tolu e Komoro. Baseada no livro "Lendas e Fabulas de Timor Leste" por Helena Marques Dias

     

     

  • não vamos mudar o Hino dos Açores?

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    Recebi e divulgo um artigo do deputado regional José Andrade opondo-se à minha proposta de mudança do Hino dos Açores…e pelo pragmatismo da oposição à mudança de um hino carregado de memórias de autonomias falhadas, mantemos o hino formal que cumpre as normas todas acompanhado de um poema (talvez menor) de Natália Correia. A minha proposta visava unir todos os açorianos em torno de uma balada universal, simples, popular e que tão bem retrata o que os açorianos sentem e as brumas que sempre os envolveram. O hino oficial dos Açores que ninguém canta, que ninguém conhece e cuja letra foi imposta à força numa composição antiga continua a preencher os requisitos formais  de um Hino sem unir os habitantes das 9 ilhas…A  minha proposta obviamente também não captou a adesão popular tendo muito poucas adesões (80) pelo que o melhor é abandonar uma proposta que obviamente falhou e disso dou também conta pública aqui no nosso blogue AICL…

    Chrys Chrystello, AICL

     

     

    Mudar o hino oficial da Região Autónoma dos Açores?

     

    NÃO CONCORDO!

     

     

    Está a dar que falar, primeiro nas redes sociais e agora também na comunicação social, uma petição pública que visa adotar a canção “Ilhas de Bruma” como hino oficial da Região Autónoma dos Açores em substituição do atual. A iniciativa partiu da “Associação Internacional dos Colóquios da Lusofonia” na sequência do recente falecimento do respetivo compositor Manuel Medeiros Ferreira.

    Prezo muito a associação e gosto muito da canção mas não concordo com a petição, por razões que a nossa história justifica, que este artigo procura esclarecer e que o futuro certamente demonstrará.

     

    1. 1.    A petição

     

    A petição “Mudar o hino oficial dos Açores”, impulsionada pela Associação Internacional dos Colóquios da Lusofonia e dirigida à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores e ao Governo Regional, parte do seguinte pressuposto:

    Quantos açorianos conhecem o Hino dos Açores e quantos conhecem a Letra que Natália Correia tentou adaptar à melodia? Julgamos que poucos, mas muitos não só conhecem como gostam e trauteiam as “Ilhas de Bruma” de Manuel Medeiros Ferreira, falecido a 3 de janeiro de 2014. Quer a melodia quer a letra retratam com fidelidade as nove ilhas do arquipélago e, no momento do padecimento do autor das Ilhas de Bruma, a melhor homenagem que lhe podemos prestar é propor que a sua criação musical e literária seja assumida como Hino dos Açores”.

    Considerando que esta canção “não é uma marcha militar como aquele que ficou como hino oficial com um poema forçado da Natália Correia”, a petição conclui sugerindo “a quem de direito a coragem de assumir o verdadeiro hino dos Açores em substituição do hino oficial que nada nem ninguém representa”.

     

    1. 2.    As “Ilhas de Bruma”

     

    No Voto de Pesar pelo falecimento do compositor das “Ilhas de Bruma” que apresentei esta semana (e foi aprovado por unanimidade) no Parlamento dos Açores, expressei a minha admiração pessoal pela canção “que marcou a vida pessoal de Manuel Medeiros Ferreira e que sintetiza a vida coletiva do Povo Açoriano”:

    Composta ‘num dia de bruma’ de 1983, a obra depressa se instalou no cancioneiro regional açoriano, entre a “Lira” e os “Olhos Negros”, e é hoje parte integrante do repertório obrigatório de quase todos os coros dos Açores e da Diáspora. E, mais ainda, é cantada – ou, pelo menos, reconhecida – por cada um de nós”.

    Recordando que “Manuel Medeiros Ferreira, quando recentemente homenageado na Casa dos Açores da Nova Inglaterra, disse que a melhor homenagem que lhe podiam prestar era continuar a cantar a sua música”, concluí que “com essa homenagem bem pode contar, porque todos somos das Ilhas de Bruma ‘onde as gaivotas vão beijar a terra’…”.

     

    1. 3.    O Hino dos Açores

     

    A música oficial do Hino dos Açores não tem três décadas. Tem 120 anos. Foi composta pelo regente de filarmónica Joaquim Lima e primeiro executada pela Filarmónica Progresso do Norte, da freguesia micaelense de Rabo de Peixe, a 3 de fevereiro de 1894. Intitulava-se então “Hino Popular da Autonomia dos Açores”.

    Logo a 14 de abril de 1894, dia das eleições gerais em que foram eleitos os deputados autonomistas Gil Mont’Alverne de Sequeira, Pereira Ataíde e Duarte de Andrade Albuquerque, realizou-se um cortejo pelas ruas de Ponta Delgada integrando filarmónicas que tocavam este Hino da Autonomia.

    No ano seguinte, o mesmo hino foi também festivamente executado, por filarmónicas micaelenses concentradas na Praça do Município de Ponta Delgada, para comemorar a promulgação do decreto autonomista de 2 de março de 1895.

    Este hino terá tido diferentes letras ao longo dos tempos em função da conjuntura política. Com o nacionalismo do Estado Novo, foi votado ao ostracismo. Com a Autonomia Constitucional, foi oficialmente adotado pelos órgãos de governo próprio como Hino Oficial da Região Autónoma dos Açores.

    A sua música, com arranjo do maestro Teófilo Frazão sobre o original do compositor Joaquim Lima, foi aprovada em 1979 (Decreto Regulamentar Regional nº13/79/A, de 18 de Maio).

    A sua letra, face à inexistência de versão anterior com aceitação generalizada, foi encomendada pelo governo regional a Natália Correia, por muitos considerada a maior poetisa açoriana de todos os tempos. Aprovada oficialmente em 1980 (Decreto Regulamentar Regional nº49/80/A, de 21 de Outubro), foi pela primeira vez cantada em público há 30 anos, a 27 de junho de 1984, pelos alunos do Colégio de São Francisco Xavier, em Ponta Delgada.

     

    1. 4.    Conclusão

     

    Por muito que considere a Associação Internacional dos Colóquios da Lusofonia e estime o seu presidente Chrys Chrystello, por muito que admire a canção “Ilhas de Bruma” e preze o seu compositor Manuel Medeiros Ferreira, não concordo com a substituição do Hino Oficial da Região Autónoma dos Açores.

    Desde logo, porque o nosso Hino Oficial, com a música histórica do Hino da Autonomia e com a letra apologética de Natália Correia, é símbolo heráldico da Região Autónoma dos Açores – ao mesmo nível superior da bandeira azul e branca – e, como tal, merece o máximo respeito do Povo Açoriano.

    Mas também porque a canção “Ilhas de Bruma”, até pela sua estrutura formal, merece continuar a ser o que é: uma das melodias mais bonitas e uma das letras mais inspiradas do cancioneiro regional açoriano.

    …E não consta que alguém algum dia se tenha lembrado de substituir, por exemplo, o Hino Nacional por “Uma Casa Portuguesa” de Amália Rodrigues, o Hino de França por “La Vie en Rose” de Edith Piaf ou o Hino de Inglaterra pelo “Imagine” dos Beatles.

    Tudo tem um lugar próprio.

     

     

    JOSÉ ANDRADE

    Deputado do PSD no Parlamento dos Açores

     janeiro 2014

     

  • dicionário Estraviz (GALEGO)

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    http://www.estraviz.org/professor-estraviz.php

    Professor Estraviz

    Prof. Estraviz

    Professor Isaac Alonso Estraviz (Vila Seca, 1935) (*)

    Licenciado em Filosofia pola Universidade de Comilhas (1973), em Filosofia e Letras pola Complutense de Madrid (1974) e na mesma universidade em Filologia Românica (1977). Diplomado em Cultura e Língua Portuguesas pola Universidade de Lisboa, ano 1976. Doutor em Filologia Galega pola Universidade de Santiago de Compostela (1999) com a tese O Falar dos Concelhos de Trasmiras e Qualedro.

    Entre 1975 e 1977 foi professor de Língua e Literatura Galegas no Ateneu de Madrid e desde então até 1984 desempenhou o mesmo labor na Irmandade Galega-Lôstrego da capital do Estado. Como Professor de Bacharelato percorreu várias vilas e cidades galegas (A Rua, Ferrol, Ponte Vedra, Pontedeume, Santiago, Vigo, Corunha, Ordes) até obter destino definitivo no Instituto Otero Pedraio de Ourense em 1987. Em 1986, assistiu como observador ao Encontro sobre Unificação Ortográfica da Língua Portuguesa, 6-12 Maio de 1986 no Rio de Janeiro. De 1990 a 1992, Professor Associado da Universidade de Vigo. Desde 1992-94 é Professor Titular de Didáctica da Língua e Literatura Galegas na Universidade de Vigo, em Ourense e Ponte Vedra. De 1994 a hoje, só no de Ourense. É membro da Comissom Linguistica da Associaçom Galega da Língua, Vice-Presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa e do Boletim da AGLP.

    Correio-e: estraviz[arroba]agal-gz.org.

    Livros publicados

    • Contos con reviravolta: arando no mencer, Castrelos, 1973.
    • Dicionário galego ilustrado “Nos”, Nos, 1983.
    • Dicionário da língua galega, Alhena, 1986
    • Estudos filológicos galegoportugueses, Alhena, 1987.
    • Dicionário da língua galega, Sotelo Blanco, 1995.
    • Os intelectuais galegos e Teixeira de Pascoaes: epistolário, junto com Eloísa Álvarez da Universidade de Coimbra, Ed. do Castro, 2000.
    • Dicionário da Lingua Galego-Portuguesa, e-Estraviz, em Portal Galego da Língua, com jogos didácticos para brincar com as palavras, 2005.
    • Eugenio de Castro e a Galiza. Epistolário, junto com Eloísa Álvarez da Universidade de Coimbra, Ed. do Castro, 2008.
    • Santos Júnior e os Intelectuais Galegos. Epistolário, Fundaçom Meendinho, 2011.
    • Conversas com Isaac Alonso Estraviz com o prof. Bernardo Penabade Rei, Através Editora-Meendinho, 2013.
    • Os falares dos concelhos de Trasmiras e Qualedro, Fundaçom Meendinho, 2014.

    Colaboração em livros coletivos

    • Missal galego com o Ritual dos Sacramentos e uma antologia das principais orações do fiel cristão, Sept, 1968.
    • «Introdução ao texto de Castelao» O estatuto de Galiza. Antecedentes e comentarios, com o pseudónimo Isaac da Bougueira, Nós-Buenos Aires, 1975.
    • Mapa de Galicia (no que respeita à toponímia) Akal, 1979.
    • Estudo crítico das Normas ortográficas e morfolóxicas do idioma galego, Associaçom Galega da Língua, 1983.
    • Prontuário ortográfico galego, Associaçom Galega da Língua, 1985.
    • Guia prático de verbos galegos conjugados, Associaçom Galega da Língua, 1988.
    • O uso das línguas na perspectiva peninsular, Associaçom Galega da Língua, 1993.
    • Seis Projectos de Expressom Artística Globalizada, para crianças de 6-8 anos, Vigo 2002.
    • Isaac Díaz Pardo e a língua galega, coordenaçom, Prólogo e artigo “Isaac Díaz Pardo e a Memória Histórica”, Ed. Agal, 2008.
    • Maria do Céu Nogueira, Mais Perto do Céu, Prólogo, Ed. Agal, 2009.
    • Por um Galego Extenso e Útil, Leituras da Língua de Além e de Aquém, Colectánea de trabalhos da Comissom Lingüística da AGAL, Ed. Agal, 2009.
    • Cartafol de soños, Homenaxe a Celso Emílio Ferreiro no seu centenário (1912-2012), Asociación Cultural Alexandre Bóveda, 2012.
    • “Recei contigo” Bóvedra cristián, Asociación Xuvenil Amencer, 2014.

    Traduções

    • Os Salmos, Sept, 1966.
    • Joám XXIII, Pacem in terris, Sept, 1968.
    • Paulo VI, Populorum progressio, Sept, 1968.
    • Concilio Vaticano II, A eirexa no mundo moderno, Sept, 1973.
    • Risco, Vicente, O problema político de Galiza, Sept, 1976.
    • Gran libro de San Cipriano o los tesoros del hechicero, Akal, 1986.
    • Bessa Luís, Agustina, La Sibila, Alfaguara, 1981.
    • Segundo Congresso de Movimentos de Renovação Pedagógica, Coordenadora Galega de Movimentos de Renovação Pedagógica, 1990.
    • Ferro Couselo, Jesús, Antonio de Puga, pintor ourensano na corte de Filipe IV, Livraria Torga, 1996.
    • Tentando construir uma esfinge de pedra, Desassossego de Isaac Díaz Pardo, revisom e adaptaçom gráfica, Ed. do Castro, 2007.
    • Manuel Rivero Pérez, De Roncesvales a Compostela: um percurso por valores, habilidades, recursos e atitudes, traduçom e Prólogo, Ed. Agal, 2008.
    • Nuno Lobo Antunes, Lo siento mucho, Santillana Ediciones Generales, 2009.

    Colaborações em algumas revistas

    • Entre outras: Grial, Boletim de Filologia de Lisboa, Agália, O Ensino, Nós (Revista Internacional Galego-Portuguesa de Cultura), Temas de Linguística e Sociolinguística, Cadernos do Povo, Encrucillada, Raigame, Revista de Guimarães, A Nosa Terra.

    Alguns artigos:

    • «Variantes dialectais portuguesas normativizadas no galego do ILG(RAG)», in Actas III Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza, 1992, pp. 49-61.
    • «Interferências linguísticas em textos castelhanos dos séculos XVI a XIX no Concelho de Cea», celebrado de 29 de Abril ao 2 de Maio de 1992, in O uso das línguas minoritárias na perspectiva da Europa Comunitária, Agal, 1993, pp. 21-47.
    • «Modalidades do Galego nos Concelhos de Trasmiras e Qualedro», in Actas IV Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza – Homenagem a Fernando de Saussure, Agal, 1996, pp. 11-20.
    • «Identidade Cultural Luso-Galaica», in Actas Congresso Internacional Identidade Cultural e Cooperaçom Transfronteiriça, 1995.
    • «A Literatura Popular Cantada nas Aulas de Didáctica da Língua e Literatura», in Língua, Literatura e Arte. Aspectos Didácticos, 1996.
    • «A Lengalenga Popular Galega como Meio de Ensino», in Actas del VII Congreso Internacional de la Sociedad Española de Didáctica de la Lengua y la Literatura, Corunha, 2004, pp. 291-302.
    • «Jenaro Marinhas del Valle um patriota integral», in Actas do Congresso Jenaro Marinhas del Valle, Ed. Agal, 2009, pp. 179-185.

    (*) Fotografia: www.aelg.org | Autoria: Santos-Díez (Ollo de Vidro-ACAB) (2009).

    Outras ajudas
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  • MOÇAMBIQUE os limites da lusofonia por linguista moçambicano Gregório Firmino

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    in diálogos lusófonos

     

    O linguista moçambicano Gregório Firmino discute os limites da lusofonia
    Por Jacqueline Kaczorowski

    O linguista moçambicano Gregório Firmino, diretor da Faculdade de Ciências Sociais e Letras da Universidade Eduardo Mondlane, a principal universidade pública de Moçambique, não sabe se sua primeira língua foi o português. A dificuldade é comum no país do sudeste da África, que tem a língua portuguesa como oficial, embora só 39% da população seja lusófona, e a maioria viva o plurilinguismo.

    De colonização tão antiga quanto a do Brasil, o país só se livrou da invasão portuguesa em 1975, quando a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), movimento que venceu a luta armada, chegou ao poder. “Moçambique independente produziu mais falantes do português do que Moçambique colonial”, diz Gregório, que se especializou na relação entre o português e os idiomas locais. À Língua falou sobre a complexidade linguística do país e o projeto de nação que a Frelimo concebeu, fazendo o país adotar o idioma tanto para promover integração social quanto para atuar no cenário internacional. Mas o conflito interno perdura. No fim de 2013, a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) decidiu boicotar as eleições municipais para sabotar a lei eleitoral, que favoreceria a Frelimo, partido do presidente Armando Guebuza e no poder na maioria das cidades.

    Qual a primeira língua que aprendeu?
    Na verdade não sei. É muito difícil para alguns moçambicanos dizer qual a sua primeira língua, pois estamos expostos a muitas. A de casa, que, se calhar, foi a primeira que ouvi (mas não tenho certeza!), é uma bantu, gitonga, uma das muitas do país. Meus pais vivem numa região onde também se fala outra língua bantu, então, quando estava com meus amigos, tinha de falar uma língua diferente. E ao longo da vida fui aprendendo outras.

    Quantas línguas há em Moçambique hoje?
    Esta pergunta, para mim, como sociolinguista, não é respondível. As fronteiras linguísticas não se estabelecem dessa maneira. Claro que depende sempre de quem as estabelece. Mas, numa sistematização feita do recenseamento de 1980, foram identificadas 24 categorias. Repare, não digo línguas, digo categorias linguísticas. São 24, incluindo o português. Mas o número pode chegar a 100 ou a 5, dependendo de como se classifica.

    Como caminha o processo de descrição das línguas?
    Quase todas estão descritas. O problema da descrição é que ela não tem fim, até porque as línguas se modificam. Está crescendo o conhecimento das práticas linguísticas. O fato de eu saber que “essa língua é assim e assim” não é nada, mas sim “como essa língua é usada?”, “qual é sua influência na sociedade?”; isso é muito importante.

    Quais os problemas de a maioria da população não ter o português como 1a língua?
    Não gosto de dizer que há problemas. Há uma situação linguística que é preciso encarar, como há em outros países. A interação social é feita pela língua, mas ela não serve só para se comunicar. Pressupomos que nós temos de ser iguais, mas não. O que se passa é que os problemas que nós precisamos discutir têm a ver com o fato de olharmos para eles com a visão do funcionamento do Estado. Moçambique é plurilíngue, as pessoas falam várias línguas; há várias bolsas de línguas, e mesmo quando dizemos “plurilíngue” estamos a simplificar. Há pessoas que falam duas línguas bantu, outras falam três, quatro.

    Outras falam uma bantu e o português, mas essa bantu não é a mesma que a dos outros que falam português. Posso falar a língua A mais o português, outro falar a língua C mais o português. É uma situação muito complexa. Do ponto de vista do Estado é importante encontrar o fator comum, sobretudo para ativar nas pessoas a consciência de que estão num mesmo Estado. É verdade que há muitas instâncias contra, o português não é a solução de todos os problemas. É uma opção estratégica, da qual as pessoas têm consciência.

    Como foi a adesão ao português? Ele era a língua do inimigo, não?
    Foi um processo político, de alguma forma normal – considerando a configuração do movimento nacionalista.

    Sim, pois foi a língua adotada pela Frelimo, certo?
    Era a língua do movimento, a que poderia unir. O nome já diz, era uma “frente”, a união de todos, desde que tivessem uma posição anticolonial. A Frelimo congregava diferentes tendências, então elegemos um catalisador comum, e a língua portuguesa serviu. Mas isso confunde as pessoas: não quer dizer que todos falassem português.

    Não?
    Pelo contrário: nomes influentes no movimento falavam inglês. Eduardo Mondlane – que deu nome à universidade – foi o primeiro líder do movimento nacionalista, e foi escolarizado num mundo em inglês. Na África do Sul, nos EUA; viveu muito fora de Moçambique. A vida dele, nos momentos cruciais, ele a fez em inglês. Muitos que aderiram ao movimento não falavam português. Pois uma coisa é as pessoas falarem a língua; outra é assumi-la como símbolo do que se está a fazer. Sem o português, o país não seria o que é. Não digo que não haveria Moçambique – mas não com a configuração social, econômica e política que conhecemos.

    No Brasil, houve a imposição do idioma. Há essa percepção em Moçambique?
    Essa ideia de que a escolha do português foi neocolonial perpassa alguns círculos intelectuais, mas não há como associar a Frelimo ao movimento neocolonial. Ela é um movimento nacionalista, anticolonial, dos mais consequentes que houve em África.

    Aqui se questiona o “abaixo os tribalismos”, para unir todos em uma nação forjada e, com isso, apagar as diferenças.
    Como você vai apagar? A questão em causa era executar um projeto nacional. E mesmo agora em Moçambique, muitos não falam português.

    Mas toda gente o assume como um símbolo. Tanto que o português, além de servir como instrumento de comunicação, é como se fosse uma bandeira, um hino. Posso não gostar do hino; posso até não conhecer a letra e não o cantar, mas representa todos nós. Os estudos que há em Moçambique enfatizam muito a mudança linguística no lado da estrutura da língua. No tempo colonial, a língua não era falada da mesma forma que em Portugal nem pelos próprios portugueses que estavam em Moçambique. Mas o que fez a língua ser moçambicana foi o fato de ela ter sido assumida pelos moçambicanos como símbolo da unidade nacional – a mudança simbólica precede, tem mais relevância que a estrutural. Porque esta é normal; uma língua está sempre em mudança! O português está a sofrer um processo de nativização; que se associa a novos valores sóciossimbólicos e traços linguísticos. Esta “nativização” tem mais a ver com o novo uso social do que com a diferenciação da língua em si. Ao português em Moçambique é conferido um caráter singular pela ideologia que motiva os seus usos e não só por suas inovações linguísticas.

    Como avalia as contribuições do português moçambicano?
    Há várias contribuições estruturais. A coisa mais óbvia é lexical. Há formas sintáticas, fonológicas, fonético-fonológicas, morfológicas, que foram mostrando outras possibilidades de a língua existir.

    Alguma delas chegou a Portugal ou ao Brasil?
    Algumas. A mudança linguística, para os linguistas, segue um processo natural. Alguns fenômenos da mudança linguística têm a ver com a forma como a língua funciona, ou como nosso cérebro funciona. Eu, você, alguém que está em Portugal, temos o mesmo cérebro, portanto partilhamos aquilo que chamamos de “universais linguísticos”, algumas tendências naturais da língua. Portanto alguns fenômenos que nós vemos em Moçambique poderiam ocorrer em outros locais. Agora, pode ser que estes fenômenos sejam acelerados pelo contexto específico de Moçambique. Por exemplo, o fato de muitos moçambicanos terem uma língua bantu como 1a língua, com um conjunto de estruturas diversas, facilita o surgimento de certos fenômenos – mas alguns deles que ocorrem aqui no Brasil podem ocorrer em Portugal. A língua bantu tem certas estruturas que podem ser projetadas ao português, e ficam mais salientes em Moçambique do que no Brasil ou em Portugal.

    Por exemplo?
    O aspecto marcante é a gente dizer “essa língua é nossa, não devemos nada a você”. Os portugueses querem cobrar o uso do português, como se fosse um favor que nos fizeram. Não, eles nos deveriam muito mais! Mas a língua portuguesa deve a quem? Eles devem ao italiano? Daqui a mil anos, vamos chamar de português aquilo que se fala no Brasil? Aquilo que se fala em Moçambique? Não sei. Mas a língua é nossa. E não só é nossa, mas é tão nossa quanto os outros dizem que é deles. Não devemos favor a ninguém, não venham nos dar lições, fazemos o que queremos. E amanhã, se nós dissermos “já não queremos” – como Estado – e adotarmos, como política linguística, alguma outra opção estratégica, qual o problema?

    Quais os maiores desafios da linguística em Moçambique?
    O desafio, que se estende para fora da África, é o de trabalhar sem preconceitos. Assumir uma visão linguístico-científica para conhecer as coisas de uma forma científica – porque muitas vezes os cientistas querem descobrir aquilo em que já pensaram, que acham que já descobriram, e não é bem assim. Penso que muito do que se faz na África tem esse defeito de já ter um pensamento preconcebido. Da mesma forma como falamos em “África”. É errado. Devemos falar de “Áfricas”… As pessoas querem soluções gerais, “a mesma fórmula que se aplica a tantos contextos”. Mas a questão é olhar cada caso sem preconceito, e assumir que África é um continente; os países africanos sempre tiveram dinâmicas, não são produtos acabados. Nesse dinamismo, a interação com elementos crioulos, que surgem do contato entre línguas e povos, sempre esteve presente – de forma positiva ou negativa. Antes de chegarem os colonos europeus, já havia colonização em África – dos árabes. Havia colonização intra-africana também – grupos que invadiram outros grupos, e ocuparam outros, mataram etc. Sempre houve isso e isso sempre teve consequências sociais. As pessoas olham para África como se ela tivesse só uma colonização, como se a história de Moçambique começasse quando os portugueses chegaram. Aquilo foi uma etapa – houve e vai haver outras.

     

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