Insegurança : crón. rádio
Antigamente era frequente ouvir-se os mais velhos dizerem: “Estamos prà’qui num cantinho do céu”.
A vida nas freguesias rurais e mesmo nas cidades era calma, pouco ou nada acontecia e quando havia algo de anormal gerava-se um sobressalto coletivo.
Já todos temos a noção de que o mundo mudou: tudo se sabe na hora porque as redes sociais distribuem as notícias de uma fora alarmante, acompanhadas de imagens e não é fácil dizer que não foi assim. Agora já não é a TV que disse e por isso faz fé, mas o telemóvel de cada um, que permanentemente debita a verdade de quem põe a correr a notícia.
Estamos todos sujeitos às “verdades” e às mentiras de canais poderosíssimos que corrompem o dito e o feito a seu belo prazer.
Tem sido esse o método usado por cadeias do poder nacional e internacional, em situações de guerra e de paz, sempre em proveito dos donos disto tudo e em prejuízo dos mais fracos.
O mundo desenvolvido, o mundo da abundância e da opulência, trouxe consigo lutas cruéis entre povos e nações para dominar tudo e todos e entrou no seio das famílias e da sociedade através do consumo de estupefacientes, do álcool e da violência. Resultado: ninguém está seguro, nem mesmo os membros da família do mesmo sangue.
Insegurança é uma situação social tão frequente que quem vive ainda num “cantinho do céu” que se deixe ficar porque isto não está para brincadeiras…
A semana passada soube-se que os imigrantes portugueses indocumentados, sobretudo os que trabalham na Nova Inglaterra e que são de certo modo protegidos pelas autoridades locais, podem vir a ser perseguidos e deportados pela futura administração Trump.
Quantos dos que votaram no futuro Presidente americano já passaram por essas dificuldades….
Que vão fazer agora? Calar-se e fechar-se em copas, vendo que compatriotas seus, gente trabalhadora como a América gosta de apregoar, de um momento para o outro, terá de abandonar aquele país e regressar, sem conseguir os seus intentos?!…
Tudo isto contribui para a insegurança que muitos governantes pretendem combater, mas fazem-no da pior maneira: recorrendo a expulsões arbitrárias, discriminando famílias e pessoas trabalhadoras cujo objetivo é atingir um patamar de sobrevivência e de dignidade.
A paz e a dignidade humanas constroem-se na solidariedade e na compreensão. Não na luta, na discriminação, não olhando o outro como inimigo ou impedindo-o de aceder aos bens da terra que é de todos.
A paz é possível e necessária para vivermos em concórdia e tranquilidade.
Que cada um faça a sua parte!
Ponta Delgada,17 de novembro de 2024