Categoria: AICL Lusofonia Chrys Nini diversos

  • DEIXEM O BOM DO EÇA EM PAZ

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    Tive de recorrer ao meu amigo Carlos Robalo para recuperar o texto que o JN tinha em arquivo – mas que, precisamente hoje, foi retirado de lá. Os “vencedores” têm de ser respeitados, e as dependências são muitas nos tempos que correm…
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    O que andam a fazer com o corpo do defunto Eça de Queirós não é, apenas, uma ridícula palhaçada; é uma torpeza inaceitável que ofende o homenageado e uma indignidade que nos revela que ainda estamos nas mãos de “neo-Abranhos, dúzias de neo-Acácios e no mínimo trinta neo-Pachecos”, como bem refere o seu bisneto.
    O cadáver acaba de ser vendido por 75 mil euros: subsídio que o Ministério da Cultura atribuiu à Fundação Eça de Queirós – a instituição que, à revelia de boa parte da família, geriu o negócio.
    Malogrado “pobre homem da Póvoa do Varzim” , com o corpo entregue às mãos daqueles que ele mais abominaria, se pudesse agora falar.
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    O “VENCIDO DA MORTE” (farsa em três actos)
    por António Eça de Queiroz
    «Devo iniciar este desabafo com uma declaração íntima: preferiria nunca ter escrito este texto: sempre fui amigo dos familiares aqui envolvidos, e sempre defendi a Fundação Eça de Queiroz (FEQ) dentro das minhas possibilidades. Mas, na verdade, fui sempre contra a trasladação dos restos mortais do escritor, meu bisavô, para o Panteão Nacional – desde o dia em que esta me foi comunicada como facto a consumar.»
    «Três razões me levam a ser contra aquilo que considero uma farsa político-cultural: uma é de ordem técnica, outra de ordem, digamos, filosófica, e, por fim, uma de ordem prática.
    A razão técnica refere-se ao exercício do facto consumado, pois a FEQ decidiu tudo sem perguntar nada a ninguém. Tal exigência formal ficou-se pela informação. Ora tanto quanto sei a Fundação não é, nem remotamente, dona de cadáver nenhum. Foi dito que a petição velozmente apresentada pelo então deputado e ex-presidente da Câmara de Baião, José Luís Carneiro, à Assembleia da República, tinha sido requerida pelos representantes da família de Eça de Queiroz – o que é falso, pois nem o meu primo Afonso Eça de Queiroz Cabral, nem o seu filho, e menos ainda a FEQ, representam a família, que é constituída por vinte e dois bisnetos do escritor ainda vivos e com filhos, de que o meu irmão mais velho, José Maria, é o decano.
    Seguidamente vem a questão filosófica – a mais importante no que se refere às “Honras de Estado” que é suposto a “cerimónia” inscrever. Sejamos um pouco empáticos com o escritor falecido há quase 122 anos – embora empatia a respeito dumas vetustas ossadas só pareça possível na mente desse urbano enfastiado que Eça enjaulou no corpo de Jacinto. Depois de dizer cobras e lagartos dos políticos portugueses, de escaqueirar várias governanças, de ridicularizar o grosso das instituições do Estado, que prazer sentiria agora ele ao ser instado a remover os próprios ossos do cemitério onde jazia finalmente em paz, ao lado da sua filha mais velha, bem perto da sua surrealística “Tormes”, para ir aturar o papaguear duns neo-Abranhos, dúzias de neo-Acácios e no mínimo trinta neo-Pachecos? Mais a fanfarra da Armada, um provável bispo e os sineiros
    da República? Alguém no seu perfeito juízo pensa que a modéstia pública do escritor apreciaria tamanha parolada? Pode-se dizer que os políticos de hoje não são os mesmo que Eça conheceu, que até mudam de meias todos os dias e por aí fora – além das raras excepções que nunca entrariam neste rol, ontem como hoje. Mas que diria ele dos compadrios político-bancários, das cunhas atomizadas, das trapalhadas aero-marítimas, da venda do país a retalho?… Não, não é o escritor quem vai ser honrado pelo Estado. É o Estado que inchará de orgulho pelo brilhante troféu – como o milionário que comprou uma cabeça de leopardo e a pendura agora na sala, por cima da lareira, para depois poder contar aos seus convivas de ocasião, entre charutos e conhaques, “a tremenda luta” que lhe dera a terrível fera , “onde quase morri!”.
    Este troféu não será certamente pendurado por cima de um qualquer fogão de sala, mas no currículo político de alguém terá lugar certo – e assim será utilizado.
    Finalmente, a natureza prática das coisas. Alguém irá a Santa Engrácia visitar as ossadas de Eça? Não, pois elas estarão num escondido “ossário de adidos”. E se em vez desta farsa tivessem decido colocar lá a magnífica escultura de Teixeira Lopes, hoje semi-perdida num tal Museu da Cidade que poucos visitam? Dariam destaque a dois génios, e o monumento seria certamente objecto de muitas e interessantes visitas de estudo. Que razão terá levado os familiares de Zeca Afonso e de Salgueiro Maia a enjeitar as ditas “Honras de Estado”? É simples: porque não quiseram misturar alhos com bugalhos cerimoniosos. Qual a razão para que a família de Aristides de Sousa Mendes tenha aceitado tais honras mas sem a remoção dos resto mortais do justamente célebre cônsul, trocando-os por um funcional cenotáfio alusivo? Porque esses mesmo restos mortais representam um núcleo polarizador para os visitantes da sua futura casa-museu em Cabanas de Viriato e uma mais-valia para os seus habitantes. Parece que alguém se esqueceu disso na FEQ – ou isso ou outra coisa qualquer…»
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    Fatima Veiga Ferro, Adriano Batista and 138 others

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    Jose C. Maximino

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    Ó pá, deixem o bom do Eça em paz!
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    António Eça de Queiroz

    Jose C. Maximino, em paz estava ele onde estava…
  • AO MINUTO: Urna já está no Panteão Nacional; As primeiras imagens

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    Acompanhe aqui, ao minuto, os principais momentos da cerimónia de trasladação dos restos mortais de Eça de Queiroz para o Panteão Nacional.

    Source: AO MINUTO: Urna já está no Panteão Nacional; As primeiras imagens

  • Chronicaçores | CHRÓNICAÇORES (Volume 7 – 2021-2023) A CIRCUM-NAVEGAÇÃO LIVRE PÓS-COVID-19

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    https://online.nextflipbook.com/dwbb/3h6i/

  • volume 7 de ChrónicAçores uma circum-navegação 2021-2023

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    em flipbook o volume 7 de ChrónicAçores uma circum-navegação 2021-2023

    CHRÓNICAÇORES

    (Volume 7 – 2021-2023)

     

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  • data limite da inscrição no 40º colóquio

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    caros colegas
    a data limite da vossa inscrição no 40º colóquio termina dia 23 janeiro pelo que agradeço confirmem já vossa a presença, enviando até essa data a ficha e seu pagamento (se não fizerem parte dos convidados oficiais deste 40º cf lista abaixo) bem como sinopse e biodados atuais.
    Dentro de dias iremos dar detalhes da acomodação e local de refeições que as entidades locais estão a tratar por nós. O resto está na página dos colóquios em https://coloquios.lusofonias.net/XL/

    convidados da Câmara

    URBANO BETTENCOURT

    VASCO MEDEIROS ROSA

    ANABELA BRITO FREITAS

    convidados AICL

    1. ANÍBAL PIRES (AUTOR HOMENAGEADO DO ANO)
    1. ÁLAMO OLIVEIRA
    1. ALEXANDRE BORGES
    1. ANA PAULA ANDRADE
    1. CHRYS CHRYSTELLO
    2. SUSANA ANTUNES
    7. FRANCISCO MADRUGA
    8. NUNO COSTA SANTOS
  • Cancro representou 27% dos óbitos nos Açores entre 2017 e 2022, diz o Tribunal de Contas

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    “Entre 2017 e 2022, a doença oncológica constituiu uma das principais causas de morte nos Açores, apenas superada pelas doenças do aparelho circulatório”, afirma o Tribunal de Contas.

    Source: Cancro representou 27% dos óbitos nos Açores entre 2017 e 2022, diz o Tribunal de Contas

  • dores, maria nini dito por diogo ourique

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  • Poema 749. a ilha é uma prisão novº, 4, 2024

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    Poema 749. a ilha é uma prisão novº, 4, 2024

    a ilha é uma prisão

    como o casamento

    sem pena perpétua

    há aviões e divórcios

    sem saídas precárias nem caixão

     

    a ilha é uma prisão

    como um desterro

    voluntário e escolhido

    com bilhete de regresso

    tanta saudade e uma benção

     

    a ilha é uma prisão

    em caso de tufão

    maremoto ou vulcão

    tremor de terra furacão

     

    a ilha é uma prisão

    exilados há 20 anos

    escolhemos o destino

    construímos nova paixão

    a morte prematura levou

    no tabagismo assassino

     

    a ilha é uma prisão

    nela criamos um destino

    realizamos sonhos e utopias

    era amor e genuíno

     

    a ilha é uma prisão

    hoje mutuamente nos enganamos

    quando se diz que tu querias

    que ficasse aqui e agora

    prosseguisse rumos mundanos

    na mesma rotina sem alegrias

     

    a ilha é uma prisão

    se me chamas eu vou

    sem ti a ilha é só calabouço

    mera paragem de ocasião

    onde não vivo e me destroço

     

    a ilha é uma prisão

    juramos ficar juntos

    no bem, no mal, na doença

    em todos outros assuntos

    como era nossa crença

     

    a ilha é uma prisão

    nunca estivemos tanto tempo sós

    liberta das vestes humanas

    sei que velas por mim

    ainda ouço a tua voz

    sei que falas e me chamas

     

    a ilha é uma prisão

    em volta um mundo fútil e falso

    com mulheres de mamas de silicone

    a explodirem como baterias do tesla

    mera tecnologia do percalço

    vinda na vaga dum ciclone

    com tatuagens e demais adereços

    inúteis como as ereções de viagra

    quando o Alzheimer chegar

    com as palavras aos tropeços

    não quero por aqui andar

     

    amanhã a América vai votar

    persiste a democracia

    ou o fascismo irá retornar

    este mundo já nada tem

    para me seduzir

     

    Nini

    para onde foste

    também quero ir

  • sunset lomba da maia

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    os primeiros de 2025