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Instituto Camões ensina ideologia de género em aulas de Português no Estrangeiro (1)

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A IDEOLOGIA DO GÉNERO ESCOLTA UMA ÉPOCA DE CATÁSTROFES

 


Instituto Camões ensina ideologia de género em aulas de Português no Estrangeiro (1)

 

 

A Guerra contra o Homem começa pela luta contra o seu Significado e Sentido.

A ideologia do género encontra-se ao serviço de um transumanismo que pretende ser como Deus, mas se está a tornar no seu próprio diabo.

A ideologia do género quer abolir a pluralidade do ser e conseguir reduzir a pessoa a um elemento insignificante em si e assim suprimir as diferentes identidades e características de individualidades e ao mesmo tempo inverter a ordem da criação. No seu programa de desconstrução do humano e da tradição arroga-se o direito de criar uma nova antropologia em que a manipulação cultural deve chegar a prescindir da natureza.

Salvaguardados os aspectos positivos da manipulação genética e das tecnologias virtuais, é importante estar-se atentos ao seu uso indevido porque as forças negativas em acção podem escravizar-nos a todos com o argumento de que somos criadores de nós próprios e que a questão do significado é desnecessária. Ao contrário do desenvolvimento da criação, que ordena no sentido do simples para o complexo, os criadores de uma nova época do “desenvolvimento” querem reduzir o complexo ao simples, à matéria. As exigências da economia à ciência e à política dominam provocando um discurso público unilateral adverso a uma cultura do diálogo e da controvérsia entre o poder material e o poder espiritual para um desenvolvimento da humanidade e da sociedade mais equilibrados (2).

O mito de Adão e Eva representa a fase de desenvolvimento que afirmou a mente sobre a natureza surgindo então a fase histórico-cultural do género humano numa dialética entre o divino e o humano; atualmente encontramo-nos na época científica ou niilista (da morte de Deus que limita o humano à matéria) em que o mito científico segue uma dialética que coloca o intelecto sobre/contra o sentimento, a ideia sobre o humano. Com a separação do sentimento da compreensão (razão), e a inteira subjugação do sentimento à razão, as pessoas e a sociedade tornam-se tão unilaterais que nós próprios nos convertemos, sem nos darmos conta, numa ameaça à própria existência.

De facto, o factor sentimento já não tem qualquer valor argumentativo e é sobretudo abusado como meio de manipular e escravizar as massas, ao ser confinado ao discurso político-social (3) …

O transumanismo é elaborado por “engenheiros” onde os humanos são vistos como peças de uma máquina sempre sujeita a melhorias mecânicas. É assim que se difunde uma geração de “gente” que assume o pensamento materialista e pragmático dos engenheiros e, no plano sociopolítico, uma “filosofia” que só se orienta pela sociologia (dados e estatísticas) no sentido da máquina contra o humano.

A ideia de redenção pela máquina é acompanhada pela ideia de que o dinheiro e o ego estão no centro da humanidade…

Como nos ensina a filosofia e a teologia, a consciência humana é um cosmos e como tal não reduzível a uma ideia como o transumanismo nos quer fazer crer. O que este pretende é uma intervenção radical no ser humano de modo a este se tornar irreconhecível. Têm a ilusão de querer criar uma raça melhor e, para o conseguir, destruir a atual consciência da raça humana…

Pretendem a inclusão do Homem numa superinteligência, uma espécie de deus criado, um deus-máquina apenas com alguns poucos maquinistas!…

Daí a veemência do fanatismo que o Homem encontra nas forças materialistas e ateias, que se depara por toda a parte nas estruturas estatais, desde as universidades aos programas partidários e às diversas ONGs financiadas por interesses bilionários contrários ao humanismo de cunho europeu.

Se seguirmos o discurso da ciência hoje, temos de perceber que a sua argumentação é niilista e ateísta através do mau uso do conhecimento...

As tecnologias apoderam-se do nosso corpo e da nossa alma. No passado dominava sobretudo a escravização das forças físicas do corpo, hoje escraviza-se também o espírito humano – a nossa alma – sendo esse trabalho facilitado pela manipulação tecnológica através da nova realidade virtual e da manipulação dos genes…

Em nome do progresso encontramo-nos todos a caminho do abismal global. Já nenhuma civilização está isenta deste processo…

No livro em português “Menino, Menina” (em inglês “Celebrando a liberdade de género para as crianças”, de Joana Estrela lê-se: “precisas de saber se és rapariga ou rapaz? Só olhando nem sempre és capaz. A resposta não está debaixo da Roupa (1).” Com a mesma subtilidade se vão incutindo clandestinamente diferentes ideologias nas populações. A pessoa humana não pode ser definida nem a preto nem a branco, mas a realidade da complexidade humana não justifica tentativas de querer reduzi-la à cor laranja!

António da Cunha Duarte Justo

Texto completo e notas em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=9617

O PRESIDENTE JOE BIDEN CONCEDE PERDÃO AO SEU FILHO HUNTER BIDEN CONDENADO EM PROCESSOS FEDERAIS

Justiça contaminada pela Política

O presidente Joe Biden indultou o filho Hunter Biden antecipando-se assim a uma possível e grave pena de prisão do filho, apesar das suas garantias dadas anterioriormente de que não interferiria nos problemas jurídicos do seu filho.

Joe Biden justificou a decisão por considerar que as três condenações em causa – posse de armas, ocultação de consumo de drogas e evasões fiscais – “tiveram motivações políticas”.

Hunter Biden tinha-se considerado culpado no caso de fugas ao fisco (saldando as dívidas fiscais de 1,4 milhões de dólares relativas a 2016-19, actividades na Ucrânia) mas mesmo assim avalia-se que poderia vir a ser condenado em “17 anos de prisão no caso fiscal e 25 anos de prisão por posse ilegal de armas”.

Também Trump tem uma sentença ainda pendente depois de ser condenado em maio. Também já se prevê a solução para os apoiantes de Trump que foram condenados por crimes após a tomada do Capitólio a 6 de janeiro de 2021…

Se temos de estar atentos à informação propagada na Europa condicionada aos interesses da NATO e da EU, será de ter a mesma cautela relativamente às informações propagadas sob a perspetiva dos interesses russos. Missão difícil numa sociedade relativista convencida de viver de “certezas” como se a própria ideologia fosse o espaço da paz a impor ao sistema concorrente.

António da Cunha Duarte Justo

Texto completo em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=9604

 

 

ANTÓNIO COSTA APRESSADO EM VISITAR KIEW

Ontem, 1 de dezembro de 2024, António Costa passou a ser o presidente do Conselho Europeu. A ida a Kiev, no mesmo dia da tomada de posse, revela um beija-mão a Ursula von der Leyen e um ajoelhar-se perante os interesses alemães em Bruxelas.

Certamente, Costa conseguiu o posto advogando publicamente em tempo propício os interesses de países como Alemanha e França que querem que os países pequenos abdiquem da sua soberania e com isto do seu direito a veto para fortalecerem o aparelho de Bruxelas e o eixo Alemanha-França já sem o incómodo de ter de prestar atenção aos legítimos interesses das nações.

Será de esperar que os países membros com menos peso na Europa, com o tempo, levem António Costa a representar também os interesses das nações com menos relevo.

Doutro modo desiludirá também os portugueses e então a União Europeia continuará – ignorando a Europa – a ser uma mera acólita dos EUA e a apoiar a sua política resumida na “Doutrina de Rumsfeld- Cebowski”.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=9607

 

1° DOMINGO DO ADVENTO

“Advento quer dizer chegada, é o tempo de espera e de esperança. Liturgicamente, o tempo de espera é o tempo grávido que vai até ao dar à luz: o natal acontece hoje e sempre na gruta do coração, onde se dá a revelação d’Aquele que é, que era e que vem (Ap 1, 4-8). Ele não foi nascer no templo nem no parlamento, nasceu e nasce numa gruta da terra ainda virgem e aberta a tudo e todos, onde se pode encontrar pobre e rico, crente e céptico, toda a pessoa de boa vontade, aberta e disposta a deixar-se surpreender para dar oportunidade à criatividade…

O Advento é uma caminhada, um percurso com altos e baixos, com ventos e acalmias. Séneca dizia: “Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir”…

Texto completo em Pegadas do Tempo: http://antonio-justo.eu/?p=3975

 

ESCOLA PÚBLICA

Hoje é o dia do inventor da escola pública e gratuita! Ele foi perseguido…, abriu escolas em toda a Europa para crianças pobres e abandonas.

Não, ele não viveu no século XX, mas no século XVI/XVII.

Não, ele não era comunista, mas padre. São José de Calasanz, nasceu em 1557 na Espanha.

Foi o fundador da primeira escola pública cristã e da Ordem Religiosa das Escolas Pias mais conhecida por Escolápios (por se dedicar à educação da juventude). Em 1948, o papa Pio XII declarou José de Calasanz patrono das escolas cristãs. Várias ordens religiosas seguem a sua espiritualidade e carisma. As suas ideias educativas centravam-se no respeito pela personalidade da cada criança vendo nelas a imagem de Cristo.

Em 1717, na Prússia, que surgiu a educação estatal pública, instituída como escola obrigatória para crianças entre 5 e 12 anos, pelo rei Frederico Guilherme.

António CD Justo , Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=9602

 

À VARANDA DA VIDA

À varanda da vida me sento a mirar,

Sonhos de alma em frágil embrulho,

Papel que envolve o fado a dançar,

Por caminhos onde a poesia faz arrulho.

 

A noite, em rimas, tece o enredo,

Entre prosa e verso me encontro preso

Faísca de amor, sigilo aceso,

Beijos clandestinos clareiam meu segredo.

 

Pelas ruas, em ventos, me vejo levado,

Por ti, Mulher, desejo desenhado…

No vazio já desperto, sou só caminho,

Mas contigo sou a sombra que dá carinho.

 

Sim meu amor, de nome mulher

Em ti sou passo, sombra que almeja,

Morar num sol que o longe despeja

Em mar virgem de tudo sedento.

 

Deixa-me vagar, livre e errante,

Terra e sol em abraço constante,

Sonhar caravelas ao mar entregues,

Em aurora perdida que o sonho segue.

 

Na ilha dos amores, ao luar que dança,

Degustamos estrelas, luzes de esperança,

Sem Adamastor, num céu que avança,

Sulcando o mar que em nós se amança.

António CD Justo

In Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=9614

http://poesiajusto.blogspot.com/

 

561. É NATAL QUANDO UM OTIMISTA QUISER 12.2024 chrys c

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561. É NATAL QUANDO UM OTIMISTA QUISER 12.2024 8esta crónica e anteriores estão em https://www.lusofonias.net/mais/as-ana-chronicas-acorianas.html)

 

A todos desejo, nesta data e nas que se seguem crises, guerras, fomes, catástrofes naturais e humanas, entremeadas com os melhores votos, na certeza de que cada um de nós constrói o berço de palhinhas em que se deita e não adianta ficar à espera porque os Reis Magos já não andam de camelo e o GPS deles não vos vai localizar. Por outro lado, se olharem em volta verão Pilatos e Herodes e na cruz já não estão o bom e o mau ladrão que esses andam mais ocupados em coisas da governação e não têm paciência para fazer companhia na cruz ao Cristo. Desde o início do ministério público de Jesus, fariseus e adeptos de Herodes, com sacerdotes e escribas, mancomunaram-se para matá-lo. Por causa de certos atos por ele praticados (expulsão de demónios, perdão dos pecados, curas em dia de sábado, interpretação original dos preceitos de pureza da Lei, de pureza da Lei, familiaridade com os publicanos e com pecadores públicos), Jesus pareceu a alguns mal-intencionados, suspeito de possessão demoníaca. Assim, é acusado de blasfémia e de falso profetismo, crimes religiosos que a Lei punia com a pena de morte sob forma de apedrejamento. Nos templos, ora cheios de vendilhões, já ninguém ouve os poemas do poeta popular António Aleixo:

Os Vendilhões do Templo

Deus disse: faz todo o bem

Neste mundo, e, se puderes,

Acode a toda a desgraça

E não faças a ninguém

Aquilo que tu não queres

Que, por mal, alguém te faça.

E o mundo só pode ser

Menos mau, menos atroz,

Se conseguirmos fazer

Mais p’los outros que por nós.

Quem desmente, por exemplo,

Tudo o que Cristo ensinou.

São os vendilhões do templo

Que do templo ele expulsou.

….

António Aleixo,

in “Este Livro que Vos Deixo…”

Hoje, há muitos que mereciam muito mais serem apedrejados e continuam à solta aproveitando as mordomias que o povo ignorante e manipulável lhes concede em troca do voto quadrienal com que os enganam, enquanto distribuem futebol, fado e falácias (podia dizer Fátima) diversas em ambiente circense de telenovela, vivida em tempo real para que as pessoas se preocupem com as inutilidades dos outros sem cuidarem da sua. Aos iluminados desejo esperança, sim que eles são a elite minoritária que teima em não se calar, seja em WikiLeaks ou outros instrumentos de desmascarar a globalizada corrupção que detém os cordelinhos dos dirigentes políticos em folias mandatadas pela banca e outros interesses, embora como elite que são e informada se arrisquem a ter um processo em cima para serem desacreditados perante os ingénuos e analfabetos.

Eu sigo esta longa caminhada dando graças pela felicidade de estar vivo, lúcido e atuante, após muitas vidas que já vivi, dedicando-me a compartilhar saberes e culturas múltiplas sem epifanias, agora que a minha mulher e companheira resolveu emigrar para latitudes celestes (há quase um ano, já) quando não tento manter viva essa aberração que é a família nuclear e deixando um legado que nenhum fariseu aceitaria, em epístolas como esta para que seja natal em cada dia do ano e não apenas quando os comerciantes nos tentam seduzir, mesmo a nós pobres saduceus da atualidade com promessas de felicidade material que só aumentam o nosso servilismo perante os nossos verdadeiros donos, os bancos. Só podemos dar aquilo que temos. E desenvolver uma atitude positiva é o primeiro passo para tornar este mundo um lugar muito mais habitável para as nossas crianças. A vida é bela? É, se assim o quisermos. Mas a verdade é que ainda se pensa nos otimistas como um dos extremos da balança que tem no outro prato os pessimistas e no centro a virtude, ou seja, os ‘realistas’. Cada vez mais, no entanto, o otimismo é visto como o verdadeiro realismo: uma espécie de realismo emocional, que através de uma perceção positiva da realidade nos ajuda a ver a vida com outros olhos, e, graças a isso, a construir uma vida melhor. “As pessoas otimistas são aquelas que acham que a vida vale a pena ser vivida”. Mesmo que a nossa cultura permaneça mais adepta do noivado do sepulcro do que de um amor feliz, está nas nossas mãos lutar contra isso. Ser otimista não depende das circunstâncias, mas da atitude. Está cientificamente provado que as pessoas pessimistas têm probabilidades mais fortes de viver deprimentes, mais debilitadas, visto serem um tipo de pessoas que se desleixam na sua saúde, com isto influenciando uma morte precoce. Em contrapartida as pessoas que têm atitudes otimistas levam uma vida mais feliz, mesmo perante as desgraças conseguem rir e encontrar algo positivo e engraçado. As pessoas otimistas também facilmente conseguem atingir com sucesso os seus sonhos, desejos e objetivos. Ser otimista contribui para viver e combater certas doenças e ajuda a prevenir contra problemas de cardíacos. As pessoas que olham para o mundo e para o futuro de uma forma positiva envelhecem de uma forma mais agradável sofrendo menos perante as doenças normais à idade, podendo aumentar a esperança média de vida. Dito isto e face à crise que aí vem para os próximos anos (ou décadas), sorria, sinta-se melhor e lembre-se dos milhões que estão bem pior, os que ainda não têm (ou já não têm) liberdade de escrever o que pensam e sentem, os que não têm água ou comida, os que não têm teto para se abrigar, os que não têm saúde para viver, que não têm trabalho, os escravizados e todos os que estão pior do que nós. É esse o espírito que vos desejo para os próximos 365 dias.

414 CRÓNICA DA ESCRAVIDÃO PERPÉTUA, 29.8.2021

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DA ESCRAVIDÃO PERPÉTUA, 29.8.2021

Por vezes acontecem ideias a meio da noite ou em sonhos de despertares súbitos. Totalmente exsudado despertei e entendi a máquina que move os humanos. Lembrei-me das civilizações de Grécia a Roma. Entendi pontos obscuros da teoria dos multiversos, ou universos paralelos e o que há de comum em toda a História. Locke é considerado como “o último grande filósofo que procura justificar a escravidão absoluta e perpétua”. Ao mesmo tempo que dizia que todos os homens são iguais, defendia a escravidão a exemplo de Aristóteles, que foi o primeiro a fazer um tratado político defendendo a escravidão. Nesse tempo era comum, Locke era um homem da época – o que não diminuiria a importância das ideias, revolucionárias em relação ao seu tempo.

 

Há mais de 2500 pessoas todos os meses a arriscar a vida na fuga à guerra, à fome, violações, escravatura, para uma grande parte morrer afogada no Mediterrâneo, ou ficar detida em novos campos de concentração de Ceuta a Itália, Grécia etc., mas a TV não está lá. No Congo, ex-Belga, de mil e uma guerras e de um genocídio (poucos falam, seriam 10 milhões? Fora os amputados e outros) há milhares de crianças de 4 anos e mais, escravas, a trabalharem em minas a céu aberto, para produzirem minerais indispensáveis aos telemóveis que todos usamos (ex.º lítio), mas a TV não está lá. Na Palestina a vida miserável nas pequenas faixas de terra que Israel ainda não anexou, não permite que uma criança tenha infância, só existe um caminho o do ódio e da guerra contra os opressores, mas o Facebook não permite mostrar e a TV não está lá. Na Líbia e noutros locais longe do alcance das câmaras de televisão há crianças, mulheres e homens a serem vendidos como escravos (menos de 20€ por cabeça), como acontecia há cinco séculos, sempre aconteceu, e a imagem abaixo ilustra (Líbia) mas também não estava lá a TV durante horas a comentar o preço de venda de seres humanos, com a corte de comentadores especializados. Não sabemos quantos milhares de afegãos ficaram sem poderem escapar aos talibãs em agosto 2021. O mesmo nas imagens dos aborígenes australianos em pleno séc. XX. Nem quantos iemenitas não puderam fugir da guerra que se perpetua no seu país, e na Somália, e em tantos outros locais.

 

“A escravidão não é coisa do passado e nunca foi tão lucrativa”.

O alerta vem do advogado, autor e ativista Siddharth Kara, um dos principais especialistas em tráfico de pessoas e escravidão, temas que leciona na Universidade de Harvard. “Nenhum país é imune e somos todos cúmplices. A escravidão permeia a economia global mais do que em qualquer momento do passado”, diz. A estimativa é que a escravidão gere lucros de 150 biliões de dólares por ano. Há 21 milhões de escravos no mundo, segundo a Organização Internacional do Trabalho. Nos últimos 17 anos, Kara entrevistou mais de 5 mil pessoas que estão ou estiveram nestas condições em mais de 50 países.

Mas afinal de que escravidão falamos? Há uma forma generalizada e comum: “Nunca ninguém foi verdadeiramente livre” por mais aparência que existisse, como as gerações entre 1960 e 2000, em que mais liberdadezinhas houve no mundo ocidental. Sempre houve normas e convenções, embora a humanidade tenha estado dependente dos desígnios da minoria mandante que dita os moldes da escravidão em cada era, desde a fixação do horário de trabalho, à remuneração, recompensa por bom comportamento dos súbditos, até à existência ou não de tempos de lazer, se tal não afetar a capacidade produtiva. Ninguém escapa a esta engrenagem, nem mesmo os que, pretensamente, vivem off-the-grid (fora da rede), pois necessitam de bens produzidos pelo sistema e a troca direta “barter”, nem sempre é possível. Os desprovidos são os desempregados, sem-abrigo e os que fugiram ao ciclo produtivo, com liberdade de fazerem o que quiserem desde que seja gratuito, o que os limita a viverem à sombra da bananeira, numa ilha deserta, rica para a alimentação, vestuário e outras necessidades. Só é possível em literatura de ficção. Os senhores do mundo, usam os instrumentos ao seu dispor, desde a escravatura materialista das sociedades contemporâneas à religião, à contrainformação, aos espetáculos circenses que reproduzem a máxima romana de “pão e circo (panem et circenses)” que vai dos mundiais de futebol a outros alegados desportos dominados pela máfia do dinheiro, anestesiando as massas e criando escape a sentimentos reprimidos. Basta averiguar o mito das férias que perpetuam a escravatura consumista. Se estiver numa ocupação produtiva remunerada, provavelmente recebe um montante extra para gastar, caso contrário, nem subsídio de férias. Se (por ex.º) viver na Lomba da Maia, sem dinheiro extra nem carro, vai a pé 4 km até à Praia da Viola e chamará a isso férias, ou aproveitará o tempo para cuidar da casa, pintá-la ou renová-la com o seu trabalho gratuito e chama a isso de férias. Se vai para fora (cá dentro ou lá fora) de férias e já entrou num esquema de crédito ao consumo, nunca mais se libertará do ciclo vicioso de trabalhar para pagar ao banco o que pediu emprestado e os juros exorbitantes da invenção a que chamam dinheiro. Endividou-se para estudar, então trabalhe, para reembolsar a banca, que sobrevive explorando-o a si e aos demais. Se pensa que não é um escravo, pense na vida dos seus antepassados e (na grande maioria dos casos) verá como é apto o título desta crónica. E se pensa que os donos disto tudo são livres, desengane-se, sem nós, escravos perpétuos, eles nada são e têm de se certificar constantemente de que há muitos escravos para manterem o sistema a funcionar. Por mais oleado que o esquema esteja, precisam de inventar continuamente novas normas e retribuições, fake news, para que a roda dentada da engrenagem continue a funcionar e dar lucros, cada vez maiores. Até eles são escravos da escravatura que impõem aos outros. Seria uma vida mais livre e menos escrava antes de se ter inventado o dinheiro? Não há relatos fidedignos. E os poetas, sonhadores, escritores, enganam-se pensando que são livres, apenas na realidade virtual atingem esse modicum enganoso de liberdade. PENSE BEM NISTO ANTES DE COLOCAR O SEU VOTO NA URNA E DECIDIR QUEM O VAI GOVERNARAborígenes australianos em cativeiro séc. XIX-XX.

crónica 450,SANTA MARIA DOS AÇORES – O NOVO TRIÂNGULO DAS BERMUDAS 28.4.2022 _____________________________________

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SANTA MARIA DOS AÇORES – O NOVO TRIÂNGULO DAS BERMUDAS 28.4.2022 crónica 450,

Gosto imenso da ilha de Santa Maria que fui conhecer em 2006 depois de me radicar em São Miguel (2005) e antes de descobrir as restantes. Tem gente capaz, bons escritores, e uma história riquíssima, além de caraterísticas únicas da Vila do Porto. O autor Pedro Almeida Maia esteve lá a lançar o seu livro IlhAmérica que narra uma epopeia de fuga da ilha, em tempos idos, e encontrou o cinema, reconstruído há dois anos, vazio, a aguardar equipamentos e reinauguração. Não encontrou o porto espacial da Malbusca que devia ter entrado em funcionamento em 2021, nem o recife artificial por afundamento do antigo navio da Marinha Portuguesa, NRP Schultz Xavier, nem a velha Torre de Controlo do aeroporto restaurada a rigor, nem reabilitadas as casas prefabricadas (do bairro do aeroporto) dos norte-americanos, nem um museu da segunda grande guerra, nem as estradas recuperadas e asfaltadas como todos clamam há anos. Entrementes continua a não se aproveitar o potencial do enorme aeroporto que a tantos tem servido de salvação, agora que o Concorde não existe e a navegação transatlântica ali não reabastece exceto em emergências. Encontrou as belezas naturais, que essas o homem ainda não destruiu, e os sedimentos fossilizados que pontilham a ilha, nem todos de fácil acesso e daí ainda se manterem preservados. Vem isto a propósito de nestes anos todos que levo dos Açores, pensar que a ilha mais parece um novo Triângulo das Bermudas, onde as inovações (salvo o novo largo em frente à Câmara Municipal) tendem a desaparecer antes de se concretizarem, ou raramente se concretizam, seja por má vontade política, incompetência governamental, inoperância e burocracia ou outra razão que a todos escapa. Existe gente ativa com blogues e publicações a alertar para isto mas as queixas mergulham nas profundezas abissais sem rasto. Recordo as minhas impressões da ilha em 2006 esperando que estas não caiam na fossa das Bermudas…

A primeira coisa que nos chamou a atenção foi a falta de gente na ilha. Em especial à noite, vista do Hotel, Vila do Porto só mostrava os postes de iluminação pública acesos, as casas estavam (na maioria) às escuras. Para perceberem porque é nos sentimos numa ilha temos de perceber a dimensão e a sua pequena população… A capital, Vila do Porto é a mais antiga das vilas açorianas, onde se podem ainda observar vestígios de velhas casas, do Capitão Donatário com janelas do séc. XV. Santa Maria foi a primeira a ser descoberta. Alegadamente foi Diogo Silves em 1427.

É a única com grandes proporções de terra de origem sedimentar, onde se podem encontrar fósseis marinhos. As casas estão espalhadas e as chaminés lembram o Algarve. As terras são muito férteis e a paisagem rural é de grande beleza. Foi a primeira a ser povoada, vê desembarcar das caravelas em 1439, o punhado de pioneiros que se fixaram na Praia dos Lobos, na ribeira do Capitão. João Soares de Albergaria, sobrinho do primeiro Capitão Donatário e seu herdeiro, deu novo impulso ao povoamento trazendo famílias, sobretudo algarvias. Até final do séc. XV, Santa Maria regista grande desenvolvimento, e o primeiro foral de vila nos Açores foi concedido à localidade desde então denominada Vila do Porto. A prosperidade da ilha assentou, até final do séc. XVIII, no pastel, considerado o melhor do Arquipélago e em abundância, e na urzela, exportados para as tinturarias da Flandres, além da cultura do trigo, que tinha procura no Continente e abastecia as praças-fortes portuguesas do norte de África. Dedica-se à agricultura, vinhedos, trigo, milho, batata, inhame, pomares, à pecuária e laticínios, Santa Maria atravessou, sem sobressaltos, os sécs. XVIII e XIX, se excetuarmos a presença de um contingente de jovens entre as tropas que participam no desembarque do Mindelo em plenas guerras liberais. O séc. XX traz dinâmica e progresso, com a construção do Aeroporto em 1944, de grande valor estratégico durante a Segunda Guerra e ponto de escala obrigatório nas travessias atlânticas, até finais da década de 60. Quando estive pela primeira vez em Santa Maria, viajei de volta à minha adolescência tendo fascinado prédios e instalações antigas, em especial as instalações do enorme aeroporto, da Vila do Porto. Tudo me encanta e remete ao passado azafamado da Segunda Guerra, quase coetâneo do meu nascimento. Até pensei em tentar fazer um projeto de recuperação das instalações. Nessa data – e já lá vão uns anos – ainda não era a Câmara Municipal responsável por muitos desses equipamentos urbanos. Imaginem só, se fosse possível das instalações desativadas construir um verdadeiro museu vivo em homenagem ao esforço da Segunda Guerra, seria possível reproduzir artesanalmente dentro daquele espaço incrível a vida no tempo da guerra. Haveria lugar para o artesanato que os visitantes poderiam levar de lembrança, criando oportunidades e revitalizando a Vila do Porto. Até agora deixaram acabar quase tudo o que era importante preservar. Assim se reporia a verdade sobre um povo maravilhoso que merecia maior respeito pela história e património, uma pena… falta converter tudo num Museu vivo e recolher exemplares de relíquias da guerra.

426, E SE NADA FOSSE REAL 27.11.2021

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426, E SE NADA FOSSE REAL 27.11.2021

Hoje, acordei particularmente tarde mas bem-disposto. Ao abrir a caixa de Pandora do mundo da ciência descobri o título que me fascinou: E SE NADA FOSSE REAL (nova hipótese argumenta que o universo simula a sua própria existência). Trata-se de artigo do Quantum Gravity Research Institute que visa unificar as mecânicas quânticas com uma perspetiva não-materialista. Seremos reais? E se tudo que cremos ser real, as pessoas, e os eventos da nossa vida não existissem, mas fossem uma simulação complexa? Já, em tempos, o filósofo Nick Bostrum se interrogava “Estamos a viver numa simulação de computador?” Tratar-se-ia de simulações deveras complexas criadas por seres muito evoluídos. Contudo, a nova teoria exclui os seres evoluídos e indaga “Será uma autossimulação que é gerada pelo próprio pensamento?” Não disponho de conhecimentos suficientes, e de física quântica nada sei, para tentar seguir a argumentação dos autores desses artigos. Penso ou sinto, que seria mais agradável se nada fosse real, e fosse simulado ou imaginado. Seria benéfico, se pudéssemos apagar da memória coletiva, a chamada história da humanidade, a maioria dos acontecimentos de que há memória: confrontos violentos, guerras, destruição arbitrária e aleatória, a própria maldade humana inerente a todos os seres que simulam tal realidade? Seria possível ao pensamento evoluir para uma realidade menos destrutiva, menos desigual, menos escravocrata? A simulação que temos vivido nestes milhões de anos de existência simulada de humanoides narra uma história de uma minoria a dominar a maioria dos seres sencientes, meros escravos cuja única razão de ser é a permitir a existência dessa minoria dominadora. Até agora o grande ponto fraco da IA (inteligência artificial) tem sido o de ser concebida e criada por humanoides, pelo que resta saber se um dia se independentiza e consegue conceber-se sem as falhas humanas que lhe deram origem. Será então capaz de criar uma autossimulação da realidade totalmente distinta da atual e pode então decidir que o melhor destino dos “homo sapiens sapiens” é o de serem escravos dessa mesma inteligência artificial, bem menos imperfeita do que aquilo que vemos na atual ordem mundial. Ou alternativamente, pode decidir que não precisa dos humanos para nada. E é por isto que, às vezes, apetece pensar que nada do que experienciamos é real.

somos todos culpados

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Somos todos culpados

A FIFA continua o contorcionismo para levar o Mundial de 2034 para a Arábia Saudita. E isso é tão mau como acharmos que é a única que está mal na relação com quem desrespeita direitos humanos.

António Tadeia

dez 4

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Cristiano Ronaldo, o ministro do desporto, Gianni Infantino, presidente da FIFA, e Mohammed bin Salman, o príncipe herdeiro saudita, ideólogo maior do sportswashing com que pretende abrir caminho à diversificação da economia do país

Palavras: 1317. Tempo de leitura: 7 minutos (áudio no meu Telegram).

No Verão passado, fui convidado pelo Carlos Vaz Marques para apresentar, na Feira do Livro, a edição portuguesa de Jogos de Poder, uma obra de Jules Boykoff que a Zigurate lançou por cá e que percorre as relações quase sempre perigosas estabelecidas ao longo dos tempos entre o olimpismo e a exploração do homem pelo homem. Ainda tentei desmarcar-me, pois não percebo nada de Jogos Olímpicos, mas em boa hora lá fui, porque isso foi um pretexto para reencontrar o meu bom amigo Luís Lopes, ex-companheiro de redação no Público e a maior enciclopédia viva do desporto em Portugal, que dividiu comigo o palco. E para ler o livro – que vale bem a pena, quanto mais não seja porque nos explica que há sempre camadas em tudo o que é a tentação maniqueísta de dividir o Mundo entre bons e maus. Nestas coisas, como é bem exemplo neste momento a polémica em torno da atribuição do Mundial de 2034 ao regime autocrático e desrespeitador de tudo o que são os mais básicos direitos humanos da Arábia Saudita, é sempre bom relativizar. Mas relativizar não significa compactuar. Nem com um Mundial como forma de lavagem de imagem pelo desporto nem com a hipocrisia dos que acusam a FIFA mas depois vão todos contentes atrás do dinheiro que vem dos mesmos sítios com máscaras legitimadoras.

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A questão do Mundial de 2034 voltou à ordem do dia por causa de um relatório comprado, perdão, encomendado, perdão, pedido pela organização saudita ao escritório de Riad da firma londrina AS&H Clifford Chance, onde eram avaliadas as condições para que o regime de Riade recebesse um Mundial de futebol. A Amnistia Internacional e a Human Rights Watch já tinham denunciado “graves deficiências” no dito relatório. “Se não se fizerem reformas amplas, serão detidos todos os que tiverem atitudes críticas, discriminar-se-ão mulheres e pessoas LGBTI e explorar-se-ão trabalhadores numa escala massiva”, disse então Steve Cockburn, subdiretor da Amnistia Internacional. Esta semana viu a luz do dia um estudo da Play The Game, uma Organização Não Governamental dinamarquesa criada com a ideia de “fortalecer a base ética e promover a democracia, a transparência e a liberdade de expressão no desporto”, no qual se identifica a vastidão da operação de lavagem conduzida por Mohammed bin Salman – e vale muito a pena ouvirem o episódio de Heroes & Humans of Football que lhe é consagrado – da qual fazem parte “pelo menos 910 contratos com profissionais ou entidades desportivas”. A visão do poderoso MbS na tentativa de diversificação da economia saudita, para a tornar menos dependente do petróleo, passa muito pelo desporto e pela capacidade de atração que ele potencia, mas será um erro olhar para Zurique e para a FIFA e apontar-lhes o dedo de uma forma exclusiva. Porque a verdade é bem mais dolorosa: nestas coisa não há inocentes. Somos todos culpados. Incluindo a FIFA, mas não excluindo quase tudo o que é responsável da nossa tão querida Europa Ocidental dos valores.

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Se comecei por vos falar do livro de Boykoff foi precisamente para reforçar a hipocrisia que está sempre associada a estas coisas e que isso não acontece só no futebol e por causa da sua transformação em indústria dos milhões. O olimpismo, afinal de contas, é o quê? O que era a obsessão do barão Pierre de Coubertin pelo amadorismo, ainda hoje apontada por muitos como a defesa da pureza do desporto, senão a exclusão classista dos desfavorecidos, que ele defendia de uma forma descarada? O desporto, na visão de Coubertin, era para aristocratas, para os que não precisavam de trabalhar para comer. Aos atletas que, não possuindo outras fontes de rendimento, se faziam pagar para o praticar era vedada a participação nos Jogos. O que era o impedimento da participação de mulheres nas primeiras edições dos Jogos da era moderna, onde elas apareciam só para enfeitar as cerimónias de entrega de medalhas, senão a mesma discriminação que lhes vedava o direito de voto e que por essa altura era combatida pelas sufragistas? Era ou não verdade que tanto Coubertin como Juan Antonio Samaranch, presidente do COI até 2001 – e depois presidente honorário vitalício – eram simpatizantes da ideologia nazi? Os Jogos Olímpicos foram ou não, tal como os Mundiais de futebol, exemplos de lavagem e promoção de regimes desrespeitadores dos mais básicos direitos humanos ao longo das eras? Tivemos o Mundial de futebol de Mussolini em 1934 e os Jogos Olímpicos de Hitler em 1936… Era o espírito da época? Mas o que dizer da atribuição dos Jogos de 1968 e do Mundial de 1970 ao México do PRI e da corrupção? Da cedência aos blocos dominantes e abertura aos boicotes nos Jogos de 1980 em Moscovo e 1984 em Los Angeles, tornando o desporto uma arma de peso na Guerra Fria? Da atribuição do Mundial de 1978 à Argentina do general Videla e do de 1982 à Espanha que, à data da votação, ainda vivia debaixo do jugo do general Franco? Da entrega, aparentemente por ingenuidade de Blatter, do Mundial de 2018 à Rússia de Putin? Ou, depois, por clara e já provada interferência do presidente francês Nicolas Sarkozy na inversão de tendência de voto europeu, do Mundial de 2022 ao Qatar do emir Al Thani?

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É o dinheiro a falar, sim. Muitas vezes se ouve esta justificação, num misto de resignação com esperteza saloia. Há quem diga que que esta cedência a quem pode pagar permite que os desportistas sejam cada vez mais bem recompensados, como há quem prefira ver o outro lado da coisa e reconheça que, sim, houve uma exploração indecente de mão de obra imigrante na construção dos estádios onde se jogou o Mundial do Qatar, levando a inúmeras mortes, mas que as coisas teriam sido muito piores se não tivesse havido Mundial e supervisão da FIFA. E por um lado, sim, talvez isso seja verdade. Há uma parte de nós que quer achar que só porque aparece sempre a afagar um gato, Blofeld, o mau do 007, se calhar até tinha um fundo bom e que tudo o que precisaria era de um impulso – o impulso que nós vamos dando a autocratas ao permitir-lhes organizar estas grandes competições. Hoje, porém, estou convencido de que essa não é a motivação maior. Blatter pode ter sido ingénuo na sua relação com Putin até ao dia em que, tendo a Rússia alargado a intervenção original na Crimeia ao resto da Ucrânia, nem os assessores do déspota russo lhe atenderam o telefone ou responderam aos e-mails, assim lhe frustrando o sonho de receber um Nobel da Paz por acabar com a guerra. Mas há cada vez menos espaço para essas ingenuidades. Se Sarkozy pressionou Michel Platini a mudar os votos da UEFA a troco de uma injeção de capital qatari em setores fragilizados da economia francesa, se o governo britânico de Boris Johnson pressionou a Premier League a aprovar a compra do Newcastle United pelo fundo soberano do reino saudita para não perder outros negócios, por exemplo do setor dos automóveis de luxo, se os sauditas estão a comprar tudo o que é desporto, do golfe ao ténis, agora com ameaça de entrada no rugby, a conclusão a tirar não é a de que a FIFA está a ceder. A FIFA sempre cedeu, como o COI sempre cedeu. E, o que é mais grave, os nossos governos também sempre cederam. Nós é que tardamos em reconhecer que somos todos culpados e que é preciso fazer um risco no chão, porque há coisas que deviam ser inegociáveis. E a dignidade humana é a maior de todas elas.

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422 SE HOUVESSE CULTURA NOS AÇORES TERÍAMOS CASAS-MUSEU 26.10.2021

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422 SE HOUVESSE CULTURA NOS AÇORES TERÍAMOS CASAS-MUSEU 26.10.2021

Já em 2003, recém-chegado da Austrália, imaginei Portugal com roteiros culturais dedicados aos seus autores, como então escrevi em “A língua portuguesa e a UE alargada, 2003-06-02 Revista ELO |

Quem se lembrou de incluir roteiros turísticos literários a locais celebrizados pelos monstros sagrados da literatura dos sécs XIX e XX? Alguns constam dos vulgares roteiros paisagísticos, mas falta organizar a leitura desses autores, e a divulgação nesses locais [como em abril 2003 com o prémio Camilo Castelo Branco a Mega Ferreira]. Disponibilizavam-se traduções ou reedições (económicas, sem luxos) para os milhares de turistas que quererão vir a Portugal. Lucrava o país, editores, operadores turísticos e a língua. Podíamos começar com Saramago e um roteiro às terras de origem acompanhado de leitura de obras suas, disponibilizadas em línguas dos países da UE, passando por locais evocados em “A Cidade e as Serras” e paisagens dos Açores de Nemésio, à Brasileira de Pessoa ou a Monsanto de Fernando Namora. Convidavam-se professores jubilados que amam a Língua Portuguesa para falarem das mil e uma nuances de cada um, pedia-se aos autores vivos que disponibilizassem um dia do calendário para falar ou ler a sua obra num cenário apropriado. Estou certo de que a organização de tais eventos custaria menos do que muitas funções oficiais já agendadas.

Posteriormente, com a morte em 2008 de Dias de Melo e de Daniel de Sá em 2013 propugno a criação de casas-museu como forma de homenagear aqueles autores e a sua obra, uma na Calheta de Nesquim e outra na Maia micaelense. Agora que o Cristóvão de Aguiar abandonou as vestes terrenas, e depois de falar com os filhos reitero a necessidade de uma Casa-Museu na localidade de S. Miguel Arcanjo, São Roque do Pico para onde ele se mudou na década de 1990 e ali fez a sua segunda casa. Os filhos estão dispostos a repor toda a sua biblioteca e manter a casa tal como estava quando ele a habitava a fim de que possa ser convertida num local dedicado ao autor e às suas obras. (mas face ao desinteresse do governo regional e autarquias, a casa foi vendida.) Se a região autónoma dos Açores tivesse uma verdadeira Secretaria da Cultura esta deveria inscrever já no orçamento regional montantes destinados a adquirir as casas daqueles autores e convertê-las em Casa-Museu. Uma região que não honra a memória dos seus maiores nas letras e artes não pode arrogar-se o direito de falar na sua história e muitos menos dizer que tem cultura. É essa visão que sempre faltou a esta autonomia envergonhada em que vivemos. Propositadamente deixei de fora todos os outros autores que merecem idêntico tratamento e concentro-me nestes três pois com eles lidei e deram contributo de relevo aos nossos Colóquios da Lusofonia. Se o governo não quiser, que seja a autarquia de São Roque do Pico a tomar a dianteira e a iniciativa e a ficar na vanguarda desta merecida homenagem ao prolífico autor Cristóvão de Aguiar. Fico à espera.