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Prezado(a),
POETAS DE PORTUGAL EM DIMENSÃO.pdf
Seguem anexos exemplares dos livros eletrônicos Poetas de Angola em Dimensão e Poetas de Portugal em Dimensão, revista física editada em Uberaba/Brasil de 1980 a 2000.
Cordialmente, Guido Bilharinho, editor. primaxrevista@gmail.com
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les soldats sans armes
s’enfoncent dans la guerre
ils sont les pauvres avocats
de la paix sur la terre
mes armes sont l’amour
la compréhension
elles tuent
les sentiments des déshonnêtes
tant que les fusils
ceux qui bataillent
je cherche la paix
pas la guerre.
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ver crescer os filhos são partos constantes
dores difíceis de conter
a ti vi-te crescer na barriga da mãe
desde que foste à austrália sem o saberes
depois quase não nascias por incúria médica
e ali ficaste no porto cinco anos
geneticamente carente de mimos
antes de viveres na minha bragança
e vires desabrochar adolescente nos açores
correste as ilhas e o mundo
sentiste a lava no pico
o barro na faneca de santa maria
a vertigem das fajãs de s. jorge
viste o mar imenso no farol da maia
o rochedo do topo e o ilhéu da vila
mergulhaste nas lamas das furnas
antes de nadares em copacabana
aprendeste a nadar na rousia
fizeste-te às ondas nos moinhos
foste á caldeira no faial e capelinhos
visitaste hong kong e macau
brasília, são paulo e rio de janeiro
viajaste a anhatomirim
ribeirão da ilha, santo antónio de lisboa
lagoa da conceição e palhoça
na grande floripa de santa catarina
correste a galiza paraste em londres
andaste de burro, cavalo e bicileta
deste cabo da cabeça aos profes
da escola da maia e à tua mãe
convertes alegrias em preocupações
canseiras, dores e horrores
privilegiado sem o saberes
viveste os últimos sonhos da geração beat
e dos baby boomers antes da crise
hoje preocupo-me com o futuro
o teu e dos teus contemporâneos
sem sonhos para viverem
sem amanhã para sonharem
sem teorias permissivas do dr spock
embalados no conformismo urbano
sem saber de sputniks nem guerra fria
sem a ordem natural da família nuclear
sem ler os angry young men
sem os verões de amor nem os dias de raiva
sem a geração do flower power
if you go to san francisco
antes de serem yuppies nos anos 80
sem guerras do vietnam ou das colónias
sem disputas entre beatles e stones
sem joan baez nem bob dylan
sem a route 66 do kérouac
agora terás de encontrar a rota na selva
viveres a vida sem rede de segurança
sem sistema universal de saúde
nem serviço público de televisão
cursos sem saída nem amanhã
que não seja emigrar e fugir
amizades feitas no facebook
a virtualidade de sentimentos
a solidão das multidões
e eu carregado de experiência e saber
escrevo desabafos mudos em poesia
impotente sem nada poder fazer
eivado de utopias antigas, democracia
igualdade, fraternidade e liberdade
abafadas neste neoliberalismo selvagem
a minha voz será flor murcha
neste deserto de ricos prepotentes
e às massas sem forças para marchar
só resta gritar antes de perecer
(depois de ler, ver http://www.youtube.com/watch?v=RXYAJF9ZmkY&feature=share)
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joana caminhava nas negras areias
carregava a pesada cruz
dos sapatos do pai
não deixava pegadas
na leveza do seu ser
era onda era maré
maremoto de palavras
figura gentil e frágil
caravela de mil descobertas
escrevia amor
nas entrelinhas do pai
acordou e era poeta
na leveza do seu ser
por mérito próprio
nascera de novo
joana de mil sorrisos
porto de mil abrigos
cais de mil partidas
estas as palavras que eu disse
e joana se fez livro e partiu
à descoberta do mundo
que era seu como o infinito
neste rio sem margens
nascido na praia com aban
trazia nos cabelos a brisa do mar
e nos lábios as cerejas geladas do japão
dizia que depois de escritas as palavras tinham vida
mas ainda não tinha aprendido a vivê-las
com os anjos que habitam na terra
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os filhos são como as ilhas
ainda ontem nascente rato e careca
sonho há muito sonhado
promessas de séculos adiadas
sem nos darmos conta medraste
por entre as silvas e cardos
de malas às costas como o caracol
ser filho de professora
é ser caixeiro-viajante sem eira nem beira
hóspede de cidades, aldeias e vilas
desfazer amizades como quem respira
tentar manter laços numa distância
criar novos elos faces novas
aprender sotaques e maneiras
perder o medo e criar confiança
no desconhecido, no novo
aprender lições em ritmo de maratona
sem tempo para parar
para ver crescer as sobrinhas
longe de avós, tios e primos
enquanto crescias e eram dores difíceis
os pais a avelhentarem
sem fôlego para a tua juventude
irreverente, impaciente, ambiciosa
sempre a quereres tudo e já
os filhos são como as ilhas
não há continente que as segure
acordam no meio dos oceanos
e é só mar e ar
por vezes fogo e tremores
que a terra nunca é firme
os filhos são como as ilhas
nasceram para viverem longe
cresceram distantes e apartados
e quando damos conta
já se fazem ao mar
na esperança de um dia voltar
e há sempre esta tristeza
a falta de tempo partilhado
as brincadeiras que não se tiveram
as conversas que não falamos
as desobediências infindas
os ralhos e os castigos
e a dor imensa de saber
que quando te fizeres ao mar
não ficaremos em terra para sempre
nem estaremos no cais a acenar
connosco apenas a memória
dos momentos bons e felizes
dos orgulhos nos teus atos
das pequenas conquistas
quando foste mais velho do que eras
ajudando no que sabias e podias
justificando aquilo em que críamos
apartados ficaremos de ti
como longe estamos dos outros
todos filhos e netos à distância de um mar
os filhos são como as ilhas
não há continente que os segure
crescem em novas pátrias
e nós sem forças para nadar
impotentes e velhos
sem remos para velejar
ficamos no cais à espera
de um bote ou avião
uma carta, um telefonema
ou imagem MMS ou Skype
desfolhando álbuns de fotos antigas
recordando momentos e locais
em que éramos família e una
e precisavas de nós
nem sempre é triste envelhecer
pesaroso é não o aprender ledo
temos de aprender a permanecer
alegres e vaidosos quando nos deixam
felizes na nossa missão
certos de que um dia voltarão
os filhos são como as ilhas
adoram estar no mar
deixemo-los navegar
e descobrir que os continentes
não são feitos para nadar