Categoria: açorianidades açorianismos autores açorianos

  • Dimensão e Poetas de Portugal em Dimensão,

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    Prezado(a),

    POETAS DE PORTUGAL EM DIMENSÃO.pdf

     

    Seguem anexos exemplares dos livros eletrônicos Poetas de Angola em Dimensão e Poetas de Portugal em Dimensão, revista física editada em Uberaba/Brasil de 1980 a 2000.

     

    Cordialmente, Guido Bilharinho, editor. primaxrevista@gmail.com

     

  • poema meu contra a guerra em 1969 (em franc^ªes, creio ser o único em Fr)

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    91. mes armes, mai, 2, 1969

    les soldats sans armes

    s’enfoncent dans la guerre

    ils sont les pauvres avocats

    de la paix sur la terre

    mes armes sont l’amour

    la compréhension

    elles tuent

    les sentiments des déshonnêtes

    tant que les fusils

    ceux qui bataillent

    je cherche la paix

    pas la guerre.

  • A GUERRA DAS CRIANÇAS POR ANTÓNIO BULCÃO

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    A guerra das crianças
    Eram guerras a brincar.
    Cóbois contra índios, castelos contra castelos.
    Não tínhamos televisão no Faial, nos anos sessenta do século passado. Nem playstations, telemóveis, internet, nada do que hoje em dia é banal. Tínhamos que nos safar. E inventávamos jogos.
    Não sei a razão pela qual a guerra entrava nesses jogos. Seriam os pequenos livros de banda desenhada, cada um de nós querendo-se Búfalo Bill fora do papel? Seriam os filmes no Teatro Faialense, sonhando cada um dos putos ouvir troar na Espalamaca os Canhões de Navarone?
    A verdade é que não sabíamos o que era guerra, para além dos livros que trocávamos entre nós, já leste este? e das grandes metragens que faziam as paredes do cinema estremecer.
    E era a brincar. Nos castelos, a coisa mais próxima de violência que vivi foi dentro de uma barraca feita de canas e plástico no quintal do Raulinho. Lá dentro, a planear invasões inconsequentes, sentimos pequenas pedras a cair sobre o plástico do telhado e saímos esbaforidos, podia ser tremor de terra. Mesmo a tempo. O filho do vizinho preparava-se para deixar cair sobre nós uma pedra do muro divisório.
    Ai tal calhau. Teria sido a nossa Hiroshima de certeza. Cabeças rachadas ou gesso para uma perna, para os colegas autografarem na escola. O filho do vizinho não sabia brincar…
    Como não sabiam brincar os rapazes do castelo da ribeira. Usavam farpas de guarda-chuva em vez de setas de plástico. Aquilo se entrava na barriga de uma perna era injecção contra o tétano suplementar. Não sabiam brincar, eram brutos e inconscientes. Guerra, só a brincar.
    As verdadeiras guerras deviam passar-se muito longe, para trás do Pico. Mas a gente só sabia delas muito tempo depois, nas páginas de “O Telégrafo”, e não ligávamos muito. Às vezes um mais velho ia para a guerra do Ultramar e voltava com os olhos esbugalhados, metido na aguardente logo de manhã. Às vezes não voltava…
    Só muitos anos depois, com a televisão, comecei a “ver” a guerra. Casas caídas, buracos de bombas, gente morta. Nos anos 90, vi a guerra em directo, deitado na cama. No Iraque. Uns traços de luz para um lado, chamados scuds, que atacavam, outros traços de luz, chamados patriot, que defendiam. De noite. Não se via nada de jeito, devo confessar.
    Hoje, vejo a guerra depois dos mísseis e dos drones. Nos olhos das crianças. Na Faixa de Gaza, na Ucrânia, em Burkina Faso, na Somália, no Sudão, no Iémen, na Nigéria, em tantos outros países e regiões.
    Crianças magras de fome, agitando um tacho, à espera de lhes calhar uma sopa aguada, com sorte uma batata a boiar. Acotovelando-se aos milhares para se chegarem à frente, antes que o caldeirão mor fique vazio.
    Crianças gravemente feridas, entrapadas de gaze, aos gritos em tendas que só por terem uma cruz pintada se podem chamar hospitais. E sangue nas suas cabeças, nos seus corpos raquíticos, a dor a sair pela televisão fora e a ficar no quarto, imensa, colada às paredes de breu quando apago a luz para tentar dormir.
    As que ainda não levaram com uma bala, com um estilhaço, conseguem sorrir. Mas nos seus olhos não vejo o reino dos céus.
    E que Deus perdoe os adultos que não as deixam brincar.
    António Bulcão
    (publicada hoje no Diário Insular)
  • growing pains – ao meu adolescente johnny boy (16 anos) 01.09.12

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    561.

    ver crescer os filhos são partos constantes

    dores difíceis de conter

    a ti vi-te crescer na barriga da mãe

    desde que foste à austrália sem o saberes

    depois quase não nascias por incúria médica

    e ali ficaste no porto cinco anos

    geneticamente carente de mimos

    antes de viveres na minha bragança

    e vires desabrochar adolescente nos açores

    correste as ilhas e o mundo

    sentiste a lava no pico

    o barro na faneca de santa maria

    a vertigem das fajãs de s. jorge

    viste o mar imenso no farol da maia

    o rochedo do topo e o ilhéu da vila

    mergulhaste nas lamas das furnas

    antes de nadares em copacabana

    aprendeste a nadar na rousia

    fizeste-te às ondas nos moinhos

    foste á caldeira no faial e capelinhos

    visitaste hong kong e macau

    brasília, são paulo e rio de janeiro

    viajaste a anhatomirim

    ribeirão da ilha, santo antónio de lisboa

    lagoa da conceição e palhoça

    na grande floripa de santa catarina

    correste a galiza paraste em londres

    andaste de burro, cavalo e bicileta

    deste cabo da cabeça aos profes

    da escola da maia e à tua mãe

    convertes alegrias em preocupações

    canseiras, dores e horrores

    privilegiado sem o saberes

    viveste os últimos sonhos da geração beat

    e dos baby boomers antes da crise

    hoje preocupo-me com o futuro

    o teu e dos teus contemporâneos

    sem sonhos para viverem

    sem amanhã para sonharem

    sem teorias permissivas do dr spock

    embalados no conformismo urbano

    sem saber de sputniks nem guerra fria

    sem a ordem natural da família nuclear

    sem ler os angry young men

    sem os verões de amor nem os dias de raiva

    sem a geração do flower power

    if you go to san francisco

    antes de serem yuppies nos anos 80

    sem guerras do vietnam ou das colónias

    sem disputas entre beatles e stones

    sem joan baez nem bob dylan

    sem a route 66 do kérouac

    agora terás de encontrar a rota na selva

    viveres a vida sem rede de segurança

    sem sistema universal de saúde

    nem serviço público de televisão

    cursos sem saída nem amanhã

    que não seja emigrar e fugir

    amizades feitas no facebook

    a virtualidade de sentimentos

    a solidão das multidões

    e eu carregado de experiência e saber

    escrevo desabafos mudos em poesia

    impotente sem nada poder fazer

    eivado de utopias antigas, democracia

    igualdade, fraternidade e liberdade

    abafadas neste neoliberalismo selvagem

    a minha voz será flor murcha

    neste deserto de ricos prepotentes

    e às massas sem forças para marchar

    só resta gritar antes de perecer

     

    (depois de ler, ver http://www.youtube.com/watch?v=RXYAJF9ZmkY&feature=share)

  • poema para a Joana Félix (hoje com medo dos sismos…

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    May be an image of one or more people541. joana félix poeta feliz que não-fénix 27 março 2012

    joana caminhava nas negras areias

    carregava a pesada cruz

    dos sapatos do pai

    não deixava pegadas

    na leveza do seu ser

    era onda era maré

    maremoto de palavras

    figura gentil e frágil

    caravela de mil descobertas

    escrevia amor

    nas entrelinhas do pai

    acordou e era poeta

    na leveza do seu ser

    por mérito próprio

    nascera de novo

    joana de mil sorrisos

    porto de mil abrigos

    cais de mil partidas

    estas as palavras que eu disse

    e joana se fez livro e partiu

    à descoberta do mundo

    que era seu como o infinito

    neste rio sem margens

    nascido na praia com aban

    trazia nos cabelos a brisa do mar

    e nos lábios as cerejas geladas do japão

    dizia que depois de escritas as palavras tinham vida

    mas ainda não tinha aprendido a vivê-las

    com os anjos que habitam na terra

  • quando o meu filho joão (nigel) fez 15 anos

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    518. NIGEL TURNS 15, setº 2011

    os filhos são como as ilhas

    ainda ontem nascente rato e careca

    sonho há muito sonhado

    promessas de séculos adiadas

     

    sem nos darmos conta medraste

    por entre as silvas e cardos

    de malas às costas como o caracol

    ser filho de professora

    é ser caixeiro-viajante sem eira nem beira

    hóspede de cidades, aldeias e vilas

    desfazer amizades como quem respira

    tentar manter laços numa distância

    criar novos elos faces novas

    aprender sotaques e maneiras

    perder o medo e criar confiança

    no desconhecido, no novo

     

    aprender lições em ritmo de maratona

    sem tempo para parar

    para ver crescer as sobrinhas

    longe de avós, tios e primos

    enquanto crescias e eram dores difíceis

    os pais a avelhentarem

    sem fôlego para a tua juventude

    irreverente, impaciente, ambiciosa

    sempre a quereres tudo e já

     

    os filhos são como as ilhas

    não há continente que as segure

    acordam no meio dos oceanos

    e é só mar e ar

    por vezes fogo e tremores

    que a terra nunca é firme

     

    os filhos são como as ilhas

    nasceram para viverem longe

    cresceram distantes e apartados

    e quando damos conta

    já se fazem ao mar

    na esperança de um dia voltar

     

    e há sempre esta tristeza

    a falta de tempo partilhado

    as brincadeiras que não se tiveram

    as conversas que não falamos

    as desobediências infindas

    os ralhos e os castigos

    e a dor imensa de saber

    que quando te fizeres ao mar

    não ficaremos em terra para sempre

    nem estaremos no cais a acenar

     

    connosco apenas a memória

    dos momentos bons e felizes

    dos orgulhos nos teus atos

    das pequenas conquistas

    quando foste mais velho do que eras

    ajudando no que sabias e podias

    justificando aquilo em que críamos

     

    apartados ficaremos de ti

    como longe estamos dos outros

    todos filhos e netos à distância de um mar

     

    os filhos são como as ilhas

    não há continente que os segure

    crescem em novas pátrias

    e nós sem forças para nadar

    impotentes e velhos

    sem remos para velejar

    ficamos no cais à espera

    de um bote ou avião

    uma carta, um telefonema

    ou imagem MMS ou Skype

    desfolhando álbuns de fotos antigas

    recordando momentos e locais

    em que éramos família e una

    e precisavas de nós

     

    nem sempre é triste envelhecer

    pesaroso é não o aprender ledo

    temos de aprender a permanecer

    alegres e vaidosos quando nos deixam

    felizes na nossa missão

    certos de que um dia voltarão

     

    os filhos são como as ilhas

    adoram estar no mar

    deixemo-los navegar

    e descobrir que os continentes

    não são feitos para nadar

    16º colóquio santa maria 2011
    16º colóquio santa maria 2011
    16º colóquio santa maria 2011