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  • cronica-529-regresso-as-origens-numa-aldeia-eucisia-quase-deserta-15 6 2024

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    https://www.diariodetrasosmontes.com/cronica/cronica-529-regresso-as-origens-numa-aldeia-eucisia-quase-deserta-1562024

  • crónica 533. Tocam os sinos 20.7.2024

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    533. Tocam os sinos 20.7.2024

     

    Era um sábado veranil de julho como qualquer outro, o céu estivera anormalmente limpo de farrapos de nuvens até meio da tarde quando os sinos tocam como já, há muito, os não ouvia. Assarapantado com esta interrupção da tarde silenciosa fui à janela indagar o que se passava, pois esta semana não estavam previstas festas nem eventos extraordinários na Lomba da Maia.

    Foi então que vi a abater-se sobre a ilha um capelo cinzento vindo de su-sudoeste ofuscando o calor solar que nesta tarde aqui chegara aos 26 ºC.

    Nada de anormal, a Proteção Civil já avisara que vinham dias de temperaturas acima da norma e a água do mar devia chegar aos 26 ºC, com todos os perigos que isso implica quer de precipitação, quer de formação de anormalidades para a época e zona, como furacões. Estavam a ser batidos os recordes de temperaturas diurnas há vários dias e até os pássaros andavam mais quedos e silentes.

    “SIGNVM”. Palavra latina empregue entre os séculos VI e VII com o duplo significado de símbolo ou sinal e que passou a designar “sino” em algumas línguas novilatinas, como o português. O sino é parte integrante da paisagem cultural e sonora do mundo ocidental e o que me chamou a atenção depois do toque dos sinos foi uma enorme mancha negra na estrada regional, mesmo à porta da escadaria da Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Lomba da Maia. Uma mancha com mais de 5 metros, que digo nem 6 nem 7 mas mais de 8 metros, uma imponente limusine de não sei quantas portas a aguardar a descida dos noivos.

    Casar hoje em dia, já é um ato de coragem (quem se arriscaria com os atuais prognósticos da economia mundial?) e de rebeldia (já quase ninguém casa) e fazer disso um alarde tal, ostentatório, era uma prova inequívoca de alguém que queria desafiar o destino.

    Fui buscar a máquina fotográfica a ver se reconhecia alguém nos noivos ou convidados, quem sabe se teriam sido alunos da minha mulher. Se são daqui da Lomba as hipóteses de terem sido alunos dela entre 2005 e 2023 eram superiores a 95%, mas não os reconheci. Quiçá poderiam até ter ido connosco numa das viagens que ela organizou a Bragança (2007, 2009), ao Faial (2011) e à Serra da Estrela (2014,2019), mas só saberei mais tarde quando a minha informadora de eventos oficiais e oficiosos vier limpar a casa para a semana.

    E concluo esta narrativa, com a minha opinião cética, não é normal aqui na Lomba da Maia termos visões destas…mas um casamento que começa com esta ostentação vai acabar mal…pode começar numa limo negra e acabar num trator verde…

     

     

  • o poema MARIA NOBODY, em todas as versões

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    MARIA NOBODY,
    anteriores versões clássicas:

    a primeira versão interpretado por ana paula andrade ao piano, violoncelo henrique constância e pela soprano Helena Ferreira no 19º colóquio Maia 2013 (a estreia),

    https://youtu.be/WSG9_XVsXjM

    a segunda versão pelo barítono miguel rodrigues com raquel machado ao piano no conservatório de ponta delgada
    http://youtu.be/TiEXA8RN0yY

    https://youtu.be/olv0WLIcBnU

    versão 2013 no 20º colóquio em Seia 2013 interpretado por piano Ana Paula Andrade, soprano Raquel Machado, violoncelo Henrique Constância, violino Carolina Constância
    https://youtu.be/XS-H6SpIXrU

    versão 2015, 24º colóquio na Graciosa, Ana aula Andrade ao piano e voz de Carolina Constância

    https://youtu.be/JHUOEPKJEvI

     

    Poetas del Mundo 2019 versão declamada pelo autor e cantada no Pico por Carina Andrade e Ana Paula Andrade ao piano no 32º colóquio em 2018,

    https://youtu.be/1xr2LYWGeFY

     

    no Jardim Terra Nostra nas Furnas na RTP1 em 2020 por Ana Paula Andrade piano e Helena Castro (Ferreira)

    https://youtu.be/v8NvIqLkPHU

     

    O mesmo poema com outra vida em versão pop (fado/tango)

    por trio da EBI Maia (pedro teixeira, paulo peixoto e joana costa), nos Moinhos de Porto Formoso no 21º colóquio da lusofonia a 27 abril 2014
    https://youtu.be/h6zzoHtGaFQ
    http://youtu.be/OkM8_nr3jrI

    Os Bruma da EBIMaia no 26º colóquio Lomba da maia 2016 (Pedro Teixeira e Joana Costa)

    https://youtu.be/F4-u6nbEg9A?list=PLwjUyRyOUwOKyMkaiepZif1C_4tvtkeRI

     

     

    o poema DORES ( MARIA NINI, O PIOR DE TUDO) declamado por Diogo Ourique

    https://www.youtube.com/watch?v=I6DggTPZPQQ

     

  • poema de Maiakovski 1915

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    A NUVEM DE CALÇAS (excerto), de Vladimir Maiakovski (19 de Julho de 1893 – 14 de Abril de 1930).
    (…)
    Se quiserem,
    serei apenas carne louca
    e, como o céu, mudarei de tom,
    se quiserem,
    serei impecavelmente delicado,
    não serei homem, mas uma nuvem de calças !
    .
    Não acredito que haja uma Nice florida !
    Hoje de novo canto a glória
    dos homens que o pecado fez malignos
    e das mulheres gastas como um lugar comum.
    (…)
    .
    Maria ! Maria! Maria!
    Abre, Maria !
    Não me deixes na rua!
    Não queres ?
    Esperas
    que fique de face bichosa,
    provado por todas as mulheres,
    insípido,
    e venha
    e diga, sem dentes,
    que hoje
    “sou duma castidade espantosa”?
    .
    Maria,
    vês?,
    já começo a andar curvado.
    .
    Pelas ruas
    a gente sacode a banha de quatro papadas,
    esbugalha os olhos,
    gastos por quarenta anos de uso, –
    e troca sorrisos,
    porque eu levo nos dentes
    – outra vez! –
    os restos das carícias de ontem.
    .
    A chuva aborrecia os passeios,
    dos charcos compacto ladrão,
    molhado, lambendo o cadáver lapidado da rua,
    e nas pestanas brancas,
    – sim! –
    nas pestanas de gelados carambanos,
    lágrimas dos olhos
    – sim! –
    dos olhos baixos dos algerozes.
    A chuva encharcando o rosto dos passantes,
    enquanto nas carruagens brilhavam nédios atletas:
    a gente rebentava
    de comer por todos os lados.
    e a banha saía-lhe dos poros.
    em túrbidos riachos escorria da carruagem
    junto com os restos das almôndegas
    dos velhos tempos.
    .
    Maria !
    Como havemos de fazer entrar nessa orelha sebosa uma palavra meiga?
    A ave
    vive de canções,
    canta,
    faminta e sonora,
    mas eu sou homem, Maria,
    simples,
    na suja mão de Présnaia cuspido uma noite tísica.
    Maria, queres-me assim?
    Abre, Maria !
    Com os dedos crispados apertarei a garganta de ferro da campainha!
    .
    Maria !
    Enfurecem-se os currais das ruas.
    No colo ferido os dedos cintos.
    .
    Abre!
    .
    Dói!
    .
    Vês? Tenho os olhos cheios
    de alfinetes de chapéus de mulher !
    .
    Abriu.
    .
    Querida!
    Não te assustes
    que no meu costado de louco
    haja sentadas mulheres de saias molhadas, –
    é uma carga que levo comigo pela vida fora:
    milhões de amores puros e enormes
    e milhões de milhões de pequenos amores sujos.
    Não temas
    que de novo
    caia na infidelidade habitual,
    me atire a milhares de caras bonitas, –
    as amantes de Maiakovski
    são uma dinastia
    de rainhas entronizadas no coração de um louco.
    .
    Maria, anda cá!
    .
    Nua e sem pudor,
    ou com um tímido tremor,
    mas dá-me o encanto dos teus lábios que nunca murcharão:
    o meu coração nunca chegou a Maio,
    na vida vivida
    nunca passou de Abril.
    .
    Maria!
    O poeta canta sonetos a Tiana,
    e eu –
    todo de carne,
    todo humano –
    só peço o teu corpo
    como os cristãos pedem
    “o pão nosso de cada dia
    nos dai hoje”.
    .
    Maria – dá!
    .
    Maria !
    Tenho medo de o teu nome esquecer,
    como teme olvidar o poeta
    a palavra
    nascida no martírio nocturno
    grande só como Deus.
    .
    Teu corpo
    cuidarei e amarei,
    como o soldado
    mutilado na guerra,
    inútil
    e sem dono,
    cuida da única perna.
    Maria –
    não queres?
    Não queres?
    .
    Ah !
    .
    Quer dizer que de novo sombria e tristemente
    pegarei no coração,
    salpicado de lágrimas,
    e o levarei
    como um cão
    que para a casota
    arrasta
    a pata atropelada.
    .
    Com sangue do meu coração ficará manchado o caminho
    como com flores de fogo lançadas à poeira.
    Mil vezes bailará o Sol à volta da Terra
    como a filha de Herodes
    à volta da cabeça do Baptista.
    .
    E quando os meus anos
    bailem até ao fim –
    cobrir-se-á com milhões de gotas de sangue
    o caminho até à morada de meu pai.
    .
    Sairei então
    sujo (de dormir nas sarjetas),
    e ponho-me a seu lado,
    inclino-me
    e digo-lhe ao ouvido:
    .
    – Escuta, senhor Deus !
    Como é que não te aborreces
    nessa gelatina de nuvens
    deitando água todos os dias dos teus olhos bondosos ?
    Sabes uma coisa ?
    Vamos construir um carrocel
    na árvore da sabedoria do Bem e do Mal.
    .
    Omnipresente, estarás em todos os armários,
    e pomos à mesa uns vinhos e tais
    que incitem a bailar
    o taciturno apóstolo S. Pedro.
    E de Ervas encheremos de novo o paraíso:
    uma palavra tua, –
    e esta mesma noite
    pelas ruas juntarei
    as mais belas raparigas.
    .
    Queres?
    .
    Ou não queres?
    .
    Abanas a cabeça, cabeludo?
    Franzes as sobrancelhas cãs?
    Achas
    que esse aí
    com asas, atrás de ti,
    sabe o que é o amor?
    .
    Eu também sou um anjo, fui
    como um cordeiro inocente,
    mas fartei-me de dar às éguas
    vasos feitos de sofrimento de Sévres.
    Todo-poderoso, tu, que inventaste estas mãos,
    que deste
    uma cabeça a cada um de nós,
    porque não decidiste
    que sem sofrer
    se pudesse beijar, beijar e abraçar?!
    .
    Julgava que eras um Deusão omnipotente,
    mas não passas de um Deusito um pouco desajeitado.
    Vês? Curvo-me
    e da bota
    tiro um punhal.
    Patifes alados!
    Agachai-vos no paraíso!
    Eriçai as plumas e tremei de medo!
    A Ti, que cheiras a incenso, cortarei
    daqui até ao Alasca!
    .
    Deixem-me!
    .
    Não me detenham!
    Certo
    ou errado
    não posso ficar calmo.
    Olhem –
    decapitaram mais estrelas
    e ensanguentaram o céu como um matadouro!
    .
    Eh, tu!
    Ó céu!
    Tira o chapéu!
    Que vou a passar eu!
    Silêncio!
    .
    O Universo dorme
    com a enorme orelha
    cheia de estrelas
    sobre a pata.
    .
    (1915)
    .
    Tradução de Manuel de Seabra, in Obras de Maiakovski- Volume I, Vento de Leste, 1979.
    .
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    Imagem
    Vladimir Maiakovski, em 1915.
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