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  • crónica 540 primeiro desperdiçam água ora queixam-se da seca. 21.8.2024chrys chrystello

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    540 primeiro desperdiçam água ora queixam-se da seca. 21.8.2024

     

    No Astérix lia-se muito “Ils sont fous ces Gaulois…” que me apetece parafrasear, substituindo os Gauleses por Açorianos.

    Com efeito, desde 2008 em que publiquei um artigo em todos os jornais micaelenses do arquipélago que venho propondo, e ficou relatado nos vários livros (6) da série ChrónicAçores (2009, 2012, 2018, 2022) que a solução para o problema do aquecimento global que se avizinhava (2008) era o de evitar o desperdício da água de todas as ribeiras e a construção de reservatórios (sobretudo para a pecuária e agricultura) de retenção desse bem, antes que se tornasse exíguo.

    Agora, com a população a aumentar (duplicar) todos os anos com o influxo de turistas, com o verão mais quente da história (a que outros, decerto, se seguirão) surgem o presidente da Associação Agrícola micaelense, o presidente da Câmara da Calheta de S Jorge, o de São Roque do Pico (e outros surgirão) a alertar para a falta de água que se avizinha, apesar das melhorias dos últimos anos (e da construção de alguns reservatórios, poucos, muitos poucos), mas nem as lagoas disponível terão muito mais para fornecer em ilhas como o Pico e São Jorge.

    Vem isto à colação por eu não perceber nada de sistemas hídricos, nem de riquezas artesianas e outras a nível freático, nem de agricultura ou de pecuária, mas aquilo que me parecia lógico (no século passado chamávamos a isso, normal senso comum) em 2008 quando lia os sintomas do aquecimento global, alterações climáticas, e outros eventos acontecidos ou previstos, ao ver as enormes cascatas e quedas de água aqui na costa norte da ilha de S Miguel sempre que chovia, era doloroso observar esse desperdício e pensava que o que era preciso (e nem era demasiado caro) seria a construção de tanques, reservatórios, barragens de retenção das águas pluviais para depois serem aproveitadas em diferentes fins…

    Não o fizeram, mas ainda podem atalhar e começar agora …usem o PRR ou outros fundos e multipliquem esses reservatórios antes que as secas passem a ser a norma.

    Extraio um excerto do que escrevi em 2008:

    “HÁ UM CIDADÃO QUE NÃO SE CALA NA LOMBA DA MAIA, crónica 60, 22 novº 2008

    Artigo subsequentemente publicado nos jornais:

    http://www.correiodosacores.net/view.php?id=15668 15 novembro 2008 [Opinião] http://www.correiodosacores.net Diga Leitor / Carta ao Diretor | 2008-11-18 12:34 http://www.acorianooriental.pt/noticias/view/176948

    Falta de chuva origina cortes de água na Ribeira Grande

    Regional 13/11/2008 08:11:8

    A falta de chuva na ilha de S Miguel está a obrigar a Câmara Municipal da Ribeira Grande a efetuar cortes noturnos no abastecimento de água em algumas zonas, segundo o vereador Jaime Rita, a pouca pluviosidade registada está a diminuir a pressão de água nas zonas altas do concelho, o que implica cortes noturnos para que os depósitos possam recuperar a capacidade…

    O RESTO DA ILHA NEM SE APERCEBEU. Continuam felizes, sem darem conta da falta de água na costa norte, a esvaziarem o autoclismo em vez de o encherem de garrafas de água ou tijolos para preservar a água que temos. Esta ilha não para de me espantar. Desde que cheguei, biliões de litros vieram diretamente das nuvens para as ribeiras que os despejam no mar. Um equilíbrio perfeito com a natureza, que esqueceu a presença humana. Espero que alguém tenha lido sobre as mudanças climatéricas que se avizinham e comece a construir reservatórios maiores antes da ilha se começar a parecer com a metade seca de Santa Maria ou com a aridez de Cabo Verde. Nessa altura será tarde demais, a menos que nas terras altas, como na Lomba da Maia, tenhamos reservatórios suficientes para as necessidades e deixemos de depender dos que não cuidam de nós como prometeram antes de eleitos.”

     

    Eu sei que os políticos têm desculpa e antecipo-me às suas escusas, não têm tempo de ler escribas como eu e o título ChrónicAçores não é muito apelativo para quem anda à caça de votos…

     

  • sismo, terramoto, terremoto

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    «Terramoto»? Ou será «terremoto»? Ou «sismo»?

    Uma noite agitada leva-me a voltar a esta página e às crónicas sobre a língua.

    Marco Neves

    Ago 26

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    Localização aproximada (a sério)

    1. Filhos e tremores

    Em Janeiro de 2020, muito antes de os adultos se preocuparem a sério com um certo vírus, os miúdos da escola do Simão, o meu filho mais velho, já não paravam de falar de um perigo longínquo que vinha aí. O Simão tinha então sete anos e, com algum medo, falou-me da obsessão das conversas do recreio e eu fiz o que fazem os pais: acalmei-o. Caí no erro de dizer que não iria acontecer nada de especial.

    Semanas depois, fechados em casa, o miúdo fazia questão de me lembrar, muitas vezes e a rir (é o que vale), a minha frase infeliz.

    Ontem, ao final da tarde, ainda a deixar passar os dias de férias, pusemo-nos os quatro a ver canais de televisão ao calhas. Parámos num daqueles canais sempre a dar filmes e começámos a ver cenas de um terramoto. Os miúdos ainda viram uns segundos das cenas de destruição e ficaram com um certo respeito (digamos assim). O filme era uma daquelas películas todas parecidas umas com as outras em que o mundo quase que acaba e, no fim, há uma bandeira dos EUA a ondear. O título era San Andreas. A famosa falha de Santo André…

    Não caí de novo no erro de dizer que aquilo não pode acontecer — tanto o Simão como o Matias sabem que um terramoto é possível. Disse-lhes apenas que não era muito provável que acontecesse hoje. Ainda por cima, nem sequer estamos em Lisboa, terra de tremores famosos. Estamos a passar uns dias em Vila Nova de Santo André. Só que este Santo André não é o da Califórnia. Estamos seguros, aqui.

    2. Eis senão quando…

    Horas depois, estava a dormir sossegado, com o Simão ao lado (nas férias andamos sempre trocados). De repente, acordo com as janelas a abanar. Ventania? Se era ventania, conseguia pôr as camas a tremer também. O Simão acorda e olha para mim: o que é isto? E eu: bolas, nunca mais digo nada.

    Também há uma falha no nosso Santo André? Vamos ter uma bandeira portuguesa a ondear no final do nosso filme, com o país em ruínas? A Zélia acorda também. O Matias dorme sossegado (de manhã, ficou um pouco triste por não ter tido a oportunidade de se acagaçar com o resto da família).

    Em poucos segundos, passou. Não, não é desta. Como qualquer português prevenido, vou ao telemóvel. No Twitter, já havia publicações a mostrar onde tinha sido o epicentro: aqui mesmo a poucos quilómetros de onde estamos (mas enterrado por baixo do mar).

    O Google a ajudar a localizar o sismo. Estamos no ponto azul…

    Fomos dormir. Ou melhor: fomos tentar dormir. Aproveitei a insónia sísmica para pensar que tinha de voltar a escrever regularmente nesta página, voltar ao início, quando ganhei este vício de escrever sobre a língua e sobre as línguas, antes de desatar a fazer vídeos sobre o mesmo tema.

    Pois bem: volto à página. O tema só pode ser este: terramotos.

    3. A origem de «terramoto» e de «sismo»

    «Terramoto» é uma palavra antiga (afinal, sempre os tivemos, por cá), de origem latina. Vem de «terraemotus», ou seja, «movimento da terra». Esse «moto» era uma forma do verbo que veio a dar origem ao nosso «mover».

    A forma mais antiga da palavra, em português, é «terremoto». No entanto, há muito que começámos a ver, na escrita, a variante «terramoto», por influência da palavra «terra».

    A palavra, depois de tremer durante uns séculos, estabilizou como «terremoto» no Brasil e como «terramoto» em Portugal (as duas formas estão nos dicionários).

    Além de «terramoto», nas suas duas formas, existe ainda «tremor de terra» e «abalo». Ao lado desses termos tradicionais, temos ainda, como é sabido, a palavra «sismo» — os pergaminhos gregos da palavra escondem a sua juventude. Embora já existisse antes (pelo menos em francês e em italiano), só no século XX se vulgarizou o termo e as suas derivadas na nossa língua. Ninguém, por altura do terramoto de 1755, diria «sismo».

    Uma palavra pode ser recente e ter dentro de si elementos muito antigos. Os materiais gregos e latinos estão numa espécie de armazém da língua, sempre ao dispor de quem precisa de criar palavras. Aliás, estão no armazém de muitas línguas — quando uma se lembra de produzir um novo vocábulo, há muitos casos em que as outras vão ao mesmo armazém e copiam a criação, à sua maneira.

    4. Uma arrumação recente

    Com o crescente uso de «sismo», ocorreu uma especialização de «terremoto»: passou a ser usado, em geral, para sismos de grande intensidade.

    Passámos a ter:

    • «sismo» para todos os abalos terrestres;
    • «tremor de terra» para sismos de pouca intensidade;
    • «terramoto» para sismos de maior intensidade.

    Agora, onde começa um tremor e acaba um terramoto fica ao critério de cada um…

    Ao longo do tempo, as palavras mudam não só na forma, mas também naquilo que abarcam do mundo. As definições técnicas tentam arrumar estes constantes tremores semânticos, mas no dia-a-dia vivemos num mundo linguístico mais fluido que fixo (o nosso cérebro não se importa).

    5. Estragos e praias

    A insónia passou. Dormimos algumas horas.

    De manhã, o nosso tremor de Santo André serviu para falarmos do que fazer quando passarmos por um terramoto daqueles mais a sério. Curiosamente, o caso até parece que lhes tirou o medo de falar do tema.

    O Matias, que não acordou durante o abalo, quis ver todas as imagens possíveis a passar em repetição nos canais de notícias. Apareceu, lá pelo meio, o estrago material deste nosso terramoto: um rodapé um pouco maltratado (a culpa foi do sismo ou foi dum rato; não percebi bem).

    Enfim: as imagens das câmaras a tremer eram bem menos assustadoras que o filme da véspera. Santo André por Santo André, preferimos este.

    Agora, vamos para a praia — pode ser que a próxima crónica seja sobre essa palavra, que também tem muito que se lhe diga.

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    E, pronto, foi a primeira desta nova série de crónicas sobre a língua. Peço-lhe que partilhe por mais pessoas. Já agora, não se esqueça que tem ao dispor uma página para encomendar os meus livros (muito em breve darei notícias sobre o mais recente, que sai em Outubro). Obrigado!

    Se quiser, pode seguir o meu trabalho no WhatsApp. Não se esqueça de activar as notificações (o sino na parte superior do canal). Muito obrigado!

    Pode encontrar os meus livros nesta página. Obrigado!

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  • AGOSTO E A ANTECIPAÇÃO DO ANO ESCOLAR

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    (A)gosto
    Agosto é sinónimo de festas! Muitas e variadas festas! Festas para os mais novos, para os mais velhos, para todas as idades e gostos. Se contabilizarmos as festividades a decorrer nas ilhas do Triângulo, julgo não haver um único fim de semana sem, pelo menos, um festival. Agosto é sinónimo de banhos, de gelados, de esplanadas, de cerveja e tremoços, de sangria, de convívios, de encontros e desencontros, de família e amigos, de partidas e chegadas, de regressos e despedidas. Este é, felizmente, o agosto de grande parte dos portugueses, mas lamentavelmente, não é o agosto de todos. Para estes, os outros, agosto é o mês de trabalhar até à exaustão, de chegar ao final do dia sem sentir os pés, de sentir o suor a escorrer pelas costas, sem qualquer esperança de um mergulho refrescante, num qualquer recanto da nossa ilha. É o mês em que a inconstância do transporte de mercadorias faz mossa a qualquer negócio, é o mês mais desafiante numa região como a nossa, onde o turismo ganha cada vez maior expressão, com impacto direto no rendimento de inúmeras famílias. É o mês de sorrir perante clientes impacientes, quando a vontade é de desabar, é o mês em que todos os empresários, especialmente do ramo de hotelaria e restauração, se sentem mais pressionados, até porque é à custa destes meses de verão que muitos sobrevivem durante o ainda longo inverno açoriano. Bem sei que, segundo os dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística, a sazonalidade nos Açores apresenta uma tendência decrescente, mas muito trabalho está por fazer para conseguirmos conquistar turismo durante todo o ano e em todas as ilhas. Aliás, e neste mesmo contexto, considero ser extremamente preocupante o aumento de quase 80% de insolvências em Ponta Delgada, nos primeiros 7 meses do corrente ano, comparativamente a igual período do ano anterior, estando o Presidente da Câmara de Comércio e Indústria dos Açores convicto de que este resultado não é independente dos pagamentos em atraso da administração pública. Felizmente que por cá, neste particular, registamos um saldo positivo, e um crescimento acentuado de novas empresas, pese embora o grave problema de mão-de-obra qualificada que atinge não só os Açores, como o restante País. É, também, por isso que agosto é o mês da resiliência!
    E como o período é de férias letivas, vou-me abster de tecer considerandos sobre o mundo da educação, até pela certeza de que o assunto “terá pano para mangas” a muito breve trecho. Não posso, contudo, deixar de aqui demonstrar a minha estranheza com a antecipação do início do ano letivo para o período compreendido entre os dias 9 e 11 de setembro, aumentando o calendário escolar em toda a região mais 8 dias úteis do que o calendário definido no continente. Estou certa de que haverá algum motivo para que a tutela tenha tomado esta decisão, mas, na ausência de uma explicação (pública), resta-nos rezar para que o mês de agosto leve consigo este calor, para que a comunidade escolar aguente trabalhar nas suas respetivas escolas, com a dignidade que merece.
    in Tribuna das Ilhas, 23.08.2024
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    Marta Matos, Fabíola Jael Cardoso and 29 others

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    Fabíola Jael Cardoso

    Também eu gostaria de saber o motivo para, nos Açores, começarmos o ano letivo mais cedo. Não deveria a tutela criar as condições para uma boa preparação do ano letivo? Como é que isso se faz em cinco dias úteis? Enfim…
  • O português no Brasil vai chamar-se brasileiro (e não nasceu em Portugal)

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    “É insuportável para nós”, diz um linguista português, mas dentro de algumas décadas, o idioma falado no Brasil chamar-se-á “brasileiro”; a língua portuguesa não nasceu em Portugal; e “saudade” afinal não existe só em português. A língua de Portugal não nasceu exatamente em Portugal. E o Brasil, a principal ex-colónia portuguesa, fala um idioma em evolução constante, que num futuro a curto prazo se chamará “brasileiro” em vez de “português”. Estas são visões que talvez mexam com o orgulho dos lusitanos, o povo que construiu o primeiro Estado moderno europeu e deixou nos continentes americano, africano e asiático marcas profundas

    Source: O português no Brasil vai chamar-se brasileiro (e não nasceu em Portugal)