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  • fetiche >A história de um vocábulo de sete partidas…

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    A história de um vocábulo de sete partidas…
    FETICHE– do fr. Fétiche, der. Do port. Feitiço (Clédat, Brachet, Stappers). G. Viana, Apost.I, 451, Vocabulário, entende que êste galicismo, bem arraigado aliás, deve ser subsituído por manipanso. “Le mot portugais feitiço (forme savante facticio) sest introduit dans le français sous la forme fétiche, et ainsi modifié est revenu dans le vocabulaire portugais, sans faire aucunement disparaître sa forme antérieure (A. Coelho, Romania, 1873, Formesdivergentes des mots portugais). Fernando Ortiz afirma que o vocábulo fétiche foi lançado na circulação pela famosa obra de Ch. De Brosses, Du culte des dieux fétiches ou Parallèle de lancienne religion de l Egypte avec la religion actuelle de Nigritie (1760), em cuja página 18 consta que a origem do português antigo fetiffo (?), da raiz latina fatum. Alega que segundo a Enciclopédia Britânica, o vocábulo já tenha sido usado e explicado pelo holandês Bosman (A new and acurate description of the coast of Guinea, trad. Ingl., Londres, 1721, pgs. 121 e seguintes). Acrescenta ainda que a palavra, escrita ás vezes fetifto e fetiftoes, aparece usada por ingleses no século XVII (The Golden Coast, or a description osf Guinney, anônima, Londres, 1665, pgs. 72, 76, 77, 78, etc).
    Repositório da Universidade de Lisboa http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/3127/2/ulsd60289_td_annexes1.pdf
    Não há vez em que não dê três espirros seguidos ou se me parta uma unha sem razão aparente, que voz condoída me não diga que isso é obra de feitiçaria, bruxedo, feitiço, praga, mau olhado, inveja, quebranto, maldição familiar, etc., que nos dicionários ocupam muitas páginas as explicações para o mesmo malefício. Relativamente a esses fenômenos, considerados muitas vezes “sobrenaturais” , mas que com maior propriedade deviam ser considerados “imaginários” o que me desafia, é entender a possibilidade de alguém crer neles!
    A Portugal coube ser a pátria linguística do “feitiço”. Um certo dia, provavelmente do século XIV, alguém, com imaginação e saber linguístico, tomou o vocábulo latino “factius” [artificial, manufaturado], reformou-o, transformando-o no adjetivo “FEETISSO”, com o mesmo sentido.
    José Pedro Machado(filólogo, arabista: 1914 – 2005), transcreve do Boletim de Segunda Classe da Academia das Ciências de Lisboa o primeiro registo comprovativo da existência do termo: há de ter o dicto sancristam huum cesto grande feitiço em que andem os monges…
    Fenômeno frequente na vida das palavras, o termo evoluiu na forma, semanticamente e nas suas funções, e tornou-se fértil, dando origem, como Feitiço, a FEITICEIRO e FEITIÇARIA, já documentados nos éditos em que, em 1385 e 1405, D. João I proíbe os seus súbditos de “obrar feitiços ou ligamentos ou chamar diabos”.
    A história de FEITIÇO é uma história comum a muitos vocábulos: após dois séculos de vida no país, emigra para França em 1605, sob a forma de FÉTISSO. De França a Inglaterra, um salto sobre o Canal, e FÉTISSO E FÈTISSERO instalam-se, sob a mesma forma, no léxico inglês.
    É correntemente aceite a versão francesa da galicização do termo, que, em 1669, se transformaria em FÉTICHE o qual, por sua vez, emigraria para Inglaterra, que se limitaria a anglicizar-lhe a grafia, para FETISH, e…para Portugal, em 1873.
    Na realidade, outra palavra tinha nascido no léxico português, como no francês e no inglês.
    FETICHE é agora, em português, um objeto a que se presta culto, a que se dedica um interesse obsessivo ou irracional, gerador de atração sexual compulsiva, objeto de perversão sexual.
    Segundo o dicionário francês Petit Robert, porém, FÉTICHE era, já no século XVII, o nome dado pelos brancos aos objetos de culto das civilizações ditas primitivas. E acrescenta: “Em África, objeto animal, vegetal ou mineral com poder sobrenatural, benéfico ou malévolo”.
    Este novo sentido, justificaria a opinião dos que, sem explicações, defendem como origem de FETICHE a Guiné onde FETISSO e FETISSERO, introduzidos no século XV pelos colonizadores portugueses, eram, no século XVII, respetivamente o deus e o sacerdote da religião indígena o que comprovaria que, sem sombra de dúvida, o tão português FEITIÇO é, na verdade, também ele, um vocábulo de sete partidas.
    Adaptado do artigo De Feitiços, feiticeiros e de um vocábulo das sete partidas , de Maria Vila Fabião, in Revista Tempo Livre, nº227, Junho 2011, www.inatel.pt
  • >Mirandês vai ter primeiro romance histórico

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    Mirandês vai ter primeiro romance histórico

    No dia 10 de Junho é lançado em Bragança o primeiro romance escrito em mirandês, a segunda língua oficial reconhecida em Portugal. «La Bouba de La Tenerie» é um livro da autoria de Amadeu Ferreira, especialista na língua falada no norte transmontano.
    O romance vai ter também uma versão em português, intitulada «Tempo de Fogo». Amadeu Ferreira utiliza o pseudónimo Francisco Niebro para assinar ambas as edições daquele que é o primeiro romance escrito em mirandês.
    As obras são baseadas em «factos históricos» e a acção decorre no «berço» da língua mirandesa, retratando o «ambiente sufocante que se viveu nas aldeias desta região durante a inquisição», contou.
    Segundo Amadeu Ferreira, este romance histórico passa-se no ano de 1619 e a acção centra-se, sobretudo na agora vila de Sendim, tendo como personagem principal um frade homossexual queimado pela inquisição.
    O nome do personagem principal é ficcionado, assim como muito do enredo que, no entanto relata também factos e personagens reais da época que o autor descobriu numa investigação que precedeu a escrita a documentos históricos, nomeadamente na Torre do Tombo.
    Amadeu Ferreira começou a escrever em «2002/2003» e a obra ficou pronta no verão de 2009.
    A particularidade é que o original foi escrito em mirandês e a versão portuguesa surgiu do desafio lançado ao autor pela editora Âncora, que publica agora as duas versões.
    Este é o primeiro romance escrito originalmente em mirandês depois das várias traduções que Amadeu Ferreira tem feito, nos últimos anos, de obras conhecidas como as histórias do Astérix ou os Lusíadas de Luís Vaz de Camões.
    Jurista de formação, Amadeu Ferreira é natural de Sendim, Miranda do Douro, e tem-se destacado como estudioso e impulsionador do mirandês, apesar de desenvolver a sua actividade em Lisboa na Faculdade de Direito e na vice-presidência da CMVM, a Comissão de Mercados de Valores Mobiliários.
    A apresentação do romance «duplo» será feita por Teresa Martins Marques, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e Alfredo Cameirão, escritor mirandês e professor do ensino secundário.

    A cerimónia terá lugar dia 10 de Junho no Centro Cultural Adriano Moreira, em Bragança, em contará com o apoio da Academia de Letras de Trás-os-Montes e da Câmara Municipal local.

    Fonte: Café Portugal

  • morreu o crioulo de cochim

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    Poucas pessoas sabem da morte recente de uma língua em Cochim: Crioulo Português de Cochim. O pesquisador Dr. Hugo Canelas Cardoso lamenta a morte deste idioma. Tal como as pessoas, as línguas também morrem. Com a morte de William Rosário no passado mês de Agosto em Vypeen, morreu também o Crioulo Português de Cochim. Rosário foi o último orador fluente desta língua, resultado do contacto entre Malayalam, Português e, provavelmente, um grande número de línguas faladas pelas diferentes comunidades em Cochim antigo, que era uma mistura de muitas culturas e muitas línguas.
    a_portugues3.jpg As línguas minoritárias estão a extinguir-se a uma taxa alarmante. Os linguistas acreditam que uma língua indígena desaparece a cada duas semanas. Portanto, o comprometimento com um idioma é uma preocupação séria, diz o Dr. Hugo Canelas Cardoso, pesquisador pós-doutorado no Centro de Investigação em Estudos Luso-Asiáticos do Departamento de Português da Universidade de Macau. Ele esteve recentemente envolvido na descrição e documentação dos crioulos Indo-Portugueses de Diu, como parte do seu doutoramento em Linguística Geral pela Universidade de Amesterdão. Durante uma das suas muitas visitas a Diu, Cardoso chegou a Cochim, onde contactou Rosário. Foi o início de uma amizade que se estendeu para além da linguagem.
    Cardoso lembra o seu estimado amigo Rosário e lamenta a sua morte e a morte do Crioulo Português de Cochim, uma língua materna falada por muitas famílias desde há cinco séculos. Numa entrevista por email, da qual apresentamos alguns excertos, Cardoso partilha os seus pensamentos sobre as linguagens, o amigo Rosário e o impacto da sua morte.
    Sobre William Rosário
    William Rosário cresceu numa fazenda em Wayanad mas as origens da sua família são Cochim e Cananor, pelo que a sua língua materna era o crioulo. Ele disse-me que, na infância, esta era a única língua falada em sua casa e pelo resto da extensa família. Em 2007, enquanto eu estava em Diu, fiz uma curta viagem a Kerala. Na época, vários membros da comunidade Indo-Portuguesa em Fort Cochim disseram-me que Rosário era o último orador fluente do crioulo na área de Cochim, por isso eu visitei-o na sua casa em Vypeen. Era um homem extremamente generoso e afável, e ficou muito feliz por poder falar a sua língua-mãe de novo; a última vez que o praticou tinha sido com o seu amigo Paynter, falecido alguns anos antes. Fiquei extremamente sensibilizado com o calor com que era sempre recebido por Rosário e restante família. Na última vez que o visitei, no passado mês de Janeiro, Rosário concordou em passar algum tempo ensinando-me a língua.
    Porque é que a língua não passou para os descendentes?
    No caso específico da família de Rosário, pode ter tido a ver com o facto de que a sua esposa não a fala, mas penso que, naquela época, o uso do Crioulo Português de Cochim já estava em declínio. O processo de abandono da língua, a nível comunitário, deve ter começado há muito tempo. As línguas são centrais para a identidade de cada comunidade, mas só sobrevivem a longo prazo se houver domínios da vida quotidiana em que possam ser utilizadas: no trabalho, na educação, na religião, etc. Eu acredito que o uso do Crioulo Português de Cochim pela comunidade católica foi gradualmente invadido por outros idiomas, o que originou uma quebra na transmissão do crioulo de pais para filhos.
    Sobre o Crioulo Português de Cochim
    Quando o idioma Português chegou à Ásia, em fins do século XV, entrou em contacto com as línguas locais, dando origem a uma série de novas línguas, uma vez que pontilhavam a costa da Índia, Sri Lanka e outras paragens. Tais linguagens, nascidas do contacto intenso entre duas ou mais línguas, são o que os linguistas chamam de crioulos. Em Cochim, o caldo linguístico envolvia Malayalam, Português e, provavelmente, um grande número de outras línguas faladas por várias comunidades locais. Como esse foi o primeiro local onde o Português estabeleceu uma presença estável no Sul da Ásia, é geralmente aceite que o Crioulo Português de Cochim seja o mais antigo de todos os Crioulos Indo-Portugueses a ser formado. Sendo assim, terá certamente determinado, em certa medida, o desenvolvimento de outras variantes. Essa linguagem, desenvolvida paralelamente à formação de famílias católicas e Indo-Portuguesas, foi vital no momento em que os holandeses assumiram o controlo de Cochim, tendo prosperado sob a nova administração.
    Características da linguagem
    Em termos gerais, muitas das palavras do Crioulo de Cochim são de origem Portuguesa, mas a gramática é muito diferente e reflecte a influência do malaiala. Por exemplo, onde o Português (tal como o Inglês) tem preposições, o Crioulo de Cochim tem posposições, que aparecem depois do verbo. E há também uma forte tendência para colocar o verbo no final da frase, que é contrário à gramática de Português mas não à do malaiala. O sistema verbal funciona de maneira diferente, e há também diferenças marcantes na formação das palavras e até mesmo nos sons das duas línguas. Mesmo sendo localmente conhecido simplesmente como “Português” ou “Português de Cochim”, este crioulo é na realidade uma nova linguagem autónoma, que deve muito ao Português, como acontece com outras línguas da Índia. Este crioulo foi a língua de grande parte da população de Cochim durante cinco séculos. Era um monumento a um período crucial da história da cidade.
    Será que a morte das línguas tornou-se frequente?
    As línguas surgem e desapareceram ao longo da história, é um processo natural, mas há algo no mundo moderno que está a fazer com que as línguas morram a uma taxa sem precedentes. Portugal, uma vez que é o lar de imensa diversidade linguística, também tem sofrido alguns desses desaparecimentos. No início deste ano, por exemplo, a morte de uma mulher de 80 anos nas ilhas Andaman marcou o fim da linguagem Bo.
    Torná-mo-nos insensíveis à história, ao património inestimável?
    Eu não diria que nós nos tornámos totalmente insensíveis; na verdade, quando se passeia por Cochim encontram-se muitos casos exemplares de preservação do património. Mas eu sinto que nós não damos a mesma atenção a todos os tipos de património. As linguagens, bem como outros tipos de património cultural imaterial, são muitas vezes negligenciadas, em comparação com heranças construídas, por exemplo. Por outro lado, existe sempre o perigo da preservação selectiva com base em convicções políticas ou ideológicas. E assim, ouso dizer, tudo o que seja percebido como tendo alguma ligação com o colonialismo estará em desvantagem na Índia actual. No entanto, o país desperta para o problema da extinção das línguas, como se verifica em algumas iniciativas do governo para documentar as línguas indígenas, o que é muito positivo. Mas seria importante para o público e para as autoridades perceber que os Crioulos Indo-Portugueses – ainda falados em lugares como Diu, Damão, Korlai ou Cananor – não são línguas estrangeiras. Pelo contrário, elas são, por definição, línguas da Índia e exclusivas da Índia.

    Fonte: The Hindu – 26/09/2010
    http://www.hojelusofonia.com/morreu-o-crioulo-portugues-de-cochim/

  • morreu Mário Machado Fraião

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    1. 8 NOVEMBRO 2010 VER CADERNO DE ESTUDOS AÇORIANOS 8
    Faleceu em Lisboa, aos 58 anos, o escritor Mário Machado Fraião, natural do Faial
    Mário Machado Fraião, um açoriano nascido na cidade da Horta, ilha do Faial, em 1952, mas residente no território continental faz muitos anos. A distância do arquipélago e as vicissitudes da sua vida não limitaram o afeto que transporta pela terra natal, aonde regressa, por vezes, durante o Verão.
    Nos últimos anos tem escrito crónicas e recensões de livros destinados aos jornais dos Açores, dirigidos principalmente ao suplemento de artes e letras do Diário Insular.
    Quanto à poesia, prefere mencionar os livros Enquanto o Mar se Renova, Poemas do Mar Atlântico e Os Barcos Levam Nomes de Mulheres. Encontra-se representado em várias antologias de poesia açoriana, designadamente em Nove Rumores do Mar, organizada por Eduardo Bettencourt Pinto, publicada pelo Instituto Camões, e On a Leaf of Blue, dirigida por Diniz Borges, edição bilingue da Universidade da Califórnia.
    Mestre em História Regional e Local pela Universidade de Lisboa, exercia a sua atividade profissional numa escola do Ensino Secundário.
  • morreu Fernando Aires

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    1. 9 NOVEMBRO 2010 VER CADERNO DE ESTUDOS AÇORIANOS 7
    Faleceu esta manhã – 9/11/010 – em Ponta Delgada, o autor Fernando Aires, cuja obra iria ser – em tempo – transcrita em excertos nos Cadernos Açorianos dos Colóquios da Lusofonia e extratos dela na Antologia dos Autores Açorianos Contemporâneos da autoria de Helena Chrystello e Rosário Girão a incluir no currículo escolar regional.
    Biografia
    Fernando Aires nasceu em Ponta Delgada, ilha de São Miguel (Açores) em 1928 e frequentou o Liceu Nacional da mesma cidade entre 1940-1947 onde completou o Curso Complementar de Letras. Matriculado na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas. Professor efetivo no Liceu Antero de Quental, cumulativamente orientou estágios pedagógicos durante vários anos e lecionou a cadeira de Psicopedagogia na Escola do Magistério Primário de Ponta Delgada. Aposentou-se na situação de assistente-convidado da Universidade dos Açores, cargo que exerceu de 1975 a 1994. Pertenceu ao grupo que, nos anos 40, fundou o Círculo Cultural Antero de Quental, destinado a introduzir o Modernismo nos Açores. De 1978 a 1989, fez parte da Direção do Instituto Cultural de Ponta Delgada. Está representado na Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa, onde tem colaborado desde 1993.
    Obras ensaísticas: Faria e Maia e Antero (ensaio, Angra do do Heroísmo, 1961);
    José do Canto Vivo (separata da revista Arquipélago, Universidade dos Açores, Ponta Delgada, série “Ciências Humanas”, nº 3, 1981);
    José do Canto – Subsídios para a História Micaelense (1820-1898) (Universidade dos Açores, Ponta Delgada, 1982);
    Afonso Chaves (separata da revista Açoreana, Ponta Delgada, 1982);
    Alice Moderno – A Mulher e a Obra (separata da revista Insulana, vol. XLI, 1985); Delinquência e Emigração em S. Miguel na 1ª Metade do Século XIX (separata da revista Insulana, Ponta Delgada, 1988).
    Contos: Histórias do Entardecer (Secretaria Regional da Educação e Cultura, col. Gaivota, 1988. Ganhou o Concurso Literário Açores/88);
    Memórias da Cidade Cercada (Lisboa, Edições Salamandra, 1995). Obras autobiográficas: Era uma Vez o Tempo (Diário I, Ponta Delgada, 1988; Diário II, Ponta Delgada, 1991; Diário III, Lisboa, Edições Salamandra, 1993; Diário IV, Lisboa, Edições Salamandra, 1997; Diário V, Lisboa, Edições Salamandra, 1999),
    A Ilha de Nunca Mais (ficção, Lisboa, Edições Salamandra, 2000).
    Outras páginas sobre o autor:
    Títulos