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  • DAVID CRYSTAL E O 1º COLÓQUIO DA LUSOFONIA 2001-2002

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    Recentemente (2001) o emérito linguista anglófono Professor David Crystal escrevia dizendo ”O Português parece-me que tem um futuro forte, positivo e promissor, garantido à partida pela sua população-base de mais de 200 milhões, e pela vasta variedade que abrange desde a formalidade parlamentar até às origens de base do samba. Ao mesmo tempo, os falantes de português têm de reconhecer que a sua língua está sujeita a mudanças, tal como todas as outras, e não se devem opor impensadamente a este processo.”
    “Quando estive no Brasil, no ano passado, por exemplo, ouvi falar dum movimento que pretendia extirpar todos os anglicismos. Para banir palavras de empréstimo doutras línguas pode ser prejudicial para o desenvolvimento da língua, dado que a isola de movimentações e tendências internacionais. O inglês, por exemplo, tem empréstimos de 350 línguas, incluindo Português, e o resultado foi ter-se tornado numa língua imensamente rica e de sucesso. A língua portuguesa tem a capacidade e força para assimilar palavras de inglês e de outras línguas mantendo a sua identidade distinta. Espero também que o desenvolvimento da língua portuguesa seja parte dum atributo multilingue para os países onde é falada, para que as línguas indígenas sejam também faladas e respeitadas, o que é grave no Brasil dado o nível perigoso e crítico de muitas das línguas nativas.[1]
    Posteriormente contactei aquele distinto linguista preocupado com a extinção de tantas línguas e a evolução de outras, manifestando-me preocupado pelo desaparecimento de tantas línguas aborígenes no meu país e espantado pelo desenvolvimento de outras. Mostrava-me preocupado sobretudo pelos ismos que encontrara em Portugal após 30 anos de diáspora.
    Mesmo admitindo que as línguas só podem ter capacidade de sobrevivência se evoluírem eu alertava para o facto de recentemente terem sido acrescentadas ao léxico 600 palavras pela Academia Brasileira em 1999 das quais a maioria já tinha equivalente em português.
    Sabendo como o inglês destronou línguas em pleno solo do Reino Unido, tal como Crystal afirma no caso dos idiomas Cúmbrico, Norn e Manx, perguntava ao distinto professor qual o destino da língua portuguesa, sabendo que o nível de ensino e o seu registo eram cada vez mais baixos, estando a ser dizimados por falantes ignorantes, escribas, jornalistas e políticos sem que houvesse uma verdadeira política da língua em Portugal e alguns esforços para criar uma no Brasil.
    A sua resposta[2] em março último (2002)pode-nos apontar um de muitos caminhos, que espero ver tratados neste fórum aqui hoje. Diz Crystal:
    As palavras de empréstimo mudam, de facto, o caráter duma língua, mas como tal não são a causa da sua deterioração. A melhor evidência disto, é sem dúvida a própria língua inglesa que pediu de empréstimo mais palavras do que qualquer outra, e veja-se o que aconteceu ao Inglês. De facto, cerca de 80% do vocabulário inglês não tem origem Anglo-Saxónica, mas sim das línguas Românticas e Clássicas incluindo o Português. É até irónico que algumas dos anglicismos que os Franceses tentam banir atualmente derivem de latim e de Francês na sua origem.
    Temos de ver o que se passa quando uma palavra nova penetra numa língua. No caso do Inglês, existem triunviratos interessantes como kingly (Anglo-saxão), royal (Francês), e regal (Latim) mas a realidade é que linguisticamente estamos muito mais ricos tendo três palavras que permitem todas as variedades de estilo que não seriam possíveis doutro modo. Assim, as palavras de empréstimo enriquecem a expressão. Até hoje nenhuma tentativa de impedir a penetração de palavras de empréstimo teve resultados positivos. As línguas não podem ser controladas. Nenhuma Academia impediu a mudança das línguas.
    Isto é diferente da situação das línguas em vias de extinção como por exemplo debati no meu livro Language Death. Se as línguas adotam palavras de empréstimo isto demonstra que elas estão vivas para uma mudança social e a tentar manter o ritmo.
    Trata-se dum sinal saudável desde que as palavras de empréstimo suplementem e não substituam as palavras locais equivalentes. O que é deveras preocupante é quando uma língua dominante começa a ocupar as funções duma língua menos dominante, por exemplo, quando o Inglês substitui o Português como língua de ensino nas instituições de ensino terciário. É aqui que a legislação pode ajudar e introduzir medidas de proteção, tais como obrigação de transmissões radiofónicas na língua minoritária, etc. existe de facto uma necessidade de haver uma política da língua, em especial num mundo como o nosso em mudança constante e tão rápida, e essa política tem de lidar com os assuntos base, que têm muito a ver com as funções do multilinguismo.
    Recordo ainda que não é só o inglês a substituir outras línguas. No Brasil, centenas de línguas foram deslocadas pelo Português, e todas as principais línguas: Espanhol, Chinês, Russo, Árabe afetaram as línguas minoritárias de igual modo.”
    Por partilhar a opinião do professor David Crystal espero que no final deste encontro possam os presentes voltar para os seus locais de residência com soluções e propostas viáveis deRepensar a Lusofonia como instrumento de promoção e aproximação de culturas sem exclusão das línguas minoritárias que com a nossa podem coabitar.


    [1] Carta de David Crystal 16/02/2001 a Pedro Kaul do governo brasileiro, citada no fórum Ajudar Timor em 16/03/2001
    [2] Carta de David Crystal ao autor (Chrys Chrystello) em 25 Março 2002
  • Eduardo Mayone Dias CARTA DA CALIFÓRNIA,- A língua portuguesa ontem e hoje

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    CARTA DA CALIFÓRNIA, Eduardo Mayone Dias

     


    1. Das origens à Idade Média

    Pouquíssimo se sabe das mais remotas origens da língua portuguesa, os
    falares da Península Ibérica pré-romana. É contudo de supor que em franjas litorais e em planícies separadas por altas serranias se tenham desenvolvido diferentes enclaves linguísticos que com o rolar dos séculos hajam originado os grupos galego/asturiano/português, basco/ navarro, castelhano/extremenho/andaluz e aragonês/catalão/ valenciano.
    Esta é a pré-história do Português. A proto-história tem início com a invasão romana, durante a qual o latim foi imposto em todos os atos públicos, que podiam ir da administração até simples transações comerciais, e afogou os regionalismos linguísticos.
    Desde os nossos primeiros anos de escola aprendemos que os legionários e colonos, gente do povo, aliás nem todos romanos, não falavam o latim clássico mas sim o vulgar, que pouco a pouco se foi mesclando com as variantes locais, dando assim origem às quatro línguas românicas hoje oficiais na Península, galego, português, castelhano e catalão.
    Durante o período romano, cerca de seis séculos, (1) o latim ia evoluindo e novas formas verbais foram criadas. Para dar um prosaico exemplo, as
    primeiras vagas colonizadoras usaram o termo “scopa”, que resultou “escombra” em catalão e ‘escoba’ em castelhano. Quando as últimas levas chegaram à costa oeste traziam um mais moderno vocábulo, “basaura”, que deu “vasoira” em galego e “vassoura” em português.
    As inovações introduzidas pelos romanos implicaram naturalmente inumeráveis termos, referentes a todas as formas de vida. Assim, por exemplo, ao serem criados novos procedimentos agrícolas, surgiram nomes de utensílios que deram em português charrua, arado, enxada, sacho ou machado. Também do grupo celta, possivelmente através de uma tardia latinização, vieram vocábulos como cerveja, camisa, carro, lousa e sabão. Como bem se sabe, depois de se haver corporizado a língua portuguesa, o latim persistiu ou foi revivido em expressões eruditas de variados campos do saber. Deste modo, por exemplo, na terminologia académica regista-se o doutoramento “honoris causa”, na diplomática a expressão “persona grata”, (2) na
    jurídica “habeas corpus”,(3) na eclesiástica “urbi et orbi”, na lógica “quod
    erat demonstrandum”, na estilística “ipsis verbis” e muitíssimo mais.
    Entre aproximadamente os anos 406 e 411 da era de Cristo várias tribos germânicas, entre as quais se destacaram os visigodos, invadiram a Península e derrubaram o poderio romano.
    Havendo-se convertido ao cristianismo e adotado muito do estilo de vida romano, pelo ano de 476 os visigodos constituíam já uma aristocracia guerreira que iria dominar a Península por cerca de três séculos.
    A ela se devem numerosas contribuições ao falar hispânico em especial relativas à arte militar (o próprio termo “guerra” é uma delas) ou à equitação, que acabaram por dar à língua portuguesa formas como baluarte, elmo, escaramuça, guarda, trégua, brandir, esgrima, dardo, flecha, espora, arreio ou galopar. Outras formas são sala, burgo, agasalho, ufano e ganso. Entre nomes próprios de origem germânica contam-se Alberto, Rodrigo, Humberto, Rogério, Fernando, Afonso, Gonçalo, Álvaro, Elvira, Berta, Ermelinda e Gertrudes.
    Chegado o ano 711 uma nova era se abriu para a história peninsular e para o evoluir do idioma português. Foi pois nesse ano que hostes mouras, lideradas por árabes, cruzaram o Estreito de Gibraltar e numa guerra-relâmpago ocuparam toda a Península Ibérica, com exceção de um pequeno reduto nas montanhas das Astúrias.
    De aí, uns dez anos depois de 711 (desconhece-se a data exata), no seguimento da batalha de Covadonga, os cristãos lançam o movimento da Reconquista que, ao impelir os invasores para o sul, deu origem a vários reinos, entre eles o de Portugal.
    Dotados de uma avançada cultura, os muçulmanos introduziram novas técnicas em quase todas as áreas do conhecimento humano e com elas um fértil léxico que sobreviveu até hoje com cerca de 200 termos em português.
    Na sua maioria os neologismos foram adotados juntamente com o artigo
    definido “al” (al caid> alcaide) ou a sua condensação num simples “a” (a
    ris>arroz).
    Os árabes trouxeram produtos agrícolas, cujas designações se mantiveram na fala dos seus súbditos cristãos: alface, algodão, alfazema, amêndoa, alfarroba, alfafa, alcachofra, açúcar, haxixe, azeitona, açafrão e outros.
    Do aperfeiçoamento dos cultivos e do processamento das colheitas ficaram nora (com a sua roda de alcatruzes, ainda usada no século XX em Portugal) açude (represa), atafona (moinho de vento) ou azenha (moinho de água).
    Medidas de peso, superfície ou volume, por muito tempo empregadas, foram a arroba (cerca de quinze quilos), o alqueire (cerca de 25 metros quadrados), o arrátel (um pouco menos de meio quilo) e o almude (cerca de seis litros e meio). Quando se introduziu o sistema numérico hoje usado, em substituição do romano, divulgou-se o conceito de zero e a respetiva designação.
    Para uso doméstico havia almofadas, alcofas, alcatifas, garrafas, almofarizes, alambiques, alguidares e alfinetes. (4)
    Quanto à culinária temos o azeite, a açorda, o escabeche e as almôndegas.
    Ainda há umas décadas existiam no Algarve, (5) região portuguesa de mais
    longa permanência árabe, numerosas casas encimadas por “açoteias”, terraços onde se secavam frutos. E evidentemente, o interior podia ser decorado com “azulejos”.
    Com o desenvolvimento de novas ou antigas técnicas especializaram-se
    profissões e ocupações tais como alfaiate, arrais, alvanel (pedreiro), almoxarife (gerente de armazém), alcaide (governador militar e civil de um castelo e povoação adjacente), alfageme (fabricante de armas) e alcoviteira (intermediária paga de relações sexuais ilícitas).
    A presença muçulmana na Península teve o ser termo no ano de 1242 em
    Portugal com a tomada de Silves e a queda do Reino do Algarve e no de 1492 em Espanha, ao ser submetido o Reino de Granada.

    NOTAS
    (1) A ocupação militar da Península Ibérica durou de 218 AC até 17 AC. Uma vez radicado, o domínio romano manteve-se até a primeira década do Século V.
    (2) É bem sabido que um enviado diplomático estrangeiro tem de obter essa classificação antes de apresentar as suas credenciais ao Presidente da República portuguesa. Um caso jocoso ocorreu durante o período do Estado Novo. Um diplomata latino-americano, designado pelo seu Governo como embaixador em Lisboa, foi considerado pelas autoridades portuguesas “persona non grata”. As suas qualificações eram impecáveis mas atraiçoaram-no os seus apelidos, Porras y Porras.
    (3) Nas fachadas de muitos tribunais portugueses pode-se ler “DOMUS IUSTITIAE”, casa da justiça. Por outro lado o histórico edifício da Câmara Municipal de Bragança é conhecido como Domus Municipalis.
    (4) Então significando palitos para os dentes.
    (5) Algarve (al Gharb) significa “o Oeste”.
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  • DANIEL FELIPE um poema de amor e da resistência

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    hoje dia mundial da poesia:Para este dia um poema de amor e da resistência:

    em anexo as minhas 3 versões de homenagem a este poeta e poema que me marcaram desde há mais 40 anos...Chrys Chrystello
    

    1.     e.37. tantos os sonhos (a soeiro pereira gomes) mar 16, 1973

    tantos os sonhos
                                 nunca demarcados
    meu irmão de todo o tempo
                                                     insubmisso
    perseguidos
                         por uma mancheia de quimeras
    engalanámos as palavras
                                               falaciosas ambições
    imensos campos
                                 por habitar
    lezírias de lentas mortes
                                              estioladas
    gretava o verão
                                severos carões
    ninguém cuidara
                                os linótipos esmaeciam
    aquosos gradeamentos
                                            da saudade
    – era então o tempo –
    fortunas dissipadas
                                     amargor de mil cansaços
                                     prematura senilidade
    febril catarro
                         escrava luta
    cifras
            tabelas
                      gráficos
    mecanizado o homem
                                          engrenagem-sem-nome
    impiedosa e febril cadeia
                                              gangrenosos ossos
    no silêncio chantagista
                                            se diluía a sobrevivência
    vasta paisagem
                             por entre o adobe
    paredes
                quatro
                           desfraldadas
    vogando ao vento
                                     do desprezo motorizado das sanguessugas
    PERFEITA SÚCIA/DADE
                                           
    irrefreado progresso
                                       civilização do abandono
    deserda-se a agricultura
    cria-se ferro
                        cimento
                         fome
    tímida e simples
                                a voz do povo
                                                        (que ainda resta)
    recusa a caridade
                                  das piranhas
    secretas as greves
                                   corrompem a opressão
    selvagens se abatem
                                       esbirros e lacaios
    (ah! como é bom ser-se proletário
                                                               no feudo do patrão)
    tu – meu irmão
    não assististe
                         ao mito no apogeu
    de nascença condenado
                                            o sentenciavas
    tuas mãos eram a dor
                                         sempre retardada
    escreviam a agonia lenta
                                              dos que calam
    exultante vitória dos que não consentem
    militantes modelos
                                     de rebeldes se venderam
    falsos heróis
                        covardes de merda
    felizes os traidores
                                     pelo pão nunca trincado
                                     pela carne inviolada e casta
                                     pela fome mitigada
    riquezas imensas
                                 saldo de lassos músculos
    quem as ergueu?
    imolados os corpos
                                     sem palavras nem gestas
    abatem-se de luto aldeias
    paga-se da fome
                                 a vida
    a salto se emigra
                                a preço de morte
    – decide-te irmão –
    volte a nós quem a nós pertence
    connosco reagirás
                                  à opulência de discursos em família
    – obsoletas conversas que não asfixiam –
    repudiamos toda a antropofagia
                                                          que nos hipoteca
    não os executemos
    também eles sentirão
                                         um só dia que seja
                                        um só instante
    o vão esforço do suor grátis
    nesse dia
                   urgente e único
    inexorável
                    o grito
                                então comunitário
                                então revolucionário
                                                                   PRESENTE!
    para que não morram por desprazer
    pelas dores insofridas
    pelo sangue ulcerado nunca cuspido
    pelas mãos imaculadas sempre assassinas
    revolver-se-ão aposentados donos
                                                                deste feudo saqueado
    dançaremos o cântico final
                                                   apoteose de labaredas
                                                                                           vossos corpos defuntos
    serão nossos o chão
                                      a pátria liberta
                                      a vocação insubmissa
    ninguém nos apode de vingativos
    honraremos
                         das memórias a vossa
    adubaremos das cinzas vossas
                                                       o pão
    algo renasce das ruínas vossas
                                                        a esperança
    – quem nos confortará
                                          nesse instante ingente? –


    ******

    2.  474. poesia revisitada ( de novo a ti, daniel filipe) 16 mai 1976

    ALERTA!  a imaginação tomou de assalto o poder!
    hoje
           virão talvez crianças
                                              descendo as sagradas ruas das máquinas
                                              acampando nas avenidas da liberdade
                                                                                                               por inventar
                                              dando-nos as mãos
                                                                                 os sorrisos
                                                                                                     os sonhos
    hoje
           nas campas rasas
                                         estarão heróis que nunca foram
    perguntarão
            quando somos ouvidos?
    (a nossa carne encheu canhões
                                                        no-la recusam agora?)
    os mendigos
                         desempregados                      
      reformados
                                                                         deficientes das guerras todas
    as pegas
                  messalinas
            prostitutas
                               meretrizes
             chulos
                                                           traficantes de ilusões
    os ladrões
                     criminosos
    e demais gente ordinária e vulgar
    anunciam manifs reivindicativas
           “a greve será total! – dizem”)                                    
    enquanto isso
                            partidos
                                          militares                              
                                sindicatos
    demais desorganizações de massa
                                                            exigem
    do governo
                       a ordem
                                     a força
             a autoridade
    das armas
                     a repressão
                o estado-de-sitio
    a censura
                    até mesmo a pena de morte
    por toda a parte
    solidária é a luta dos oprimidos
           – clama o poeta!
    única é a voz dos marginais
                – escreve o louco sensato
                                                      nas paredes sem grades
                                                                                           desta prisão
    (aqui e além leves escaramuças populares
    não há baixas dignas de registo
                                                         – asseveram fontes oficiais
                                                           geralmente desinformadas)
    a sociedade é um flagelo social do indivíduo
    libertemo-nos da grande ameaça
             – denunciam os dissidentes
    a situação é calma
                                    assegurado o controlo total do país
    militares, militarizados e milícias
                                                           em prevenção rigorosa
    algures à mesma hora
                                          num público jardim
                                                                           um casal de amantes
    felizes
              desocupados
                                     despolitizados
                                                             fazem amor
                                                                               despreocupado
    sem caráter de urgência
    confundidos por vulgares agitadores da ordem
    foram chacinados ao despontar o amanhã
    (felizmente havia luar!
                 comentou lacónico o primeiro-ministro
                  muito dado a lucubrações intelectuais).
    *****

    3. 524 reinvenção do amor , revisitando daniel filipe, 18 outubro 2011

    o pássaro descreve o seu voo
    na sinusoide deste tempo
    a voz e a palavra são campos floridos
    evocam verdes infâncias
    é preciso inventar o amor
    com caráter de urgência
    dizia Daniel Felipe
    mas são precisos homens e mulheres
    dispostos a amar
    capazes de ouvir e perdoar
    os sentimentos podem esfriar
    mas não se gastam
    nem devem ser mudados
    com a  frequência das camisas
    não são fraldas descartáveis
    precisam de ser regados
    com a humidade das neblinas
    e o orvalho das lágrimas
    neste deserto com vozes
    a felicidade é um mito
    o mundo é um inferno
    a paixão uma utopia
    e tu acreditas, meu amor?
    andam
    – de novo –
          pássaros à solta nos jardins de Eros.

  • POEMAS À MINHA GALIZA LUSÓFONA

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    ao celebrar 40 anos de vida literária criei um capítulo GALIZÓFONA

    501 partir ii (a uma galiza lusófona)

    partir!
    cortar amarras
    como se ficar fosse já um naufrágio
    ficar
    como quem parte nunca
    partir
    como quem fica nas asas do tempo
    partir!
    cortar grilhetas
    como se viver fosse uma morte adiada
    vencer ameias
    cortar amarras
    velas ao vento
    olhar o mundo
    descobrir liberdades
    esta a mensagem
    levar o desespero
    ao limiar
    até erguer a voz
    sem medos
    até rasgar as pedras
    e o ventre úbere
    semear desencanto
    sorrir
    à grande utopia
    nascer
    de novo
    dar o salto
    transpor a fronteira
    entre o ter e o ser
    imaginar
    como só os loucos sabem
    e então chegaste
    com primaveras nos dedos
    e liberdade por nome
    loucas promessas insinuavas
    despontaste
    como quem acorda horizontes perdidos
    demos as mãos
    sabor de início do mundo
    pendão das palavras por dizer
    esta a revolução
    minha bandeira por desfraldar
    s. martinho do porto, setembro, 5, 1976/lomba da maia, açores fev 13, 2011

    525. Galiza como Hiroshima mon amour

    acordaste e ouviste o teu hino
    bandeira desfraldada ao vento
    ao intrépido som
    das armas de breogán
    amor da terra verde,
    da verde terra nossa,
    à nobre lusitânia
    os braços estende amigos,
    desperta do teu sono
    pega nos irmãos
    caminha pelas estradas
    ergue bem alto a tua voz
    diz a quem te ouvir quem és
    orgulhosa, vetusta e altiva
    indomada criatura
    nenhum poder te subjugará
    nenhum exército te conquistará
    nenhuma lei te amiquilará
    és a Galiza mon amour

    528. ah como eu gostava 16/11/2011

    portugal lembra o filho ingrato
    que sai de casa levando as malas
    cresce como um sem-abrigo
    vivendo de expedientes
    sujo, maltrapilho e destituído
    mas orgulhosamente só e independente
    altivo olha a galiza do tempo dos aguadeiros
    da pobreza, fome e sofrimento
    e sente-se superior
    não reconhece pai ou mãe
    nem partilha um cobertor
    comporta-se como assaltante
    aliado ao invasor
    esqueceu a história e perdeu os genes
    ah como eu gostava de ser galego

     

    530. pesadelo zoológico 3 dezembro 2011 à concha rousia

    s castelhano
    onhei estar num circo
    era um leão amestrado
    o domador espanhol
    senti-me galego
    eles não sabem
    que não há leões domados
    vivem anestesiados
    um dia acordam
    sem ronronar em castrapo
    vou esperar pelo chicote
    desobediente
    aguardo que ele erga a cadeira
    estreleje o látego
    e me mande falar
    aí direi ao castelhano
    já chega de circo
    o palhaço és tu.
    acordei e não vi bandeiras de castela

     

    531. lendas da minha galiza 11 dez 2011

    Galiza és tão especial
    quando sorris
    por que não sorris sempre?
    és tão bela
    quando ris com gargalhadas cristalinas
    por que não ris sempre?
    és tão amorosa
    quando falas e cicias
    por que não falas sempre?
    no meu quintal tenho um poço
    sempre cheio de palavras
    onde vou buscar inspiração
    é lá que busco amores
    como se fora o monte das Ánimas
    na era dos Templários
    quando os cervos eram livres e não havia lobos
    foi lá que aprendi a tua história
    depois de Ith filho de Breogán
    ir à Torre de Hércules
    divisar Eirin a Verde
    morto Ith, perdidas as Cassitérides
    aprisionados os Ártabros
    resta visitar Santo Andrés de Teixido
    duas vezes de morto
    que não o visitei uma de vivo
    e esta história queda silente
    nos livros e na memória dos velhos
    por que não a aprendem os nenos?
    agora que o rio Minho passa caladinho
    para não despertar os meninos
    hoje quando fui ao poço
    encontrei-o seco e mirrado
    sem um fio de água sequer
    não havia pardais nas árvores
    nem flores no jardim
    senti o coração trespassado
    as lágrimas secaram-me
    aºao trespassado Castelaer
    caladinho
    fincado no chão
    pios e polinia fadas ou sereias
    atopei umas Meigas
    a dançar com o Dianho
    foi então que o vi, o Chupacabras
    estandarte de Castela
    não mais haveria fadas ou sereias
    cronópios e polinópios
    vou juntar ferraduras, alho e sal
    colares de conchas e tesouras abertas
    esconjuro-vos ó meigas castelhanas
    que me salve o burro farinheiro
    vou ao banho santo em Lanzada (sansenxo)
    hei de te encontrar minha moura encantada
    não tenho medo de travessuras de Trasgos
    nem Marimanta ou Dama de Castro
    sem temor da Santa Companhatravessuras de Trasgos
    a
    a Santa Companha
    nem do Nubeiro vagueando
    entre tempestades e tormentas
    hei de te encontrar minha moura encantada
    e brotará áuga do meu poço
    escreverei os versos e serão mágicos
    erguerei a tua flâmula
    no poste mais alto e cantarei
    Galiza livre sempre

     

    532. genevieve 13 dez 2011

    genevieve era nome de mulher
    um restaurante japonês
    no meio de chinatown
    sorrisos largos e astutos
    mansos como o rio minho
    olhos profundos amendoados
    como o canon do sil
    prometia ribeiras sacras
    seios amplos acolhedores
    como as rias baixas
    genoveva da galiza
    amazonaom saudades de arousamazona
    s
    amazonaaa em sidney
    um pai na argentina
    uma mãe em paris
    com saudades de arousa
    promovia sushi com saké
    loucas bebedeiras em galego

     

    533. concha é nome de guerra 13 dezembro 2011

    para ti não há música nem dança
    apenas as artes marciais
    guerrilheira de montes e vales
    urdidora de emboscadas
    sob a copa das amplas árvores
    brandes teu gládio de palavras suaves
    não usas as falas do inimigo
    vingas a dor de seres galega
    a montanha que herdaste sozinha
    prenhada de mar na ilha dos nossos
    o povo desaparecido da Rousia aldeia
    esse recanto insuspeito ao virar da raia
    onde fui a férias em 2005 sem te saber
    eu que nasci galego do sul
    sendo galego de Celanova
    apartado de meus irmãos e irmãs
    séculos de história ao desbarato
    distavam mares que nunca navegámos
    montes que nunca escalámos
    estrelas que jamais enxergámos
    até um dia em que surgiste
    vestias azul e branco orlada a ouro
    estandarte do nosso reino
    ciciavas liberdades por atingir
    sonhos por realizar
    brandias a tua utopia
    numa mesma lusofonia

     

    536. elegia à AGLP 16 dez 2011
    viver numa ilha é prisão
    sair dela é impossível
    nem com a velocidade da chita
    nem com a força do elefante
    nem com o mergulho do cachalote
    de nada servem passaportes
    nem vistos consulares
    só água nos rodeia
    preciso saber nadar
    viver na Galiza é prisão
    sair dela é possível
    mas não elimina os carcereiros
    não abate as grades do cárcere
    não liberta do cativeiro
    mas nas árvores de NottinGaliza
    há sempre uma Concha dos Bosques
    ou um Ângelo Merlim
    um Joám Pequeno Evans Pim
    um frei Tuck Montero Santalha
    e seu bando de lusofalantes
    manejando o arco
    invencível besta da lusofonia
  • O valor económico da língua portuguesa pode ser potenciado

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    O valor económico da língua portuguesa pode ser potenciado

     

    A Língua Portuguesa é um património muito acima da sua actual valorização (José Paulo Esperança). É fundamental que Portugal aposte, economicamente, nos países lusófonos (Sousa de Macedo).

    09-12-2011

    «O Valor Económico da Língua Portuguesa» foi o tema de uma conferência organizada pelo Observatório da Língua Portuguesa e que teve como conferencistas o professor universitário José Paulo Esperança e o ex-secretário de Estado das Comunidades Luís Sousa de Macedo. E se para o docente a Língua Portuguesa é um património muito acima da sua actual valorização, para Sousa de Macedo é fundamental que Portugal aposte, economicamente, nos países lusófonos. “Uma língua é tanto mais valiosa quanto mais parceiros de utilização tiver, porque quanto mais pessoas a conhecerem, maior será esse valor”, lembrou o professor José Paulo Esperança, na abertura da conferência, realizada no passado dia 29 de Novembro, na Fundação Cidade de Lisboa.
    Falada actualmente por mais de 240 milhões de pessoas em todo o mundo – 3,7 por cento da população mundial – a língua portuguesa representa, em termos económicos 4 por cento do valor mundial, sublinhou o professor José Paulo Esperança.
    O docente universitário – que integrou a equipa que realizou o estudo «O Valor Económico da Língua Portuguesa», encomendado pelo Instituto Camões (IC) e desenvolvido por 10 investigadores do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) – defendeu que “a proximidade linguística é um fator importante” nas relações económicas de Portugal, já que “países com uma língua comum têm maior facilidade em fazer negócios”.
    Apesar de apenas 6 por cento das exportações nacionais se destinarem a países de expressão portuguesa, o saldo comercial é favorável, já que Portugal importa desses mesmos países, apenas 3 por cento do total do volume de importações, referiu José Paulo Esperança.
    O professor afirmou ainda haver um aumento do interesse na língua falada por oito países – Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor Leste – dando como exemplo a sua presença ma internet. Segundo o Barômetro Calvet das línguas no mundo, é de 34,4509 o índice de penetração da língua portuguesa na Internet (dados de Novembro de 2009). O português é já o oitavo idioma em número de artigos divulgados na Wikipédia e ocupa o 15º lugar no índice «traduções de língua de origem». “Num período de dez anos, o português foi a língua que mais cresceu em termos de acesso na internet”, afirmou o docente.
    José Paulo Esperança revelou ainda que a sua procura como língua estrangeira está a crescer exponencialmente em países de língua espanhola “como a Argentina e o Uruguai” onde, acrescentou “já é um idioma mais procurado do que o inglês”.
    Mesmo assim, o investigador defende que é importante a definição de estratégias para a sua dinamização. “O Português é um património superior à sua atual valorização”, defendeu, acrescentando que este valor abaixo das potencialidades da língua ocorre “muito por uma inércia e indefinição tanto a nível de entidades públicas como privadas”.
    “A língua promove relações e o seu valor para as empresas e para os países pode ser potenciado, já que o estudo («O Valor Económico da Língua Portuguesa») revelou que as indústrias e os serviços em que ela é um elemento chave, representam 17 por cento do Produto Interno Bruto de Portugal”, alertou.
    Já Luis Sousa de Macedo recordou que a língua portuguesa é o veículo de comunicação de milhões de lusófonos na diáspora, com destaque para os 4,5 milhões de portugueses e luso-descendentes. Nesse sentido, foi ainda mais longe ao afirmar que “já que língua e cultura são factores de aproximação”, falar português “é tão importante” que as empresas portuguesas elegeram como mercados fundamentais “a África lusófona e o Brasil”.
    “Neste momento de crise económica, é crucial apostar nos países onde ao longo de séculos criamos uma ligação de proximidade, com destaque para o Brasil e Angola”, defendeu o ex-secretário de Estado das Comunidades e actual administrador da Fundação PT.
    Inserida no 1º Ciclo de Conferências do Observatório da Língua Portuguesa – que teve como temáticas anteriores «Que Política para a Língua Portuguesa?» e «A Internacionalização da Língua Portuguesa» – a palestra reuniu vários estudiosos da língua portuguesa. As três conferências tiveram por objetivo ser um espaço de reflexão e debate de ideias sobre questões relevantes da língua de Camões e ainda motivar a sociedade civil para a importância da II Conferência Internacional sobre Língua Portuguesa no Sistema Mundial que será realizada em Portugal no próximo ano.
    17 por cento do PIB de Portugal

    O estudo «O Valor Económico da Língua Portuguesa», focado na realidade portuguesa, avaliou o impacto da proximidade linguística em quatro dimensões: comércio externo, investimento directo estrangeiro em Portugal, fluxos de turismo e fluxos migratórios. Os dados iniciais permitiram perceber que as indústrias e os serviços em que a língua portuguesa é um elemento chave, representam 17 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal.
    Encomendado pelo Instituto Camões (IC) em Setembro de 2007, e desenvolvido por uma equipa de investigadores do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), o estudo confirmou o elevado peso da proximidade linguística nas relações de Portugal com o exterior. “O papel da língua é um facilitador significativo nas dimensões de intercâmbio analisadas”, lê-se nas conclusões do estudo que apontam a área das migrações e a do Investimento Directo de Portugal no Estrangeiro (IDPE) como aquelas onde neste momento, a língua portuguesa tem mais peso.
    Nesta área, revelou que Brasil e Angola representaram “19 por cento do total da saída de investimento directo a partir de Portugal, no período de 1996-2007”. No mesmo período, embora menos significativa, “também à entrada se verifica um peso superior ao «natural» do investimento directo oriundo principalmente do Brasil e de Angola, representando 13% do total”, refere o documento.
    Idioma oficial em oito países, o português é uma das seis línguas mais faladas no mundo.
    Ana Grácio Pinto
  • DO IBERISMO AO 1º DEZEMBRO in ChrónicAçores vol.2

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    16.5. Do Iberismo ao 1º de dezembro
    Gostava JC de ter algumas réstias do sempiterno otimismo mas a
    desoladamente, a sua reserva, está no nível mínimo desde há déca-das. Mas quando, ano após ano, a chuva cai dentro de casa e alaga o chão ou móveis como se não houvesse teto, tem de assumir a péssi-ma qualidade das casas e que os ”mestres” de construção não passam de biscateiros incapazes de fazerem a obra como deve ser. Mas se vai a um restaurante o resultado é similar com um serviço deficiente a preços de luxo, se vai a um mecânico automóvel idem aspas. E o mesmo se passa na saúde, na justiça, na ignorância santa dos novos professores, na incompetência dos que governam e dos que são man-dados. É esta a tradição. Não é de hoje, vem de longe como consta-tou hoje ao traduzir este parágrafo
    Enquanto a Terceira e as ilhas próximas resistiam ao assalto dos espanhóis à Coroa portuguesa, S. Miguel franqueou-lhes a entrada. Esta diferença deveu-se ao facto de o Corregedor Ciprião de Figueiredo estar sedeado em Angra. Fiel apoiante do Prior de Crato, terá proferido a frase “antes morrer livres que em paz sujeitos”. Por outro lado, a capitania de S. Miguel estava na mão da influente família Gonçalves da Câmara. Além disso, residia nessa altura em São Miguel o Bispo dos Açores, D. Pedro de Castilho, fiel a Filipe II. Viria a ser Vice-Rei de Portugal em paga da sua fidelidade à causa castelhana. Mais tarde, o Capitão do Donatário de São Miguel receberia o título de Conde de Vila Franca.
    Abundam assim os que esquecem o terror do domínio castelhano e
    pressurosos querem entregar o país ao vizinho ibérico.
    Miguel Urbano Rodrigues escrevia em 2006:
    151

    J. Chrys Chrystello
    Os iberistas, ao esboçarem uma Espanha pletórica de energias, de
    progresso e criatividade, simulam esquecer que o país exibe a mais
    alta taxa de desemprego da UE. Não aludem ao racismo e à xenofobia
    …onde os imigrantes, sobretudo os magrebinos, equatorianos e colom-
    bianos são mais discriminados.
    Há três décadas a Espanha não existia como parceiro comercial. Hoje
    ocupa o primeiro lugar nas importações portuguesas. A banca espanho-
    la conquistou uma parcela importante. O mesmo ocorre com a hotelaria
    e grandes transnacionais como El Corte Inglês e Zara. As imobiliárias
    espanholas invadem as cidades. … no Alentejo capitalistas espanhóis
    compraram já as melhores terras no Alqueva. Adquiriram milhares de
    hectares para criação de porcos, lagares e plantação de oliveiras e vinhas. Essa invasão é festejada pelo Governo de Sócrates e pela grande burguesia. … Agradecem. Com a espontaneidade da nobreza
    de 1383 a saudar D João De Castela e a nobreza de 1580 a alinhar
    com Filipe II. Essa forma de dominação económica encobre uma moda-
    lidade de intervenção imperial. “Alentejo Popular”(Beja) 02-11-06
    Portugal atingiu tal irrelevância que ninguém se surpreenderia se
    passasse a dependência espanhola, como se de banco se tratasse.
    Como se estivéssemos a falar de abrir um escritório no litoral já que
    o interior está desertificado de gentes e de economias de mercado viáveis. Por outro lado, despontam a nível governamental, iniciativas de união ibérica, nem sempre dissimuladas, que causam engulhos. Por ser um estudioso do assunto que condensou o que JC pensa, sigamos Carlos Fontes em Lusotopias
    O iberismo é um fenómeno do séc. XIX como resposta à teoria das
    grandes nações então em voga. …as pequenas estariam condenadas
    a serem absorvidas pelas grandes, tal como teria acontecido entre os
    animais onde os mais fortes extinguiram os mais fracos (darwinismo).
    Sempre que a situação é melhor no outro lado da fronteira, a integra-
    ção de Portugal em Espanha surge aos olhos dos iberistas como a
    solução para resolver a crise, sem trabalho… as mortes de dois ibe-
    ristas assumiram enorme carga simbólica na história portuguesa, sendo
    continuamente evocadas. A morte do Conde de Andeiro, fidalgo galego,
    foi assumida como o símbolo de liberdade de um povo que recusa as
    ingerências externas. Acabou por ascender a elevada posição na corte,
    tendo recebido de D. Fernando o título de Conde de Ourém, pondo-se
    152

    ChrónicAçores:
    .
    na crise de 1383-85, ao serviço de Castela. Foi assassinado, em 1383, por D. João, mestre de Avis e futuro rei de Portugal. A sua nefasta ação traduziu-se numa violenta guerra civil.
    Já a morte de Miguel de Vascon-celos exprime simbolicamente a afir-mação da identidade cultural de um povo, após a opressão de 60 anos. Após a morte deste esbirro, o povo português travou com a Espanha, durante 28 anos, uma sangrenta guerra na Europa e na América do Sul pela defesa da sua liberdade e dignidade.
    …E como já ninguém estuda História, estes episódios perdem
    a força, não são transmitidos de geração para geração, perde-se a
    memória coletiva do povo. Continuemos com Carlos Fontes:
    Nas últimas décadas, órgãos de comunicação social usando da
    liberdade de expressão, têm procurado abrir fraturas na sociedade.
    O seu objetivo é simples:
    1. Mostrar através de “sondagens” encomendadas ou “discussões”
    públicas que na sociedade portuguesa existe um grupo cujo objetivo é a
    dissolução do Estado português;
    2. Dar “voz” à hipotética minoria iberista portuguesa. Ao mesmo
    tempo, a imprensa espanhola mostra aceitação à possível integração.
    3. Os supostos iberistas não constituem uma corrente de opinião nem
    um movimento organizado.
    A imprensa trabalha no terreno das hipóteses…introduzindo elementos de discórdia e desmoralização coletiva.
    Oliveira Martins (1845-1894) é o melhor exemplo dos esbirros iberistas.
    É difícil de determinar a causa do profundo ódio que manifestava pelos
    seus concidadãos e o país. Foi um típico vira-casaca: anarquista, socia-
    lista, republicano, monárquico, liberal, antiliberal. Defendeu a liberdade,
    mas também a ditadura. Atacou os ditadores, mas apoiou João Franco,
    Muitas das suas ideias foram aplicadas por ditadores (Sidónio Pais ou
    Oliveira Salazar).
    Antero de Quental (1869) era um confesso iberista, dois anos depois já nem fala no assunto, e mais tarde abomina a ideia. Algo idêntico ocorreu com Teófilo Braga. …
    Durante as legislativas de setembro 2009 – a TVI -, canal de TV controlado por espanhóis interferiu diretamente na campanha eleitoral, e…afastou a “jornalista” (Manuela Moura Guedes) que promovia uma campanha de propaganda contra o governo socialista… e a comuni-icação social espanhola procurava lançar nova campanha em defesa das teses iberistas, apoiada numa “sondagem” da Universidade de Salamanca, com a colaboração de alienados no ISCTE (Lisboa).
    153

    J. Chrys Chrystello
    A razão por que se escolheu este tema e as citações supra para esta
    crónica é a data que ora se celebra, o dia da Restauração da Indepen-
    dência de 1 de dezembro de 1640. Para que os mais jovens nunca o
    esqueçam e deixem de a tratar como um dia sem aulas. Infelizmente,
    é para a maioria, um dia como qualquer outro nos Açores, sem que
    o povo se dê conta do seu significado:
    “…arrebatados do generoso impulso, saíram todos das carroças e
    avançaram ao paço. .. D. Miguel de Almeida, venerável e brioso, com a
    espada na mão grita: Liberdade, portugueses! Viva El-Rei D. João IV”
    A ideia de nacionalidade esteve por trás da restauração da inde-
    pendência plena de Portugal após 60 anos de monarquia dualista.
    Cinco séculos de governo próprio haviam forjado a nação, fortalecen-
    do a rejeição da união com o vizinho. A independência fora sempre um
    desafio a Castela. Foram sucessivas e acerbas as guerras, as únicas
    que Portugal travou na Europa. Para a maioria, os Habsburgo eram
    usurpadores, os Espanhóis inimigos e os seus partidários, traidores.
    Culturalmente, avançara depressa a castelhanização de 1580 a 1640.
    Autores e artistas gravitavam na corte espanhola, aceitavam padrões
    espanhóis e escreviam cada vez mais em castelhano, contribuindo para
    a riqueza espanhola. Dão a impressão errada de decadência cultural
    após 1580. A perda da individualidade cultural era sentida por muitos
    portugueses, com reações diversas a favor da língua pátria e da sua
    expressão em prosa e poesia. Contudo, os intelectuais sabiam perfei-
    tamente que os seus esforços seriam vãos sem a recuperação da
    independência política. O Império Português atravessava uma crise
    com a entrada em jogo de holandeses e ingleses. Perdera o mono-
    pólio comercial (Ásia, África e Brasil) e a Coroa, a nobreza, o clero
    e a burguesia haviam sofrido severos cortes de receitas.
    Os Espanhóis reagiam contra a presença portuguesa nos seus ter-
    ritórios, mediante vários processos, entre os quais a Inquisição. Isso
    suscitou grande animosidade nacionalista em Portugal aprofundan-
    do o fosso entre os dois países.
    Margarida, duquesa de Mântua, neta de Filipe II, exerceu o governo
    de Portugal, de 1634 a 1640, como vice-rei e capitão-general. Econo-
    micamente, a situação piorara desde 1620 ou até antes. Os produtores
    sofriam com a queda dos preços do trigo, azeite e carvão. A crise
    afetava as classes baixas, cuja pobreza aumentou sem disfarces. O
    agravamento dos impostos tornava a situação pior. A solução apre-
    sentava-se fácil e óbvia: a Espanha, causa de todos os males.
    154

    J. Chrys Chrystello
    A conspiração independentista congregava um grupo heterogé-
    neo [nobres, funcionários da Casa de Bragança e elementos do clero
    (alto e baixo)]. Em novembro de 1640 conseguiram o apoio formal
    do duque de Bragança. Na manhã do 1º de dezembro, um grupo de
    nobres atacou a sede do governo (Paço da Ribeira), prendeu a du-
    quesa de Mântua, matou e feriu membros da guarnição militar e
    funcionários, como o Secretário de Estado, Miguel de Vasconcelos.
    Dizia Camões: “Também dos Portugueses alguns traidores houve,
    algumas vezes…” (Os Lusíadas, C. IV, 33). Seguidamente, os re-
    voltosos percorreram a cidade, aclamando o novo estado, secun-
    dados pelo entusiasmo popular. Em todo o Portugal, metropolitano
    e ultramarino, a notícia da mudança do regime foi recebida e obe-
    decida sem qualquer dúvida. Só Ceuta permaneceu fiel a Filipe IV.
    D. João IV entrou em Lisboa a 6 de dezembro. Proclamar a separa-
    ção fora fácil. Mais difícil seria mantê-la. Tal como em 1580, em 1640 os
    portugueses estavam longe de unidos. As classes inferiores mantinham
    a fé nacionalista em D. João IV, mas o clero e a nobreza, com laços em
    Espanha, hesitava e a medo alinhava com o duque de Bragança.
    O novo monarca estava numa posição pouco invejável. Tornava-se
    necessário justificar a secessão não como usurpador, mas a reaver o
    que por direito legítimo lhe pertencia. Abundante bibliografia (em
    Portugal e fora dele) procurou demonstrar direitos reais do duque
    de Bragança. Se o trono jamais estivera vago de direito, em 1580
    ou 1640, não havia razões para eleição em cortes, o que retirava
    ao povo a importância que teria, fosse o trono declarado vago.
    Todo o reinado (1640-56) foi orientado por prioridades. Primeiro, a re-
    organização do aparelho militar, reparação de fortalezas das linhas
    defensivas fronteiriças, fortalecimento das guarnições e obtenção de
    reforços no estrangeiro. Paralelamente, a intensa atividade diplomática
    nas cortes da Europa, para obter apoio militar e financeiro, negociar
    tratados de paz ou de tréguas, o reconhecimento da Restauração, e a
    reconquista do império ultramarino. A nível interno, a estabilidade de-
    pendeu, do aniquilamento de toda a dissensão a favor de Espanha.
    A guerra da Restauração mobilizou todos os esforços e absorveu
    enormes somas. Pior, impediu o governo de conceder ajuda às ata-
    cadas possessões ultramarinas. Mas, se o cerne do Império, na Ásia,
    foi sacrificado, salvou a Metrópole da ocupação espanhola.
    155

    ChrónicAçores:
    Portugal não dispunha de exército moderno, as forças terrestres
    escassas na fronteira, as coudelarias extintas e os melhores generais
    lutavam pela Espanha na Europa. Isto explica por que motivo a guerra se limitou a operações fronteiriças de pouca envergadura.
    Do lado espanhol, a Guerra dos Trinta Anos (até 1659) e a questão
    da Catalunha (até 1652) atrasavam ofensivas de vulto. A guerra, que se
    prolongou por 28 anos, teve altos e baixos até se assinar o Tratado de
    Lisboa,1668, entre Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, em
    que este reconhece a independência do nosso País. (Adaptado de
    Oliveira Marques, “A Restauração e suas Consequências”, in História de
    Portugal, vol. II, Lisboa, ed. Presença, 1998, pp. 176-201).
    Hoje anda muita gente com passaporte português a celebrar o 1º
    de dezembro como desastre ou deplorável evento. Esquecem que se
    tratou da reconquista da liberdade do povo e da nação subjugada
    pelo poder dinástico dos Filipes de Castela. Mais vale um povo
    pobre e livre do que rico na gaiola dourada com as cores do reino
    de Espanha. Assim o dizem os galegos que se acercam das origens
    portuguesas preservando a língua e cultura comuns. A memória dos
    homens é curta e ninguém sabe nem evoca o jovem Miguel da Paz
    (n. 1499) que seria Rei de Portugal e de Espanha se não morresse
    aos dois anos. Infelizmente morreu e este “se” é desconhecido dos
    portugueses, clamem ou não pelo regresso ao trono espanhol.
    São deveras interessantes os “pequenos detalhes” que determinam
    o curso da História e que vieram legalizar de pleno direito a sucessão de
    Filipe II ao trono de Portugal em 1580, por morte sem descendência do
    herdeiro varão, cardeal D. Henrique (68 anos), 9º filho do rei D. Manuel I
    A candidatura de Filipe era fortíssima e indiscutível e resultava do ca-
    samento da filha terceira de D. Manuel I, com Carlos V (I de Espanha),
    pais de Filipe I de Portugal (II de Espanha). Paradoxalmente, antes da
    candidatura de Filipe ao trono, a situação poderia ter sido invertida,
    unificando as coroas ibéricas “para o lado português”. Em 1499, fora
    proclamado herdeiro das coroas de Portugal e de Espanha, Miguel da
    Paz, primeiro filho de D. Manuel I com Isabel, filha dos Reis Católicos.
    Azar dos portugueses ou conspiração castelhana, morreu com 2 anos.
    Por estas e outras razões os portugueses serão sempre saudosistas,
    dos espanhóis, de Salazar e do sonho chamado 25 de abril.
    in CHRÓNICAÇORES UMA CIRCUM-NAVEGAÇÃO POR J CHRYS CHRYSTELLO ED CALENDÁRIO DE LETRAS 2011
    156

    J. Chrys Chrystello
    — Quem garante que Portugal estaria melhor como província espa-
    nhola do que independente? (Os galegos dizem que não)
    — Quem garante que não seria Portugal uma célula independentista,
    tipo ETA, (aliada ou não à Galiza)?
    E se fosse ao contrário e o Reino de Espanha fosse uma província
    de Portugal? Que aconteceria aos Bourbon? Só tinham utilidade nos
    EUA. Lá emborcam todos os Bourbon que encontram. Infelizmente,
    aqui ao lado, entronizam-nos e chamam-lhes Reis.
  • Jeanne Pereira: «O galego é português e o português é galego»

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    da AGAL SE TRANSCREVE

    Jeanne Pereira: «O galego é português e o português é galego»

     

    «O pequeno império deixa claro que a Galiza é unha periferia de Madrid e não uma nação com identidade própria»
    «Deixemos de lado esse discurso ultrapassado dito por muitos galegos de que o português se parece muito ao galego e mudemos para este: de que o galego é português e o português é galego»

     

    Sexta, 21 Outubro 2011 08:18
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    Jeanne defende o galego como língua «extensa e útil»

     

    PGL – Jeanne Pereira, brasilega, achava estranho o galego se escrever com ortografia castelhana e pensa que temos que ter a ousadia de dizer a verdade sobre a língua da Galiza. É uma magnífica embaixadora do nosso país e da nossa língua.
    PGL: Jeanne Pereira é baiana. Que te motivou a vires para a Galiza e como sentiste a integração no nosso país?
    Jeanne Pereira: Por questões pessoais necessitava sair do Brasil. Eu já sabia que aqui havia um idioma que era parecido ao português. Por que era exatamente o que pensava por ter pesquisado algo em relação a Galiza, à sua historia, em sites de pesquisas que nada tinham a ver com a realidade do país. Lembro bem que procurei saber da realidade política, e porque esse idioma ‘parecido’ ao meu. O que me chamou a atenção foi a ortografia, achava estranho um idioma com uma escrita igual ao espanhol, principalmente porque diziam ser ‘parecido’ ao português. E pensei como é possível?
    PGL: Falando em integração, como foi o teu contato primeiro com o reintegracionismo?
    JP: Através de José Alvaredo, que foi um pessoa muito especial que no seu momento se dedicou a mostrar a verdade em relação a realidade da Galiza. Uma pessoa que foi importante para que eu pudesse chegar à realidade sociolinguística. Era interessante o que ele fazia, era uma preocupação diária, ja que colocava como página principal o site da AGAL e Vieiros. Quando eu abria o computador, estavam ali, então lia e tirava as dúvidas com ele, mesmo quando chegava em casa cansado do trabalho, nunca se negou a explicar-me e dedicar todo o tempo possível para dar-me esclarecimentos com uma paixão pela Galiza, pelo nosso idioma em comum, que me contagiava.
    Foi a primeira pessoa que me disse que…o português nasceu na Galiza. As dúvidas eram tiradas e muito bem esclarecidas ao ponto de me deixar mais curiosa. Inclusive a realidade política veio a través dele. O meu primeiro comentário sobre a língua foi em Vieiros, que passei a difundir a realidade do país através deste jornal.
    O primeiro dicionário consultado foi o Estraviz. Comecei a comentar artigos em Vieiros para chegar a outros brasileiros que não conheciam a realidade da Galiza. Aproveito para agradecer todo o apoio dado por esse grande mestre que no seu momento, como disse, foi extremamente importante para mim. Um muito obrigada Zé! Sigo adiante e com muita força valorizando tudo que aprendi.
    PGL: Estás a estudar galego, versão ILG-RAG, na EOI. Este formato de galego pode funcionar bem na interação com pessoas do Brasil e de Portugal?
    JP: Não, pela ortografia, que é espanhola, que nada tem a ver com português. É uma norma isolacionista que foi imposta pelo Estado espanhol, já que a Galiza pertence ao Estado e o governo autonômico, em vez de aproximar o galego ao português, pretende aproximá-lo ao espanhol, diluindo assim a identidade galega. É uma estratégia política do pequeno império, uma forma de colonizar a população galega, separando o nosso idioma em comum. Inclusive alguns brasileiros dizem que é um galego ‘feio’, ‘mal escrito’. É uma questão tanto da fala como da escrita. Existem vícios de linguagem que infelizmente são muito utilizados pelos/as galegos/as pela influência do espanhol, daí que os/as brasileiros/as se aproximem ao espanhol e não ao galego, já que o galego raguiano é um dialeto do espanhol, e vista como uma língua ‘misturada’ do espanhol.
    PGL: Não sei se sabias que nas EOI existe a figura de língua ambiental, aquelas que a priori existem na sociedade onde está inserido o centro. Na Galiza são três, galego, português e castelhano. Isto facilitou o teu dia a dia, não é?
    JP: Deixemos de lado esse discurso ultrapassado dito por muitos galegos de que o português se parece muito ao galego e de que um galego pode aprender português por ser parecido, e mudemos para este: que o galego é português e o português é galego. A prova é que o galego já está no dicionário da Porto Editora desde 2008 no vocabulário comum e breve nos dicionários brasileiros.
    A facilidade de entendimento é grande desde quando se abra a mente para isso. Para mim sempre tem sido fácil porque não importa se falam comigo em espanhol, eu falo em galego-português, estou na Galiza, e isso tenho claro. Já escutei muita gente falarem para mim “Não te entendo”. Eu respondo, “pois deveria, estamos na Galiza, a língua do meu país nasceu aqui, temos inclusive um vocabulário comum.
    Palavras que foram levadas daqui para o Brasil, que surgiram aqui”. Infelizmente, por questões de imposição do estado espanhol, não podemos usar a nossa língua nas traduções juramentadas. Por exemplo, um título universitário do Brasil, tem que ser traduzido ao espanhol e não à língua própria do país.
    PGL: No Brasil existe um desconhecimento da Galiza e da sua língua. Qual a reação média de uma pessoal do Brasil quando descobre?
    JP: Muitos galegos que visitam o Brasil, de férias, para estudar, os emigrantes que vivem ali uma boa parte não são vistos como galegos e sim espanhóis. Inclusive Santiago de Compostela é destino para quem está a aprender espanhol. O pequeno império deixa claro que a Galiza é unha periferia de Madrid e não uma nação com identidade própria. Escuto de muitos galegos como uma brasileira pode saber tanto da Galiza ao ponto de dizer que o português e o galego é o mesmo e que eles sendo galegos não sabem nada da realidade e alguns se aborrecem afirmando que tudo isso é uma mentira, que a história mostra claramente as diferenças nas duas línguas que é impossível serem um único idioma com variantes diferentes.
    Sempre cito como exemplo muitos galegos que estiveram ali no Brasil e que muitos brasileiros perguntavam de que região faziam parte, ou até mesmo de que estado. Infelizmente a realidade da Galiza ainda é desconhecida no meu país, mas faço minhas as palavras do José Carlos da Silva, que diz: “Reclamo um maior conhecimento da realidade da Galiza no Brasil”.
    Agora, o dia 6 de novembro estarei de volta a Salvador, mas levo comigo o compromisso de mostrar essa realidade, a de um país que possui um idioma em comum com o meu, e de que a sua língua nasceu aqui na Galiza. É com muito orgulho e muita gratidão por um país que aprendi a amar como sendo meu, um país que me acolheu, porque sempre deixo claro que fui acolhida pela Galiza e não pela Espanha, que lutarei para que esse conhecimento seja real no Brasil.
    PGL: Achas que existem diferenças entre a cidadania galega na sua perceção do Brasil e da lusofonia em geral?
    JP: Muitos galegos veem o Brasil como um destino turístico, não como um país com uma língua em comum. O Brasil ultimamente é visto por ser a sétima economia mundial e nos meios de comunicação aparece muito este facto, mais nada em relação questão da língua. O Brasil infelizmente não conhece essa realidade.
    PGL: Certos círculos sociais em Santiago falam da figura do(a) brasilego(a), uma pessoa que vive na nossa língua cá na Galiza frente a atitude mais habitual de desenvolver-se em castelhano no dia a dia. É exportável esta forma de viver a outras cidades?
    JP: Em Santiago sim, mais noutras cidades não porque a fala predominante é o espanhol. Em Santiago também depende do ambiente que frequente ou que esteja. Há lugares que inclusive falo o meu ‘baianês’ com uma rapidez como se estivesse em Salvador. Chego a mudar completamente o meu sotaque e falar com uma desenvoltura que as vezes não me dou conta que estou em Santiago.
    PGL: Tu segues os passos da estratégia luso-brasileira para o galego. Que tipo de táticas achas mais produtivas e quais achas que se deveriam implementar para a cidadania galega viver o galego como sendo extenso e útil?
    JP: Táticas temos muitas, inclusive as redes sociais, são meios de grande importância para divulgar a nossa realidade. Há que sensibilizar e ter muita valentia e ousadia no falar, na hora de dizer a verdade sobra a realidade o país, sobre o seu idioma próprio e cultura, afirmando com muita força que “Galiza não é Espanha”, e que isso fique bem claro, não tendo medo de falar a verdade em alto e bom som,para todo mundo ouvir.
    O incentivo a leitura dos jornais na nossa língua, dando prioridade as publicações em galego-português, também nas redes sociais. Ao invés de estarmos publicando notícias de meios espanholistas, publicarmos noticias com o nosso idioma.
    Aproveitar o momento político do Brasil pode ser algo importante, para mostrar que além de um país em crescimento com ofertas de emprego, para os galegos, há a vantagem de termos um idioma em comum, o que facilita muito no mercado de trabalho. A ousadia e a valentia de sempre dizer a verdade, sobre a realidade da Galiza, é importante. Já passou da hora de vencer todo esse auto-ódio que nos contamina de forma negativa, tirando a coragem e a força de muitos em falar a realidade e de lutar pelo seu país, livrando-se da colonização mental imposta pelo ‘Reino de Espanha’, por um pequeno Império fracassado, prepotente e complexado, em que infelizmente a Galiza tem sofrido por estar sendo Desgovernada por um partido que em nada representa o país, levando a Galiza ao retraso.
    PGL: Que visão tinhas da AGAL, que te motivou a te associares e que esperas da associação?
    JP: A nossa língua é extensa e útil, a nossa língua é internacional, e a AGAL cumpre perfeitamente esse papel como representante do nosso idioma, com muita seriedade e responsabilidade divulgando de forma séria o seu trabalho em prol da nossa língua e da realidade sócio-linguística do país. Levando ao conhecimento inclusive a nível internacional. Parabenizo a associação pelo grande trabalho que vem sendo realizado nesses 30 anos de existência, mostrando a internacionalidade da nossa língua em comum. Espero sempre o melhor e que esse trabalho cresça e continue recebendo todo o apoio merecido para dar continuidade a divulgação da nossa língua.
    PGL: Como vai ser o Brasil do futuro?
    JP: Espero que seja um país com menos desigualdade social, investindo em políticas sociais, fortalecendo a saúde pública como direitos de todos, com qualidade. Que o presidente ou presidenta que ali esteja, chegue a ONU, um dia no seu discurso, reivindicando e reconhecendo a liberdade e soberania de muitas nações como a Galiza.

    Conhecendo Jeanne Pereira

    • Um sítio web: são vários, principalmente os relacionados a política e escritos no nosso idioma em comum. Por exemplo, leio todos os dias a revista Carta Maior.
    • Um invento: o que traga beneficio à humanidade
    • Uma música: Apesar de Você (Chico Buarque)
    • Um livro: O Golpe de 64 e a Ditadura Militar, de Júlio José Chiavenato. Esse livro foi uma grande referência para mim, a nível político e um grande presente dado por meu pai, quando tinha apenas 15 anos de idade.
    • Um facto histórico: a independência da Galiza
    • Um prato na mesa: um caruru completo (comida baiana)
    • Um desporto: Fórmula 1
    • Um filme: O auto da compadecida, de Ariano Suassuna.
    • Uma maravilha: a descoberta da vacina contra o vírus da Sida
    • Além de brasileira: brasilega

     

    Comentários

    # Re: Jeanne Pereira: «O galego é português e o português é galego»Carlos Durão 21-10-2011 09:21

    Mal posso conter as bágoas, cara Jeanne, mulher valente: sei muito bem que estas belas frases tuas:”Há que sensibilizar e ter muita valentia”, “A ousadia e a valentia de sempre dizer a verdade, sobre a realidade da Galiza”, não são vazias, que és testemunha privilegiada da nossa situação precária, até tu própria pudeste comprovar em ti mesma essa prepotência, no fundo esse racismo do EE para quem não seja “como ele”; no teu imenso Brasil estaremos contigo, sempre, até pode ser que te visitemos alguns de nós; leva o meu forte, fundo, acarinhado abreço galego.

    Carlos

     

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  • Machimbombo

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    O termo “Machimbombo” generalizou-se em Angola (região de Luanda, sobretudo) para designar os autocarros de transportes públicos. Supunha-se que era um termo gentílico, mas afinal acabámos por constatar que é um vocábulo levado de Portugal para Angola em princípios do século XX.
    Veja o documento histórico abaixo. O artigo está muito bem escrito com ortografia antiga.Uma preciosidade!

    Machimbombo é uma palavra portuguesa que significa elevador mecânico, mas que caiu totalmente em desuso em Portugal – mas, como se refere nesta anterior resposta, de uso corrente em Angola e em Moçambique.

    O que se transcreve em baixo é a história – e a morte – do antecessor do emblemático elétrico 28 de Lisboa, conforme notícia da revista Ilustração Portuguesa n.º 386, em 17 de julho de 1913. Chamava-se, então, “Machimbombo da Estrela“.

    E, do que dela pelo menos parece legítimo concluir, é a comprovação de que a palavra machimbombo, provinda do inglês machine pump, já se usava em Portugal no início do século XX.

  • O VERDADEIRO SIGNIFICADO DA PALAVRA TREM

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    O VERDADEIRO SIGNIFICADO DA PALAVRA TREM

    Interessante que o assunto mineirês veio à tona logo no dia em que alguns transtornos foram causados pelo seu desconhecimento por parte de alguns jornalistas, que escreveram a seguinte manchete: – ‘ Trens batem de frente em Minas.’

    Os mineiros, obviamente, não deram a devida importância, já que para eles isto quer dizer apenas que duas coisas bateram. Poderia ter sido dois carros, um carro e uma moto, uma carroça e um carro de boi; ou
    até mesmo um choque entre uma mala de viagem e a mesa de jantar.

    Movido pela curiosidade, resolvi então consultar o Aurélio. E vejam o que diz:

    trem [Do francês/inglês. train.] Substantivo masculino.
    1 Conjunto de objetos que formam a bagagem de um viajante. 2.Comitiva, séquito. 3. Mobiliário duma casa. 4. Conjunto de objetos apropriados para certos serviços… 5. Carruagem, sege. 6. Vestuário, traje, trajo. 7.Mar. G. Bras. Grupamento de navios auxiliares destinados aos serviços (reparos, abastecimento, etc.) de uma esquadra. 8. Bras. Comboio ferroviário; trem de ferro. 9. Bras. Bateria de cozinha. 10. Bras. MG C.O. Pop. Qualquer objeto ou coisa;
    coisa, negócio, treco, troço: ‘ensopando o arroz e abusando da pimenta, trem especial, apanhado ali mesmo, na horta.’ (Humberto Crispim Borges, Cacho de Tucum, p. 186). 11 .Bras. MG S. Fam. Indivíduo sem préstimo, ou de mau caráter; traste.

    Vejam que o sentido de comboio ferroviário é apenas o 8º, e ainda é considerado um brasileirismo.

    Comentei o fato com um amigo especialista em etimologia, que me esclareceu a questão: o comboio ferroviário recebeu o nome de trem justamente porque trazia, porque transportava, os trens das pessoas.
    Vale lembrar que nessa época o Brasil possuía uma malha ferroviária com relativa capilaridade e o transporte ferroviário era o mais importante. Assim, era natural que as pessoas fizessem essa associação.

    Moral da estória:
    O mineiro é, antes de tudo, um erudito. Além de erudito, ainda é humilde e aceita que o pessoal dos outros estados tripudie da forma como usa a palavra trem. Na verdade, acho que isso faz parte do ‘espírito cristão do mineiro’. Ele escuta as gozações e pensa: que sejam perdoados, pois não sabem o que dizem.

    Recebi sem indicação da AUTORIA.
  • Como o falante galego é visto em Portugal?

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    Como o falante galego é visto em Portugal?
    
    A esta pergunta de um leitor , Carlos Rocha, responde no Ciberdúvidas da língua portuguesa assim:
     
    Há realmente um grande desconhecimento em Portugal acerca das afinidades linguísticas com a Galiza. Perante um falante de galego, é típico um português tentar falar castelhano, muitas vezes porque não reconhece o que ouve como língua ainda muito próxima da que fala a sul do rio Minho. Lembro-me, por exemplo, de que, durante a crise do Prestige no final de 2002, os noticiários portugueses normalmente legendavam as respostas das entrevistas feitas aos habitantes do litoral galego; muitos deles falavam um galego que, apesar da “geada” (troca do "g" por um som parecido com o "jota" castelhano), tinha uma entoação familiar para ouvidos portugueses. Este comportamento dos canais de televisão em Portugal parecia obedecer ao atavismo de considerar castelhano tudo o que se fala para lá da fronteira. Penso ainda que a identidade galega nem sempre é clara para o português médio ou popular. Assim, é curioso que, dialetalmente, nem sempre um
     galego é apenas um habitante da Galiza. Por exemplo, no Alentejo um galego pode ser um natural das Beiras (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa). E suspeito que no Norte e no Centro de Portugal, em algumas regiões que não fazem fronteira com a Galiza, um zamorano, um salmantino ou até um estremenho de Cáceres – não sei se de Badajoz – sejam todos galegos (o que pode ter alguma verdade histórica em casos como os de San Martín de Trevejo, Valverde del Fresno e Eljas). É claro que também acontece que alguns (ou muitos?) portugueses ficam baralhados quando começam a ler o que se escreve a norte do Minho. É como se dissessem: «o que se passa, que os espanhóis andam a escrever num português estranho?» Recordo que há cerca de dez anos se dedicou um excelente número da revista Colóquio Letras (Fundação Calouste Gulbenkian) à cultura galega. Nele, a prof.ª Pilar Vázquez Cuesta abordava
     justamente o desconhecimento com que os portugueses (quase sempre não acadêmicos, mas também há acadêmicos) costumam “brindar” os galegos, quando se trata de falar dos laços comuns. Para esta situação contribui certamente o fato de a História ter dificultado desde muito cedo a descoberta ou o reforço desse elo: quando, com D. Dinis, os documentos notariais portugueses passaram a ser escritos na língua que se desenvolvera no Noroeste da Península e a que historicamente poderíamos chamar galego, o reino de Portugal já existia há mais de um século. Assim, ao querer dar nome ao “galego” que se falava do Minho ao Algarve, esse nome foi muito logicamente português, visto que se estava a designar o idioma do Reino de Portugal e do Algarve. Explica-se, deste modo, que se fale em português antigo, não porque se negue a relação ou mesmo a identificação com o galego, mas talvez porque se pensa que o Condado e, depois, Reino de
     Portugal é que deu consciência idiomática coletiva a uma parte dos dialetos galegos – os que eram falados pelos portugueses. Sobre este assunto, recomendaria uma obra que dedica alguns capítulos ao problema da designação da língua na faixa ocidental da Península: Ramón Mariño Paz, Historia da Lingua Galega, Santiago de Compostela, Sotelo Blanco, 1998.
    
    Carlos Rocha :: 30/06/2006 
    
    http://ciberduvidas.pt/pergunta.php?id=18099