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  • inédito lamento de viúvo 19.9.2024 se eu pudesse ir para os amanhãs

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    746. lamento de viúvo 19.9.2024

     

    se eu pudesse ir para os amanhãs

    levava comigo todos os ontens…

    nunca devemos deixar os ontens no armário

    têm a tendência de desaparecer sem rasto

    sabe-se lá para onde vão e o que vão dizer

     

    nunca devemos confiar nos ontens

    são frágeis como as memórias

    ou a neblina ou a gaze ou algodão-doce

    pintam-se e abonecam-se de muitas cores

     

    os ontens amarram-nos e impedem a viagem

    mas eu só fui feliz ontem

    e os amanhãs são apenas

    a memória de ontem sem felicidade

     

     

    inédito chrys c

  • fogos

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    545 fogos – Unknown

  • eles andam aí, eles voltaram… zeca aFONSO Vampiros

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    Vampiros

    Letra e música: Zeca Afonso

    Letras

    No céu cinzento sob o astro mudo
    Batendo as asas pela noite calada
    Vêm em bandos com pés veludo
    Chupar o sangue fresco da manada

    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada
    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada

    Se alguém se engana com seu ar sisudo
    E lhes franqueia as portas à chegada

    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada
    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada

    À toda a parte chegam os vampiros
    Poisam nos prédios poisam nas calçadas
    Trazem no ventre despojos antigos
    Mas nada os prende às vidas acabadas

    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada
    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada

    No chão do medo tombam os vencidos
    Ouvem-se os gritos na noite abafada
    Jazem nos fossos vítimas dum credo
    E não se esgota o sangue da manada

    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada
    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada

    São os mordomos do universo todo
    Senhores à força mandadores sem lei
    Enchem as tulhas bebem vinho novo
    Dançam a ronda no pinhal do rei

    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada
    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada

    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada
    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada

    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada
    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada

    Fonte: Musixmatch

     

  • DANIEL FILIPE 1925-1964 A invenção do amor

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    DANIEL FILIPE 1925-1964

    A invenção do amor

    ….

    O perigo justifica-o Um homem e uma mulher
    conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade

    É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
    antes que seja tarde
    e a memória da infância nos jardins escondidos
    acorde a tolerância no coração das pessoas

    Fechem as escolas Sobretudo
    protejam as crianças da contaminação
    uma agência comunica que algures ao sul do rio
    um menino pediu uma rosa vermelha
    e chorou nervosamente porque lha recusaram
    Segundo o diretor da sua escola é um pequeno triste inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão
    Aplicado no entanto Respeitador da disciplina
    Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos
    Ainda bem que se revelou a tempo Vai ser internado
    e submetido a um tratamento especial de recuperação
    Mas é possível que haja outros É absolutamente vital
    que o diagnóstico se faça no período primário da doença
    E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
    de que fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade
    ..
    É possível que cantem
    mas defendam-se de entender a sua voz Alguém que os escutou
    deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
    E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
    respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
    lhe lembravam a infância Campos verdes floridos
    Água simples correndo A brisa das montanhas
    Foi condenado à morte é evidente É preciso evitar um mal maior
    Mas caminhou cantando para o muro da execução
    foi necessário amordaçá-lo e mesmo desprendia-se dele
    um misterioso halo de uma felicidade incorrupta

    Está em jogo o destino da civilização que construímos
    o destino das máquinas das bombas de hidrogénio das normas de discriminação racial
    o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
    a verdade incontroversa das declarações políticas

    Procurem a mulher o homem que num bar
    de hotel se encontraram numa tarde de chuva
    Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
    senhas salvo-condutos horas de recolher
    censura prévia à Imprensa tribunais de exceção
    Para bem da cidade do país da cultura
    é preciso encontrar o casal fugitivo
    que inventou o amor com caráter de urgência

     

  • eles voltaram

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    Vampiros

    Letra e música: Zeca Afonso

    Letras

    No céu cinzento sob o astro mudo
    Batendo as asas pela noite calada
    Vêm em bandos com pés veludo
    Chupar o sangue fresco da manada

    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada
    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada

    Se alguém se engana com seu ar sisudo
    E lhes franqueia as portas à chegada

    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada
    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada

    À toda a parte chegam os vampiros
    Poisam nos prédios poisam nas calçadas
    Trazem no ventre despojos antigos
    Mas nada os prende às vidas acabadas

    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada
    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada

    No chão do medo tombam os vencidos
    Ouvem-se os gritos na noite abafada
    Jazem nos fossos vítimas dum credo
    E não se esgota o sangue da manada

    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada
    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada

    São os mordomos do universo todo
    Senhores à força mandadores sem lei
    Enchem as tulhas bebem vinho novo
    Dançam a ronda no pinhal do rei

    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada
    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada

    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada
    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada

    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada
    Eles comem tudo, eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada

    Fonte: Musixmatch

     

  • POESIA AFONSO LOPES VIEIRA

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    Por Afonso Lopes Vieira

    1878-1946

    Se um inglês ao passar me olhar com desdém,
    num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
    se tens agora o mar e a tua esquadra ingente,
    fui eu que te ensinei a nadar, simplesmente.
    Se nas Índias flutua essa bandeira inglesa,
    fui eu que t’as cedi num dote de princesa.
    e para te ensinar a ser correto já,
    coloquei-te na mão a xícara de chá…

    E se for um francês que me olhar com desdém,
    num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
    Recorda-te que eu tenho esta vaidade imensa
    de ter sido cigarra antes da Provença.
    Rabelais, o teu génio, aluno eu o ensinei
    Antes de Montgolfier, um século! Voei
    E do teu Imperador as águias vitoriosas
    fui eu que as depenei primeiro, e ás gloriosas
    o Encoberto as levou, enxotando-as no ar,
    por essa Espanha acima, até casa a coxear

    E se um Ianque for que me olhar com desdém,
    Num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
    Quando um dia arribei á orla da floresta,
    Wilson estava nu e de penas na testa.
    Olhava para mim o vermelho doutor,
    — eu era então o João Fernandes Labrador…
    E o rumo que seguiste a caminho da guerra
    Fui eu que to marquei, descobrindo a tua terra.

    Se for um Alemão que me olhar com desdém,
    num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
    Eras ainda a horda e eu orgulho divino,
    Tinha em veias azuis gentil sangue latino.
    Siguefredo esse herói, afinal é um tenor…
    Siguefredos hei mil, mas de real valor.
    Os meus deuses do mar, que Valhala de Glória!
    Os Nibelungos meus estão vivos na História.

    Se for um Japonês que me olhar com desdém,
    num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
    Vê no museu Guimet um painel que lá brilha!

    Sou eu que num baixel levo a Europa à tua ilha!

    Fui eu que te ensinei a dar tiros, ó raça
    belicosa do mundo e do futuro ameaça.
    Fernão Mendes Zeimoto e outros da minha guarda
    foram-te pôr ao ombro a primeira espingarda.

    Enfim, sob o desdém dos olhares, olho os céus;
    Vejo no firmamento as estrelas de Deus,
    e penso que não são oceanos, continentes,
    as pérolas em monte e os diamantes ardentes,
    que em meu orgulho calmo e enorme estão fulgindo:
    — São estrelas no céu que o meu olhar, subindo,
    extasiado fixou pela primeira vez…
    Estrelas coroai meu sonho Português!

    P.S.

    A um Espanhol, claro está, nunca direi: — Pois bem!
    Não concebo sequer que me olhe com desdém.

     

  • parábolas para professores Brecht, Maiakovsky, etc

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    É PRECISO AGIR

    Bertold Brecht (1898-1956)

     

    Um passeio com Maiakovski

    Na primeira noite

    eles se aproximam

    e colhem uma flor

    de nosso jardim.

    E não dizemos nada.

    Na segunda noite,

    já não se escondem :

    pisam as flores,

    matam nosso cão,

    e não dizemos nada.

    Até que um dia,

    o mais frágil deles,

    entra sozinho em nossa casa,

    rouba-nos a lua, e,

    conhecendo nosso medo,

    arranca-nos a voz

    da garganta.

    E porque não dissemos nada,

    já não podemos dizer nada.

     

     

    Martin Niemöller, 1933 , símbolo da resistência aos nazistas.

     

    Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.

    Como não sou judeu, não me incomodei.

    No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.

    Como não sou comunista, não me incomodei .

    No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.

    Como não sou católico, não me incomodei.

    No quarto dia, vieram e me levaram;

    já não havia mais ninguém para reclamar…”

     

    Parodiando o pastor protestante Martin Niemöller, símbolo da resistência nazista:

    illuminado.wordpress.com/2010/02/02/primeiroelesvieram

     

    Primeiro vieram atrás dos que fumam…
    eu não protestei porque eu não fumo.
    Depois vieram atrás dos que bebiam
    tudo bem eu não bebo
    vieram atrás dos que fumam
    nada fiz para impedir.
    Então eles caçaram os obesos
    não me importei.
    Eles vieram atrás daqueles que Leem
    e estão à minha porta

    Mas já ninguém me pode ouvir

     

     

     

    Adaptado de Cláudio Humberto, 09 Fev. 2007

     

    “Primeiro roubaram nos semáforos,

    mas não fui a vítima,

    Depois incendiaram os autocarros,

    mas não estava neles;

    Depois fecharam as ruas,

    onde não moro;

    Fecharam então o portão do bairro,

    que não habito;

    De seguida mataram uma criança,

    que não era meu filho…”

     

    Primeiro levaram os negros

    Mas não me importei com isso

    Eu não era negro

    Em seguida levaram alguns operários

    Mas não me importei com isso

    Eu também não era operário

    Depois prenderam os miseráveis

    Mas não me importei com isso

    Porque eu não sou miserável

    Depois agarraram uns desempregados

    Mas como tenho emprego

    Também não me importei

    Agora estão levando-me

    Mas já é tarde.

    Como não me importei com ninguém

    Ninguém se importa comigo.

     

     

  • MANUEL ALEGRE O CANTO E AS ARMAS E alegre se fez triste

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    MANUEL ALEGRE O CANTO E AS ARMAS

     

     

    E alegre se fez triste

     

     

    Aquela clara madrugada que Viu lágrimas correrem no teu rosto E alegre se fez triste como se chovesse de repente em pleno Agosto Ela só viu meus dedos nos teus dedos Meu nome no teu nome e demorados Viu nossos olhos juntos nos segredos Que em silêncio dissemos separados A clara madrugada em que parti Só ela viu teu rosto olhando a estrada Por onde o automóvel se afastava E viu que a pátria estava toda em ti E ouviu dizer adeus essa palavra Que fez tão triste a clara madrugada

    Que fez tão triste a clara madrugada