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  • A MINHA GERAÇÃO DEU-VOS TUDO

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    Solane Schnoremberger

    Crónica 424 a minha geração deu-vos tudo 16.11.2021

     

    Assim foi criada a geração que deu casa, carro, roupa e cursos superiores à geração atual que reclama por falta de oportunidades.

     

    Estou deprimido” é expressão recorrente nesta geração paradoxal. Inconsciência crónica com excesso de indefinições. Da banalidade despreocupada à angústia paralisante. Esta geração não passou por privações, comparada com a nossa, de “baby boomers”, rebeldes, que, no fim dos anos 60, se revoltavam contra o status quo, na França e a guerra colonial em Portugal. Vivia melhor que a geração dos pais, em conforto e posses, mas era arrastada para projetos militares alienígenas aos quais se opunha. Queria tomar parte na construção da História e não ser arrastada como nota de rodapé. Depois chegou o 25 de abril. Os jovens dos anos 70 e 80 já nasceram com o rei na barriga. Nada era proibido e podiam almejar à sociedade sem classes em que todos tinham acesso ilimitado a todos os bens, sendo felizes para todo o sempre.

    As crises económicas não se fizeram sentir muito, exceto a crise do petróleo, 1972, a máquina da publicidade assenhoreou-se da TV, moldando os filhos. Por mais que disséssemos que a vida era de sacrifícios, não passaram por experiências dolorosas. Frequentar a universidade já não é apanágio de elites, nem mesmo as privadas. Os cursos facilitam o acesso a canudos com a fama de distinguir entre os que vencem na vida e os outros, mas na prática é muito diferente.

    Os pais enfrentam a situação desconcertante de filhos que, por um lado, se comportam irresponsavelmente sem dar importância às coisas que, teoricamente, lhes deveriam interessar e, por outro, se manifestam devastados pela incerteza do futuro ou pequenos reveses. Jovens tão pouco dados a levar a vida a sério tornam-se vítimas quando veem as coisas mal paradas.

    Estarão a exagerar? Não se tratará de estratagema de autodesculpa, para obterem compaixão e evitarem atuar? Tudo leva a crer que não. Raras vezes se trata de birras e de espavento de adolescentes tentando enternecer os adultos. Os pais fizeram o que lhes competia dando o máximo de bens materiais (que eles não tiveram), e rodearam-se desses bens. Parecia uma sociedade de abundância sem limites. A pressão dos pares a nível social, engendrada pela insaciável publicidade, levou-os a comprarem tudo e mais alguma coisa. Quando a árvore das patacas seca, ou saem de casa, dão conta de que as mais pequenas coisas têm um custo, o que os irrita profundamente porque quando chegam às grandes coisas já não há dinheiro.

    Muitos especialistas concordam, as causas da intolerância e da frustração jovens estão ligadas aos valores propugnados pelos meios de comunicação. Quando, desde a nascença, um jovem recebe da TV, mensagens subliminares, não é descabido pensar que isso os incapacitou para enfrentar a realidade. E não foi nem o pai nem a mãe, mas os meios de comunicação a manipular as mentes dos recetores consumidores. Que capacidade de enfrentar problemas terão os que nos anos mais recetivos da vida foram metralhados com promessas de felicidade virtual, êxito imediato, a vida como um show de diversões que nunca termina? O discurso mediático mercantil alimenta a imaturidade que se revela quando a realidade nua e crua se mostra e o jovem constata que nada é como lhe disseram, criando um desajustamento causador de insatisfação e ansiedade.

    Nos anos 60 e 70 geração rebelde, nos 80 e 90 “Millenials” e agora da frustração. Nem poderia ser doutra forma, mas a evidência não resolve o problema nem serve de consolo. Quando dizem que estão deprimidos estão a falar a sério, sofrendo mais do que possamos imaginar. Aumentou substancialmente, o número de consultas de adolescentes na urgência psiquiátrica. Num hospital de Barcelona as estatísticas indicam primeiro, as alterações de conduta, seguidas das crises de ansiedade, 25% do total. Se acrescentarmos 15% de tentativas de suicídio teremos de admitir que se trata dum problema grave e crescente.

    Muitos jovens não aguentam revezes pois não foram treinados para os enfrentarem, sobreprotegidos, acostumados a conseguirem tudo, falta-lhes a experiência de sentirem necessidades ou penúria, carecem de defesa face às dificuldades. Já se disse, que os pais criaram inválidos sem recursos para enfrentarem o mundo, regido pela competitividade e elevados padrões de exigência, a nível laboral e profissional, nas relações interpessoais e integração social. Os adolescentes naufragam no trajeto entre a infância almofadada que nada lhes exigiu e o futuro eriçado de obstáculos.

    A geração paterna perpetua o estereótipo. A sobreproteção e a permissividade excessivas criaram dependentes, sem autonomia para tomar decisões e confrontarem os problemas. Não será justo culpar os pais. As famílias, têm uma parcela da irresponsabilidade dos filhos que pagam com angústia, a vida mole. Os pais atuaram por carinho, mesmo se revestido de formas erradas. A maioria dos jovens deixou de buscar apoio e cumplicidade nos amigos, como quando se refugiavam dos defeitos dos pais, ineficazes a gerirem a segurança emocional necessária.

    Crianças mimadas em vez de trabalharem e ganhar mais, queixam-se, entram em depressão apática, sofrem na inação e deprimem-se mais. Tudo é um direito divino que compete aos pais satisfazer e quando não alimentam a ilusória vida fácil, sentem-se traídos pela sociedade. O que não sabem é que vão pagar as dívidas que lhes deixaram, e só então terão razão para se sentirem deprimidos. Parece a história deste país que habito.

    Honorary Lifetime Member

    AJA/MEAA #2977131 Australia

    Columnist

    Diário de Trás-os-Montes, Diário dos Açores,

    Luso Press, Tribuna das Ilhas, Jornal do Pico

    drchryschrystello@journalist.com

    https://blog.lusofonias.net/

    https://www.facebook.com/chrys.chrystello

    (+351) 91 9287816

    Chrys CHRYSTELLO (MA),

     

     

     

     

     

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  • alexandre borges lançamento literário

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    Este livrinho de poesia saiu em Março, estava o mundo fechado. Tivemos de fazer o lançamento de forma digital, remota, e ainda assim soube a festa, noite cheia de amigos e diálogos transatlânticos. Mas agora temos direito a fazê-lo de forma presencial, ao vivo, com luxos reencontrados como ver as pessoas cara a cara, abraços e brindes que fazem mesmo tchin-tchin.
    Para todos os amigos de São Miguel que queiram e possam comparecer, esta quinta-feira fazemos uma tertúlia em volta do “Atenção ao Intervalo entre o Caos e o Comboio”. É às 18h, nas Cavalariças da Biblioteca Pública de Ponta Delgada.
    O Vamberto Freitas apresenta e modera, o Henrique Levy anfitria (verbo fresquinho, acabado de inventar), eu e a Susana Aleixo Lopes lemos alguns poemas, todos fazem as perguntas que quiserem ou não fazem as perguntas que quiserem.
    Um abraço

    e até lá.

    [Ainda havemos de ir à Terceira, mas quis mesmo começar por São Miguel, casa da editora Nona Poesia. Trata-se de pagar uma dívida de gratidão com as pessoas que acreditam em nós e arriscam financiar a antiquíssima indústria dos versos.]
    May be an image of text that says "A Editora NONA POESIA convida todos seus leitores para participar numa Tertúlia volta do livro de Alexandre Borges ATENÇÃO AO INTERVALO ENTRE O CAOS E Ο COMBOIO evento terá lugar no 18 de novembro, pelas 18 horas, nas Cavalariças (entrada pela Santana) Biblioteca Pública Arquivo Municipal Delgada. professor Vamberto Freitas apresentará livro moderará debate. PUBLIÇOR Rua Praia Santos, São Roque ONTA DELGADA Migue Açores 080 Contamos consigo! OBRIGATÓRIO USO DE MÁSCARA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS COM ÁLCOOL GEL www.publicor.pt N POESIA @seyhaackpanqu"

    Na próxima quinta-feira, às 18h, nas Cavalariças da Biblioteca Pública de Ponta Delgada, celebramos mais uma vez a Poesia.

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  • poema do dia

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    729 SHANGRI-LA 15.11.2021

     

    shambhala só existe na minha poesia

    e em textos antigos tibetanos

    ninguém a encontrou

    nem os monges budistas

    em busca dos deuses de agharta

    da paz, felicidade, tranquilidade

    o shangri-la com que sonhamos

     

    inédito chrys c

  • Crónica 423 sociedade de valores invertidos CHRYS C

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    Crónica 423 sociedade de valores invertidos 7.11.2021

     

    A imagem acima retrata bem a sociedade global em que vivemos de valores invertidos. Não precisa de legenda nem de explicação, o mesmo se aplica aos falsos heróis sejam eles do desporto ou de outras áreas. Ganham milhões, são bons profissionais a preço de ouro e são idolatrados, outros que sem meios nem salários milionários fazem ações meritórias nem uma nota de rodapé merecem.

    O voyeurismo é rampante, temos um primeiro-ministro, ministro ou presidente a fotografar uma família pobre a quem deu uma esmola com o dinheiro de todos nós e isso ocupa parangonas de jornais e telejornais. Outros que ajudam sem ser a caridadezinha salazarenta passam despercebidos. Cientistas, novos e velhos com grandes descobertas e invenções passam ao largo dos noticiários e qualquer “fait-divers” de uma pseudo-celebridade enche páginas de jornais e revistas cor-de-rosa.

    Há uma inversão total de valores que insidiosamente permeia a mente dos mais jovens desde muito jovens e em vez de inculcar princípios de justiça, equidade e mérito apenas incentiva à futilidade. Infelizmente é nesse mundo que vivemos há já umas décadas e não se espera que a situação mude, a programação e os algoritmos que comandam a sociedade não o permitiriam para não alterar a agenda global de massificação e formatação mental.

    Outro exemplo de inversão de valores são os milhões desperdiçados no Novo Banco e outros em vez de se indemnizarem os que ali tinham poupanças duma vida inteira e dinheiro investido. Por seu lado a justiça tem sempre dois pesos e medidas, uma para os ricos e poderosos cheia de leniência e uma draconiana para os restantes.

    A selva em que a sociedade se transformou perdeu o respeito pelos mais velhos e sua imensa experiência e sabedoria para emular a gratificação instantânea e fútil da trivialidade e superficialidade. Não me revejo nesta sociedade de valores invertidos e sei que somos poucos a vê-la e escalpelizá-la deste modo. Nos anos poucos que me restam, disponho apenas deste espaço para o denunciar e esperar pela clarividência de outros.

    Chrys Chrystello, drchryschrystello@journalist.com

    Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713

    [Australian Journalists’ Association – MEEA]

    Diário dos Açores (desde 2018)

    Diário de Trás-os-Montes (desde 2005)

    Tribuna das Ilhas (desde 2019)

    Jornal LusoPress Québec, Canadá (desde 2020)

    Jornal do Pico (desde 2021)

     

     

  • Quem Sabe Um Dia – Mario Quintana – YouTube

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