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Categoria: açorianidades açorianismos autores açorianos
poemas dedicados a timor no dia em que a indonésia invadiu
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pintura de margarida bem madruga, oferta ao cnrt, timor-leste, 1999
timor excertos d epoesia dedicada a timor do livro CRÓNICA DO QUOTIDIANO INÚTIL DE CHRYS CHRYSTELLO, 40 anos de vida literária 2011 ed calendário de letras v n gaia.
547. eleições sem lições em timor, 8 julho 2012
díli 23 setembro 1973
cheguei hoje a timor português
a vinda marcará a minha vida para sempre
sem o saber nunca mais nada será igual
o futuro começa hoje e aqui
entrei no tempo da ditadura
sairei na democracia adiada
na bagagem guardo sabores,
imagens e odores
sonhos de pátria e amores
divórcios e outras dores
cheguei sem bandeiras nem causas
parti rebelde revolucionário
tinha uma voz e usei-a
tinha pena e escrevi sem parar
pari mais livros que filhos
para bi-beres e mauberes
48 anos de longo inverno da ditadura
24 de luta independentista
agora que a lois vai cheia
e não se passa na seissal
já maromác se apaziguou
crescem os lafaek nos areais
perdida a riqueza do ai-tassi
gorada a saga do café
resta o ouro negro
para encher bolsos corruptos
sem matar a fome ao timor
perdido nas montanhas
sem luz, água ou telefone
repetindo gestos seculares
mascando sempre mascando
o placebo de cal e harecan
mas com direito a voto
para escolher quem o vai explorar
sob a capa diáfana da lei e ordem
do cristianismo animista
oprimido sim
mas enfim livre.
548. queria ser toké 11 julho 2012
eu queria ser toké e contar o que vi
desde que partiste em 1975
queria saber falar
dar os nomes os locais e os atos
de todas as atrocidades, violência e mortes
que testemunhei mudo na minha parede
eu queria ser toké e escrever tudo
queria contar o que não querem que se saiba
queria contar o que não queriam que se visse
queria contar os gritos que ninguém ouviu
queria ser água e apagar os fogos
que extinguiram a nossa história
como se não fora possível reconstruí-la
queria ser pássaro e levar nas asas
todos os que foram chacinados
violados, torturados e obnubilados
voar com as crianças que morreram de fome
as mulheres tornadas estéreis
tanta coisa que queria dar-te timor
e não posso senão escrever palavras
lembrar teu passado heroico
sonhar futuros ao teu lado
549. alucinação na areia branca (timor) 11 julho 2012
era maio em 1975
havia luar na areia branca
sem ondas na ressaca
caranguejos azuis na fina areia
baratas voadoras à frente dos faróis
eram pequenos os lafaek e raros
quase se ouviam os corais a falar
ao longe sem luzes em díli
o escuro dos montes
entre nós e o ataúro
deslizavam barcos espiões
antecipavam a komodo
ensaiavam invasões
corri a alertar
ninguém quis ouvir
escrevi e denunciei
chamaram-me alucinado
nunca imaginei o genocídio
550. timor nas alturas 15 julho 2012
queria subir ao tatamailau
pairar sobre as nuvens
das guerras, do ódio, das tribos
falar a língua franca
para todos os timores
queria subir ao matebian
ouvir o choro dos mortos
carpir os heróis esquecidos
queria subir ao cailaco e ao railaco
consolar as vítimas de liquiçá
beber o café de ermera
reconstruir o picadeiro em bobonaro
tomar banho no marobo
ir à missa no suai
buscar as joias da rainha de covalima
passar a fronteira e voltar
chorar todos os conhecidos e os outros
e quando as lágrimas secassem
à minha palapa imaginária regressaria
à mulher mais que inventada
um pente de moedas de prata ofertaria
vogando nas suas ribeiras e vales
sussurrando no espesso arvoredo
desaguando no vale de vénus
nos seus beiros navegaria
ao ataúro e ao Jaco rumando
desfrutando a paz e as belezas ancestrais
ouvindo os tokés e as baratas aladas voando
os insetos projetados contra as janelas
atraídos pela luz do petromax
a infância e a juventude são como uma bebedeira
todos se lembram menos tu
551. lágrimas por timor, até quando? 16 julho 2012
confesso sem vergonha nem temores
hoje os olhos transbordaram
lágrimas em cascata como diques
pior que a lois quando a chove
o coração bateu impiedoso
os olhos turvos a mente clara
as mãos trémulas de impotência
nas covas e nas valas comuns
muitos se agitaram com a morte gratuita
mais um casal de pais órfão
mais um filho varado às balas
sem razões nem justificações
poucas vozes serenas se ouviram
velhos ódios, vinganças acicatadas
o povo dividido como em 1975
sem alguém capaz de congregar o povo
sem alguém capaz de governar para todos
sem alguém acima de agendas pessoais
sem alguém acima de partidos
temos de ultrapassar agosto 75
udt e fretilin
a invasão indonésia e o genocídio
faça-se ou não justiça
é urgente um passo em frente
é urgente alguém com visão
um sonhador, um utópico
um poeta como xanana já foi
alguém que ame timor
mais do que ama suas crenças
mais do que ama suas ideias
mais do que ama sua família
talvez mesmo uma mulher
sensível e meiga
olhar almendrado
pele tisnada
capaz de amar
impulsiva para acreditar
liberta de injustiças passadas
solta de ódios, vinganças e outras
capaz de depor as armas
todas e liderar.
578. eu canto do maio, maio 1, 2013
eu canto do maio as mortes inúteis
os deportados para timor
o sangue derramado
tudo o que se pedia eram 8 horas
de trabalho, descanso e recreação
eu canto do maio a memória de 1886
do degredo, do cárcere, das torturas
das manifes proibidas, das bandeiras
vermelhas do sangue inocente
sem olhar a partidos nem a pessoas
apenas o direito inalienável
ao trabalho, ao descanso, à recreação
para que os novos fascistas de hoje
não roubem essas memórias
esses direitos, essas lutas
eu canto do maio o dia do trabalhador
hoje desempregado, sem-abrigo, doente
nos novos gulags e campos de concentração
sem grades nem gás mortal
608. eleições 29 jul 2013
era tempo de eleições
políticos vinham e prometiam
a populaça aplaudia
acenava e acreditava
…
depois de contados votos
os políticos desapareciam
junto com as suas promessas
e o povo esquecido esperava
assim crendo na democracia
uma pessoa, um voto, uma promessa
repetiam a antiga escravatura
acreditando serem livres
610. história timor, 29 jul 2013
primeiro veio a polícia
expulsos estudantes “ocupas”
depois vieram bulldozers
assim acabou o hotel resende
era história em díli
e um povo que destrói
não merece o seu futuro
mas ganhou condomínios de luxo
685 dili inundado, 6, fevº 2016
maromác zangou-se
as ribeiras transbordantes
em dili nada mudou
tudo alagado como dantes
décadas depois
nem os milhões do petróleo
dominam as águas
passados quarenta anos
sem dinheiro para voltar
dominam-me as mágoas
a minha saudade
rima com verdade
634. guerra colonial, moinhos, 20/8/2013
há várias catarses
para a guerra colonial
escrever livros
tornar-se alcoólico
ser antissocial ou violento
eu apenas mudei de nome
e de nacionalidade
e nunca escreverei
uma palavra que seja
sobre esse inferno
não posso perder mais tempo
com essa trampa.
449. EROS nos jardins de leste Díli, Timor, novembro, 25, 1974
os corpos se venderam por dez réis de nada
assim me serviam do que criam inútil
e se davam
fáceis e apáticas
faziam amor como quem respira
isto é
o ritmo cósmico da órbita do poema
descrevia uma sinusoide irregular
e de tanto engravidarem
sentiam na carne
o vício de todas as necessidades
e de tantas fomes acalentarem
o instinto as aguilhoava
nascituras
logo então vitimadas
-EROS senhor e amo nos jardins de leste
pequenas
saracoteantes
delicado delinear de dietas forças
dos agrestes picos montesinos
às planuras
frágeis ninfas
“que o sol em nascendo vê primeiro”
e a gente compra
Escudo ihra – Né
la cói! ata! lima
cabeça búlac! menina lá diac… ossam báric
loro mai massimida
os lábios de carmim de viva cal e da harecan
haneçam maliri.[3]
431. V. TIMOR Díli, Timor, setembro, 20, 1973
timor cresceu cercado
lendas que a distância empolgou
o sonho
a quietude
as 1001 noites do oriente exótico
o sortilégio dos trópicos
para o europeu
chegar era já desilusão
desprevenido
sobrevoa estéril ilha
montes e pedras
agreste paisagem sulcada
leitos secos
abruptas escarpas
terra sem marca de homem
esparsas cabanas de colmo
será isto timor?
o avião desce o vazio em círculos
em vão os olhos buscam a pista
por trás de um montículo imprevisto
se vislumbra o “T”
e a torre de controlo dos folhetos de propaganda
nunca existiu
a alfândega é o bar
a sala de espera
sob o zinco e o colmo
isto é baucau
aeroporto internacional
a vila salazar dos compêndios
que a história esqueceu
uma turba estranha se amontoa
o patas-de-aço
esta a cerimónia sagrada do deus estrangeiro
descendo dos céus
dia de festa para os trajes multicoloridos
o contraste do castanho de sóis pigmentados
cinco da matina
e é já o pó e o calor
o espanto mudo nas bocas incrédulas
as formalidades aqui com sabor novo
espera lenta e compassada
séculos de futuro por viver
antes que ele venha
antes não venha
num barracão zincado uma velha bedford
de carga com caixa fechada
vidros de plástico sob o toldo puído
pomposo dístico colonial
carreira pública baucau-dili
picada em terreno plano
mar ao fundo
baucau
cidade menina por entre palmares
densa vegetação tropical
connosco se cruzam estranhos homens de lipa[5]
galo de combate ao colo
entre torsos e braços nus
das ruínas do mercado se evocam
desconhecidos templos romanos
estrada n.º 1 até dili
sulcam-se abruptas as encostas
ao mar sobranceiras
ali se adivinham cristais multicolores
em lugar de pontes se atravessam ribeiras
enormes
leitos secos
o tempo as converteu em estradas de ocasião
pedregoso solo
cores indefinidas
castanhos e verdes
palapas [6] dissimuladas na paisagem
imagens tristes de pedras e montes
baías primitivas
inconquistas
praias de despojos e conchas
paraísos insuspeitos
as gentes de sorrisos vermelhos
assusto-me
não é sangue nas bocas gengivadas
masca, mescla de cal viva e harecan[7]
placebo psicológico da alimentação que falta
um sorriso encarnado esconde a fome
súbito
por paisagens que só a memória
sem palavras descreverá
eis dili
a capital
larguíssima avenida semeando o pó nas palapas
casas de pedra com telhados de zinco
na ponta leste chinas e timores
partilham a promiscuidade da pobreza
dili
plana e longa
a vasta baía antevendo imponente
o ataúro ilha
um porto incipiente
a marginal desagua no farol
construções coloniais pós 1945
da guerra que ninguém quis
dos mortos que os japoneses quiseram
da neutralidade do país mãe calado e violado
albergam chefes de serviço
altas patentes militares
sem guerras para lutar
sem movimentos libertadores das gentes
quinze quilómetros de asfalto
três casas dantes da guerra grande
aeródromo em terra batida
um jipe de afugenta búfalo
a rua comercial atravessa dili senhora
de leste a oeste
espinha dorsal
o centro
o palácio das repartições
do governo
perto um museu
o seu nome ostenta o vazio
riquezas sem fim
seus governadores exportaram
patriotas
colonizadores de séculos com nada para mostrar
um museu morto
dois sinaleiros nas horas de ponta
ociosos às portas dos cafés
à noite transfiguram-se
os bas-fond
o texas bar
da prostituição às slot machines
o submundo
a vida underground
afogar esperanças em álcool
sonhos há muito perdidos nunca sonhados
restaurantes poucos
melhor comida a chinesa
bares espalhados pela cidade
militares e álcool para calar distâncias
um portugal dos pequeninos
longínquo
cada vez mais
esquecido
nunca
perdido.
1973 numa cidade sem vida
morrendo nas cinzas próprias de cada noite
por entre o silêncio e a voz triste dos tokés[8]
o calor putrefacto
por entre o voo alado das baratas gigantes
carros poucos
de dia só do estado
motocicletas pululam por entre viaturas oficialmente pretas e verdes
esperando mulheres de oficiais
às portas dos cabeleireiros
do liceu
militares a pé
em berliets ou unimogs
chineses muitos
dili é isto
a desolação
na parte alta da cidade o complexo militar
barracas insalubres
sob a sombra dos hospitais
um civil um militar
fresco e verdejante vale
triste esta cidade
pretensamente euro-africana
palapas marginando ruas
nelas vive o timor
sem água nem luz
dez ou quinze filhos
que importa
a miséria é só uma e a mesma?
esta “a terra que o sol em nascendo vê primeiro”
aqui as imagens
e são já história
não se repetirão
aqui não daremos testemunho
como transfigurar
colónias pacíficas
em palcos de guerra.
433 I BUCÓLICA BOBONARIANA-I Bobonaro, Timor, novembro, 23, 1973
a colina à esquerda ergue-se mansamente
sem pressas
caminha do mar
reproduz-se altiva
pico agreste me vigia
não há vegetação
nem sinais de gente
(terá emigrado daqui a seiva?)
as rochas puras ainda
primitivas
nascituras
erguidas por ciclópicas mãos
do fundo dos mares
quedaram-se ostensivas
desafio de nuvens eternas
arbustos pequenos
insignificantes como as gentes
misturados na paisagem
espraia-se na vastidão o olhar
(começa em mim)
e só montes
pedras
horizonte
e eu aqui fechado
cercado
ilha de mim próprio
o vale profundo
(talvez abismo, talvez acusação)
resisto
diviso emaranhado das brumas
ciscos amarelos
(segredam-me são casas de gente)
ENTÃO PARTO.
sem hesitar cavalgo
pedras
ribeiros
encostas
subo
desço
torno a subir e nada destrinço
insensível à rude beleza
atinjo inóspito cume
estranhamente plano
nele plantaram casas
cinco
seis
uma ao centro
baixo-me e entro
teto erguido a pique
muro de pedra a tocar baixo sobrado
térreo madeirame trabalhado segue as vigas
quadros sacros
sol
elementos
animais
no andar elevadiço
um lar entesourado em morada última
assusto-me
em volta ósseas relíquias
cheiro imenso a fumigação
saio
respiro ar puro
sacrossanto
das montanhas cercanias
uma laje quadrada
uma placa ereta
tipo tumular
flores murchas e perdidas
casas sem muros
no andar térreo
animais se abrigam
por cima pessoas se alojam
deitadas
a nascer
a cozinhar
a comer
a dormir
a morrer
quando as chuvas tombam
e o colmo amolece
quando o sopro do vento vem
rasgando a mirrada pele
nascem surdos lamentos
ninguém ouvirá.
olhei
vi gente
acocorada
semidespida
esquelética
nuas crianças
algumas do colo a mim chegaram
sorrindo orgulhosas da sua alva pele
pedindo as fotografasse
tartamudeavam malai[11] como quem se afirma
compreendi esse estranho orgulho
ilegítimo
mulheres se alugam para não perecerem
da fome vil
quando novas servem de pasto
a abutres forasteiros
depois
escavacadas
descarnadas
desdentadas
mascando infindáveis sementes
esboçam sorrisos
para a objetiva acusadora e cúmplice
não mais suportei este dantesco inferno
saí
acenei
voltei as costas
voltei ao exílio
- ENOJADO -.
450. O TETO DO MUNDO Díli, Timor, dezembro, 3, 1974
como romper as palavras?
o som e o lamento do ai-tassi
sagrado lenho
em ti se moldaram
faces e rugas milenárias
caminhos de teto do mundo
nas mãos vazias viaja o passaporte
para que não sucumbas hoje
há muitas mortes nos amanhãs
teus pés ligeiros voam vinte quilómetros
o cacho solitário que colheste
bananas com que não matas as fomes
enganas malai com parco lucro
e teu rosto infantil e puro
sorria
vendeste a sobrevivência duma semana
caminhas curvado e galgas montanhas
teus os reinos de Railaco e TataMaiLau[13]
por isso retornas e teu sorriso é jovem
na cal e harecan misturas o prazer e o engano
também teu estômago sorri confiante
também tua a linguagem do corpo
no regresso de braços dolentes
firme em teu braço direito
o teu combate de penas
pobre mercador de ilusões em galos de luta
acaricias teu ganha-pão
teu desporto
e apostas
mais
sempre mais
são tuas as lágrimas
a revolta e a derrota
é teu o sangue e o alimentaste
guardas o estilete acerado
não decepou medos
são tuas as planícies e as ribeiras
as torrentes inundaram o arrozal
levaram pontes e caminhos
e tu ris do grande engenheiro malai
como do búfalo do china luís
navegando rumo à liberdade
nem pensas na tua
das árvores pendem camarões doces do rio
e o pequeno jacaré
faz o cruzeiro oceânico Ribeira de Seiçal-Dili
maubere é diac [15]e vai passar
esse o lado outro do abismo.
434. A LEPRA Díli, Timor, dezembro, 3, 1974
eu vi-os
de olhar gasto e gestos caídos
vinham com neves eternas nos cabelos
enxada às costas
vergados ao peso de séculos
maltrapilhos
descalços
rotos
bronzeados por sóis perdidos
na memória dos tempos
uma grande fome para contar
e o silêncio sem fim
de todas as solidões
falei-lhes
acenaram sem se deterem
cadência de autómatos
sem vontade
explicaram por gestos
o que presumi sorriso
onde só havia gengivas descarnadas
informes
perguntei
donde vinham
de que estranha guerra
sobreviviam
sem abrandarem a insólita marcha
puxaram da bia sem idade
acenderam-na na concha dos dedos recurvos
suspiraram
fundo
como jamais ouvira
era um sopro indefinido
murmurado
amargo
entretanto havíamos chegado
povoado estranho
sem gente
nem cães
ladrando em redor
casas estranhas
elevações de colmos
suspensas de estacas
mudas
sem janelas
nem portas
um silêncio velho de morte
deixar a alma
deste ritmo
parar
deixar o instante
deste tempo
renascer
eterno
esta a proposta
inicial
iniciática
até lá, como?
433.II BUCÓLICA BOBONARIANA Bobonaro, Timor, novembro, 23, 1973
(permaneci calado
traído por pensamentos galopantes
onde as mulheres
cadê as crianças?
que gente esta
donde vem?
que peso arrastam
penosa
mecanicamente?)
ao longe divisei um ancião
vergado como uma aduela
corri para ele
inspirou-me medo
fez um gesto vago
um arremedo
a suster-me
estaquei a distância
nem um pássaro riscava a muda quietude do céu
tremi
como se de súbito
me penetrassem
as respostas todas
virei costas
e corri
corri
corri
e aqui estou
hoje
a dar-vos conta
do que vi.
452. MEMÓRIAS Díli, Timor, abril, 13, 1975
ave louca
sinusoide voo
rias-te
nem sabíamos o quê
de quê
era já o fumo
olhos e mãos
baças mãos
gestos nunca antes inventados
sabíamos do tempo a imponderabilidade
a curva obscena dos corpos
na posse do mundo estávamos e éramos
coloridos e diáfanos
queimávamos identidades
alguém cantarolava palavras
desconexas
inúteis
carícias
premeditadamente esquecidas
ela se levantou
a víamos como se não fosse
isto é
criada no instante mesmo
hesitante
avançava pela janela
ninguém a abrira
seria talvez noite
transcendental o país
bebedeiras de amor
roteiros estelares
no suor do regresso
como se nunca partiras
no sorriso distante
nos teus lábios
cresceram da criança os olhos
encheu-se a sala de frágeis gestos
alguém ousara!
na rua um escape no silêncio do grito
a regra é saber que horas são
ou medo
a vertigem
a regra do pavor
o voo de ficar
céleres que nem imagens
falam de nós
no teto branco ou nu
ou somos
desirmanados no frémito que nos invade
a resposta recusada
texto ou resumo
a vida violada.
451. PORQUE JOVENS Bali, dezembro, 3, 1974
eram jovens
por isso partiam
nas mãos os cravos
nos lábios mil sangues
por florescer
os corpos amadureciam quando matavam
pilhavam
violavam
era o fogo das balas
as granadas
o napalm
a carne para canhões
porque jovens
cantavam impolutos
e as mãos decepavam
a saudade desilusionada
irmãos todos
fratricidas
o papão fantoche do governo
lhes ensinara o decálogo de guerra
indesejada
porque jovens
partiam obrigados
nos sonhos
armada a verdade
vulcões por semear
sangrando campos
estiolavam
eram os braços emigrados
era a fome
eram soldados
era o povo
porque soldados e povo
partiam
levavam ódios insentidos
cumpriam destinos alheados
nos lábios as palavras
e eram amor
o alfabeto dos oprimidos
para uso interior
lá onde os regulamentos não mandam
pelo caminho
eram a voz e a bandeira
o povo sorria às armas
libertado caminhava
no braço armado do povo.
443. Post-scriptum (a andré breton)
como num mundo
outro
em mim
aguda memória
inenarrável
caminho no fogo das mãos
é nossa a estrada
alheios
os calendários o negam
no vento da derradeira galáxia
nascitura terra
fálica linguagem
precipitamos cegueiras
violento abismo
- momento zero na viagem do corpo-
fomos a lava e o magma
ébrios
exaustos
incendiário batismo bíblico
construímos a casa e as areias
nove
para ti
eram os meses infenecidos
hoje
palavras intimidadas
seminolentes
cerne de alquimias
para quê crer
utopias suicidas
o país o decepam
apáticos
direi mesmo
apátridas
resignados
assistimos
gerámos a hidra
agnósticos
incréus
expectamos
das cinzas
das ruínas
obnubiladas memórias
aqui começa
a medieval noite
silêncio de vivos com morte nos olhos.
[1] saia de tecido colorido, típica de Timor, de origem malaia, e que é usada enrolada à cintura, descendo até aos tornozelos
[2] Em Tétum no original
[3] Em Tétum no original
[4] cacatua-bote ou patas-de-aço eram designações dadas pelos timorenses aos aviões
[5] lipa, saia de tecido colorido, típica, de origem malaia, os timorenses usam-na enrolada à cintura descendo até aos tornozelos.
[6] casas cónicas, quadradas ou rectangulares em colmo
[7] folha de planta semelhante à do tabaco
[8] espécie de lagarto sonoro, cuja idade se determinava pelo número de vezes que emitia o som toké.
[9] lúlic significa sagrado em tétum
[10] o equivalente a deus em língua tétum
[11] designação dada aos brancos pelos timorenses
[12] o equivalente a cinco escudos em moeda de timor
[13] picos mais altos de timor, rondando os 3 mil metros de altitude
[14] maromác o equivalente a deus em língua tétum
[15] maubere é diac, o timorense é bom, coisa boa
O ESTÍMULO AO USO DA LÍNGUA PORTUGUESA EM TIMOR LESTE E GUINÉ BISSAU | Blogue do IILP
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Em janeiro de 2015, o primeiro ministro de Guiné Bissau, Hernâni Coelho, realizou um discurso em prol do uso do português como língua de trabalho na União Econômica e Monetária da África Ocidental …
Source: O ESTÍMULO AO USO DA LÍNGUA PORTUGUESA EM TIMOR LESTE E GUINÉ BISSAU | Blogue do IILP
Poetas – Observatório da Língua Portuguesa
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Para aceder através do telemóvel, será melhor utilizar a aplicação gratuita para Android ou iOS. TAGS: Lauro Moreira
DO IBERISMO AO 1º DE DEZEMBRO
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DO IBERISMO AO 1º DE DEZEMBRO
2.7.1. IBERISTAS
Gostava de ter algumas réstias do meu sempiterno otimismo, mas a reserva desoladamente está no nível mínimo desde há duas décadas. Quando, ano após ano, a chuva cai dentro de casa e alaga o chão ou os móveis como se não houvesse teto, temos de assumir que estas casas são de péssima qualidade e estes “mestres” de construção não passam de biscateiros incapazes de fazerem uma obra como deve ser. Mas se vou a um restaurante o resultado é similar com um serviço deficiente a preços de luxo. Se vou a um mecânico automóvel idem aspas. Ou na saúde, na justiça, na ignorância santa dos novos professores e seus alunos, na incompetência dos que governam e mandam. É esta a tradição e não é de hoje, vem de há muitos anos como constatei ao traduzir este parágrafo:
Enquanto a Terceira e as ilhas próximas resistiam ao assalto dos espanhóis à Coroa portuguesa, S. Miguel franqueou-lhes a entrada. Isto deveu-se ao facto de o Corregedor Ciprião de Figueiredo estar sedeado em Angra. Fiel apoiante do Prior de Crato, terá proferido a frase “antes morrer livres que em paz sujeitos”. … A capitania de S. Miguel estava na mão da influente família Gonçalves da Câmara. Além disso, residia em S. Miguel o Bispo dos Açores, D. Pedro de Castilho, fiel a Filipe II. Viria a ser Vice-Rei de Portugal em paga da fidelidade à causa castelhana. Mais tarde, o Capitão do Donatário de S. Miguel recebeu o título de Conde de Vila Franca. Abundam ainda agora os que esquecem o terror do domínio castelhano e pressurosos querem entregar o país ao vizinho ibérico. Miguel Urbano Rodrigues escrevia em 2006 (“Alentejo Popular” (Beja) 02-11-06):
Os iberistas, ao esboçarem uma Espanha pletórica de energias, de progresso e criatividade, simulam esquecer a mais alta taxa de desemprego da União Europeia. Não aludem ao racismo e à xenofobia que fazem hoje da pátria de Cervantes um dos países europeus onde os imigrantes, sobretudo os magrebinos, equatorianos e colombianos, são mais discriminados. Preferem discorrer sobre a localização da capital, a estrutura institucional do Estado, Federação ou simples transformação de Portugal em mais uma Região Autónoma, e, o papel do Rei. Fala-se do bacalhau, do fado, do flamenco, de marialvas e senhoritos, dos dois idiomas, … longe de serem «muito parecidos», portugueses e espanhóis distanciaram-se progressivamente, exibindo atitudes quase antagónicas. Trabalham e comem a horas diferentes, transformam o culto do aperitivo num instrumento de convívio.
Outra omissão é a falta de referências à colonização económica de Portugal pela Espanha. O processo em curso é avassalador. Há três décadas a Espanha não existia como parceiro comercial. Hoje ocupa o primeiro lugar nas importações portuguesas. A banca espanhola conquistou parcela importante do mercado português. O mesmo ocorre com a hotelaria e as grandes transnacionais como El Corte Inglês e Zara. As imobiliárias espanholas invadem as cidades. O processo de colonização pacífica assume facetas particularmente alarmantes no Alentejo onde capitalistas espanhóis compraram as melhores terras no Alqueva. Adquiriram milhares de hectares para criação de porcos, instalação de lagares e plantação de oliveiras e vinhas. A invasão é festejada pelo Governo e pela grande burguesia. Agradecem.
Saúdam os espanhóis como agentes do progresso. Com a espontaneidade da nobreza de 1383 a saudar D João De Castela e a nobreza de 1580 a alinhar com Filipe II. Essa forma de dominação económica encobre uma modalidade de intervenção imperial. Hoje, ninguém se surpreenderia se Portugal passasse a dependência espanhola, como se de um banco se tratasse. Como se falássemos em abrir um escritório no litoral já que o interior está desertificado de gentes e de economias de mercado viáveis. Por outro lado, despontam iniciativas de união ibérica, nem sempre dissimuladas, que causam engulhos.
Por ser um estudioso que condensou o que penso, sigamos Carlos Fontes,
O iberismo é típico do séc. XIX. As pequenas nações condenadas a serem absorvidas pelas grandes (teoria darwinista). É uma manifestação patológica de indivíduos que sofreram influência espanhola ou se assumiram como agentes de interesses espanhóis. Quando a situação é melhor no outro lado da fronteira, a integração surge como a solução para resolver a crise, sem trabalho.
Alguns assassinatos de iberistas ficaram célebres, como defesa de valores fundamentais – dignidade, identidade cultural e liberdade -, mas também respeito por si próprios. Um povo que não se respeita a si próprio, nunca será respeitado por outros. Ora, o iberista sempre manifestou um profundo desprezo pela dignidade e liberdade do português, agindo de modo a destruir a comunidade que o viu nascer… As mortes de dois iberistas assumiram uma enorme carga simbólica na história
A morte do Conde de Andeiro, fidalgo galego, foi o símbolo de liberdade de um povo que recusa as ingerências externas e os jogos palacianos. Este traidor castelhano participou em conspirações ao serviço de Portugal e de Inglaterra. Em Lisboa, ascendeu a uma elevada posição na corte, tendo recebido de D. Fernando o título de Conde de Ourém, e na crise de 1383-85, esteve ao serviço de Castela.
Foi assassinado, em 1383, por D. João, mestre de Avis e futuro rei. A sua nefasta ação traduziu-se numa violenta guerra civil que só terminou quando os portugueses exterminaram os aliados de Castela.
Já a morte de Miguel de Vasconcelos exprime simbolicamente a afirmação da identidade cultural de um povo, cuja forte individualidade saiu reforçada após uma opressão de 60 anos. Ficou tristemente célebre pelo ódio que nutria pelos seus concidadãos.
Em 1634 tentaram-no matar. Se o tivessem feito, muitas vidas teriam sido provavelmente poupadas. Na manhã de 1 de dezembro de 1640, quando os portugueses restauraram a independência foi o primeiro a ser morto… depois, o povo português travou, durante 28 anos, uma sangrenta guerra na Europa e na América do Sul pela defesa da sua liberdade e dignidade.
Ora bem, como ninguém estuda História, episódios como este perdem a força e não são transmitidos de geração para geração, perdendo-se a memória coletiva do povo. Continuemos com as palavras de Carlos Fontes. Nas últimas décadas, órgãos de comunicação social, usando da liberdade de expressão, têm procurado abrir fraturas na sociedade. O objetivo é:
- Mostrar através de “sondagens” encomendadas ou “discussões” públicas que na sociedade portuguesa existe um grupo cujo objetivo é a dissolução do Estado português;
- Dar “voz” à hipotética minoria iberista portuguesa. Ao mesmo tempo, a imprensa espanhola mostra a aceitação à integração.
- Os supostos iberistas não constituem uma corrente de opinião nem um movimento organizado. Oliveira Martins (1845-1894) é o melhor exemplo dos esbirros iberistas. É difícil de determinar a causa do profundo ódio que manifestava. Foi um típico vira-casaca: anarquista, socialista, republicano, monárquico, liberal, antiliberal. Defendeu a liberdade, mas também a ditadura. Atacou os ditadores, mas apoiou João Franco, sendo apontado como um dos introdutores das ideias socialistas e como um protofascista. Muitas das ideias foram aplicadas por ditadores (Sidónio Pais ou Oliveira Salazar). Antero de Quental (1869) era um confesso iberista, dois anos depois já nem fala no assunto, e mais tarde abomina a ideia. Algo idêntico ocorreu com Teófilo Braga.
Durante as eleições legislativas de setembro de 2009 – a TVI -, canal de televisão controlado por espanhóis interferiu diretamente na campanha eleitoral, e…afastou a “jornalista” (Manuela Moura Guedes) que desde 2008 promovia uma campanha de propaganda contra o governo socialista…e a comunicação social espanhola procurava lançar nova campanha em defesa das teses iberistas, apoiada na “sondagem” realizada pela Universidade de Salamanca, com a colaboração de alienados no ISCTE (Lisboa).
A razão por que escolhi este tema é a data que ora se celebra, o dia da Restauração da Independência de 1 de dezembro de 1640. Para que os mais jovens nunca o esqueçam e deixem de a tratar como um dia sem aulas. Infelizmente, é para a maioria, um dia como qualquer outro nos Açores, sem que o povo se dê conta do seu significado:
“…arrebatados do generoso impulso, saíram todos das carroças e avançaram ao paço. Neste tempo andava D. Miguel de Almeida, venerável e brioso, com a espada na mão gritando: — Liberdade, portugueses! Viva El-Rei D. João, o Quarto!”
A ideia de nacionalidade esteve por trás da restauração da independência plena após 60 anos de monarquia dualista. Cinco séculos de governo próprio haviam forjado a nação, rejeitando a união com o país vizinho. A independência fora sempre um desafio a Castela. Entre os dois estados houve sucessivas e acerbas guerras, as únicas que Portugal travou na Europa. Para os Portugueses, os Habsburgo eram usurpadores, os Espanhóis inimigos e os partidários, traidores. Avançara depressa a castelhanização do País de 1580 a 1640. Autores e artistas gravitavam na corte espanhola, fixavam residência, aceitavam padrões espanhóis e escreviam em castelhano, enriquecendo o teatro, a música ou a arte pictórica espanholas. A perda da individualidade cultural era sentida por portugueses, a favor da língua pátria e da sua expressão em prosa e poesia. Contudo, os intelectuais sabiam perfeitamente que os esforços seriam vãos sem a recuperação da independência política. Muitas razões que justificavam a união das coroas ficaram ultrapassadas. O Império Português atravessava uma crise com a entrada em jogo de holandeses e ingleses. Perdera o monopólio comercial (Ásia, África e Brasil) e a Coroa, a nobreza, o clero e a burguesia haviam sofrido severos cortes de receitas.
Os Espanhóis reagiam contra a presença portuguesa nos seus territórios, mediante vários processos, entre os quais a Inquisição. Isso suscitou grande animosidade nacionalista em Portugal aprofundando o fosso entre os dois países. Margarida, duquesa de Mântua, neta de Filipe II, exerceu o governo de Portugal de 1634 a 1640, como vice-rei e capitão-general. Economicamente, a situação piorara desde 1620 e estava longe de brilhante. Os produtores sofriam com a queda dos preços do trigo, azeite e carvão. A crise afetava as classes baixas, cuja pobreza aumentou. O agravamento dos impostos tornava a situação pior. Para explicar os tempos difíceis, a solução apresentava-se fácil e óbvia: a Espanha, causa de todos os males.
A conspiração independentista era heterogénea [nobres, funcionários da Casa de Bragança e do clero]. Em novembro conseguiram o apoio do duque de Bragança. Na manhã do 1º de dezembro, um grupo de nobres atacou a sede do governo (Paço da Ribeira) prendeu a duquesa de Mântua, matou e feriu membros da guarnição militar e funcionários, como o Secretário de Estado, Miguel de Vasconcelos. Já dizia Camões: “Também dos Portugueses alguns traidores houve, algumas vezes…” Lusíadas, C. IV, 33. Seguidamente, os revoltosos percorreram a cidade, aclamando o novo estado, secundados pelo entusiasmo popular, a mudança do regime foi recebida e obedecida sem dúvida. Só Ceuta permaneceu fiel à causa de Filipe IV.
- João IV entrou em Lisboa a 6 de dezembro. Proclamar a separação fora fácil, difícil seria mantê-la. Tal como em 1580, em 1640 os portugueses estavam desunidos. As classes inferiores mantinham a fé nacionalista em D. João IV, mas o clero e a nobreza, com laços em Espanha, hesitavam. O novo monarca estava numa posição pouco invejável. Do ponto de vista teórico, tornava-se necessário justificar a secessão não como usurpador, mas a reaver o que por direito legítimo lhe pertencia.
Abundante bibliografia (em Portugal e fora dele) procurou demonstrar os direitos reais do duque de Bragança. Se o trono jamais estivera vago de direito, em 1580 ou 1640, não havia razões para eleição em cortes, o que retirava ao povo a importância que teria, fosse o trono declarado vago.
in Oliveira Marques, “A Restauração e suas Consequências”, in História de Portugal, vol. II, Do Renascimento às Revoluções Liberais, Lisboa, ed. Presença, 1998, pp. 176-201). Todo o reinado (1640-56) foi orientado por prioridades. Primeiro, a reorganização militar, reparação de fortalezas, linhas defensivas fronteiriças, fortalecimento das guarnições e obtenção de material e reforços. Paralelamente, a intensa atividade diplomática nas cortes da Europa, para obter apoio militar e financeiro, negociar tratados de paz ou de tréguas, conseguir o reconhecimento da Restauração, e a reconquista do império ultramarino. A nível interno, a estabilidade dependeu, do aniquilamento da dissensão a favor de Espanha. A guerra da Restauração mobilizou todos os esforços e absorveu enormes somas. Pior, impediu o governo de conceder ajuda às atacadas possessões ultramarinas. Mas, se o Império, na Ásia, foi sacrificado, salvou a Metrópole da ocupação pelos espanhóis. Portugal não dispunha de exército moderno, as forças terrestres escassas, as coudelarias extintas e os melhores generais lutavam pela Espanha, e a guerra se limitou a operações fronteiriças de pouca envergadura.
Do lado espanhol, a Guerra dos Trinta Anos (até 1659) e a questão da Catalunha (até 1652) atrasavam ofensivas de vulto. A guerra, que se prolongou por 28 anos, teve altos e baixos até se assinar o Tratado de Lisboa, em 1668, entre Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, em que este reconhece a independência do nosso País. Hoje, gente com passaporte português celebra o 1º de dezembro como desastre ou deplorável evento. Esquecem que se tratou da reconquista da liberdade do povo e da nação subjugada pela dinastia dos Filipes de Castela. Mais vale um povo pobre e livre do que rico na gaiola dourada com as cores do reino de Espanha. Assim o dizem os galegos que se aproximam das origens portuguesas preservando a língua e cultura comuns: a memória dos homens é curta.
São interessantes os “pequenos detalhes” que determinam a História e que legalizaram de pleno direito a sucessão de Filipe II ao trono de Portugal em 1580 por morte sem descendência do herdeiro varão cardeal D. Henrique (68 anos) 9º filho do rei D. Manuel I. A candidatura de Filipe era fortíssima e indiscutível pelo casamento da filha terceira de D. Manuel I, com Carlos V, pais de Filipe I (II de Espanha). Paradoxalmente, antes da candidatura de Filipe, a situação poderia ter sido invertida, unificando as coroas ibéricas “para o lado português”. Em 1499, foi proclamado herdeiro das coroas de Portugal e de Espanha, Miguel da Paz, primeiro filho de D. Manuel I com Isabel, filha dos Reis Católicos. Azar dos portugueses ou conspiração castelhana, morreu com 2 anos de idade.
Os portugueses serão sempre saudosistas, dos espanhóis, de Salazar e do sonho chamado 25 de abril.
— Quem diria que Portugal estaria melhor como província espanhola do que independente?
(Os galegos dizem que não).
- Quem garante que não seria Portugal uma célula independentista, tipo ETA, (aliada ou não à Galiza)?
E se fosse ao contrário? Se o Reino de Espanha fosse hoje uma província de Portugal?
Que aconteceria aos Bourbon?
Só tinham utilidade nos EUA. Lá emborcam todos os Bourbon que encontram.
Infelizmente, aqui ao lado, entronizam-nos e chamam-lhes Reis.
A língua portuguesa no mundo hoje – Observatório da Língua Portuguesa
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(intervenção realizada durante o “Seminário Internacional sobre os 25 anos da CPLP” – 11 de novembro de 2021, Lisboa, Portugal) Boa tarde a todos. É com muito gosto que integro o painel desse importante evento, sobretudo para falar sobre a Língua Portuguesa no mundo hoje. Agradeço, pois, o amável convite que me foi formulado pelos […]
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Poemas de Drummond com fotos de Adriano Fagundes – Observatório da Língua Portuguesa
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