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Governo baseia-se em texto que vigorou só até 2013 para impedir professores de subir de escalão.
Source: 5700 docentes retidos com acordo inválido – Sociedade – Correio da Manhã
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Governo baseia-se em texto que vigorou só até 2013 para impedir professores de subir de escalão.
Source: 5700 docentes retidos com acordo inválido – Sociedade – Correio da Manhã
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Galiza és tão especial
quando sorris
por que não sorris sempre?
és tão bela
quando ris com gargalhadas cristalinas
por que não ris sempre?
és tão amorosa
quando falas e cicias
por que não falas sempre?
no meu quintal tenho um poço
sempre cheio de palavras
onde vou buscar inspiração
é lá que busco amores
como se fora o monte das Ánimas
na era dos Templários
quando os cervos eram livres e não havia lobos
foi lá que aprendi a tua história
depois de Ith filho de Breogán
ir à Torre de Hércules
divisar Eirin a Verde
morto Ith, perdidas as Cassitérides
aprisionados os Ártabros
resta visitar Santo Andrés de Teixido
duas vezes de morto
que não o visitei uma de vivo
e esta história queda silente
nos livros e na memória dos velhos
por que não a aprendem os nenos?
agora que o rio Minho passa caladinho
para não despertar os meninos
hoje quando fui ao poço
encontrei-o seco e mirrado
sem um fio de água sequer
não havia pardais nas árvores
nem flores no jardim
senti o coração trespassado
as lágrimas secaram-me
aºao trespassado Castelaer
caladinho
fincado no chão
pios e polinia fadas ou sereias
atopei umas Meigas
a dançar com o Dianho
foi então que o vi, o Chupacabras
estandarte de Castela
não mais haveria fadas ou sereias
cronópios e polinópios
vou juntar ferraduras, alho e sal
colares de conchas e tesouras abertas
esconjuro-vos ó meigas castelhanas
que me salve o burro farinheiro
vou ao banho santo em Lanzada (sansenxo)
hei de te encontrar minha moura encantada
não tenho medo de travessuras de Trasgos
nem Marimanta ou Dama de Castro
sem temor da Santa Companhatravessuras de Trasgos
a Santa Companha
nem do Nubeiro vagueando
entre tempestades e tormentas
hei de te encontrar minha moura encantada
e brotará áuga do meu poço
escreverei os versos e serão mágicos
erguerei a tua flâmula
no poste mais alto e cantarei
Galiza livre sempre
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Crónica 480 alergia a festas
Os politicamente corretos vão mesmo crucificar-me hoje. Tenho uma enorme alergia a festas da padroeira da freguesia, a meu favor os cães da vizinha, os de casa e dezenas de outros nas vizinhanças, e os pássaros que nessa semana debandam atordoados pelas incessantes roqueiras e foguetes tonitruantes que a desoras entre as 07 e as 03 da madrugada soam nos ares.
Tal como a música encanada ou não que surge na maioria das ruas, como os bares e tascas improvisadas que nascem como cogumelos, e leva as pessoas a encostarem-se aos berros, gritos e em alegadas conversas (bêbadas, muitas vezes) até altas horas, sob a sacada das minhas janelas ou sentadas nos degraus do patamar de casa.
Como a ecologia ainda não medra por estas bandas na manhã seguinte o chão fica atulhado de copos de plástico, beatas de cigarro e outros detritos que, eventualmente, o pessoal da junta irá limpar, quando acabarem de limpar as ruas dos detritos de folhas e flores que sobraram da procissão.
Este ano a comissão organizadora ressabiada pelos dois anos de pandemia resolveu alargar de 6 para 10 dias as libações celebratórias, convidado grupos musicais para dois dias antes do habitual, mas a população que ainda trabalha durante a semana não parece ter aderido. Outra novidade foi a trasladação da imagem da Senhora do Rosário para a Capela e desta para a Igreja ter sido feita numa carrinha de vaqueiro e não aos ombros dos acólitos, um progresso tecnológico que demorou a chegar, e do qual ignoro ter sido um sucesso ou não.
Desde há séculos que a tradição de pintar as casas se mantém. Este ano os pintores não tinham mãos a medir e eu que até pinto a casa quando precisa e não quando é festa, vi-me e desejei-me para arranjar “mestres” disponíveis dois meses antes do evento.
Houve menos barulho duma forma geral, sem a discoteca improvisada na Rua do Rosário a debitar tecno bass até às três da manhã, o que os meus ouvidos agradecem e mais ainda o coração que palpita acelerado com esses ritmos.
O bar tasquinha em frente a casa não causou grande transtorno mas os seus frequentadores de ambos os sexos devem ter problemas auditivos pois ao virem cá para fora fumar e falar, faziam-no aos berros noite adentro adiando, injustamente, o meu sono de justo. Mas vá lá, foi um sacrifício por uma causa justa que esta gente nem é muito de futebóis, não vai a Fátima que é caro, as procissões de romeiros foram suspensas e só lhes resta a festa anual para se libertarem das grilhetas do quotidiano.
Para isso se aperaltam novas e velhas em seus vestidos, saias curtas e decotes generosos, maquilhadas como se na ida às missas fossem a um concurso de misses. A grande diferença doutras eras é que não se apalavram namoros ou casamentos como dantes, e a estatística diz que em cada dez casamentos sete dão lugar a divórcio e em curto prazo.
Mudam-se os tempos mas os emigrantes continuam a voltar para reviver eras passadas que já não reconhecem nestes dias que correm. Um casal deles, emigrado nas Américas há 60 anos até me pediu para lhes tirar uma foto quando eu gravava os tapetes de flores da procissão e foram contando a sua vida e o orgulho de serem nativos daqui.
Ninguém se deu conta da crise que aí está para durar e encarecer mais a vida exceto o dono das vacas que pediu (como só ele sabe) preço mais alto para o leite. Concordo plenamente, desde que todos sejam compensados pela carestia desta inflação que nos vai fazer emagrecer as poupanças que não temos, os aumentos que não tivemos e a subida especulativa de todos os bens. Mas quando a crise apertar pode ser que as coisas mudem já que as mentalidades essas parecem imutáveis .
Chrys Chrystello, drchryschrystello@journalist.comJornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713[Australian Journalists’ Association – MEEA]Diário dos Açores (desde 2018)Diário de Trás-os-Montes (desde 2005)Tribuna das Ilhas (desde 2019)Jornal LusoPress Québec, Canadá (desde 2020)Jornal do Pico (desde 2021) |
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era como sentir um deus dentro de mim e depois aquilo começava a mexer, a mexer, borbotando, saía da pele, trespassando os ossos, raspando o ar ao mesmo tempo que as mãos: como quem corta um pão enquanto permanece imutavelmente estático, sem queixas, sem gemidos nem dores, moldado ao gesto, elástico.
…
era como sentir o tempo parado amanhã e apenas se visse o futuro em tudo, até no nevoeiro que crescendo dentro de nós já era húmido cacimbo, lá fora objetos mudos, quietos como jamais, nem dez segundos tinham passado e já era amanhã, vermelho, gorgolejante (o futuro às vezes pregava destas partidas).
olhos sem brilho desorbitados, vagos, num qualquer espaço que nenhum de nós sabia identificar: como se estivéssemos do lado de lá e quando nos mirássemos, esconder-mos-íamos com pavor.
então, vinha o espelho, as pessoas perguntavam por si próprias e as imagens…lá perduravam, as pessoas não.
os rostos abrigavam-se num qualquer buraco à procura da luz que não vem dos buracos, já era dia, as ideias cavalgavam os minutos à desfilada por entre mudos sorrisos tolerantes de loucura. ninguém acreditava na linguagem dos olhos que já eram pó e habitavam um qualquer caixão. no entanto, ali estavam indesmentíveis, lembrando-nos como continuávamos vivos, de pé, naquele templo de morte.
era costume pendurarmo-nos no tempo e os minutos eternos e futuros brincavam connosco, puxando-nos as cordas para nos balançarmos aflitos e temerosos já que não saberíamos viver noutro tempo.
e já tudo era música, vinha dos olhos, penetrava o sexo até os dentes rangerem de prazer. tudo era música incluindo o encarnado das paredes nuas (jamais haviam sido caiadas – como numa acusação) e vinha dos poros de suor, do cabelo empastado como bolas à chuva de verão (que jamais tombará!). sempre a música, na luz, nos sons irrepetidos, mijando na lua, na poesia, na inutilidade de corrermos atrás do que sempre nos fugirá, irremediavelmente parados num vasto campo atulhado de urnas vazias – JAMAIS ALGUÉM EXISTIU LÁ. –
o som alucinado, as pessoas bem bebidas saindo com passos trôpegos, proclamando profissões entre confissões que nunca serão assinadas porque sinceras.
e um cão sem sexo pois nunca foi cão, encosta-se a um poste, fitámos o animal como se ele existisse e nos chamasse e houvesse poste, depois afagávamo-lo com o olhar, dormiríamos descansados com o poste seco, sempre esteve, apenas poste, nada mais.
um gato mia lugubremente a um guarda-noturno, sem rua nem farda, pois nunca foi admitido e continua a viver iludido, enquanto lhe pagam a fome com sorrisos de comiseração, e diariamente se arrasta pelas portas que lá não estão mas deviam, e já há quem lhe atire pedras, as quais não lhe acertando o trespassam, caindo atrás dele como se não o tivessem atingido, o que é mentira, pois as pedras tombam magoadas com restos de sangue coagulado, e o sangue das pedras é vermelho como o das estrelas que não brilham enquanto houver uma chávena de café para estancar o sangue com merda.
já é noite, sempre o foi, mas o sol não acreditou até ver uma ratazana morta de medo e um polícia à paisana num bordel, vestido de luxo como morcego de raça, por entre pedras preciosas de mil enganos fosforecendo na treva.
um mendigo busca um lato de lixo bem conservado e próspero para deitar os seus restos (que civismo! – comentarão e a esses responderei que nada disto existiu). depois, alguém irá, na sua opulência, remexê-los (inventar-lhes-á um nome, talvez banquete, palavra que conhece por ouvir dizer) e continuará de mãos bem estendidas sem que alguém vá e as acaricie (exceto com a saliva do desdém).
a rua vazia como se ninguém a ativesse atravessado desde há séculos, o que também é mentira (outra), pois das pessoas sobraram sombras (ficam sempre para alguém ir e guardá-las) e cabeças de crianças que não nasceram, espetadas no chão para exemplo.
passavam sem as verem, pisavam-nas e elas sem um grito, até que uma tropeçou e todos se calaram, era tarde, já chegara a hora de recolher, não havia tempo de arquivar imagens de agonia. já as gentes voavam mesmo sem quererem, incapazes de saberem como evitar pisar essas flores estranhas que ninguém colheria.
cansadas em casa sem asas nem memória (que esta é uma dor), queriam dormir tranquilas e drogavam-se, pílulas coloridas, cada uma era cabeça de criança em tamanho de alfinete sem ponta nem voz.
o sangue jorrando continuadamente como cascata em sonhos, como alguém quase a afogar-se querendo acordar para não morrer e logo acordando nadavam desesperadamente, não havia já quarto ou sala ou casa e ninguém restava para se lhe narrar o sonho.
era assim naquele tempo até que um génio inventou a fala e todos gritaram como se fora vital, então, outrem gritou a lembrança de que já antes se entendiam por gestos e daí nasceu o silêncio.
depois o hábito, o esquecimento, sem saberem o que existira antes do silêncio, e então já eram sapos de enormes bocas abertas, nem precisavam de nadar para (não) morrerem, pegajosos agarravam-se à paisagem evitando a todo o custo cair nela, dando-lhe cor sem movimento; como tinham o dom genial da voz sempre que respiravam e não sabiam que o faziam, logo morriam de novo (desta vez sufocados).
filmes mudos não havia, eram todos toupeiras à custa de terem os olhos vendados (para não dizerem do que viam), escavavam, sem uma palavra, incitamento, e tudo ruía por toda a parte.
deus não fora ainda inventado – nem era preciso – ninguém pensava e se o faziam, pensavam que não podiam, e acreditavam que não (assim estava determinado para não se contestarem dogmas).
foi nessa altura que a estrela se intitulou um qualquer nome e desatou a rodopiar, percorrendo o espaço em fuga interestelar, deixando para trás um rasto invisível que só tomava forma na imaginação das outras estrelas, as quais vinham de noite passear o cosmos, afastando poeira à sua passagem, desafiando o tempo, essa sucessão de instantes inacabados, infindavelmente continuados e perdidos desde o início, pois tudo foi sempiterno (até o silêncio) por nunca ter existido.
…
esta noção de amanhã é falsa, equívoca, ainda falta inventar o “agora” como quem pede desculpa e não sabe, e já de trás todos gritam dizendo que sim para se suspenderem da sua total ignorância sem terem de admitir e confessar a sua inexistência, e então, de novo, inventam algo chamado “ontem” para se autodesculparem, e logo lhes agradecemos sem sabermos porquê.
não estamos desesperados para nos suicidarmos com palavras, lá no íntimo nem a certeza de termos jamais nascido, tudo vago, sem contornos, sem cor nem forma.
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vem correr comigo, à bi rua (junho ‑
dezº 1970)
vem correr comigo. cabelos soltos ao vento.
pernas fustigadas pelas espigas,
como um poema lançado ao fogo.
o cheiro a campo e feno.
calma na aldeia de campos povoados.
gente afanosa que semeia o que se colhe
as terras adubadas pelo suor.
as mãos calejadas pelo trabalho.
o pó a entranhar‑se
nas rugas da cara.
os dias belos, verdes e azuis, cinzentos, iguais a tantos.
os cães ao longe guardando os rebanhos.
a fome e os verdes prados.
o sol a pino, como pá ou picareta abrindo estradas,
fazendo brotar água das f(r)ontes dos lavradores.
a brisa que não corre na sombra que se escolhe
a merenda frugal comida de criança para homens feitos.
a enxada até sol‑pôr.
vidas penhoradas por frutos que não serão colhidos.
ao longe passam carros sibilantes.
por cima enormes monstros dos ares
atroam a calma, violam a aldeia. o sino assustado repica a medo.
pendurados nos fios há pardais. nas fundas há pedras.
as velhas sentadas ao sol que entra nas portas abertas.
enxameiam moscas. crianças chafurdam na lama.
cães encostados às próprias sombras
sacodem as moscas, coçam as pulgas
(em todas as elites sociais há parasitas!)
cabeças inquisidoras, dos lábios o cumprimento,
saudação oculta, comentários inconvenientes.
fica a pairar o murmúrio.
chapéus nas cabeças, mãos que se levam ao chapéu.
e nós só queríamos os verdes campos
a vontade contida de correr e saltar
a liberdade dos pássaros‑homens
feitos aves.
as noites claras e límpidas, estrelas como teto.
a terra a pulsar sob nossos corpos.
com um frémito percorrendo formas, o seu calor.
coladas as bocas, juntas as mãos
o nosso bafo entrecortado
por teto as estrelas.
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1.
margem insólita de todo o poema
sempre nos habita
algures
a palavra
gesto
talvez sorriso
familiares viajantes de toda a história
pairam sobre a memória do cristal
estrangeiros pensamentos crescem dos dedos
invadem a casa
lavrando
sonhos impossíveis
atração eternizada nos transcende
mística magia de rochas por decifrar
fantasiosas
oportunistas
divagam
insustentáveis teses
nos zimbórios da retórica
agnósticos
céticos
espraiam-se fervorosos
no grito infeto
a louca viagem
multicolor do tempo
grades de raiva
inaudito flagelo
pregaram às janelas do cérebro
holofotes de cura do sono
o crime da estátua
tensas mordaças
hirtas teias
paisagens sem idade
supliciaram o templo inerte
do corpo
violaram memórias
confissões sempre retardadas
o ódio calmo
sereno companheiro
anda camarada
cospe-lhes o teu sangue puro
ri-te da dor animal
mas não lhes perdoes
mas não esqueças
o tóxico fumo
da indomável vontade
cansá-los-á
rendidos
frustres carrascos
abater-te-ão
e os dentes que te arrancaram
e a língua que não te soltaram
(embora ta cortassem)
e o pensamento que te não aprisionaram
serão a vitória
serão a troça
dos teus olhos abertos
dois vulcões de sangue
sem vida tos extirparam
para que morto
os não fulmines
teus ossos lançados às cinzas e ao mar
entoam canções heroicas
também tu és o nobre canto
resistente
camarada
nós te ergueremos
bandeira viva
é nossa a luta
é nossa a desforra
é nossa a trova
espada deste canto
amigo
a liberdade te pertence
a vida te merece
poema sem tempo
farpa
mista voz desfraldada
livros por habitar
no mundo-do-sem-fim
acorrentadas horas
penosas arqueologias
rastejantes
subterrâneas as vozes
nos invadem
fecundas
as mãos
giz
suor
ironia despojada de lágrimas
truncámos a palavra
deserta
(in)sobrevivente
vencida foi
no letargo da mediocracia.
2.
esgotem materiais e humanos
atinja-se a inanição
cooperem operários
técnicos
meros observadores
TODOS
novos
velhos
mulheres
inválidos
crianças
inclusive homens
(à cause du machîsme)
reine a desordem
e o caos
não sucumba a vigilância
policias ineptos
soldadinhos de chumbo
bombeiros de palha
forças desmilitarizadas
vigilantes
bufos
corpo-de-paz
O IMPORTANTE SÃO AS FARDAS!
mobilizados todos
cursos especiais
de desinfestação
instrução de piqueniques volantes
guerra sem cartel nem quartel
até se estropiar a ORDEM
(abolido temporariamente o trabalho)
é perigosa
anda protegida e bem armada
(ao que consta
de fontes fidedignas)
o serviço nacional da malinformação
atento e venerando
tv
jornais
cinema-novo
teatro-de-vanguarda
convocados
haverá comunicados horários concisos
texto único
congressos-mundiais-de-combate-inútil-reunidos
(o debate é a base de toda a futilidade polemista!)
imperioso manter a população
hibernada
estado-de-sítio
recolher obrigatório
em todos os bordeis e lupanares
acerada vigilância
abolida a privacia
e a intimidade
vasculhadas pessoas e haveres
obstruam as ruas
com barricadas de papelão
(inauguradas em direto pela tv)
cidades
estradas
portos
marítimos e aéreos
espiados
como rezam as tradições
francas das fronteiras
(a burocracia ocupar-se-á do restante)
antiguerrilheira e apátrida
– infiltrou a ORDEM –
teve o apoio de minorias já detetadas
condenada ao malogro
cresceu
e se fez gente temida
racionados viveres
por estratos sociais
senhas e talões
no mercado negro
dos intelligence services locais
amestrados cães pastores
vigilantes
rebuscam residências
a elite comunizava livros proibidos
o tesouro com poderes supranormais
emitia metal sonante
descongelados salários da administração
fomentada a espiral inflacionária
falidos pequenos e médios empresários
monopolizado o grande capital
o país crescia
sólido e inabalável
a ORDEM enaltecia a família e a religião
sem amigos nem-conhecidos-de-café
ninguém afrontava a pública militância
viajava-se nos coletivos
preferencialmente amarelos
desajustada tendência aos discursos
do grão-mestre
impostos pagos
residência nos subúrbios
débitos ao merceeiro
jogadores fortuitos de totobolas
– apostas simples –
horários fixos por contratos coletivos
os católicos de domingo
funcionários devotados
soletravam o respeito
honestos e pontuais
sem ambições viviam
orgulhosamente sós.
– então chegou o tempo das flores –
maculado o vernáculo solo pátrio
desmascararam-se abusos
de vítimas nenhumas
sufocaram-se greves
carregou a polícia de choque
prisões maciças
sem culpa formada
torturas
deportações
nada foi eficaz
o poder legalmente constituído
autoridade irrefutável
caiu
sem pretensas liberalizações subversivas
debilitados os poderes cívicos
a elite dirigente escoiceada e depurada
– (eram homens públicos de muito mérito!) –
foram traídos pelo povo
a quem não serviam
reconheceu-se autoridade à ONU
entabularam-se negociações com terroristas
(até então guerrilheiros sem pátria)
ignoraram-se imaginosos esquartejamentos de brancos colonos
e a terra una
multirracial porque discriminatória
pluricontinental porque imperialeira
finalmente hipotecou tradições balofas
enterravam-se prósperos futuros planejados
(o presente era de crise
mas as previsões mentiam seguras)
aprestado o ajuste de contas
alguém houve
pagando com a vida
morte
ou o que preciso fosse
demolida a ameaça
pela população gentia
brotou a voz uníssona e liberta das massas
milhões de vidas salvas
antes de contaminadas
nascia um jovem continente no velho mundo.
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jogos de portuguerra, a erich maria remarque (abril 1972)
….
aqui e agora se medita
inaudito espetáculo revolucionário
ministros‑de‑guerra
em luta corpo‑a‑corpo
nações beligerantes
evitariam gratuito sangue
o povo pagaria imposto
para morrer desfastiado
passaria fome para ter governantes bélicos
a geografia da velhice sobreviveria em paz.