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  • DIÁRIO DE UM HOMEM SÓ APRESENTADO DIA 25 lajes flores

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    nas lajes das flores dia 25 ver detalhes em https://coloquios.lusofonias.net/XL/

  • se a cultura se vendesse no hipermercado era mais fácil

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    587 se a cultura se vendesse no hipermercado era mais fácil

    (esta e as anteriores chrónicaçores estão em https://www.lusofonias.net/mais/as-ana-chronicas-acorianas.html)

    Leonardo Boff, Teólogo escrevia em setembro de 2009 matéria para refletirmos:

    A tradição do Tao vê a história como um jogo dialético e complementar de dois princípios: yin e yang, subjacentes aos fenómenos humanos e cósmicos. A referência para representar estes dois princípios é a montanha. O lado norte, coberto pela sombra, é o yin, corresponde à dimensão Terra. Expressa-se pelas qualidades da anima, do feminino nos homens e nas mulheres: o cuidado, a ternura, a acolhida, a cooperação, a intuição e a sensibilidade pelos mistérios da vida.

    O yang significa a luminosidade do lado sul e corresponde à dimensão Céu. Ganha corpo no animus, as qualidades masculinas no homem e na mulher como trabalho, competição, a força, objetivação do mundo, análise e a racionalidade discursiva e técnica.

    A sabedoria milenar do Taoismo ensina que as duas forças devem ser equilibradas para que o caminhar se faça dinâmica e harmonicamente. Se uma predomina sobre a outra, urge um equilíbrio difícil entre elas. O yin e o yang remetem a uma energia originária, um círculo com ambos: o Shi.

    Os cristãos falam do Spiritus Creator, ou do Sopro cósmico, que enche e dinamiza toda a criação. Os cosmólogos citam a Energia que produziu um minúsculo ponto que depois explodiu – big bang – dando origem ao universo. Após esta incomensurável explosão, a Energia desdobrou-se nas quatro forças fundamentais que atuam sempre juntas e que subjazem a todos os eventos – a energia gravitacional, eletromagnética, nuclear fraca e forte – para as quais não existe, na verdade, nenhuma teoria explicativa.

    A nossa cultura ocidental, globalizada, rompeu com a visão integradora. Enfatizou tanto o yang que tornou anémico o yin. Permitiu que o racional recalcasse o emocional, que a ciência se inimizasse com a espiritualidade, que o poder negasse o carisma, que a concorrência prevalecesse sobre a cooperação e a exploração da natureza descurasse o cuidado e o respeito devidos. Este desequilíbrio originou o antropocentrismo, o patriarcalismo, a pobreza espiritual, a cultura materialista e predadora e a atual crise ecológica global. Só com a integração da força do yin, da anima, da logique du coeur (Pascal), do mundo dos valores, corrigindo a exacerbação do yang, do animus, do espírito de dominação, podemos proceder às correções necessárias e dar novo rumo ao projeto planetário. Se não encontrarmos um ponto de equilíbrio tudo pode acontecer, até um flagelo antropológico. Precisamos de uma loucura sábia que faculte uma nova síntese entre os dois polos para reinventar um caminho que nos garanta o futuro.

    É por essas e outras que gosto de escrever a palavra REVOLTEM-SE, mas pode ser crime de traição ou de apelo ao terrorismo, face às novas leis, pelo que me coíbo de o fazer.

    Faltou frisar que a ideia da nova educação é fazer com que os professores estejam cada vez menos preparados e criem alunos ignorantes. É a teoria do mínimo denominador comum. Não interessa a nenhum governo uma população culta, educada e lida…depois era mais difícil regê-los. Segue-se uma nova versão da máxima salazarista “quanto mais ignorantes mais felizes…” ou como o amigo Daniel de Sá, em tempos, me avisou, no formato original, a máxima de Salazar era: “Um povo culto é um povo infeliz.” Sejamos felizes, sejamos incultos. A razão de todas as infelicidades reside na Santa Cultura que tanta dor pariu.

    Depois criam-se artificialmente castas (este país sempre foi um país de castas). Primeiro, havia a dicotomia entre professores primários, secundários e os universitários. Vasos não comunicantes e estanques. Para mim o erro foi acabar com a Escola do Magistério e criar as ESE… que fabricaram diplomados com ignorância e falta de preparação como a Helena (minha mulher) comprovou quando lecionou numa…até dói. Já basta haver programas que pouco ou nada ensinam (mais curtos, inúteis e fúteis, cheios de imagens para contrabalançar a falta de conteúdo, para contrapor a asserção vigente no meu tempo de que aprendia coisas que para nada serviam).

    Claro que a impreparação dos professores aplicada numa educação de massas, caracterizada pelo mínimo denominador comum, vai perpetuar o ciclo descendente de conhecimentos, e cada vez haverá mais burros nas fileiras. Isso é altamente importante para os políticos no poder. Quanto mais iletrados, melhor serão conduzidos os milhões de cordeiros do rebanho da nação. A educação é uma fábrica de analfabetos para ensinar mais analfabetos futuros. Nada mais perigoso que uma pessoa que lê e estuda. Até pode pensar por ela…

    Este país tem demasiadas leis e incumprimentos a mais…para quê se ninguém as cumpre? O que é preciso é civilizar [leia-se DOMESTICAR] o povo para se poderem impor regras e normas, o resultado está à vista…vive-se numa ditadura republicana, de esgares monárquicos, disfarçada de democracia. Tal como no tempo do Hitler só quando chegar à nossa porta é que nos daremos conta do caminho por onde nos levaram… As democracias só podem funcionar com gente culta e preparada e não com quase dez milhões de analfabetos como em Portugal. Nos outros países (e na Austrália vi isso) fazem-se sacrifícios e o país avança e progride, aqui obrigam-se a sacrifícios e o país fica na mesma, só se trabalhou para a estatística europeia e não para criar riqueza.

    Como escreveu Mendo Henriques em agosto de 2008: “é altura de fazer uma revolução e dar o poder a quem tem cultura e não a quem tem dinheiro”.

    É tudo uma questão de visão, os portugueses têm-na tipo túnel (quando a têm). Outros veem mais longe e preocupam-se com o futuro. Eu aprendi imenso com os chineses. Foi essa a lição mais importante. Nunca me esqueço também do que mais me impressionara na aprendizagem com os aborígenes australianos: como sobreviver milhares de anos com uma cultura oral, sem escrita, sem posse de terras, sem matar a não ser o que é necessário para uma alimentação frugal, para preservar o meio ambiente. Assim foram capazes de manter um segredo durante séculos (como era o crioulo de português que uma tribo manteve durante mais de quatrocentos anos e da qual se falou atrás).

    O excesso de informação, desinformação e manipulação política acabam por condicionar o rebanho dócil dos que falam muito e se queixam ainda mais, mas pouco ou nada fazem. Sempre prontos a criticarem o governo e os outros sem perceberem que a verdadeira culpa radica neles.

    Os portugueses habituaram-se ao goze agora e pague depois, se não morrer antes. Não se importam com os que roubam à sua volta, sejam do governo ou da privada. Até os invejam e gostariam de poder fazer o mesmo. A maioria dos habitantes, da Lusitânia sem alma, não quer saber de princípios. Abomina quem os tem. Se bem que poucos, existem alguns que os preservam e perseveram.

    De qualquer modo o que é que o homem e a mulher comuns podem fazer, além de falar no café e queixarem-se aos amigos e conhecidos? Mesmo que soubessem rabiscar umas ideias e quisessem escrever uns artigos, provavelmente não seriam publicados. Vive-se numa ditadura dissimulada em que mesmo com 200 mil pessoas em manifestações de rua nada se consegue. O poder não treme nem pestaneja, coça-se como se estivesse a ser atacado por uma ridícula e inofensiva pulga. É essa a opinião dos governantes sobre o povo que manietam. Para quê denunciar escândalos? Raro é o dia em que um ou mais são denunciados nas redes, na internet na rádio e televisão. A justiça, que sempre esteve ao lado dos poderosos, parece estar ao lado dos que mais roubam e lesam o país Viriato e Sertório foram apunhalados pelos seus conselheiros. Aprende-se mesmo pouco em Portugal. Falta agora um novo Viriato a liderar os Lusitanos contra os usurpadores da República..

     

     

     

     

     

  • 585. viver é uma canseira

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    585. viver é uma canseira abr 2025 (esta e as anteriores 584 crónicas estão em https://www.lusofonias.net/mais/as-ana-chronicas-acorianas.html

    Li há dias numa parede grafitada que viver é uma canseira, quem o disse e recriou para a posteridade deve ter tido uma vida desastradamente monótona e desinteressante.

    A minha maior canseira foi chegar à 4ª idade com o cérebro de 25 anos e um corpo de 125.

    Nem queiram saber o rol de maleitas que surgem, umas atrás das outras num corpo aparentemente saudável e não muito escalavrado pelos anos. É esta canseira que ora me aflige pela expectativa daquilo que de pior ainda está por chegar.

    Sempre pedi à minha mulher que não me deixasse conhecer este estado civil de viuvez pois já pressentia as dores que traria.

    É precisamente agora que pareço ter perdido toda e qualquer réstia de paciência, para ouvir as promessas ocas dos políticos balofos, que nunca fizeram nada na vida a não ser venderem promessas vazias. E de eleição em eleição reciclam-se e prometem o que já tinham prometido e que tanto eles como os eleitores se esqueceram.

    E tudo aquilo que ainda não fizeram, em mandatos anteriores, será agora que vão fazer, até melhor do que seria de esperar dada a conjuntura, que, conjuntamente com a ingrata mãe natura, o clima, a economia, a guerra (qualquer uma, não importa), algumas potências estrangeiras, a globalização, o protecionismo ou outro qualquer asteroide impediram anteriormente que fosse realizado.

    Entre outras notícias de somenos importância desfilam pelos entediantes ecrãs da nossa realidade destilando palavras inócuas que parecem encher o mundo de bolas de cristal coloridas plenas de futuros acontecimentos inconseguidos.

    O tempo, esse mestre maior, acaba sempre por se ver livre dos seus seguidores e, mais cedo ou mais tarde, transita para outra dimensão onde deles jamais se ouvirá falar. Mas logo outros políticos de carreira surgirão para lhes tomar o lugar. Escrevo isto e lembro a história de Roma ao longo de séculos, e sorrio ao vê-la aqui reproduzida já no curto espaço da minha vida.

    Está aí mais uma eleição à sua espera, e de nada servirá o seu voto exceto para justificar que a democracia ainda é o melhor sistema de todos, apesar das suas fragilidades, desigualdades, iniquidades e abusos e se estiver numa fase da vida que é uma canseira, como eu estou, sabe bem que a autocracia e a ditadura ainda o fariam bem mais infeliz.

  • há 100 anos nasceu JOSÉ DIAS DE MELO escritor da baleação

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    Os Colóquios da Lusofonia na saga dos navegadores só arribaram ao arquipélago dos Açores em 2005 para debaterem a identidade açoriana, sua escrita, lendas e tradições. Em 2008 tiveram a presença do escritor da baleação, o picaroto Dias de Melo (falecido pouco depois)

    13.7. DIAS DE MELO, CRÓNICA 56, 24 SETEMBRO 2008

    “A ESPERANÇA NUM MUNDO MELHOR JÁ NÃO SERÁ PARA MIM, TALVEZ NÃO SERÁ PARA NENHUM DE NÓS E EU REVOLTO-ME COM AQUILO QUE VEJO À VOLTA DE MIM” DIAS DE MELO

    pintura de Tomáz Borba Vieira (1974)

    Hoje fiquei mais pobre e de novo órfão. Até maio deste ano pouco ou nada sabia sobre Dias de Melo[1] que esteve presente como Escritor convidado no 3º Encontro Açoriano da Lusofonia juntamente com o amigo Daniel de Sá. Eram eles os dois representantes da literatura açoriana que quis dar a conhecer a todos os que nem sequer sabiam da existência da mesma.

    Dias de Melo um operário, um agricultor, um pescador, um escultor que trabalha, ceifa, pesca e esculpe cada palavra, como se fosse um baleeiro do Pico, referência constante como o é Mestre José Faidoca, personagem presente nas histórias que também presenciou como homem do mar, pescador, marinheiro, mestre de lancha. Escreve como se da janela de casa, no Alto da Rocha na Calheta de Nesquim, vigiasse os botes e as lanchas da Calheta, baleando contra os Vilas e os Ribeiras. Andei quatro meses na descoberta da sinceridade da sua obra (que não estudei na totalidade apenas os títulos reeditados). Foi uma paixão literária, pois a escrita flui e embrenha-se como o nevoeiro em que os baleeiros se debatiam na luta inglória e injusta para ganharem a vida. Se tivesse que resumir o autor a palavra seria INJUSTIÇA. É da sua denúncia que trata ao abordar temas como a emigração, a vida no Pico natal, as realidades sociais e económicas, a repressão no Estado Novo, e para além dos dramas humanos na linguagem simples dos homens do povo, lá vem a injustiça.

    Não querendo ordenar classificatoriamente os escritores como se de autores de música popular se tratasse, o certo é que Dias de Melo ocupa lugar cimeiro e sinto-me extremamente honrado por ter trocado algumas palavras com ele, durante o colóquio e no jantar do primeiro dia de trabalhos. Não o conhecia, mas conhecendo as obras e a vida de luta fica-se com a sensação de o termos conhecido sempre, de pertencermos à mesma família, uma espécie de alter ego daquilo que gostaríamos de ter sido. Autor e compositor de música popular, Dias de Melo ficará inexoravelmente conhecido como o escritor da baleação e da condição humana. Coube-lhe a sorte de ter recebido algumas merecidas homenagens públicas nos seus últimos meses de vida quando viu a 2 de maio 2008 (véspera do Encontro Açoriano) reeditar algumas das suas melhores obras. Cumpre-nos a nós não deixar que a sua memória se esvaneça e porfiar para que os seus livros sejam lidos por todas as novas gerações.

    Herman Melville na sua epopeia da Moby Dick na qual retrata alguns açorianos, não conseguiu resumir a essência dos baleeiros como Dias de Melo pois este era um espetador atento da luta quotidiana e resolveu dá-la a contar ao mundo. Disso vos trago testemunho com a saudade que a sua morte nos deixa a partir de hoje.

    [1] Do autor: Toadas do Mar e da Terra (1950), “Crónicas do Alto da Rocha do canto da Baía, Das Velas de Lona às Asas de Alumínio” Lisboa, Salamandra. (1991), Aquém e Além-Canal. Lisboa, Salamandra. (1993), A Viagem do Medo Maior. Lisboa, Salamandra. (1994), Memória das gentes 6 vols. (Livro I, três volumes). Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura. (1990), Na Memória das Gentes (Livros II e III, três volumes). Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura. (1992), Cidade cinzenta, Mar Rubro (1958), Pedras Negras (1964 Lisboa, Portugália (3.ª ed., Salamandra, 2003; trad. inglesa, 1988; trad. japonesa, 2005). 4ª ed. VerAçor 2008) , Mar pela Proa (1976 Lisboa, Prelo Editora (2.ª ed., Vega, 1986). (1979), Vinde e Vede. Lisboa, Editorial Ilhas. (1983), Vida Vivida em Terras de Baleeiros. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura. (1983, 1985), O Menino Deixou de Ser Menino. Lisboa, Salamandra. (1992), Pena Dela Saudades de Mim. Lisboa, Salamandra. (1996), Inverno sem primavera. Lisboa, Salamandra (2.ª ed., 1997).1999, Milhas Contadas. Lisboa, Salamandra. (2004), Poeira do Caminho. Porto, Campo das Letras. “Tempos últimos” , “O muro amarelo”, O Autógrafo. Lisboa, Salamandra. (2002), Poeira do Caminho (2005)

     

    DIAS DE MELO MAIO 2008 NO 9 COLÓQUIO DA LUSOFONIA

    Por isso escrevi

    Que Dias de Melo era um operário, agricultor, pescador, escultor que trabalhava, ceifava, pescava e esculpia a palavra como um baleeiro, pescador, marinheiro, mestre de lancha da Ilha do Pico. Escreveu como se da janela da sua “Cabana do Pai Tomás” no Alto da Rocha na Calheta de Nesquim, vigiasse os botes e as lanchas da Calheta, baleando contra os Vilas e os Ribeiras

     

    Sinto o sortilégio. O mágico cume tem um íman que atrai a visão e nos desconcentra, sempre insistindo para o contemplarmos nas suas mil e uma facetas alteradas a cada segundo.

     

    Satisfiz a curiosidade de visitar a casa de Dias de Melo. Nas viagens anteriores ainda não conhecia o autor. Ali, espartanamente vivera, numa casa pequena e humilde, ora telhada de novo mas com o desconforto da minúscula casa de banho exterior no piso térreo. Em cima, o autor dormia, comia e escrevia. Do pátio exterior avistava-se a imensa mancha de Mar Oceano ponteada pelo pequeno farol da Calheta de Nesquim que serviria de inspiração a tantos dos seus livros.

    Há cinco anos que não visitava a ilha mágica, o Pico magnético que me atrai e seduz.

    Um dos primeiros locais que quis revisitar foi a casa de José Dias de Melo no Alto da Rocha do Canto da Baía. Aí perdi as palavras, as silvas retomaram posse de terrenos em tempos bem tratados e cuidados, a portinhola de madeira, na entrada, estralhaçada com as ripas no chão. As pedras soltas do caminho de acesso à casa, o abandono total à espera de uma decadência que a casa não merecia por mais pobre humilde que sejam as suas origens e as do seu habitante mais celebrado e ora esquecido.

    Foi há apenas cinco dias que as palavras se me acabaram. Foram-se. Esgotadas. Caladas.

    Silentes como o breu da noite. Arrebatadas por alguma força alienígena que não entendo.

    Sempre disse que um povo que não respeita a sua história e os seus vultos acabará, mais cedo ou mais tarde, como povo e dele restará um punhado de notas para a História.

    Tentei saber o porquê do abandono, falaram-me de disputas entre herdeiros e editores.

    Não quis saber então, e muito menos quero agora. Há desculpas que a gente não engole. Até podem ser reais ou legais ou mesmo morais, mas nem por isso se tornam mais aceitáveis, palatáveis.

    Um dos mais ricos patrimónios, ainda mal explorado, dos Açores é a sua riqueza literária. Há anos que venho pugnando e propondo a autarquias e entidades várias, a criação de roteiros culturais locais, para se celebrar a memória de autores e de suas obras, os seus passos terrenos, os locais onde nasceram e viveram, onde escreveram, onde sofreram e sonharam. Os passos que davam nas suas caminhadas diárias, as paisagens que os inspirava, os sons e os cheiros que rodeavam o seu meio-ambiente.

     

    Fiquei imensamente triste, pensei que ia encontrar a casa aberta ao público, como espaço museológico, com um guia habilitado, a falar-nos das suas lutas, da sua escrita e vim a encontrar estas imagens que me compungem. Estas palavras que me abandonaram servem apenas para lançar um apelo pungente aos herdeiros do escritor para que honrem a sua memória e não deixem morrer a casa que bem serviria para contar as suas histórias de baleeiros.

     

    Há bens imateriais que se deviam sobrepor a quaisquer vantagens materiais desta propriedade a caminho da ruína. Sei que a memória do homem e da sua obra podem ser dignificados e acredito que o serão, para preservar este cantinho de um autor que soube sempre honrar o Pico natal. É este Pico que amo e quero ver enaltecido, em vez de entregue às silvas e ervas daninhas que nunca quebraram nem amedrontaram o escritor dos baleeiros.

     

    A contrastar a autarquia asfaltara o pequeno caminho de acesso, outrora irregular e em gravilha solta. Este o aspeto degradado a que deixaram chegar a casa a contrastar com aquele que tinha em 2009, um ano após a sua morte.

    2016 2009

    DIAS DE MELO MAIO 2008 NO 9 COLÓQUIO DA LUSOFONIA

    Da última vez que aqui estive na ilha em 2011, em pleno centro de São Miguel Arcanjo, ao andar rumo à casa do escritor Cristóvão de Aguiar deparei com uma camioneta de passageiros, estacionada, aguardando o início de nova semana de trabalho.

    Ali me ocorreu a ideia peregrina de como seria culturalmente interessante a aventura de “pedir emprestada” a carripana, começar a percorrer as aldeias (ditas freguesias nas ilhas) e gravar as histórias que os passageiros fossem contando.

    A viagem não teria destino.

    Duraria tanto quanto as histórias dos seus passageiros.

    Não se cobrariam bilhetes.

    Pararia em todos os locais, para que contassem histórias e lendas do local onde paravam.

    Que livro maravilhoso não daria esse compêndio de histórias apanhadas ao acaso daqueles que tomassem o autocarro dos sonhos.

    Assim me despedi da ilha prometendo voltar com mais tempo.

     

     

    Caderno 3 Dias De Melo C/ Glossário https://www.lusofonias.net/acorianidade/cadernos-acorianos-suplementos.html#

    Suplemento 3 Dias De Melo – https://www.lusofonias.net/acorianidade/cadernos-acorianos-suplementos.html#

     

    Vídeo Homenagem Dias De Melo https://www.lusofonias.net/documentos/video-homenagens-aicl/2671-homenagem-dias-de-melo-2009.html