Categoria: açorianidades açorianismos autores açorianos

  • Sinfonia Cósmica de Eduíno de Jesus

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  • 585. viver é uma canseira

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    585. viver é uma canseira abr 2025 (esta e as anteriores 584 crónicas estão em https://www.lusofonias.net/mais/as-ana-chronicas-acorianas.html

    Li há dias numa parede grafitada que viver é uma canseira, quem o disse e recriou para a posteridade deve ter tido uma vida desastradamente monótona e desinteressante.

    A minha maior canseira foi chegar à 4ª idade com o cérebro de 25 anos e um corpo de 125.

    Nem queiram saber o rol de maleitas que surgem, umas atrás das outras num corpo aparentemente saudável e não muito escalavrado pelos anos. É esta canseira que ora me aflige pela expectativa daquilo que de pior ainda está por chegar.

    Sempre pedi à minha mulher que não me deixasse conhecer este estado civil de viuvez pois já pressentia as dores que traria.

    É precisamente agora que pareço ter perdido toda e qualquer réstia de paciência, para ouvir as promessas ocas dos políticos balofos, que nunca fizeram nada na vida a não ser venderem promessas vazias. E de eleição em eleição reciclam-se e prometem o que já tinham prometido e que tanto eles como os eleitores se esqueceram.

    E tudo aquilo que ainda não fizeram, em mandatos anteriores, será agora que vão fazer, até melhor do que seria de esperar dada a conjuntura, que, conjuntamente com a ingrata mãe natura, o clima, a economia, a guerra (qualquer uma, não importa), algumas potências estrangeiras, a globalização, o protecionismo ou outro qualquer asteroide impediram anteriormente que fosse realizado.

    Entre outras notícias de somenos importância desfilam pelos entediantes ecrãs da nossa realidade destilando palavras inócuas que parecem encher o mundo de bolas de cristal coloridas plenas de futuros acontecimentos inconseguidos.

    O tempo, esse mestre maior, acaba sempre por se ver livre dos seus seguidores e, mais cedo ou mais tarde, transita para outra dimensão onde deles jamais se ouvirá falar. Mas logo outros políticos de carreira surgirão para lhes tomar o lugar. Escrevo isto e lembro a história de Roma ao longo de séculos, e sorrio ao vê-la aqui reproduzida já no curto espaço da minha vida.

    Está aí mais uma eleição à sua espera, e de nada servirá o seu voto exceto para justificar que a democracia ainda é o melhor sistema de todos, apesar das suas fragilidades, desigualdades, iniquidades e abusos e se estiver numa fase da vida que é uma canseira, como eu estou, sabe bem que a autocracia e a ditadura ainda o fariam bem mais infeliz.

  • há 100 anos nasceu JOSÉ DIAS DE MELO escritor da baleação

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    Os Colóquios da Lusofonia na saga dos navegadores só arribaram ao arquipélago dos Açores em 2005 para debaterem a identidade açoriana, sua escrita, lendas e tradições. Em 2008 tiveram a presença do escritor da baleação, o picaroto Dias de Melo (falecido pouco depois)

    13.7. DIAS DE MELO, CRÓNICA 56, 24 SETEMBRO 2008

    “A ESPERANÇA NUM MUNDO MELHOR JÁ NÃO SERÁ PARA MIM, TALVEZ NÃO SERÁ PARA NENHUM DE NÓS E EU REVOLTO-ME COM AQUILO QUE VEJO À VOLTA DE MIM” DIAS DE MELO

    pintura de Tomáz Borba Vieira (1974)

    Hoje fiquei mais pobre e de novo órfão. Até maio deste ano pouco ou nada sabia sobre Dias de Melo[1] que esteve presente como Escritor convidado no 3º Encontro Açoriano da Lusofonia juntamente com o amigo Daniel de Sá. Eram eles os dois representantes da literatura açoriana que quis dar a conhecer a todos os que nem sequer sabiam da existência da mesma.

    Dias de Melo um operário, um agricultor, um pescador, um escultor que trabalha, ceifa, pesca e esculpe cada palavra, como se fosse um baleeiro do Pico, referência constante como o é Mestre José Faidoca, personagem presente nas histórias que também presenciou como homem do mar, pescador, marinheiro, mestre de lancha. Escreve como se da janela de casa, no Alto da Rocha na Calheta de Nesquim, vigiasse os botes e as lanchas da Calheta, baleando contra os Vilas e os Ribeiras. Andei quatro meses na descoberta da sinceridade da sua obra (que não estudei na totalidade apenas os títulos reeditados). Foi uma paixão literária, pois a escrita flui e embrenha-se como o nevoeiro em que os baleeiros se debatiam na luta inglória e injusta para ganharem a vida. Se tivesse que resumir o autor a palavra seria INJUSTIÇA. É da sua denúncia que trata ao abordar temas como a emigração, a vida no Pico natal, as realidades sociais e económicas, a repressão no Estado Novo, e para além dos dramas humanos na linguagem simples dos homens do povo, lá vem a injustiça.

    Não querendo ordenar classificatoriamente os escritores como se de autores de música popular se tratasse, o certo é que Dias de Melo ocupa lugar cimeiro e sinto-me extremamente honrado por ter trocado algumas palavras com ele, durante o colóquio e no jantar do primeiro dia de trabalhos. Não o conhecia, mas conhecendo as obras e a vida de luta fica-se com a sensação de o termos conhecido sempre, de pertencermos à mesma família, uma espécie de alter ego daquilo que gostaríamos de ter sido. Autor e compositor de música popular, Dias de Melo ficará inexoravelmente conhecido como o escritor da baleação e da condição humana. Coube-lhe a sorte de ter recebido algumas merecidas homenagens públicas nos seus últimos meses de vida quando viu a 2 de maio 2008 (véspera do Encontro Açoriano) reeditar algumas das suas melhores obras. Cumpre-nos a nós não deixar que a sua memória se esvaneça e porfiar para que os seus livros sejam lidos por todas as novas gerações.

    Herman Melville na sua epopeia da Moby Dick na qual retrata alguns açorianos, não conseguiu resumir a essência dos baleeiros como Dias de Melo pois este era um espetador atento da luta quotidiana e resolveu dá-la a contar ao mundo. Disso vos trago testemunho com a saudade que a sua morte nos deixa a partir de hoje.

    [1] Do autor: Toadas do Mar e da Terra (1950), “Crónicas do Alto da Rocha do canto da Baía, Das Velas de Lona às Asas de Alumínio” Lisboa, Salamandra. (1991), Aquém e Além-Canal. Lisboa, Salamandra. (1993), A Viagem do Medo Maior. Lisboa, Salamandra. (1994), Memória das gentes 6 vols. (Livro I, três volumes). Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura. (1990), Na Memória das Gentes (Livros II e III, três volumes). Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura. (1992), Cidade cinzenta, Mar Rubro (1958), Pedras Negras (1964 Lisboa, Portugália (3.ª ed., Salamandra, 2003; trad. inglesa, 1988; trad. japonesa, 2005). 4ª ed. VerAçor 2008) , Mar pela Proa (1976 Lisboa, Prelo Editora (2.ª ed., Vega, 1986). (1979), Vinde e Vede. Lisboa, Editorial Ilhas. (1983), Vida Vivida em Terras de Baleeiros. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura. (1983, 1985), O Menino Deixou de Ser Menino. Lisboa, Salamandra. (1992), Pena Dela Saudades de Mim. Lisboa, Salamandra. (1996), Inverno sem primavera. Lisboa, Salamandra (2.ª ed., 1997).1999, Milhas Contadas. Lisboa, Salamandra. (2004), Poeira do Caminho. Porto, Campo das Letras. “Tempos últimos” , “O muro amarelo”, O Autógrafo. Lisboa, Salamandra. (2002), Poeira do Caminho (2005)

     

    DIAS DE MELO MAIO 2008 NO 9 COLÓQUIO DA LUSOFONIA

    Por isso escrevi

    Que Dias de Melo era um operário, agricultor, pescador, escultor que trabalhava, ceifava, pescava e esculpia a palavra como um baleeiro, pescador, marinheiro, mestre de lancha da Ilha do Pico. Escreveu como se da janela da sua “Cabana do Pai Tomás” no Alto da Rocha na Calheta de Nesquim, vigiasse os botes e as lanchas da Calheta, baleando contra os Vilas e os Ribeiras

     

    Sinto o sortilégio. O mágico cume tem um íman que atrai a visão e nos desconcentra, sempre insistindo para o contemplarmos nas suas mil e uma facetas alteradas a cada segundo.

     

    Satisfiz a curiosidade de visitar a casa de Dias de Melo. Nas viagens anteriores ainda não conhecia o autor. Ali, espartanamente vivera, numa casa pequena e humilde, ora telhada de novo mas com o desconforto da minúscula casa de banho exterior no piso térreo. Em cima, o autor dormia, comia e escrevia. Do pátio exterior avistava-se a imensa mancha de Mar Oceano ponteada pelo pequeno farol da Calheta de Nesquim que serviria de inspiração a tantos dos seus livros.

    Há cinco anos que não visitava a ilha mágica, o Pico magnético que me atrai e seduz.

    Um dos primeiros locais que quis revisitar foi a casa de José Dias de Melo no Alto da Rocha do Canto da Baía. Aí perdi as palavras, as silvas retomaram posse de terrenos em tempos bem tratados e cuidados, a portinhola de madeira, na entrada, estralhaçada com as ripas no chão. As pedras soltas do caminho de acesso à casa, o abandono total à espera de uma decadência que a casa não merecia por mais pobre humilde que sejam as suas origens e as do seu habitante mais celebrado e ora esquecido.

    Foi há apenas cinco dias que as palavras se me acabaram. Foram-se. Esgotadas. Caladas.

    Silentes como o breu da noite. Arrebatadas por alguma força alienígena que não entendo.

    Sempre disse que um povo que não respeita a sua história e os seus vultos acabará, mais cedo ou mais tarde, como povo e dele restará um punhado de notas para a História.

    Tentei saber o porquê do abandono, falaram-me de disputas entre herdeiros e editores.

    Não quis saber então, e muito menos quero agora. Há desculpas que a gente não engole. Até podem ser reais ou legais ou mesmo morais, mas nem por isso se tornam mais aceitáveis, palatáveis.

    Um dos mais ricos patrimónios, ainda mal explorado, dos Açores é a sua riqueza literária. Há anos que venho pugnando e propondo a autarquias e entidades várias, a criação de roteiros culturais locais, para se celebrar a memória de autores e de suas obras, os seus passos terrenos, os locais onde nasceram e viveram, onde escreveram, onde sofreram e sonharam. Os passos que davam nas suas caminhadas diárias, as paisagens que os inspirava, os sons e os cheiros que rodeavam o seu meio-ambiente.

     

    Fiquei imensamente triste, pensei que ia encontrar a casa aberta ao público, como espaço museológico, com um guia habilitado, a falar-nos das suas lutas, da sua escrita e vim a encontrar estas imagens que me compungem. Estas palavras que me abandonaram servem apenas para lançar um apelo pungente aos herdeiros do escritor para que honrem a sua memória e não deixem morrer a casa que bem serviria para contar as suas histórias de baleeiros.

     

    Há bens imateriais que se deviam sobrepor a quaisquer vantagens materiais desta propriedade a caminho da ruína. Sei que a memória do homem e da sua obra podem ser dignificados e acredito que o serão, para preservar este cantinho de um autor que soube sempre honrar o Pico natal. É este Pico que amo e quero ver enaltecido, em vez de entregue às silvas e ervas daninhas que nunca quebraram nem amedrontaram o escritor dos baleeiros.

     

    A contrastar a autarquia asfaltara o pequeno caminho de acesso, outrora irregular e em gravilha solta. Este o aspeto degradado a que deixaram chegar a casa a contrastar com aquele que tinha em 2009, um ano após a sua morte.

    2016 2009

    DIAS DE MELO MAIO 2008 NO 9 COLÓQUIO DA LUSOFONIA

    Da última vez que aqui estive na ilha em 2011, em pleno centro de São Miguel Arcanjo, ao andar rumo à casa do escritor Cristóvão de Aguiar deparei com uma camioneta de passageiros, estacionada, aguardando o início de nova semana de trabalho.

    Ali me ocorreu a ideia peregrina de como seria culturalmente interessante a aventura de “pedir emprestada” a carripana, começar a percorrer as aldeias (ditas freguesias nas ilhas) e gravar as histórias que os passageiros fossem contando.

    A viagem não teria destino.

    Duraria tanto quanto as histórias dos seus passageiros.

    Não se cobrariam bilhetes.

    Pararia em todos os locais, para que contassem histórias e lendas do local onde paravam.

    Que livro maravilhoso não daria esse compêndio de histórias apanhadas ao acaso daqueles que tomassem o autocarro dos sonhos.

    Assim me despedi da ilha prometendo voltar com mais tempo.

     

     

    Caderno 3 Dias De Melo C/ Glossário https://www.lusofonias.net/acorianidade/cadernos-acorianos-suplementos.html#

    Suplemento 3 Dias De Melo – https://www.lusofonias.net/acorianidade/cadernos-acorianos-suplementos.html#

     

    Vídeo Homenagem Dias De Melo https://www.lusofonias.net/documentos/video-homenagens-aicl/2671-homenagem-dias-de-melo-2009.html

  •  Amor de Vitorino Nemésio

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  • homenagem a Manuel Augusto de Amaral

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    Ontem, prestei a minha sincera e humilde homenagem a Manuel Augusto de Amaral, grande homem, professor e poeta da nossa ilha, com a presença de alguns dos seus familiares e de pessoas que me tocam o coração.
    Foi um momento bonito e emotivo, que me permitiu “estar” com este grande senhor, não só através da exposição, como pelas conversas que tive com quem lá esteve. Obrigada a todos pela presença e pelo que me fizeram sentir.
    E obrigada, mais uma vez, à Biblioteca Municipal Tomaz de Borba Vieira, nas pessoas da Teresa Viveiros e na Sra. Vereadora da Câmara Municipal de Lagoa, Albertina Oliveira, pelo desafio proposto, que me levou a um mundo de descobertas bonitas e cheias de emoção. Agradeço, também, a todos os funcionários desta Biblioteca, que estiveram presentes em vários momentos da exposição, desde o seu início, até ao dia de ontem (sem eles, esta também não seria possível).
    Não se esqueçam que a exposição estará patente até 18 de maio, para todos os que a queiram visitar.
    Deixo-vos, aqui, um bonito registo fotográfico do que foram os momentos de ontem, com fotos de Duarte Jorge Sousa.
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    Pedro Paulo Camara, Raquel André Machado and 87 others

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