Cartão Amarelo a Bolieiro

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Cartão Amarelo a Bolieiro
As eleições autárquicas de 2025 nos Açores foram um verdadeiro abanão no tabuleiro político regional. Em particular, em São Miguel, José Manuel Bolieiro sai claramente derrotado. A mensagem das urnas é inequívoca: a liderança regional do PSD, centrada na figura do presidente do Governo Regional, perdeu a ligação ao eleitorado micaelense. Os sinais estavam à vista há muito, mas preferiram ignorá-los. Agora, os votos falaram. E falaram alto.
Em Vila Franca do Campo, a derrota foi mais do que inesperada. A escolha da lista foi um erro estratégico, resultado de decisões tomadas num círculo demasiado fechado e desconectado da realidade local. A constituição da lista foi marcada por erros básicos e por uma arrogância política que os vilafranquenses souberam detetar de longe. O povo, sábio, antecipou que quem governa com sobranceria não serve para liderar um concelho que valoriza proximidade e humildade. O resultado foi uma derrota clara e merecida.
Na Lagoa, o descalabro foi total. A responsabilidade recai integralmente sobre José Manuel Bolieiro. A forma como tratou a anterior comissão política, afastando pessoas com experiência e trabalho feito, como António Vasco Viveiros, foi um erro político que agora cobra fatura pesada. Em vez de apostar na competência, optou por premiar a mediocridade com um candidato sem perfil, sem carisma, mal rodeado e sem condições mínimas. O resultado foi histórico, mas pelos piores motivos: o pior de sempre para o PSD na Lagoa, com quase metade dos votos de 2021 a evaporarem-se. Se alguém tivesse imaginado um cenário catastrófico, provavelmente não seria tão mau, mas, como a vida e a política tantas vezes provam, o fundo raramente é mesmo o fundo.
Na Ribeira Grande, a terra que deveria ser um coração social-democrata na ilha, esteve-se à beira de uma tragédia eleitoral. Contra uma candidata repetente, desgastada e sem simpatia popular, Jaime Vieira deveria ter vencido com folga. Em vez disso, viu a vitória confirmar-se por apenas 300 votos. A campanha foi desastrosa: mal planeada, mal executada e sem mensagem. Reduzida a fotografias de festas e bandeiras, sem uma narrativa política consistente. O amadorismo já não tem lugar na política moderna, e este será um caso de estudo sobre como não fazer. Aqui há responsabilidades partilhadas: foi uma solução imposta de cima, com o aval de Bolieiro e, assumindo as minhas próprias responsabilidades, também com o meu apoio, contra boa parte das bases. A perda de Rabo de Peixe, a maior freguesia dos Açores, é um sinal de alerta grave. As pessoas não são candidatas por herança. É preciso mérito, perfil e trabalho. O eleitorado deu um cartão vermelho a uma sucessão política feita à medida do partido, não das pessoas. Apesar de tudo, estou certo que Jaime Vieira e equipa estarão à altura de inverter a má imagem deixada neste breve período de campanha.
Em Ponta Delgada, o cenário foi de vitória amarga. O PSD mantém a autarquia, mas sem maioria absoluta e com forte dependência de terceiros. A exceção positiva foram as vitórias nos Arrifes, com o independente Miguel Sousa, e em Capelas, bastião socialista conquistado. Mas Pedro Nascimento Cabral enfrenta agora um desafio maior: falta-lhe um verdadeiro projeto político. A campanha foi fraca, sem ideias mobilizadoras, e demasiado dependente da máquina partidária. O fraco desempenho no meio urbano é um sinal claro de descontentamento com a governação e com a forma como o partido tem conduzido os destinos do concelho. Porém, Ironia das ironias, pagou um preço injusto por ter tido a coragem de fazer aquilo que Bolieiro e outros antes dele deixaram por fazer.
No cômputo geral, em São Miguel salva-se apenas a manutenção da câmara do Nordeste. Caso contrário, estaríamos perante uma derrota clara, ou pelo menos a confirmação de uma tendência na terra onde José Manuel Bolieiro construiu a sua base política. Os eleitores não quiseram castigar apenas candidatos, quiseram castigar um estilo de liderança e quiseram dizer que a arrogância política, a falta de escuta e a escolha de candidatos fracos têm consequências.
Os resultados de 2025 não são um acidente. São o resultado direto de decisões políticas erradas, de uma liderança autista e de um partido que se afastou das pessoas. A boa notícia é que há sempre tempo para mudar. A má é que, neste momento, poucos acreditam que José Manuel Bolieiro tenha essa capacidade. E nas urnas, quando o povo fala, é para ser ouvido.
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Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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