CARTA ABERTA AO PRESIDENTE VASCO

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Carta Aberta ao Presidente Vasco Cordeiro
Começo por uma manifestação de interesse. Tenho duas familiares muito próximas que são profissionais de saúde. Estão na linha da frente no combate ao covid-19.
Estamos numa verdadeira guerra. Não numa guerra clássica de canhões e misseis. Os nossos soldados não são os militares. Desta vez é diferente. Muito diferente. O nosso inimigo é invisível. É um maldito vírus – o covid-19.
Agora, o nosso exército são os profissionais de saúde, de bata branca, armados de máscaras, seringas, ventiladores e tubos de ensaio. O nosso exército é o Serviço Regional de Saúde (SRS).
Mas tal como uma guerra clássica, é preciso fazer tudo para que o inimigo – o vírus – não desembarque. Mas uma vez desembarcado, é necessário isolá-lo. Evitar a sua progressão e aniquilá-lo na origem.
Portanto, é urgente agir rápido. Cada hora conta. São precisas medidas concretas e precisas. Sem contradições e hesitações. Decisões coerentes e lógicas. Boa comunicação.
É preciso testar os limites da autonomia regional. Talvez seja necessário ir para além daqueles limites. Se for para tribunal, não se preocupe. Nós vamos consigo. Os Açoreanos vão consigo.
O nosso isolamento e dispersão geográfica é agora uma grande vantagem. Mas se as decisões forem atempadas e certas. Caso contrário será uma grande desvantagem, devido à nossa falta de recursos materiais e humanos.
Tome as decisões a pensar naquilo que podemos fazer. Não a contar com a ajuda de outros. Essa ajuda é incerta. Pode não acontecer na justa medidas das nossas necessidades. Já aconteceu no passado. Foram potências estrangeiras que vieram em nosso auxílio.
Utilize os nossos recursos com antecipação. Não é tempo de poupar. O orçamento tem dinheiro para aquilo que é mais necessário – salvar vida de Açoreanos. Se faltar dinheiro para o “fogotório” e obras de fachada, não se preocupe. Toda a gente vai perceber. Até lhe vão agradecer.
É mais do que tempo de investir no nosso exército. No nosso Serviço Regional de Saúde. Para enfrentar o covid19, tarda a tomada de medidas decisivas para dotar o maior e mais importante hospital – o de Ponta Delgada – dos recursos humanos e técnicos.
Mas só isso não basta. Não podemos desleixar e transferir para o Serviço Regional de Saúde a responsabilidade de nos salvar. Não é justo, nem ele está minimamente, repito, minimamente preparado para o efeito. O Serviço Regional de Saúde está mal equipado e envelhecido. Fruto de anos e anos de desinvestimento e suborçamentação. Ainda há tempo para tentar inverter algumas coisas. Mas o tempo está a esgotar-se.
Uma guerra é uma coisa demasiado importante para ser deixada só nas mãos dos generais, neste cado dos profissionais de saúde. A gestão deverá ser política. Assuma, portanto, a liderança. Afaste os irresponsáveis (e portanto incompetentes) do seu governo. Governe com acções, não com intenções.
Se fizer isso, estamos convencidos que irá salvar vidas, muitas vidas. Certamente, os Açoreanos vão ficar-lhe eternamente gratos.
João Quental Mota Vieira
Engenheiro e MBA
Artigo de opinião publicado no jornal Correio dos Açores, 17 de Março de 2020.