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É isso mesmo Carlos Ferreira .
A CRISE HABITACIONAL PORTUGUESA: DUAS CARAS DA MOEDA
Desde 1970 “… O núcleo original aglomerado das aldeias com casas juntinhas construídas com materiais autóctones degrada-se e erma-se, mas o seu perímetro alarga-se imenso e explode de casas novas dispersas, construídas em grande parte com materiais alóctones. …
… O Estado Português de Lisboa, com a conivência de Bruxelas, paulatinamente, além de ter feito de Portugal uma carreira junto ao mar, fez do interior um conjunto de áreas classificadas e reservas ambientais. Ao longo de vários séculos, concentrou a população, as atividades produtivas e as instituições do Estado, apenas nas cidades do litoral, mormente em Lisboa e Porto. Criou então um país a duas velocidades, porque se alheou da parte interior e concentrou os investimentos continuados apenas na faixa litoral. Fez ainda melhor: selou e perpetuou este modelo, porque numa democracia, quem não tem população não tem votos, nem voz. Quem não tem votos nem voz, não interfere nos resultados eleitorais, nem influencia a definição das políticas públicas de investimento e desenvolvimento. Por outro lado, o novo modelo de povoamento urbano, mostra cada vez mais, os seus longos dentes de sabre, que são as suas imensas externalidades marginais negativas (poluição, acessibilidades, abastecimentos, excluídos, crise energética, tremenda crise habitacional), que, a todo o custo é obrigatório acudir, por aí viverem todos os eleitores. Lisboa e Porto e respetivas áreas metropolitanas viram o seu parque habitacional escassear a cada dia e as suas casas triplicarem de preço, enquanto o país vazio, o país interior das aldeias, se atulha de casas vazias, que de dia para dia, vêm os preços reduzidos a nada. Em três décadas as aldeias foram totalmente roubadas e espoliadas do seu valor patrimonial construído. As várias opções têm sempre as suas consequências e os seus revezes.”
Carlos Ferreira 2022 in Aldeias: nascimento vida e morte.
Aguarela de Manuel Ferreira