carlos faria um mundo perigoso

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Meu artigo de opinião, de periodicidade quinzenal, publicado ontem no diário da Horta: Incentivo.
2021 A MOSTRAR UM MUNDO PERIGOSO
Os primeiros sinais significativos nascidos já em 2021 apontam que o novo ano não se libertou dos males de 2020, antes pelo contrário, mostram como este mundo está mesmo muito perigoso.
A invasão do edifício do Capitólio em Washington, a sede dos parlamentos dos eleitos pelo Povo norteamericano e por isso a casa da democracia do País, por gente que não aceita os resultados eleitorais para a presidência mostra quanto a democracia pode ruir por ódios e irracionalidades de membros do povo motivados por influentes sem pudor que vendem falsidades como verdades.
A maior virtude da democracia é a liberdade de em sociedade se agir e pensar em cooperação e diálogo, o que permite estabelecer estratégias e optar por modelos ideológicos na sequência de discussões amadurecidas que podem ser depois postos à escolha dos cidadãos para definir o estilo de governação maioritário sob a fiscalização de quem opina de forma diferente.
Infelizmente, amadurecer a discussão só é possível com saber e formação cívica. Caso contrário, apodrece através da desinformação e a mentira que esconde e camufla a verdade com ódios populistas falsos. Há anos que o ocidente passou a confundir liberdade individual e ideias com a expansão de egoismos primários e valorização da ignorância: o que mata qualquer diálogo profíquo que suporte a democracia. Agora, em nome dessa confusão, o outro que pensa diferente é logo rotulado de inimigo da sociedade justa e de antidemocrata e quem procurar consenso entre as partes é desprezado por não integrar um dos rebanhos que se digladiam irracionalmente.
Ao ver esta gente extremada parece-me que todos se deixaram de se importar com a liberdade, talvez por esta estar transformada numa exposição de egoísmos, e passaram a defender que o seu modelo de ditadura é mais justo que o do outro extremo. Só isto explica que após uns meses na sequência do vandalismo em ruas norteamericanas houve gente a criticar e outros a justificar a violência de então, e agora, com a agressão à casa da democracia apenas vi a troca de posições: muitos dos críticos de então passaram a justificadores e vice-versa. Tenho de reconhecer que este comportamento irracional foi muito impulsionado por oportunismo dos político e diálogos primários em redes sociais, por isso grandes populistas de hoje têm os seus faróis no facebook, twitter e outras redes do género para semear condutas extremistas na sociedade. Aí estão os frutos.
O pior é que não é preciso olhar para os Estados Unidos para se perceber que a democracia ocidental está doente. O egoísmo individual transfigurado em liberdade que se impõe ao bem coletivo é um mal que atravessa toda a Europa e deu um contributo muito importante no descontrolo da pandemia COVID-19. Mais responsabilidade individual e respeito pelo outro teria evitado uma aceleração tão acentuada da propagação do vírus que a provoca.
Todos nós temos uma dose de egoísmo e de respeito pelo outro misturada, mas quando o primeiro se normaliza e se confunde com liberdade é muito difícil estabelecer um equilíbrio aceitável onde os pecadilhos individuais se limitariam ao aceitável. No último verão bem se viu a defesa de direitos de liberdade individuais acima de constrangimentos por interesse coletivo. Uma sociedade onde se confunde egoísmo individual com liberdade e depois considera esta um valor acima do risco de vida do outro abre a porta a abusos e não favorece uma conduta que leve ao bom-senso.
Os Governos dos Açores e de Lisboa e certas entidades defensoras da liberdade (ainda bem que estas existem), ainda não foram capazes de perceber como muitos valores hoje estão adulterados e daí o descontrolo da pandemia em São Miguel, na Madeira, no Continente e Ocidente. Os Estados Unidos têm sido farol da democracia, mas não viram o cancro do egoísmo e de interesses de grupo a ocupar o espaço da liberdade. O preço destes erros pode-nos sair muito caro e minar o qualidade de vida e a liberdade futura a que muitos Povos se habituaram. Espero que o Ocidente ainda vá a tempo de se corrigir. Caso contrário, à crise climática global, assistiremos também a crise global da democracia e 2021 não está a dar bons sinais nesta última matéria.
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Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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