carlos faria TENSÕES EXCESSIVAS E CONTRAINFORMAÇÃO

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Meu artigo de opinião quinzenal publicado hoje no diário da Horta: “Incentivo”
TENSÕES EXCESSIVAS E CONTRAINFORMAÇÃO
A apresentação do programa do novo Governo dos Açores resultou num conjunto de notícias maiores como a denúncia de ilegalidades nos apoios financeiros à SATA, a existência de grandes défices no Sistema Regional de Saúde e a extinção de empresas públicas regionais e da central de informação e propaganda política em que se tornara o GACS. Talvez outras comunicações feitas no Parlamento dos Açores tenham sido mais importantes que estas geradores de acusações e críticas duras entre o novo executivo e seus apoiantes e os que foram arrebatados do Governo, contudo, foram os temas replicados na comunicação social ávida de tensões para cativar público.
Não estranhei a tensão, mas preferia que o atual Governo dos Açores tivesse sido capaz de despertar mais interesse por aspetos afirmativos do seu programa para o futuro do Arquipélago do que as acusações aos seus antecessores sobre problemas herdados que já se percebia estarem camuflados.
Em minha opinião, atirar pedras aos antigos moradores despejados de uma casa alvo de uma derrocada recente e inesperada a partir dos novos inquilinos que ainda não a consolidaram nem estão colados por laços familiares fortes e coerentes não fortalece a cooperação entre as partes e muito menos desperta confiança nos Açorianos que seguem esta mudança com atenção e a interpretar os sinais da Assembleia que agora é o espaço mais vigiado dos Açores. O ambiente crispado e sem cautelas potencia o envenenamento público a novas medidas e reformas necessárias.
Sendo a SATA uma empresa estratégica para os Açores, tanto para os objetivos de uma região una, como para a afirmação da Autonomia, mesmo suspeitando-se do muito mal que estava escondido, alguma prudência na divulgação desse oculto é necessária para não deitar fora a água suja do banho com a bebé que se quer cuidar.
Na saúde era evidente o caos, mas sabe-se quão deficitário será sempre este serviço público. Reorganizar é preciso, aproveitando todas as possibilidades disponíveis no terreno e sem complexos ideológicos que ora dificultam a cooperação público-privado, ora tendem a que estes últimos sujeitem o primeiro à ganância de alguns dos segundos, por isso, o essencial é o equilíbrio ao racionalizar a maximização da qualidade e quantidade da prestação destes cuidados aos Açorianos.
Sabemos que muitas empresas públicas foram feitas para os Executivos agilizarem práticas úteis, outras interesseiras e algumas mesmo a concorrer com os privados, mas sem se sujeitar tanto às obrigações de transparência exigidas à administração pública. Antes da troika estas empresas multiplicaram-se ao nível nacional, regional e autárquico. Depois, a fusão e extinção tem sido progressiva nas várias frentes. No Faial, vimos todos os serviços continuarem com a fusão municipal da Hortaludus na UrbHorta sem despedimentos, no regional acabou a SPRHI sem quadros a perder emprego mas a justiça a acusar a sua gestão de métodos menos claros ainda não julgados. Agora anunciou-se o fim da Azorina, os seus funcionários vão para a administração regional e as suas tarefas úteis serão assumidas por uma Direção Regional com regras mais exigentes de transparência no controlo dos dinheiros públicos e das contratações.
Já o fim do GACS merece outra reflexão. Este produzia notícias em série que inundavam os meios de comunicação social das ações do Governo elaboradas nos termos e a gosto deste e de forma propagandística, atravessando-se no livre trabalho de criação e investigação do jornalista e deixando asfixiados os pequenos órgãos de comunicação que se querem independentes e isentos. O GACS parecia uma estrutura típica de uma democracia doente, musculada pelo executivo que abusava de dinheiro público para propaganda em massa e indiretamente estrangulava a liberdade de informação. Todavia, há que reconhecer que o mal não estava nos jornalistas que ali trabalhavam, estes cumpriam ordens e precisavam do emprego. Espero que os seus quadros sejam integrados na Administração Regional, contudo, esta extinção gera um vazio que pode ser ocupado pelo jornalismo sério, mas também ser aproveitado pelo poder desinstalado com a sua experiência em manipular se anichar e criar uma rede de contrainformação tendenciosa que o atual Governo dos Açores novato não seja capaz de desmontar, com todos os perigos que daí podem resultar.
Nesta época de natal, com tensões extremadas, desejo a todos os leitores desta coluna e à redação do Incentivo votos de um Feliz Natal.
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