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NÃO RECUSE UM CONSELHO AMIGÁVEL
A perda de rendimentos com o lay off levou-me a inventar uns biscates. Arrumador de carros foi chão que deu uvas; fingir de ceguinho já não amolece o coração de ninguém.
Decidi ser útil à sociedade. Comprei um aparelho de medir a febre na testa, umas luvas sofisticadas, uma máscara com um sorriso pendente, um boné que me confundisse com um respeitável agente de saúde e uma t-shirt com uma frase apaziguadora: – NÃO RECUSE UM CONSELHO AMIGÁVEL.
Fui até às praias do Estoril. Cumprimentei as tias, dei-lhes a mão na descida dos degraus, aconselhei-as a manter as distâncias, até ganhar confiança. Ao fim do terceiro dia, já me cumprimentavam com familiaridade. Decidi então passar ao ataque, botando um discurso científico:
– A madame já ouviu falar do efeito positivo dos raios ultravioletas no combate aos efeitos nocivos do COVID19?
– Pois já. Sabe que ainda ontem aconselhei a minha amiga Kikas a plantar mais violetas no jardim, à volta da piscina, para purificar o ambiente …
– Boa opção. Se me permitir vou então dar-lhe os últimos conselhos da DGS para que se proteja. Deite-se e vai ter que afastar os braços do corpo num ângulo de 70 graus. Isso mesmo. Agora vai ter que afastar as pernas com uma distância entre os joelhos de 50 cm. Com sua licença…
Agarrei delicadamente os tornozelos e fui afastando as pernas da Pitucha, que se ria com as cócegas que dizia sentir. No meio de gritinhos estridentes, abria as pernas suavemente sem qualquer constrangimento.
No dia seguinte, Pitucha,Kikas, Lili e sei lá quem mais, todas queriam a ajuda do simpático enfermeiro da Cruz Vermelha, com retribuições pecuniárias bem chorudas.
Perante o sucesso, decidi ir até à praia de nudistas, na Caparica. Se daqui a dois dias não der notícias nesta página, ou estarei no céu ou a ser assistido no Instituto de Socorros a Náufragos.
Cuidem-se e mantenham as distâncias entre os joelhos…