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Caldeirão à Pêro Botelho
Quem visitar por estes dias a famosa Caldeira de Pêro Botelho, no magnífico Vale das Furnas, verá que ela faz muito barulho, mas está seca.
O caldeirão em que José Manuel Bolieiro se meteu vai ser um pouco semelhante, com muito barulho mas, a dar sumo, nunca será de laranja puro.
É tal a variedade do caderno de encargos, que há uma certeza mais do que previsível: a lista de compromissos acordada entre os cinco partidos é impossível de cumprir numa só legislatura.
Basta ler as medidas impostas pela Iniciativa Liberal, num compromisso de 10 capítulos, mas se lerem bem estão lá mais de 30 medidas, todas para executar nesta legislatura.
Apesar de tudo, o IL foi o único que, até agora, mostrou maior transparência política e negocial, ao divulgar publicamente o acordo que estabeleceu com o PSD.
E aqui a coligação já começou mal.
A partir do momento em que os três partidos se uniram para formar governo o compromisso soberano passa a ser com todos os açorianos e não apenas entre si.
Por isso, têm que dar conta aos açorianos que tipo de acordo é que firmaram e que outros compromissos assumiram com o Chega e o IL.
Se Bolieiro quer um novo paradigma de “clareza e transparência” tem que dar o exemplo, divulgando publicamente todos os acordos escritos que apresentou ao Representante da República.
O eleitorado tem esse direito e a coligação o dever de ser claro com todos.
O PS tem razão ao apontar esta falha, mas não tem autoridade para reclamar.
Foi o seu governo que, ainda durante o último mandato, escondeu aos açorianos compromissos fundamentais que envolvem todos os contribuintes, como foi o caso da exposição enviada a Bruxelas relativamente à SATA e o respectivo plano de reestruturação.
Outro exemplo recente é o que o governo do PS está a fazer desde Junho, em que esconde a situação das listas de espera para cirurgias, apesar da sua obrigatoriedade por decreto regional… aprovado pelo próprio PS.
A penosa conferência de imprensa de Vasco Cordeiro, esta semana, é mais uma prova de que o PS ainda não percebeu o que se passou no dia 25 de Outubro.
Em vez de explicar a todos nós, açorianos, qual a estratégia que vai adoptar enquanto maior partido da oposição, se vai ou não assumir a liderança da sua bancada, Vasco Cordeiro agarrou-se a um mero formalismo para desancar no Representante da República, criando um ruído inconsequente e com a mesma postura altaneira da noite eleitoral.
O PS está mesmo a precisar de uma cura de oposição, a mesma que ajudou o PSD a curar muitas doenças nestas duas décadas, até perceber que a humildade é uma característica muito valorizada pelo eleitorado.
Os socialistas devem recolher-se à reflexão interna, analisar com espírito crítico (coisa que não têm há duas décadas) os inúmeros erros que cometeram e deixarem-se de atitudes pouco dignas, como a de virar o emblema do PSD ao contrário e acusá-lo de se “ajoelhar ao diabo”.
O desespero não é bom conselheiro e nós, açorianos, precisamos de um PS forte, revigorado e vigilante no escrutínio que irá fazer enquanto oposição.
O PS sabe, pela experiência política que tem, que uma boa oposição, recheada de credibilidade e humildade, é meio caminho andado para alcançar novamente a governação.
Já basta o outro enorme caldeirão de problemas que os últimos governos nos deixam como herança.
Um deles vai ter consequências, por muitas gerações, na nossa sociedade, que é a enorme galáxia de funcionários públicos que se criou na administração regional, tornando esta região num arquipélago improdutivo e altamente dependente do orçamento regional.
Da população empregada que tínhamos no final do terceiro trimestre deste ano (115.599 pessoas, menos 0,7% do que no período homólogo), todos os sectores produtivos perderam empregos, excepto – claro! – a administração pública, que continua a engrossar as fileiras.
Mais grave: a julgar pelas notícias que vamos lendo por estes dias, a voragem não pára, mesmo com o governo em mera gestão.
Como se explica este impulso repentino de recrutar mais de centena e meia de funcionários públicos nos últimos dias, para secretarias regionais e empresas públicas?
São abusos como estes que castigaram o PS nas urnas.
Vejamos a comparação do número de empregados neste terceiro trimestre, comparado com o trimestre homólogo: o comércio perdeu 2,3% dos empregados, os transportes perderam 3,7%, o alojamento e restauração perderam 14,6% dos empregados, as actividades administrativas e dos serviços de apoio perderam 22,6%, a educação perdeu 1,6%, a agricultura e pescas perderam 13,8% dos empregados, a indústria e construção 6,4%, as indústrias transformadoras 8,3%…
E agora veja-se a administração pública: aumentou 4,4%!
Como é que esta região há-de criar riqueza e empregos?
É como digo: estamos todos metidos num enorme caldeirão e é num clima de grande interrogação que todos vamos assistir à nova governação, na expectativa de conseguirmos avistar uma luz ao fundo da gruta, igual àquela que existe na ilha Graciosa e que também se chama Caldeirinha de Pêro Botelho.
Ah! com a curiosidade (relevante para o Dr. Bolieiro) de também ser conhecida como… Algar dos Diabretes.
Novembro 2020
Osvaldo Cabral
(Diário dos Açores, Diário Insular, Multimédia RTP-A, Portuguese Times EUA, LusoPresse Montreal)
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