BREVE RESENHA BIOGRÁFICA DO “COMANDO” CHINO PORTUGUÊS: CORONEL CHUNG SU SING

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BREVE RESENHA BIOGRÁFICA DO “COMANDO” CHINO PORTUGUÊS: CORONEL CHUNG SU SING
Entre os vários mitos criados e propalados pelo Estado Novo, existe um, em concreto, que procurou, desde logo, demonstrar a singularidade da criação e justificação da existência de um império ultramarino: a ideia de que Portugal seria multirracial e pluricontinental. Não querendo alimentar controvérsias ideológicas, é inquestionável que na composição das Forças Armadas Portuguesas que operaram nos vários teatros de operações durante a Guerra Colonial (1961-1974), existiu uma forte componente multirracial na sua composição, na medida que foram enquadrados nas suas fileiras, milhares de homens nativos das várias possessões ultramarinas africanas, fenómeno esse, denominado como “africanização da guerra”.
São sobejamente conhecidos e celebrizados os “Comandos Africanos”, apesar de ser menos conhecido os feitos e o papel desempenhado pelos africanos engajados em outras unidades, ditas de “não elite”, no “esforço de guerra”. São também conhecidos vários africanos que se destacaram pelos seus feitos em campanha, justificando as condecorações recebidas, bem como a ascensão na hierarquia militar portuguesa através de promoções. Contudo, neste breve texto, procuro resgatar a história de um militar chino português que se distingui na guerra em África e na fundação dos Grupo de Operações Especiais da PSP, comummente designado e conhecido pela sua abreviatura, GOE.
O ponto de partida que “alimentou” este interesse, foi uma enigmática foto publicada em livro sobre a História dos Comandos, e que neste post reproduzo. Na descrição da mesma,, só constava o nome do militar, sem outro elemento informativo adicional relevante. A partir do nome, procurei, através de uma pesquisa nos fóruns de ex combatentes, ou naqueles que versavam sobre assuntos ligados à memorialística das campanhas africanas, revistas digitais das Associação de Comandos, Diários da República, bem como livro sobre a História dos serviços secretos militares portugueses, recolher e sistematizar, até onde foi possível apurar, os dados sobre a carreira deste ilustre militar, que, até então, me era desconhecida.
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Assim, sabemos que Chung Su Sing nasceu em Timor-Leste, filho de pais macaenses. A primeira referência relativa à sua carreira militar, remonta ao posto de Alferes graduado em tenente, com antiguidade de 1 de novembro de 1959, em que desempenhou, em 1965, as funções de instrutor na EPI (Escola Prática de Infantaria – Mafra) .
Como Tenente, com antiguidade de 1 de dezembro de 1961, comandou uma das mais famosas Companhias de Comandos (CCmds), a 6º Companhia de Comandos, estacionada na Fazenda Margarida, tendo entrado na Operação Nova Luz, nos Dembos, norte de Angola.
De janeiro a março de 1968, foi instrutor da II fase do Curso de Oficiais Milicianos na CIC – Luanda (Centro de Instrução de Comandos)
A sua excepcional coragem e capacidade de comando de homens em combate, valeu-lhe, já no posto de Capitão, com antiguidade de 1 de dezembro de 1961, a condecoração com a Cruz de Guerra de 2º Classe.
O prestígio e respeito granjeado no seio da “família militar”, alimentaram várias histórias sobre o seu passado, enquanto combatente, em particular, aquela que dá conta de que quando estava “debaixo de fogo” durante uma emboscada inimiga, era capaz de descarregar um carregador de G3, enquanto saltava de um Mercedes-Benz Unimog até chegar ao chão.
De 1975 a 1981, já colocado no Regimento de Comandos – Amadora, ainda no posto de Capitão, foi Comandante da 1º CI e, quando promovido a Major, com antiguidade de 1 de junho de 1972, foi chefe de segurança da unidade e comandante de Batalhão.
Em 1981, foi assessor do Gabinete do Secretário-Adjunto para a Segurança e Gabinete do Governador em Macau.
Em 1982 foi para os GOE/PSP, sendo um dos fundadores desta subunidade especializada na intervenção tática em situações de terrorismo e criminalidade, especialmente a violenta. Aliás, importa referir, que os primeiros elementos desta força, eram na sua quase generalidade, constituida por Comandos e Parás, porque eram, à época, os únicos homens com competência e experiência técnica especifica em guerra não convencional.
Fernando Cavaleiro Ângelo, no seu livro intitulado: «DINFO: A queda do último serviço secreto militar», dá-nos conta que Chung Su Sing, já com o posto de Tenente Coronel, com antiguidade de 1 de janeiro de 1979, teve um encontro com a resistência timorense em Lisboa, indício claro da sua colaboração com os seus compatriotas na guerra de guerrilha contra o jugo indonésio.
A última referência que se encontra sobre a sua carreira, enquanto militar no ativo, é o facto de ter sido promovido a Coronel, com a antiguidade de 31 de dezembro de 1984, ficando a 27 de julho de 1990 desligado da efetividade do serviço, passando à situação de reforma em 31 de dezembro de 1995.
Mesmo fora do ativo, mantém a ligação aos Comandos, exercendo em 1994 o cargo de Vice-presidente da Direção Nacional da Associação de Comandos.
Entre 2015 a 2017, foi Membro do Conselho Superior da Liga Multissecular Amizade de Portugal-China. Infelizmente, a partir de 2017, não foi possível apurar mais nenhuma informação sobre a sua atividade em termos profissionais ou cívicos.
Eduardo Simões
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  • Eduardo Simões

    Fotografia mais recente do Coronel Chung Su Sing, capturada a partir da sua “pegada digital”
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  • Eduardo Simões

    Recorte de fotografia postada na página do Facebook “Regimento de Comandos da Amadora”
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Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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