Bolsonaro decretou guerra aos EUA

Views: 0

Inominável
[Álvaro Gribel – voz e violão]
0:00 / 1:41
Artur Arêde and 3 others
1 comment
3 shares
Like

 

Comment
Share
Comments
  • «Bolsonaro declarou guerra aos Estados Unidos. Os americanos fizeram as contas e concluíram que ela levaria cinco segundos, talvez menos.
    (….)
    Não sei se sabem, mas há duas semanas o Brasil declarou guerra aos Estados Unidos. E, se não sabem, isso não constitui desdouro, porque nós, brasileiros, também só ficámos sabendo pela televisão.
    Na verdade, foi só uma declaração individual de guerra por nosso demente presidente Jair Bolsonaro. Inconformado com a vitória de Joe Biden sobre seu herói e fixação sexual Donald Trump nas eleições à presidência do país até então amigo, ele ressuscitou uma frase de Biden sobre a Amazónia para mostrar que, com ele, Bolsonaro, os americanos que pensassem duas vezes antes de vir se meter nos nossos negócios.
    Biden dissera que, se o Brasil não parasse de incendiar a Amazónia, sofreria sanções económicas. Bolsonaro esbravejou que ameaças verbais como aquela eram simples gasto de saliva – o que ele queria ver era a pólvora.
    Ao ouvir isto pelo noticiário, nós, paisanos, perfilamo-nos imediatamente, batemos os calcanhares e nos preparamos para marchar assim que viesse a convocação. Como desde a Segunda Guerra, há 80 anos o Brasil não vive um conflito internacional, nossos arcabuzes, bestas e mosquetões devem estar meio enferrujados, mas o que se há de fazer se a pátria exige? Veja os nossos próprios generais. Apesar de desfilarem nas datas cívicas com o peito ornado de fitas e chapinhas, nenhum deles comandou nada mais importante que uma mesa. E, se eles estavam dispostos a ir para a frente de batalha – afinal, seu comandante supremo Jair Bolsonaro assim ordenara -, o que nos restava fazer senão encher nossos cantis e segui-los?
    Bolsonaro é assim mesmo, impulsivo. Diz as coisas mais absurdas sabendo que, no Brasil, nada tem consequência. Nossos amigos portugueses, que têm mais a fazer do que acompanhar a comédia brasileira, ignoram que não se passa um dia em que Bolsonaro não agrida a gramática, o bom senso, as instituições, a educação, a cultura, a saúde, os direitos humanos e a própria vida. E, por incrível que pareça, isso não é tudo – sua principal vítima é a verdade. Bolsonaro está promovendo a mentira à condição de arte, e essa declaração de guerra foi das mais elaboradas.
    (…)
    Mas Bolsonaro tem suas razões para se meter a valente. Antes de ser o pior presidente dos 131 anos da República brasileira, ele passou 30 anos como um deputado de quem nunca se ouviu um pio na Câmara dos Representantes, exceto para engordar seu património imobiliário e o de sua família. E, antes disso, Bolsonaro teve uma medíocre carreira militar, da qual foi exonerado a bem do serviço como tenente e, ao devolver a farda, promovido burocraticamente a capitão.
    Ou seja, embora se diga ex-capitão, não foi capitão nem por um minuto. E como no ativo deve ter levado inúmeros carões por alguma corneta que tocou errado ou cavalo que deixou de lavar, vinga-se dos atuais generais nomeando-os ministros e, em seguida, desautorizando-os, demitindo-os, humilhando-os, reduzindo-os a recrutas e obrigando-os a engolir as ofensas que ele lhes dispara.
    Os analistas já estão atentos a isso. Temos na presidência um cabeça-de-papel que declara guerras e dá ordens de marcha-soldado a homens que trocaram o mandar por obedecer – e logo a quem.»
    [Ruiy Castro, “Diário de Notícias”, 21/11]
    O valente demente
    DN.PT
    O valente demente