BATALHA DAS FLORES NOS AÇORES TEÓFILO BRAGA

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Batalhas de flores, limas ou plásticos?

Nos últimos anos, parece-nos que tem crescido a oposição à denominada Batalha das Limas que na verdade é uma Batalha de Plásticos. Este ano houve mesmo uma associação de proteção do ambiente e um partido político que manifestaram a sua oposição à sua realização, sobretudo devido à utilização de sacos de plástico.

Nas redes sociais, as opiniões dividem-se entre os que apresentam como principal argumento a proteção do ambiente, onde incluem o desperdício de água e o uso dos plásticos e os que apresentam como grande argumento, e talvez único, o da tradição.

Neste texto, não vou esgrimir argumentos a favor ou contra a referida batalha. Vou limitar-me a provar, com alguns exemplos, que estão errados aqueles que defendem a batalha das limas, em detrimento das de flores, argumentando que apenas terá existido uma batalha de flores.

Em 1915, realizou-se uma Batalha de Flores, promovida pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, no Domingo Gordo, 14 de fevereiro, pelas 12 horas, no Largo 5 de Outubro (Campo de São Francisco). A referida batalha, para além do divertimento das pessoas, apresentava fins humanitários, neste caso as receitas obtidas foram distribuídas pela Cruz Vermelha e pela Federação Operária.

De entre os carros presentes, destacaram-se um alusivo à conflagração europeia e outro da Federação Operária “alusivo à crise que, segundo consta, é também interessante, embora menos jocoso, visto a alusão não se prestar, pelo seu simbolismo, à charge carnavalesca”.

Não sabemos se chegou a haver Batalha de Flores em 1918, pois de acordo com os jornais da altura, a dois dias do Carnaval ainda não se falava na tradicional batalha que se realizava anualmente.

O jornal “Diário dos Açores” sugeriu que naquele ano as receitas da batalha revertessem para a “Cruz Vermelha Portuguesa e Comissão Suíça para os soldados portugueses prisioneiros dos alemães…”

O Açoriano Oriental, estranhando a falta de notícias defendeu o seguinte: “Agora mais do que nunca se impunha uma confraternização com os nossos benquistos hóspedes americanos, que presentemente guardam a nossa ilha…”.

O mesmo jornal que reprovava “os folguedos carnavalescos pelas ruas”, apoiava uma “Batalha de Flores, decente e sem mascaradas, assim como os bailes nos teatros e festas de flores, porque serão festas civilizadoras e altruístas”. O que escreveriam os redatores do referido jornal se assistissem à atual batalha de plásticos?

Em 1920, coube aos alunos do liceu a organização de “batalhas de flores”, na Praça 5 de Outubro. Sobre as mesmas o Diário dos Açores publicou uma nota onde a dado passo pode ler-se: “São dois dias de folia carnavalesca e a ninguém ficará mal divertir-se um bocado, quer tomando parte direta nas batalhas, quer vendo os seus efeitos sobre os combatentes, ao longe.”

Em 1950, no domingo, 19 de fevereiro, cerca de 10 mil pessoas assistiram à Batalha de Flores que se realizou, uma vez mais, na Praça 5 de Outubro, em Ponta Delgada.

No ano referido, o cortejo abriu com a Filarmónica Rival das Musas a que se seguiram carros representando várias empresas da ilha, como a fábrica de Tabaco Micaelense, os “adubos Labor”, a casa de modas Eliela, a empresa Azevedo e Ca. Sucrs., a Fábrica de Tabaco da Maia e a Casa Africana. A presença de danças de cadarços também foi muito bem acolhida pelos assistentes não só devido ao colorido das suas roupas, mas também pelas suas músicas e cantigas populares.

No mesmo ano, na terça-feira, dia de Carnaval, o Governador Civil do Distrito entregou prémios. Para além de taças aos carros que se distinguiram, foram entregues prémios pecuniários às danças dos cadarços, a que se seguiu um desfile dos premiados pelas ruas da cidade de Ponta Delgada.

Tal como era tradição, as receitas da Batalha reverteram para uma instituição, neste caso o Albergue Distrital.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32071, 4 de março de 2020, p.17)
Imagem: Instituto Cultural de Ponta Delgada -PT/ICPD/CFD.01505

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Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
Esta entrada foi publicada em AICL Lusofonia Chrys Nini diversos. ligação permanente.

One Response to BATALHA DAS FLORES NOS AÇORES TEÓFILO BRAGA

  1. Ana Franco diz:

    Acho que se devem manter a batalha de flores . É um dia por diversão
    Gasta-se tanto ao longo do ano,umas horas de diversão, entre todos os que querem participar só faz bem
    A batalha de limas também é uma opção. A preparação é já um divertimento entre Amigos e GASTA MUITO POUCA ÁGUA .CADA “LIMA” LEVA MUITO POUCO ÁGUA.LIMPAR É NECESSARIO SEMPRE.
    Ao fazer as limas e batalhar é conviver sem estar agarrado ao tlm ou ao computador!Algumas famílias, a nivel particular mantinham batalha de flores.
    Nos ultimos anos,alguns “brutos” comecaram a fazer limas grossas e paralelamente a usar camiões com seringas e bidoes.
    Mantenham a tradição mas com vigilância e multas .

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