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Despedimento coletivo e falências ameaçam sector da aviação
Com os aviões em terra, cada vez há mais pedidos de ajuda a chegar ao Governo. Depois da TAP, segue-se a Groundforce
Oito meses depois de a pandemia ter obrigado as companhias áreas a colocar os aviões em terra, multiplicam-se as evidências de que o sector da aviação, e todo o ecossistema à sua volta, definha. Há em Portugal empresas a equacionar avançar para o despedimento coletivo. Acumulam-se as dívidas, num cenário em que as receitas caem a pique e a retoma vai sendo adiada a cada mês que passa.
A Ryanair e a Groundlink já começaram a escrever aos trabalhadores que têm em Portugal colocando a hipótese de despedimento coletivo em cima da mesa. A empresa de assistência em terra (handling) Portway, sabe o Expresso, aponta para esse cenário num horizonte próximo. A Portway, controlada pela ANA, não tem estado a renovar os contratos a prazo e já saíram da empresa 500 trabalhadores desde que a crise pandémica começou. Há poucos meses, a Lauak Setúbal, fábrica de peças para a indústria aeronáutica, avançou com o despedimento coletivo de 197 trabalhadores. Com a atividade reduzida em muitos casos a um terço, restam poucas alternativas.
Somam-se os números de novos desempregados: a TAP também não está a renovar os contratos a prazo — já saíram mil trabalhadores, número que subirá para 1600 até ao final do ano. Só nos tripulantes de cabina serão afetados mil trabalhadores e 500 já foram dispensados. O SITAVA (Sindicato dos Trabalhadores e Aviação) estima que entre os trabalhadores de terra tenham sido rescindidos contratos com 350 a 400 pessoas, e a maioria delas dos call centers. É aqui que há mais trabalhadores precários. São os cortes cegos numa área que é o rosto da TAP e que tem sido uma daquelas onde há mais queixas. A Groundforce conseguiu renovar o contrato a 76 trabalhadores, mas teve de rescindir com 285, perante uma quebra de €72 milhões da faturação até setembro.
ANA TAMBÉM NÃO ESCAPA
A pressão é gigantesca, as receitas não param de cair. A TAP está a perder mensalmente uma média de €60 milhões, um valor que tenderá a crescer no inverno. As dívidas em todo o sector acumulam-se. Há clientes, inclusive grandes empresas, a atrasar ou a suspender os pagamentos à ANA, a concessionária dos aeroportos, sabe o Expresso. A francesa Vinci, dona da ANA, está preocupada com a situação e tem estado muito empenhada em reduzir os custos ao mínimo. Nessa senda, mantém fechado o terminal 2, situação que deverá prolongar-se até 2021. “A ANA perdeu cerca de dois terços do seu tráfego, sendo essa redução ampliada pela redução das taxas decorrente do modelo regulatório. Em 2020, as taxas de aterragem serão reduzidas em 70%, de julho a dezembro”, esclarece fonte oficial. A ANA garante, contudo, que manterá os investimentos previstos.
A empresa, outrora uma máquina de fazer dinheiro, não é um caso isolado. Esta semana, o Conselho Internacional dos Aeroportos veio alertar para a possibilidade de 193 aeroportos europeus poderem vir a ficar insolventes se as limitações para voar se mantiverem.
A travagem a fundo no número de voos — a atividade aeroportuária caiu 70% em setembro deste ano face ao mesmo período de 2019 — está a deixar muitas empresas sem alternativa. Além dos voos terem caído abruptamente, os aviões voam com a lotação, por vezes, a menos de metade.
CEM MIL EMPREGOS SOB PRESSÃO
Um estudo da McKinsey de 2018 estimava que a TAP fosse responsável indiretamente por 100 mil postos de trabalho e interagisse com 1300 fornecedores, uma longa cadeia de dependências.
Com a retoma a ser empurrada para 2024, há pedidos de ajuda a chegar ao Governo. António Costa não quer avançar com ajudas sectoriais. Uma das empresas que bateu à porta das Finanças foi a Groundforce, que pediu €30 milhões. Ao Expresso, as Finanças esclarecem que estão “em análise alternativas de recurso a instrumentos específicos no contexto dos apoios covid” para a Groundforce, que emprega 2400 pessoas.
Nunca a crise foi tão grande num sector preso pelo receio de voar e condicionado pela incerteza e por imprevisíveis decisões políticas.
CORTES
► A TAP dispensou 500 tripulantes de cabine com contrato a prazo, prevê-se que saiam 1000. No pessoal de terra foram rescindidos contratos com 350 a 400 trabalhadores, a maioria de call center. Da Groundforce saíram 285 trabalhadores, e da Portway cerca de 500
► Tráfego nos aeroportos portugueses caiu 2/3 em 2020 face 2019. ANA vai manter Terminal 2 fechado até 2021
(Expresso de 30/10/2020)





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