auto da barca do inferno para rabo de peixe

Aqui vai um excerto do Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente adaptado aos dias que correm…
(Vem um padre e pergunta ao Arrais do Inferno, dizendo:)
Padre: Para onde caminhais?
Diabo: Oh! Que má-hora venhais,
Gentil padre zeloso!
Em que lhe posso ser jeitoso?
Padre: A barca de Rabo de Peixe
É esta em que navegais?
Leixei a terra aos ais
De tantas almas embaraçadas
Entre pecados infernais.
Diabo: Oh! Gentil padre mundanal
Não curês de mais detença
No meio de tanta “indecença”
Perdeste vossa reverença
Pois dada está já a sentença
E orderemos de partir.
Padre: Eu hei de ser condenado?
Um padre tão ordenado
Pois na hora do crismado
Excedi minha crença
Porque em vida condenei
O namoro avançado
O baile imodesto, o teatro indecente
O pensamento malicioso
E o toque pecaminoso?
Diabo: Fizeste bem, que é mimoso
O teu inquérito precioso!
E não vos disseram tanto
No vosso convento santo?
Padre: Da lista do desmando,
eles fazem outro tanto!
No inferno no i facebook?
Diabo: Sus! Cousa cá escusada!
Entra muitieramá!
Que a inocência furtaste!
Da igreja, os leigos excomungaste
E a malícia te cegou!
(Entrando o padre no batel, Jair Bolsonaro embarcado achou)
Padre: Santa Joana de Valdês!
Cá é Vossa Senhoria?
Hou! Convosco compro qualquer fado
E não haja mais enfado
Para um padre obcecado
Partiremos condenados
À terra dos danados!