Autor: CHRYS CHRYSTELLO

  • Olivença e a “Guerra das Laranjas”

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    Mais um testemunho (blogue “Avenida da Liberdade”)

    Com a devida vénia, dou divulgação ao testemunho do Dr. José Ribeiro e Castro, ex-presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros da Assembleia da República, no seu blogue “Avenida da Liberdade”:

    Olivença e a “Guerra das Laranjas”
    A questão de Olivença é uma delicada pendência dormente nas relações luso-espanholas. É, não – era! Um alcalde “voluntarioso” do lado espanhol resolveu chutar o tema para as primeiras páginas dos jornais. E inevitavelmente para a primeira linha da política. Agora, procura dobrar a língua, mas o mal está feito e o seu gesto tem tudo menos de inocente.
    Nos últimos anos, o ambiente melhorava: com apoio das autoridades regionais extremenhas, a autarquia de Olivença abrira-se à revelação das raízes portuguesas, recuperando e reafirmando traços identitários na toponímia histórica das ruas e em festivais anuais de matriz portuguesa. Simultaneamente, com algum pragmatismo, dos dois lados da fronteira, descobriam-se formas imaginosas de tornear dificuldades políticas, a fim de responder às necessidades das populações – por exemplo, no dossier de  reabilitação de uma  ponte de acesso à vila. Este desanuviamento revelava grande sentido prático e era um processo inteligente, que procurava andar para diante sem ferir o alto melindre político da questão. As autoridades locais e regionais espanholas pareciam interessadas em avivar a especial identidade de Olivença, até para a singularizar na região como pólo específico de procura turística, e circunscrevendo o processo a traços de identidade cultural, sem entrar obviamente pelo delicadíssimo – e potencialmente explosivo – plano político.
    Estávamos nós postos neste sossego, quando o “enérgico” alcalde Bernardino Píriz aterra em Olivenza e resolve reabrir a Guerra de las Naranjas. Desde há semanas que éramos alertados para a provocação que congeminou. Até que o PS e autarcas locais do lado português – a meu ver, bem – resolveram agarrar no assunto.

    Além do disparate político monumental, a iniciativa do novo alcaide oliventino interrompe esforços positivos que os autarcas alentejanos vizinhos conhecem bem e estavam a acompanhar e apoiar.
    “Festejar” a Guerra das Laranjas em Olivença é uma coisa de flagrante mau gosto. Seria um pouco como a Rainha Isabel II ir celebrar a Gibraltar o Jubileu de Diamante no próximo mês de Junho.
    José Ribeiro e Castro
  • >MIA COUTO E O AO1990

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    Muito interessante a entrevista de Mia Couto ao i. Destaco, aqui, a resposta a uma pergunta sobre o acordo ortográfico:
    Não sou um militante contra o acordo. Não me reconheci em algumas da razões que foram invocadas para chegar a este acordo, como por exemplo que este acordo facilitaria um melhor entendimento entre a língua. Sempre li livros do Brasil e com o maior prazer, pelo facto de eles terem uma grafia ligeiramente diferente. Os meus livros e os de Saramago são publicados com a grafia original e nunca ninguém se queixou. Acho inclusivamente que há uma diferença na grafia que só traz valor. Mas não faço guerra ao acordo. As nossas guerras são outras, é perceber porque é que nós, países de língua portuguesa como Portugal ou Moçambique, estamos tão distantes do Brasil, porque é que o Brasil está tão distante de nós. Por que razão é que um filme português no Brasil tem de ser legendado. Porque é que quando eu chego ao Brasil e digo que sou de Moçambique, ninguém sabe onde é ou o que é Moçambique.
  • AGUALUSA E O AO1990

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    Apontamentos sobre o acordo ortográfico e o desacordo!

    “Caso o Acordo Ortográfico não venha a ser aplicado — por resistência de Portugal —, entendo que Angola deveria optar pela ortografia brasileira”, José Eduardo Agualusa.

    Acorda, Acordo,ou dorme para sempre *
    José Eduardo Agualusa

    Participei[em 2008] na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, num debate sobre o Acordo Ortográfico — que o Brasil prometeu aplicar este ano, e Portugal também, tendo Portugal depois recuado de forma inexplicável.

    Pela experiência que ganhei participando em debates públicos cheguei à conclusão de que as opiniões contrárias ao Acordo Ortográfico resultam:

    1) da confusão entre ortografia, as regras da escrita, e linguagem. O Acordo Ortográfico tem por objetivo a existência de uma única ortografia no espaço da língua portuguesa, não pretende, o que aliás seria absurdo, unificar as diferentes variantes da nossa língua.

    2) no caso de Portugal, de um enraizado sentimento imperial em relação à língua. No referido debate, na Casa Fernando Pessoa, este sentimento ficou explícito quando um espetador se levantou aos gritos: “A língua é nossa!” A História desmente-o. A língua portuguesa formou-se fora do espaço geográfico onde se situa Portugal — na Galiza. Por outro lado, a língua portuguesa tem sido sempre, ao longo dos séculos, uma criação coletiva de portugueses, africanos, brasileiros e povos asiáticos. Basta pensar na influência árabe. Se retirarmos todas as palavras de origem árabe e banto à língua portuguesa, deixaremos de a conseguir utilizar.

    3) de uma série de objeções técnicas ao presente acordo. Muitas delas fazem sentido. Neste caso parece-me que o mais correto seria corrigir essas deficiências e depois aplicar o acordo.

    Angola tem mais a ganhar com a existência de uma ortografia única do que Portugal ou o Brasil. Não produzimos livros. Porém, necessitamos desesperadamente deles. Se queremos educar as nossas populações, e desenvolver o país, teremos de importar nos próximos anos muitos milhões de livros. Espero das nossas autoridades que criem rapidamente legislação tendente a facilitar a entrada de produtos culturais e, em particular, de livros. Importamos livros de Portugal e do Brasil. Isso significa que temos livros em duas ortografias no nosso território, fato/facto que suscita natural confusão, sobretudo aos leitores recentemente alfabetizados — em particular jovens e crianças.

    Acrescente-se que um dos maiores desafios que temos pela frente, nos próximos anos, é o de alfabetizar toda a nossa população. Ora, uma das virtudes do actual Acordo Ortográfico é precisamente o de facilitar a escrita.

    Caso o Acordo Ortográfico não venha a ser aplicado — por resistência de Portugal —, entendo que Angola deveria optar pela ortografia brasileira. Somos um país independente. Não devemos nada a Portugal. O Brasil tem cento e oitenta milhões de habitantes, e produz muito mais títulos, e a preços mais baratos, do que Portugal. Assim sendo, parece-me óbvio que temos mais vantagem em importar livros do Brasil do que de Portugal.

    No futuro, Portugal pode sempre unir-se à Galiza. Isto supondo que a Galiza não tenha entretanto começado a aplicar o Acordo Ortográfico, ou, no caso de o Acordo não vencer, começado a utilizar a ortografia brasileira.

    http://www.ciberduvidas.pt/controversias.php?rid=1602

  • requiem pelo vale do tua

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    o criminoso ato de destruição do vale do Tua (Douro) e da sua linha férrea deixa-nos a todos mais pobres e tristes, desde 2007 que lutámos contra isto, mas a construção da barragem avançou e todos perdemos uma parte importante do património da humanidade do rio douro

    veja na nossa página alguma simagens e vídeos inestimáveis desta beleza única:
    http://www.lusofonias.eu/conteudo/outros-videos-relevantes/

  • humor: Dicionário algarvio de termos e dizeres do Algarve (já com o novo acordo ortográfico)

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    D

     

    Dicionário algarvio de termos e dizeres do Algarve (já com o novo acordo ortográfico)

    Publicado em 30/09/2011 por Vitor Madeira


    Eis o esboço para a grande obra a inaugurar em breve, o grande “Dicionário algarvio de termos e dizeres do Algarve (já com o nove acorde ortográfique)
    Quem tiver sugestões para adicionar, é bem-vindo a contribuir! É só colocar uma resposta no fim desta página.
    Espero que seja do vosso agrado.

    A

    Abuscar – Buscar, procurar (Ex: ‘Us cãs abuscarem os coelhes no mê do mate’)

    Acarditar – Acreditar. (ex: ‘Moce, até parace que n’acarditas em mim.’)

    Acêfa – Ceifa (Ex: ‘Temes c’acêfar o milhe’)

    Açotêa – Terraço usado para secar frutos secos e peixe.

    Ademorar – demorar (Ex: ‘Ó Chique, pra quê tamanh’ademora?’)

    Adés – Adeus (Ex: ‘Adés óme, pr’ónd’é que vás?’)

    Ah mon – Ai mano, ai moço. (Ex: ‘Ah mon, tá tude bem?’)

    Alagar tramôçes – Preparar tremoços (que consiste em mergulhar os tremoços durante alguns dias em água corrente da ribeira após a cozedura inicial)

    Alcagoita – Aperitivo para descascar e acompanhar uma cerveja bem geladinha na taberna. O mesmo que minduim. (Ex: ‘Ti Tonho, traga umas alcagoitas prá gente quemer de companha c’as sarvejas’)

    Alevantar – O acto de levantar com convicção. (Ex: ‘Alevantê-me e fui-me embora!’ ou ‘Alevanta-te Zé Manel!’)

    Almariade – mal disposto, tonto, enjoado, conforme o contexto. (Ex: ‘Ah. mon, moce, até parece que tou almariade’)

    Alpendrada – o mesmo que alpendre.

    Alumiar – Apontar uma luz em direção a algo. (Ex: ‘Ó Luís, alumeia-me aqui o caminhe’)

    Alvariade – Alguém que anda com a “cabeça no ar” por causa de namoro. (Ex:‘Maldeçoada da minha filha, c’anda alvariada per’cása daquele maldeçoade’)

    Amandar – O acto de atirar com força: (‘O guarda-redes amandou a bola pra lá de Cacilhas’)

    Amantizade – Alguém que vive maritalmente com outra pessoa sem contudo ter casado para o efeito. União de facto. (Ex: ‘A Maria e o Manel vivem amantizades’)

    Amarinhar – Ir para o mar tripular navios (Ex: ‘U mé filhe anda amarinhade’)

    Amigáde – Semelhante a Amantizade.

    Amódes – De maneira que… (Ex: ‘Amódes q’iste é assim’ – Ver também ‘De modes’)

    Andémes – Andámos (Ex: ‘- Ondé c’anderem moces? – Andémes na debulha.’)

    Andérem – Andaram (Ex: ‘-Ondé c’andeste? -Andi pur aí.’)

    Apertelência – Ousadia (Ex: ‘Tem munta apertetência, aquele Tonhe Jaquim.’)

    Arrear – Deixar caír, desistir, bater, embater, esmurrar. (Ex: ‘Vou-t’arrear umas purradas!’)

    Arrelampag – Efeito luminoso que ocrre normalmente durante as tempestades. (Ex: ‘Moce, tira-te daí c’ainda levas com um arrelampag!’)

    Arram – Rã (Ex: ‘Fui à rebêra e vi uma arram’)

    Arreata – Lábia, ousadia (Ex: ‘Tem uma arreata, aquele Ventura…’)

    Arrenca-pinhêres – Homem muito baixo e muito magro.

    Arrencar – Arrancar (Ex: ‘Brune, já arrencast’us pregues?’)

    Arrioça – Baloiço (Ex: ‘Jorge toma cuidade pra na caíres d’arrioça.’)

    Aspergic – Medicamento português que mistura Aspegic com Aspirina.

    Assebiar – Assobiar (ex: ‘U Nune assebia munte bem’)

    Assebida – Parte de uma estrada ou caminho com uma inclinação ascendente acentuada (Ex: ‘Danada daquela assebida, aquile é que custa a assebir!’)

    Assentar – O acto de sentar, só que com muita força, como fosse um tijolo a cair no cimento. (Ex: ‘Atã na ‘tassentas Jaquim?’)

    Atão – Então (Ex: ‘Atão Mari-Tereza, na t’espachas?’)

    Auga – Água (Ex: ‘Na bebas áuga antes de dermir Zé Manel, que mijas na cama’)

    Avó – Avô (no masculino) (Ex: ‘O mê avó tem muntas farrobas’)

    Avó – Avó (no feminino) (Ex: ‘A minha avó tá’amassar o pão’)

    B

    Baldear – Enlouquecer (Ex: ‘Agora é que cumadre Silvina baldeou de vez…’)

    Bassôra – Também com a vertente ‘vassoira’. Utensílio doméstico para recolha de lixo, habitualmente com a ajuda da ‘apá’.

    Belancia – Melancia (Ex: ‘Agora come-se a belancia’);

    Barimbar – Indiferença, não querer saber (ex. ‘Tou-m’a barimbar pra isse’)

    Barreca – Barraca (Ex.: ‘Prontes, já tá a barreca armada’.)

    Batenêra – Máquina que serve pra fazer betão, cimento armado. (Ex: ‘Moss, liga a batenêra’)

    Bele – Belo (Ex: ‘Cumadre, que beles trabalhes de renda’)

    Berculose – Tuberculose (Ex: ‘O pobre do Asdrubal tá com berculose’);

    Béqme – Bem que me… (Ex: ‘Béqme parecia crer… É sabia!’)

    Besaranha – Vento desagradável (Ex: ‘Andava cavande mas o raie da besaranha na me largava da mão’)

    Bicha – Cobra, víbora

    Borra-botas – Profissional de fraca qualidade cujo trabalho é deficiente

    Bradár – Gritar (Ex: ‘Ó Flipe, tu na m’ouves é bradar per ti?’);

    Bucha – Almoço, merenda ou lanche (Ex: ‘Iste já tá na hora da bucha’)

    Buftada – Chapada (Ex: ‘Ah maldeçoade dum ladrão… Tás aqui, tás a levar uma buftada.’)

    C

    C’anda – Que anda (Ex: ‘O Tonhe é c’anda com a enxada’)

    Calêra – Camalhão usado para abrir regos (rede de canais na terra) usados da rega artesanal introduzida pelos árabes a península ibérica.

    Cagalôse/a – Pessoa sensível, medrosa. (Ex: ‘Ó Chique, hoje tás tode cagalôse!’)

    Cagorre – Susto (ex: ‘Aquele maldeçoade do Zé da Silva, amandou-me um cagorre c’até vi luzes’)

    Caguifa – Medo. (Ex: ‘De nôte tenh’uma cacuifa, mas de dia na tenhe’)

    Caminéte – Autocarro (Ex: ‘Ontre-dias atrazê-me e perdi a caminéte’)

    Caminhe – Caminho, caminhar. (Ex: ‘É caminhe no caminhe’)

    Campe – Campo

    Cantarinha – O mesmo que cântaro. (Ex: Fui ó pôce e dexê caír a cantarinha’)

    Capacha – Tapete. (ex: ‘Tenhe as capachas du carre todas nejentas’)

    Capache – O mesmo que capacha, abanico para avivar o lume. (ex: ‘Carles, da dêxes o fogue s’apagar! Abana isse c’u capache’)

    Capom – Porta que tapa o motor do automóvel que quando se fecha faz POM!

    Catatumbas – Sitio para onde se vai depois de morto. (Ex: ‘É cá nã quer’ir pr’uma catatumba, quer’ir pró chão’)

    Cáxa – Caixa (Ex: ‘Moce, na dás uma prá cáxa…’)

    Cemente – Tradução algarvia para cimento;

    Cesterna – Cisterna (depósito subterrâneo para recolha de águas pluviais e posterior consumo humano)

    Cirque – Circo (Ex: ‘Vames andande pra mod’ir pó cirque.’)

    Capetania – Capitania

    Córas-som? – Perguntar as horas (Que horas são? – Ex: ‘Ah mon, córas-som iste?’)

    Comá-gente – Como nós (ex: ‘Fomes ó Alenteje e vimes unz’omes a beber sarveja lá comá-gente’)

    Comé-quié? – Como é que é? (Ex: ‘Ó Chique, comé-quié?’)

    Companha – Companhia (Ex: ‘Cumadre, faça-me companha aqui na renda’)

    Cromade – Opção que se exerce em vida pra quando se morre. (Ex: ‘É’cande morrer, quêre ser cromade’)

    Cucharro – Colher grande feita a partir de cortiça para beber água. (Ex: ‘Fui à fonte e bebi água com o cucharro’)

    Debulha – Separar a palha dos grãos de cereal (ex: ‘Moces, andem todes daí e vames debulhar o trigue’)

    D

    Demódes – De maneira que… (Ex: ‘Demódes qu’iste é assim’ – Ver também ‘Amodes’)

    Desbrugar – Descascar favas ou ervilhas. (Ex: ‘Ó filha, desbruga-me aí umas ervilhinhas’)

    Desbugalhades – Usado para referir uma pessoa com os olhos bem abertos. (Ex:‘A Silvina apareceu aqui ontre-dias com us olhes desbugalhades’)

    Descabide – Iname, sem jeito. (Ex: ‘Aquele Tonhe anda même descabide’)

    Desfolhada – Tirar as folhas à maçaroca de milho.

    Desgroviade – O mesmo que desnorteado. Homem desorientado. (ex: ‘Aquele Marceline é même desgroveade.’)

    Deslargar – Ato de lagar o que tinha sido largado. (Ex: ‘Ah mon… Moce! Deslarga-me da mão!’)

    Desmazia – O dinheiro remanescente que se recebe depois de se pagar uma compra. (Ex: ‘Aqui tem a sua desmazia Ti Maria.’)

    Despôs – Depois (ex: ‘É fui ó mar, despôs vim’embora.’)

    Destrocar – Trocar uma nota de dinheiro de alto valor para ficarmos com notas mais pequenas. (Ex: ‘Ó ti-Tonho, destroque aqui esta nota, faz-afor.’)

    Dexê – Deixei (Ex: ‘Na sê ond’é que dexê u raie das chaves’)

    Diéb – Diabo. Muito usado para monstrar indignação perante alguém. (Ex: ‘Té dieb, nam’apoquentes, maldeçoade!’)

    Disvorciada – Mulher que se diz por aí que se vai divorciar.

    E

    É – Eu (Ex: ‘É na sê quem foi, más iste chêra-ma’esturre’.)

    Empachade – Pessoal que leva muito tempo para se despachar. Pode referir-se também a alguém que sofre de obstrução intestinal. (Ex: ‘Ó Albertine, até parece que tás empachade, moce…’)

    Empanzinar – Comer em demasia até abarrotar. (Ex: ‘Na te digue nada Zé, hoje quemi em desmazia. Tou même empazinade…’)

    Empulheta – Pequena caixa à saida de um tanque por onde sai a água. (Ex:‘Tenhe que destapar a empulheta pra mod’ir regar a horta.’)

    Encalipe – Eucalipto (ex: ‘-Ondé que forem o João e a Maria? -É cude que forem pós encalipes’)

    Enfusa – Bilha (ex: ‘Miga, dá-m’aí a enfusa da água.’)

    Entropeçar – Tropeçar duas vezes seguidas. (ou só uma mesmo! Ex: ‘Cuidade Zé, que já entropeçastes’)

    Êrade da cesterna – Zona delimitada à volta da cisterna, com inclinação constante, para recolher a água da chuva.

    Êres – Moeda alternativa ao Euro, adoptada por alguns portugueses, nomeadamente a sul do rio Sado.

    Escampar – Parar de chover. (Ex: ‘Vezinha, na s’importa qu’é fique aqui pa m’abrigar da chuva até escampar?’)

    Esgarrões – Chuvas muito intensas e fortes.

    Estrafega – Tarefa intensa e contínua para tentar acabar um qualquer trabalho com uma data limite apertada. (ex: ‘Fui cavar batatas e aquile é que foi uma estrafega…’)

    Esturre – Estado do que fica muito seco e quase queimado. (Ex: ‘Iste chêra-ma’esturre.’)

    F

    Falastes (dissestes…) – Articulação na 4ª pessoa do singular. (Ex.: ‘é falê, tu falaste, ele falou, TU FALASTES…’)

    Farroba – Alfarroba (Ex: ‘Maldeçoades dos pórques que já me forem às farrobas’)

    Faz-avôr – Se faz favôr, por favôr. (Ex: ‘Cumadre, dêm’aí o guidal, faz’avôr’)

    Fêjão carite – Feijão frade (Ex: ‘Goste munte duma saladinha com fêjão carite’)

    Feniscadinho – Homem muito magro (ex: ‘Pálino, andas même feniscadinhe’)

    Franquelim – Homem fraco (ex: ‘Esse dieb é um franquelim qualquer c’anda pr’aí’)

    Fezes – Canseiras, preocupações. (Ex: ‘Ah mon, tenhe andade c’umas fezes pur cása do vizinhe…’)

    Fraturação – O resultado da soma do consumo de clientes em qualquer casa comercial. (ex: ‘Cása que n’a fratura, na predura.’)

    Frent – Frente (Ex: ‘Maldeçoade, tira-te já da minha frent, qu’é na te posse ver!’)

    G

    Galegue – Pessoa do norte. (ex: ‘Aquel’óme c’apareceu pr’aqui ontem deve ser galegue.’)

    Griséu – Ervilha.

    Guidal – Alguidar (Ex: ‘Cumadre, dêm’aí o guidal, faz-avôr’)

    Gurnir – Grunhir (Ex: ‘Us pórques levem a nôte toda a gurnir’)

    H

    Há-des – Verbo ‘haver’ na 2ª pessoa do singular: (e: ‘É hei-de cá vir um dia; tu há-des cá vir um dia…’)

    I

    I-di – E daí (Ex: ‘O Carles assebiu, i-di caiu.’)

    Impertante – Importante. (Ex: ‘Iste é um assunte munt’impertante’)

    Inclusiver – Forma de expressar que percebemos de um assunto, ou não percebemos de todo! (Também existe a variante ‘Inclusivel’. Ex: ‘E digue ainda más: É inclusiver ache este assunte munte impertante.’)

    L

    Lambarêre – Pessoa que não consegue guardar um segredo. (Ex: ‘A Améla é uma lambarêra’)

    Ladêra – Descida acentuada (Ex: ‘Filha, tem cuidade a descer a ladêra pra na caíres’)

    Lagues – Lagos

    Lariar a pevide – Passear sem permissão para tal, vadiar (Êx: ‘O Manel anda a lariar a pevide’)

    Larada – Algo provável de se encontrar nas fraldas dos bebés. (ex: ‘Ah mon, a Beatriz chêra tã mal c’até parece que tem uma larada nas fraldas’)

    Laruêre – Pessoa que anda sempre a laruar, ou seja, na boa vida, sem prestar contas a ninguém. Semelhante a lariar. (Ex: ‘Aquele Tonhe Jaquim e´um laruêre’)

    Legues – Lagos

    Lêra – forma de talhar a terra para o cultivo. (Ex: ‘Chique, vai cavar a lêra das couves.’)

    Liquidazinha – O mes moque “nitidazinha”. Diz-se que a ‘omaja tá munte liquidazinha’ quando pretendemos indicar que a televisão tem uma imagem muito bem definida. (Ex: ‘Ó vezinha, a sua tlevezão tem uma omaja munte liquidazinha’)

    Lógues – Lagos

    Luzescús – Pirilampos (Ex: ‘Esta nôte tá tude chê de luzescús’)

    M

    Macheia – Uma mão cheia. (Atualmente usa-se muito o termo “bué” Ex: ‘Jaquim, hoje vi uma macheia de combois a passar.’)

    Madronhe – Aguardente de medronho (Ex: ‘Este madronhe é même du bom’)

    Magane – Vendedor ambulante comparável a um cigano (Ex: ‘Aquele magane das camisas é um maldeçoade!’)

    Magala – Idêntico a magano.

    Maline – Maligno, mau, teimoso (Ex: ‘U Humberte é même maline’)

    Má que jête? – Mas que de jeito? Expressão muito popular utilizada para mostrar indignação num diálogo perante um tema ou assunto relativamente insólito. (ex:‘Manel, atã tu na vás danças com a Jaquelina? -Eu? Má que jête?’)

    Maldeçoade – Almaldiçoado (Ex: ‘Ah moce maldeçoade, tira-te já daqui, pra qu’é na te veja na minha frente!’)

    Marafade – Irritado, zangado, teimoso ou com garra. No Sotavento algarvio diz-se marfadu (Ex: ‘Ha moce marafade!’)

    Marcade – Mercado (Ex: ‘Ontem foi o marcade d’Odeáxere’)

    Marcar – Comprar, vender, negociar, conforme o contexto.

    Más – Mais (Ex: ‘É na sê quem foi, más iste chêra-ma’esturre’.)

    Mate – Mato (Ex: ‘Us cãs abuscarem os coelhes no mê do mate’.)

    Matrafona – Mulher feia e gorda. Boneca de trapos. (Ex: ‘A filha do Alberte tá fêta matrafona’)

    Mázi – Mas e (ex: ‘Ó ti Manel, mázi comé c’avera de ser isse?’)

    – Meu (Ex: ‘Que jête u mé cão ter pulgas?’)

    Meceia – Vossemecê (Ex: ‘Cumadre, agora na posse falar co’meceia, porque tenhe que tender o pão’)

    Mechas – Expressão usada para demonstrar aborrecimento (eufemismo de ‘merda’) (Ex: ‘Mechas que já dexê cair os oves’)

    Melanças – Melancias (geralmente usado apenas no plural. Ex: ‘Cumprade, na tem aí adube prás melanças?’)

    Miga – Amigo ou amiga em ato muito familiar (ex: ‘Miga, passa-mu pão.’)

    Minduim – Aperitivo para descascar e acompanhar uma cerveja bem geladinha na taberna. O mesmo que alcagoita.

    Moss – Moço (Ex.: ‘Moss, deslarga-me da mão’)

    N

    Na dou fête – Não consigo fazer. Diz-se quando não se consegue fazer algo ou desempenhar determinada tarefa. (Ex: ‘Moce, é na dou fête isse!’)

    Nha – Assim como Mon, é a forma mais prática de articular a palavra MINHA. Para quê perder tempo, não é? (Ex: ‘A ‘nha mãe é que sabe, n’é a tua!’)

    Númaro (Também com a vertente ‘númbaro’) – Número. (Ex: ‘Ah mon, qual é o númaro do té tlefone?’)

    O

    Omaja – Tradução algarvia para Imagem. (Ex: ‘Ó Chique, percebes de tlevesons? A minha na dá omaja…’)

    Óme – Homem (Ex: ‘Adés óme, pr’ónd’é que vás?’)

    Ontre-dias – Há pouco tempo (Ex: ‘Ontre-dias, passou por aqui o Zeferine’)

    Oves – Ovos

    P

    Pciclete – Veículo de duas rodas sem motor (Pode também referir-se aos com motor. Ex: ‘Maldeçoades, ondé que meterem a minha pciclete?’)

    Pêche – Peixe (Ex: ‘Hoje fui à praça, ma ná’via pêche’)

    Parteleira – Local ideal para guardar os livros de Protuguês do tempo da escola.

    Patiar – Pisar, patinhar, geralmente onde não se deve. (Ex: ‘Sai daí Jaquim, tu na vêz que tás-ma patiar u chã tode?’)

    Patochadas – Tolices (ex: ‘Aqueles plitiques só dizem patochadas’)

    Perssunal – O contrário de amador. Muito utilizado por jogadores de futebol. (Ex.:‘Sou perssunal de futebol’ – Dica: deve ser articulada de forma rápida.)

    Pial – Banco de taipa (construção de barro e pedras) encostado à parede da entrada das casas onde as pessoas se sentavam a conversar ao fim da tarde. (Ex:‘Compadre assente-se aí no pial’)

    Pitaxio – Aperitivo da classe do ‘mindoím’.

    Pitróle – Petróleo (ex: ‘Hoje na tenhe dinhêre nem pó pitróle’)

    Pliça – Polícia (ex: ‘Per cása daquele maldeçoade, tive que chamar a pliça’)

    Plitique – Político (ex: ‘Aqueles plitiques só dizem patochadas’)

    Pôce – Poço (Ex: ‘Brune, tira-te daí c’ainda cais no pôce!’)

    Pôrre – Uma queda (Ou caír um…) Caír uma queda. (Ex: ‘Caí um pôrre no chão e fiz sãingue’)

    Precura – Ato de perguntar (Ex: ‘Deixa-me fazer-te uma precura…’)

    Pregue – Prego (Ex: ‘Vítor, dá-m’aí u pregue’)

    Prenha – Mulher grávida (Ex: ‘A maria anda prenha’)

    Prontes – Pronto (Ex.: ‘Prontes, já tá a barreca armada’.)

    Percása – Por causa (Ex: ‘Ah, mon, atã na vês quiste caiu percása daquile?’)

    Q

    Quáje – Semelhante à palavra muito apreciada pelos nossos pseudo-intelectuais “quaise”. (Ex: ‘Ontem, fui atravessar a estrada, e quáje qu’era atropelade pr’um carre’.)

    Quebra-jum – Pequeno almoço (Ex: ‘Filhe, antes de t’ires embora, na te esqueças do quebra-jum’)

    Que jête? – De que jeito? O mesmo que ‘Má que jête?’

    Quemer – Comer (Ex: ‘É vou quemer, laranjas e bananas’)

    R

    Renda – O mesmo que crochê (ex: ‘Cumadre, que beles trabalhes de renda’)

    S

    Sarveja – Cerveja (Ex: ‘Já tá o Tonhe Jaquim enfrascade na sarveja’)

    Sãingue – Sangue (Ex: ‘Caí um pôrre no chão e fiz sãingue’)

    Sequinhe/a – Pessoa magra de fraca aparência, lingrinhas. (Ex: ‘O Manel anda même sequinhe’)

    Stander – Local de venda com especial destaque para o ’stander de carres’. (Ex:‘Quere comprar um carre nove, mas ainda na fui ó stander’.)

    T

    Tãinque – Tanque (Ex: ‘Us moces maldeçoades forem ôtra véz tomar banhe pó tãinque’)

    Talego – Saco de tecido de fecho com cordão de correr pela boca que se usava para transportar o farnel ou para guardar o pão na cozinha. Também pode designar as mangas de tecido que são enchidas para produzir farinheiras algarvias (de Monchique). Por vezes as próprias farinheiras são chamadas de talegos.

    – Teu (Ex: ‘U té pai teve aqui ontre-dias’)

    Té-diéb – Muito semelhante a Diébe. Muito usado para monstrar indignação perante alguém. (Ex: ‘Té dieb, nam’apoquentes, moce!’)

    Tem avonde – Já chega. Diz-se que ‘tem avonde’ quando se quer dizer que uma medida qualquer já é suficiente. (Ex: ‘Jaquim, já tem avonde de sarveja!’)

    Teste – tampa de panela.

    Tendal – Lençol onde se coloca o pão a descansar antes de ir para o forno.

    Tender – Estender a massa do pão andes da cozedura no forno. (Ex: ‘Cumadre, agora na posse falar co’meceia, porque tenhe que tender o pão’)

    Tiosque – Quiosque. Hoje em vias de extinção, era outrora o local onde se podiam comprar jornais, revistas, pitaxios, etc.

    Tipe – Juntamente com o ‘É assim’, faz parte das grandes evoluções da língua portuguesa. Também sem querer dizer nada, e não servindo para nada, pode ser usado quando se quiser, porque nunca está errado, nem certo. (Ex: ‘É assim… Tipe, táza ver?’)

    Tlevezão – Tradução algarvia para televisão (Ex: ‘Caluda, c’u primêre menistre vai falar na tlevezão’)

    Tonhe – António (ex: ‘U Tonhe já anda metide no madronhe outra vez’)

    Tosquia – Ato de cortar o cabelo. Ex: ‘O chique foi à tosquia’)

    Tôca do forne – Esfregona feita com trapos velhos com que se limpam os fornos de lenha antes cozer o pão.

    Tramôces – Tremoços (Ex: ‘Ti-Tonhe, dê-m’aí uns tramôces pra companha da sarveja’)

    Trinca-espinhas – Pessoa magra de fraca aparência, lingrinhas. Pior que ‘Sequinhe’. (Ex: ‘O Afonse foi sempre um trinca-espinhas’)

    Treuze – Palavras para quê? Todos nós conhecemos o númaro treuze.

    Tu-nouves? – Tu não ouves? (Ex: ‘Ó Meguel, atã tu-nouves é’chamar per ti?’)

    U

    U – O (Ex: ‘U presidente vem cá despôs d’amanhã’)

    V

    Vossemeceia – O mesmo que Meceia, vossemecê (Ex: ‘Compadre, vocemesseia na tem adube pás melanças?’)

    Z

    Zorra – Raposa ou mulher elegante mas matreira. (Ex: ‘A Mari-Luísa é cum’uma zorra’)

    448 pensamentos em “Dicionário algarvio de termos e dizeres do Algarve (já com o novo acordo ortográfico)”

  • BECHARA Brasil cedeu mais do que Portugal

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    Brasil cedeu mais do que Portugal no Acordo Ortográfico

    Publicado em 2011-04-12

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    O responsável pelo vocabulário ortográfico no Brasil, Evanildo Bechara, defendeu hoje que o Brasil fez mais concessões para o novo Acordo Ortográfico do que Portugal, atribuindo a tese contrária defendida por muitos ao “abuso” das consoantes mudas.
    foto Bruno Simões Castanheira
    Brasil cedeu mais do que Portugal no Acordo Ortográfico
    João Malaca Casteleiro

    “A base fundamental do Acordo Ortográfico está indissoluvelmente ligada ao Acordo de Portugal de 1945. Se há cedências foram do Brasil”, disse o linguista responsável pela implementação do Acordo Ortográfico no Brasil, na abertura do 15.º Colóquio da Lusofonia em Macau.
    Sobre as pesquisas de outros especialistas que indicam que o Acordo Ortográfico alterou 1,6 por cento do vocabulário de Portugal e 0,5 por cento do vocabulário do Brasil, Evanildo Bechara considerou que aquelas “resultam do grande emprego na escrita (de Portugal) de consoantes que não se pronunciam”.
    “Essa argumentação proporcional mostra apenas um facto: há um excesso de consoantes mudas. Não concordo com o argumento, porque no Brasil as mudanças representam quatro, cinco, seis cedências dos brasileiros e Portugal só fez uma”, disse à Agência Lusa.
    Segundo aquele membro da Academia Brasileira de Letras, de 83 anos, a “ortografia portuguesa usa e abusa das chamadas consoantes inarticuladas”, enquanto que o Brasil, “desde 1943 e antes, adopta a solução de escrever só os fonemas que se pronunciam”.
    O linguista constatou que “essas consoantes mudas estão em todas as páginas dos dicionários”, o que faz com que o novo Acordo Ortográfico, em termos quantitativos, tenha maior impacto no vocabulário de Portugal do que no do Brasil.
    “O brasileiro teve de abrir mão do trema, dos acentos em palavras com ditongos abertos como ‘ideia’ e ‘jiboia’ – e isso é uma agressão à pronúncia brasileira –, do circunflexo de ‘voo’, ‘enjoo’, ‘perdoo’ e de ‘creem’, ‘veem’ e ‘leem’ e os diversos empregos do hífen, muito mais próximos da ortografia portuguesa de 1945 do que a da brasileira de 1943”, explicou.
    Por seu lado, João Malaca Casteleiro, da Academia de Ciências de Lisboa, que participou na redacção do Acordo Ortográfico, admitiu também a possibilidade de, “em termos absolutos, poder ter sido o Brasil a fazer mais alterações” do que Portugal.
    Mas as alterações no vocabulário do Brasil “reflectem-se num menor número de palavras, porque em Portugal a supressão das consoantes mudas afectou um número larguíssimo de palavras e de uso muito frequente”, disse à Lusa.
    “Não é possível chegar-se a um acordo perfeito porque 100 anos de ‘guerra ortográfica’ geraram muitas diferenças assentes em pronúncias também diferentes. E portanto como unificar? Impossível, temos de consagrar a dupla grafia”, concluiu.
    Bechara reconheceu a importância do novo Acordo, que “reflecte que os países de língua oficial portuguesa atingiram uma maioridade política e cultural”.
    O linguista referiu ainda que “se a unificação ortográfica era no século passado um anseio de professores, hoje tem interesses económicos e políticos para mostrar que aquele grupo de países tem um peso que antes não tinha”, realçou.

    Artigo Parcial

     

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  • BECHARA introdução ao novo acordo

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    Introdução ao Novo Acordo Ortográfico – Evanildo Bechara

    MA – estadão.com.br () Imprimir

    Qualquer discussão, crítica ou indagação que envolva as novas normas de escrita propostas pelo Acordo Ortográfico aprovado em 2008 pelas esferas governamentais para entrar em vigor a 01/01/09, exige conhecimento mais largo do assunto.

    Neste primeiro contato com esses leitores, acreditamos que não seria de todo descabido mostrar-lhes as dificuldades inerentes com que tiveram de lutar os ortógrafos anteriores, num espaço de quase cem anos até a elaboração do atual texto objeto de nossas conversas. Isto sem contar os desafios dos escribas medievais para pôr em escrito as palavras utilizadas no seu tempo contando com um alfabeto herdado dos romanos e que se mostrava inadequado a reproduzir sons da nova língua que o latim não conhecia.
    Toda essa maravilhosa aventura vai ser aqui posta de lado por fugir ao propósito imediato de nossas considerações. Interessa-nos mais de perto o esforço desenvolvido no final do século 19 até o livro seminal do foneticista português Gonçalves Viana, Ortografia Nacional, saído em Lisboa em 1904, obra que pôs a questão ortográfica nos trilhos da ciência linguístico-filológica do seu tempo. O subtítulo do livro anunciava claramente a intenção que movia seu autor: simplificação e uniformização sistemática das ortografias portuguesas.
    O plural ortografias alude às bases dos dois sistemas que presidiam cada corrente apontada como digna de ser seguida: a etimológica e a sônica ou fonética; segundo esta última, as palavras deviam ser escritas como se pronunciam. A escrita etimológica era a que se atribuía ares de ciência, por seguir a tradição greco-latina, com suas letras dobradas e com os dígrafos ph (phosphoro), th (theoria), sc (sciencia), etc. Ambas tiveram de buscar ajuda de diacríticos desconhecidos das duas línguas clássicas: os acentos agudo (´), grave (`) e circunflexo (^), o apóstrofo (‘), o til (~), o hífen (-), a cedilha (,) sotoposta ao c e poucos outros, no que já eram dispositivos que seriam aproveitados nos formulários ortográficos oficiais elaborados pelas comissões acadêmicas a partir do século 20. A utilização dos acentos gráficos tem por objetivo indicar a correta sílaba tônica para os falantes nativos e estrangeiros que não desejam ou não podem cometer erros de pronúncia. Línguas há que dispensam o recurso aos sinais gráficos, como é o caso do latim clássico e dos idiomas germânicos, pelo fato de terem estruturalmente marcada a posição da sílaba tônica. No grego antigo a necessidade do uso dos acentos gráficos se deu no Egito em virtude de a língua da Hélade ter passado a ser veículo de comunicação falada entre estrangeiros que desejavam acertar na posição da sílaba tônica. Entre portugueses e brasileiros a acentuação gráfica também visava a um expediente didático.
    Se os acentos tinham funções bem demarcadas entre os timbres aberto e fechado da vogal da sílaba tônica, desde cedo os ortógrafos variaram as funções do hífen e das iniciais maiúsculas e minúsculas, concedendo-lhes aspectos objetivos e subjetivos, criando aos utentes perplexidades de emprego que não puderam ser disciplinadas inteligentemente pelas técnicas e postas em prática pelo homem comum na hora de registrar por escrito esses sinais ortográficos, perplexidades que chegam até ao acordo de 1990 que os signatários tentaram disciplinar e simplificar.
    Cabe aos representantes das duas Academias e aos especialistas estudar-lhes as normas aprovadas e dar-lhes condições técnicas para que seja alcançado o propósito dos signatários do acordo, qual seja “um passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para o seu prestígio internacional”.
    Para dar conta da tarefa que lhe cabe neste particular, a Comissão de Lexicologia e Lexicografia da Academia Brasileira de Letras e sua equipe de lexicógrafos elaboraram quatro princípios metodológicos que nortearam a operacionalização das bases do acordo:
    a) respeitar a lição do texto do acordo;
    b) estabelecer uma linha de coerência do texto como um todo;
    c) acompanhar o espírito simplificador do texto do acordo;
    d) preservar a tradição ortográfica refletida nos formulários e vocabulários oficiais anteriores, quando das omissões do texto do acordo.
    Por: Evanildo Bechara

    * Evanildo Bechara é filólogo e gramático, membro da Academia Brasileira de Letras e Coordenador da Comissão de Lexicologia e Lexicografia da instituição

  • Bechara defende novo acordo ortográfico

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    29/12/2008 – 08h19

    Gramático Evanildo Bechara defende novo acordo ortográfico

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    SYLVIA COLOMBO
    da Folha de S.Paulo

    Evanildo Bechara tinha 11 anos quando cometeu seu primeiro erro de tradução. Viajando de Pernambuco para o Rio de Janeiro, de navio, o garoto que se tornaria um dos gramáticos mais famosos do Brasil fez uma parada em Salvador.

    Antônio Gaudério/Folha Imagem
    O gramático Evanildo Bechara defende o acordo ortográfico que começa a vigorar no Brasil nesta semana
    Evanildo Bechara defende o acordo ortográfico que começa a vigorar no Brasil nesta semana

    Entrou num restaurante e pediu um vatapá. O garçom perguntou como ele queria o prato. Bechara respondeu: “bem quentinho”, como era costume fazer-se em sua terra para determinar a temperatura da comida.
    Acabou tendo de engolir um bocado com muita pimenta. Foi então que as lágrimas brotaram de seus olhos.
    “Aprendi na pele que “bem quentinho”, na Bahia, era “bem apimentado”. Por conta desse episódio e de outros que vivi quando minha família me mandou para o Rio para estudar, passei a me interessar pelas diferenças que a língua portuguesa tem em diferentes lugares. Aí virei professor, viajei, dei aulas no exterior, lancei meus livros e cheguei aqui”, resume.
    Bechara, 80, hoje ocupa a cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito em 2000, e tem uma dura tarefa pela frente. A partir de 1º de janeiro, quando as regras do Novo Acordo Ortográfico entrarem em vigor em oito nações da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, será ele a autoridade máxima no Brasil para decidir as possíveis querelas e pendências com relação ao modo como os brasileiros terão de passar a escrever.
    “Não me sinto confortável nessa posição. É muito incômodo. E é claro que a interpretação que fiz está sujeita a erros. Só não erra quem não faz”, disse em entrevista à Folha, na sede da instituição, no Rio.
    As regras têm como objetivo unificar as diferentes grafias que o português tem nos países em que é língua oficial. Elas começarão a ser aplicadas em janeiro de 2009, mas as atuais continuarão sendo aceitas até dezembro de 2012.
    No caso brasileiro, as principais mudanças serão a eliminação de alguns acentos e do trema e a adoção de outras regras para a hifenização. “Tem gente fazendo tempestade em copo d’água. Já passamos por cinco reformas e nunca houve um grande trauma. E mais, o Brasil sempre foi quem mais cedeu até hoje. Nesta reforma, está acontecendo o contrário, os outros países, Portugal principalmente, é que estão cedendo mais”, diz.
    De todas as mudanças, as que regulam o uso do hífen têm causado mais polêmica. Bechara explica que a idéia, de um modo geral, foi a de “suavizar” sua utilização. “Como um homem comum, que não é um gramático nem tem formação técnica sobre a língua, pode saber, por exemplo, que uma expressão é um substantivo que em outros casos pode ter outra função? Ao tirarmos os hífens, estamos facilitando a sua vida.”
    Contexto
    O gramático explica que o espírito das novas regras é deixar que o contexto explique aquilo que a ortografia não alcança. É o caso, por exemplo, da contestada retirada de acento de “pára”, do verbo “parar”.
    Como diferenciá-lo da preposição “para”? “Bem, quando se diz “manifestação para avenida”, fica bastante claro que se trata do verbo, porque os outros elementos na frase levam a essa dedução”, diz.
    O caso dos ditongos que perdem o acento, como “idéia”, também causaram estranhamento. “Não é possível termos duas grafias diferentes para o mesmo tipo de formação. Por que “aldeia” não tem e “idéia”, sim?”
    Bechara acha que a retirada do acento não vai confundir, por exemplo, crianças em processo de alfabetização. “O primeiro aprendizado de uma pessoa é sempre imitativo. Depois vem a reflexão. Quando ela for aprender a escrever, já saberá a diferença de pronúncia das duas palavras sem que seja necessário usar um sinal gráfico.”
    Para Bechara, a reforma ortográfica é necessária para defender a língua portuguesa. Trata-se do único idioma falado por um grupo majoritário -mais de 230 milhões de pessoas- no mundo a ter duas grafias diferentes. “É essencial que o português se apresente internacionalmente com uma única vestimenta gráfica. Para manter o prestígio e para que seja melhor ensinado e compreendido por todos”, conclui.

  • evanildo bechara FONTES DA REFORMA ORTOGRÁFICA,

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    JORNAL O DIA: FONTES DA REFORMA ORTOGRÁFICA,
    Rio domingo, 24 de julho de 2011– Temos recebido de vários leitores uma pergunta muito oportuna neste período em que se intensificam entre portugueses críticas ao novo Acordo Ortográfico: por que os portugueses rejeitam tão veementemente aquilo que seu representante legal se comprometeu a adotar?
    As críticas dos portugueses chegam a apelar, nos sucessivos abaixo-assinados às autoridades governamentais competentes, para que se revogue o compromisso de implantação do sistema ortográfico aprovado pelos sete países de língua oficial portuguesa.
    A indagação é oportuna nesta coluna, porque, no meio da gritaria, quase sempre não aparecem razões de ordem técnica que invalidem as Bases em que se assentam as normas do novo sistema. Já em 1911, depois de aprovada a reforma ortográfica elaborada pelos melhores filólogos que Portugal tinha à época, confessava D. Carolina Michaëlis de Vasconcelos:
    ‘O público! Qual foi o acolhimento que fez à Reforma? Naturalmente as opiniões estão divididas. Houve e há entusiastas, críticos, indiferentes e adversários. Reacionários rombos, avessos a todo e qualquer progresso, aos quais as quarenta e tantas regras mostraram, pela primeira vez, quantas e quais são as dificuldades da ortografia nacional, entendem que fomos nós que as inventamos, baralhando e complicando tudo. Constou mesmo que esses descontentes iam angariar assinaturas a fim de reclamar a revogação da portaria de 1 de setembro [DE 1911].
    Podemos começar a dizer que as novas normas não são tão novas para os portugueses, porque em geral ratificam usos que já vêm praticados desde 1945, ou antes, portanto há mais de meio século. Os pontos de que se afasta a nova proposta de 1990 praticamente dizem respeito a questões mal resolvidas pelo sistema de 1945, e que também se tornam mal resolvidas pelo sistema vigente no Brasil desde 1943. Dentre essas questões cumpre ressaltar o emprego do hífen. Bem ou mal, os redatores do texto oficial, sem se afastar muito das normas de 1945 na sua redação, nos seus exemplos e até nas suas exceções, procuraram sistematizar melhor o que foi possível, numa área da ortografia que se mostra muito sutil quando os fundamentos se baseiam no desvanecimento da noção da composição, na evolução semântica, na aderência de sentido, no sentimento do falante ou na perda em certa medida da noção de composição. O espaço limitado desta coluna não nos permite aprofundar nossa pesquisa para demonstrar os íntimos laços que aproximam as Bases do Acordo de 1990 ao Formulário Ortográfico de 1945.
    Vamos nos limitar a apontar as principais alterações gráficas nas regras de acentuação a serem adotadas pelos brasileiros, regras que já vinham do sistema ortográfico de 1945, com as alterações levadas a efeito por lá em 1975, praticadas, portanto, pelos portugueses e africanos:
    1) desaparece o circunflexo de ‘voo, enjoo, perdoo’, etc.;
    2) desaparece o circunflexo de ‘creem, leem, deem, veem’;
    3) desaparece o acento gráfico agudo dos ditongos abertos ‘oi’ e ‘ei’ dos paroxítonos (‘heroico’, sem acento, mas ‘herói’ com acento; ‘ideia’, sem acento, mas ‘réis’ com acento);
    4) desaparece o acento gráfico agudo das vogais ‘i’ e ‘u’ da sílaba tônica de paroxítonos quando procedidas de ditongo decrescente (‘feiura’, ‘baiuca’);
    5) desaparece o acento gráfico tônico do hiato ‘ii’ dos paroxítonos (‘xiita’, ‘tapiira’);
    6) desaparece o uso do trema;
    7) desaparece o acento diferencial, exceto em ‘pôde’ e ‘pôr’.
    Neste particular, a única cedência do lado português relativa ao sistema de 1945 será o desaparecimento das consoantes não pronunciadas ‘c’ e ‘p’ para indicar o timbre aberto da vogal anterior, ou por força da etimologia, ou ainda por força da tradição ortográfica: ‘diretor’, ‘Egito’. Reforma que haverá de agradar às criancinhas portuguesas que começam a escrever.
    Cremos que estas cedências brasileiras de seus hábitos ortográficos bem demonstram o desejo firme de colaborar para a unificação tão almejada por todos os que sonham que nossa escrita reflita a maturidade cultural e política tão necessária à divulgação e ilustração do idioma compartilhado por tantos países soberanos.
  • Germano de Almeida

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    in diálogos lusófonos

    NOS KU NOS Diáspora A SEMANA : Primeiro diário caboverdiano em linha
    “Para o escritor e advogado Germano  de  Almeida, a questão de cada país ter uma forma diferente de falar o português não é o mais importante desde que se consiga manter uma escrita comum, para facilitar a comunicação. “
    Germano  de  Almeida defende ensino do português como língua estrangeira
     
    O escritor caboverdeano Germano de Almeida defende o ensino do português como língua estrangeira, uma vez que entende que a língua corre perigo, ao contrário do crioulo. O escritor cabo-verdiano considera que a língua oficial não é falada correctamente, apesar de ser o instrumento que mantém o povo cabo-verdiano em contacto com outros países. Germano de Almeida, em entrevista à Lusa, afirmou que no arquipélago há a ideia de que a população é bilingue, “o que não corresponde a verdade”. “O que vejo em Cabo Verde é uma defesa desmesurada do crioulo, quando o crioulo não está em risco e o crioulo limita-nos, fecha-nos sobre nós próprios”.
    “Portugal, Brasil, Angola não precisam de contactar connosco, nós é que precisamos de contactar com eles, então o português para os cabo-verdianos é essencial. Os cabo-verdianos não são bilingues e por isso precisamos começar a ensinar o português como língua estrangeira”, prosseguiu.
    O escritor recordou que já foi feito no arquipélago uma experiência piloto de ensino do português como língua estrangeira “com excelentes resultados”. Por isso, defende que esta experiência devia ser alargada a todo o ensino, porque, apesar de os cabo-verdianos se fazerem entender em português, “não o falam correctamente”.
    “Não podemos pensar que o cabo-verdiano fala o português desde criança, porque não fala. Vemos alunos que terminam o décimo segundo ano e falam mal o português. Há professores que também não sabem falar português, portanto, só podemos concluir que o ensino está a falhar”, declarou.
    Para o escritor e advogado, a questão de cada país ter uma forma diferente de falar o português não é o mais importante desde que se consiga manter uma escrita comum, para facilitar a comunicação. “Eu prefiro saber que os oito países que usam o português como língua oficial escrevem mais ou menos da mesma maneira, temos a mesma ortografia. Neste sentido estou de acordo com o acordo ortográfico”, finalizou.
    O futuro da língua portuguesa esteve em debate numa conferência internacional em Brasília , 2010.
    http://www.asemana.publ.cv/spip.php?article51333&var_recherche=Germano%20Almeida&ak=1