Autor: CHRYS CHRYSTELLO

  • O valor económico da língua portuguesa pode ser potenciado

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    O valor económico da língua portuguesa pode ser potenciado

     

    A Língua Portuguesa é um património muito acima da sua actual valorização (José Paulo Esperança). É fundamental que Portugal aposte, economicamente, nos países lusófonos (Sousa de Macedo).

    09-12-2011

    «O Valor Económico da Língua Portuguesa» foi o tema de uma conferência organizada pelo Observatório da Língua Portuguesa e que teve como conferencistas o professor universitário José Paulo Esperança e o ex-secretário de Estado das Comunidades Luís Sousa de Macedo. E se para o docente a Língua Portuguesa é um património muito acima da sua actual valorização, para Sousa de Macedo é fundamental que Portugal aposte, economicamente, nos países lusófonos. “Uma língua é tanto mais valiosa quanto mais parceiros de utilização tiver, porque quanto mais pessoas a conhecerem, maior será esse valor”, lembrou o professor José Paulo Esperança, na abertura da conferência, realizada no passado dia 29 de Novembro, na Fundação Cidade de Lisboa.
    Falada actualmente por mais de 240 milhões de pessoas em todo o mundo – 3,7 por cento da população mundial – a língua portuguesa representa, em termos económicos 4 por cento do valor mundial, sublinhou o professor José Paulo Esperança.
    O docente universitário – que integrou a equipa que realizou o estudo «O Valor Económico da Língua Portuguesa», encomendado pelo Instituto Camões (IC) e desenvolvido por 10 investigadores do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) – defendeu que “a proximidade linguística é um fator importante” nas relações económicas de Portugal, já que “países com uma língua comum têm maior facilidade em fazer negócios”.
    Apesar de apenas 6 por cento das exportações nacionais se destinarem a países de expressão portuguesa, o saldo comercial é favorável, já que Portugal importa desses mesmos países, apenas 3 por cento do total do volume de importações, referiu José Paulo Esperança.
    O professor afirmou ainda haver um aumento do interesse na língua falada por oito países – Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor Leste – dando como exemplo a sua presença ma internet. Segundo o Barômetro Calvet das línguas no mundo, é de 34,4509 o índice de penetração da língua portuguesa na Internet (dados de Novembro de 2009). O português é já o oitavo idioma em número de artigos divulgados na Wikipédia e ocupa o 15º lugar no índice «traduções de língua de origem». “Num período de dez anos, o português foi a língua que mais cresceu em termos de acesso na internet”, afirmou o docente.
    José Paulo Esperança revelou ainda que a sua procura como língua estrangeira está a crescer exponencialmente em países de língua espanhola “como a Argentina e o Uruguai” onde, acrescentou “já é um idioma mais procurado do que o inglês”.
    Mesmo assim, o investigador defende que é importante a definição de estratégias para a sua dinamização. “O Português é um património superior à sua atual valorização”, defendeu, acrescentando que este valor abaixo das potencialidades da língua ocorre “muito por uma inércia e indefinição tanto a nível de entidades públicas como privadas”.
    “A língua promove relações e o seu valor para as empresas e para os países pode ser potenciado, já que o estudo («O Valor Económico da Língua Portuguesa») revelou que as indústrias e os serviços em que ela é um elemento chave, representam 17 por cento do Produto Interno Bruto de Portugal”, alertou.
    Já Luis Sousa de Macedo recordou que a língua portuguesa é o veículo de comunicação de milhões de lusófonos na diáspora, com destaque para os 4,5 milhões de portugueses e luso-descendentes. Nesse sentido, foi ainda mais longe ao afirmar que “já que língua e cultura são factores de aproximação”, falar português “é tão importante” que as empresas portuguesas elegeram como mercados fundamentais “a África lusófona e o Brasil”.
    “Neste momento de crise económica, é crucial apostar nos países onde ao longo de séculos criamos uma ligação de proximidade, com destaque para o Brasil e Angola”, defendeu o ex-secretário de Estado das Comunidades e actual administrador da Fundação PT.
    Inserida no 1º Ciclo de Conferências do Observatório da Língua Portuguesa – que teve como temáticas anteriores «Que Política para a Língua Portuguesa?» e «A Internacionalização da Língua Portuguesa» – a palestra reuniu vários estudiosos da língua portuguesa. As três conferências tiveram por objetivo ser um espaço de reflexão e debate de ideias sobre questões relevantes da língua de Camões e ainda motivar a sociedade civil para a importância da II Conferência Internacional sobre Língua Portuguesa no Sistema Mundial que será realizada em Portugal no próximo ano.
    17 por cento do PIB de Portugal

    O estudo «O Valor Económico da Língua Portuguesa», focado na realidade portuguesa, avaliou o impacto da proximidade linguística em quatro dimensões: comércio externo, investimento directo estrangeiro em Portugal, fluxos de turismo e fluxos migratórios. Os dados iniciais permitiram perceber que as indústrias e os serviços em que a língua portuguesa é um elemento chave, representam 17 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal.
    Encomendado pelo Instituto Camões (IC) em Setembro de 2007, e desenvolvido por uma equipa de investigadores do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), o estudo confirmou o elevado peso da proximidade linguística nas relações de Portugal com o exterior. “O papel da língua é um facilitador significativo nas dimensões de intercâmbio analisadas”, lê-se nas conclusões do estudo que apontam a área das migrações e a do Investimento Directo de Portugal no Estrangeiro (IDPE) como aquelas onde neste momento, a língua portuguesa tem mais peso.
    Nesta área, revelou que Brasil e Angola representaram “19 por cento do total da saída de investimento directo a partir de Portugal, no período de 1996-2007”. No mesmo período, embora menos significativa, “também à entrada se verifica um peso superior ao «natural» do investimento directo oriundo principalmente do Brasil e de Angola, representando 13% do total”, refere o documento.
    Idioma oficial em oito países, o português é uma das seis línguas mais faladas no mundo.
    Ana Grácio Pinto
  • DO IBERISMO AO 1º DEZEMBRO in ChrónicAçores vol.2

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    16.5. Do Iberismo ao 1º de dezembro
    Gostava JC de ter algumas réstias do sempiterno otimismo mas a
    desoladamente, a sua reserva, está no nível mínimo desde há déca-das. Mas quando, ano após ano, a chuva cai dentro de casa e alaga o chão ou móveis como se não houvesse teto, tem de assumir a péssi-ma qualidade das casas e que os ”mestres” de construção não passam de biscateiros incapazes de fazerem a obra como deve ser. Mas se vai a um restaurante o resultado é similar com um serviço deficiente a preços de luxo, se vai a um mecânico automóvel idem aspas. E o mesmo se passa na saúde, na justiça, na ignorância santa dos novos professores, na incompetência dos que governam e dos que são man-dados. É esta a tradição. Não é de hoje, vem de longe como consta-tou hoje ao traduzir este parágrafo
    Enquanto a Terceira e as ilhas próximas resistiam ao assalto dos espanhóis à Coroa portuguesa, S. Miguel franqueou-lhes a entrada. Esta diferença deveu-se ao facto de o Corregedor Ciprião de Figueiredo estar sedeado em Angra. Fiel apoiante do Prior de Crato, terá proferido a frase “antes morrer livres que em paz sujeitos”. Por outro lado, a capitania de S. Miguel estava na mão da influente família Gonçalves da Câmara. Além disso, residia nessa altura em São Miguel o Bispo dos Açores, D. Pedro de Castilho, fiel a Filipe II. Viria a ser Vice-Rei de Portugal em paga da sua fidelidade à causa castelhana. Mais tarde, o Capitão do Donatário de São Miguel receberia o título de Conde de Vila Franca.
    Abundam assim os que esquecem o terror do domínio castelhano e
    pressurosos querem entregar o país ao vizinho ibérico.
    Miguel Urbano Rodrigues escrevia em 2006:
    151

    J. Chrys Chrystello
    Os iberistas, ao esboçarem uma Espanha pletórica de energias, de
    progresso e criatividade, simulam esquecer que o país exibe a mais
    alta taxa de desemprego da UE. Não aludem ao racismo e à xenofobia
    …onde os imigrantes, sobretudo os magrebinos, equatorianos e colom-
    bianos são mais discriminados.
    Há três décadas a Espanha não existia como parceiro comercial. Hoje
    ocupa o primeiro lugar nas importações portuguesas. A banca espanho-
    la conquistou uma parcela importante. O mesmo ocorre com a hotelaria
    e grandes transnacionais como El Corte Inglês e Zara. As imobiliárias
    espanholas invadem as cidades. … no Alentejo capitalistas espanhóis
    compraram já as melhores terras no Alqueva. Adquiriram milhares de
    hectares para criação de porcos, lagares e plantação de oliveiras e vinhas. Essa invasão é festejada pelo Governo de Sócrates e pela grande burguesia. … Agradecem. Com a espontaneidade da nobreza
    de 1383 a saudar D João De Castela e a nobreza de 1580 a alinhar
    com Filipe II. Essa forma de dominação económica encobre uma moda-
    lidade de intervenção imperial. “Alentejo Popular”(Beja) 02-11-06
    Portugal atingiu tal irrelevância que ninguém se surpreenderia se
    passasse a dependência espanhola, como se de banco se tratasse.
    Como se estivéssemos a falar de abrir um escritório no litoral já que
    o interior está desertificado de gentes e de economias de mercado viáveis. Por outro lado, despontam a nível governamental, iniciativas de união ibérica, nem sempre dissimuladas, que causam engulhos. Por ser um estudioso do assunto que condensou o que JC pensa, sigamos Carlos Fontes em Lusotopias
    O iberismo é um fenómeno do séc. XIX como resposta à teoria das
    grandes nações então em voga. …as pequenas estariam condenadas
    a serem absorvidas pelas grandes, tal como teria acontecido entre os
    animais onde os mais fortes extinguiram os mais fracos (darwinismo).
    Sempre que a situação é melhor no outro lado da fronteira, a integra-
    ção de Portugal em Espanha surge aos olhos dos iberistas como a
    solução para resolver a crise, sem trabalho… as mortes de dois ibe-
    ristas assumiram enorme carga simbólica na história portuguesa, sendo
    continuamente evocadas. A morte do Conde de Andeiro, fidalgo galego,
    foi assumida como o símbolo de liberdade de um povo que recusa as
    ingerências externas. Acabou por ascender a elevada posição na corte,
    tendo recebido de D. Fernando o título de Conde de Ourém, pondo-se
    152

    ChrónicAçores:
    .
    na crise de 1383-85, ao serviço de Castela. Foi assassinado, em 1383, por D. João, mestre de Avis e futuro rei de Portugal. A sua nefasta ação traduziu-se numa violenta guerra civil.
    Já a morte de Miguel de Vascon-celos exprime simbolicamente a afir-mação da identidade cultural de um povo, após a opressão de 60 anos. Após a morte deste esbirro, o povo português travou com a Espanha, durante 28 anos, uma sangrenta guerra na Europa e na América do Sul pela defesa da sua liberdade e dignidade.
    …E como já ninguém estuda História, estes episódios perdem
    a força, não são transmitidos de geração para geração, perde-se a
    memória coletiva do povo. Continuemos com Carlos Fontes:
    Nas últimas décadas, órgãos de comunicação social usando da
    liberdade de expressão, têm procurado abrir fraturas na sociedade.
    O seu objetivo é simples:
    1. Mostrar através de “sondagens” encomendadas ou “discussões”
    públicas que na sociedade portuguesa existe um grupo cujo objetivo é a
    dissolução do Estado português;
    2. Dar “voz” à hipotética minoria iberista portuguesa. Ao mesmo
    tempo, a imprensa espanhola mostra aceitação à possível integração.
    3. Os supostos iberistas não constituem uma corrente de opinião nem
    um movimento organizado.
    A imprensa trabalha no terreno das hipóteses…introduzindo elementos de discórdia e desmoralização coletiva.
    Oliveira Martins (1845-1894) é o melhor exemplo dos esbirros iberistas.
    É difícil de determinar a causa do profundo ódio que manifestava pelos
    seus concidadãos e o país. Foi um típico vira-casaca: anarquista, socia-
    lista, republicano, monárquico, liberal, antiliberal. Defendeu a liberdade,
    mas também a ditadura. Atacou os ditadores, mas apoiou João Franco,
    Muitas das suas ideias foram aplicadas por ditadores (Sidónio Pais ou
    Oliveira Salazar).
    Antero de Quental (1869) era um confesso iberista, dois anos depois já nem fala no assunto, e mais tarde abomina a ideia. Algo idêntico ocorreu com Teófilo Braga. …
    Durante as legislativas de setembro 2009 – a TVI -, canal de TV controlado por espanhóis interferiu diretamente na campanha eleitoral, e…afastou a “jornalista” (Manuela Moura Guedes) que promovia uma campanha de propaganda contra o governo socialista… e a comuni-icação social espanhola procurava lançar nova campanha em defesa das teses iberistas, apoiada numa “sondagem” da Universidade de Salamanca, com a colaboração de alienados no ISCTE (Lisboa).
    153

    J. Chrys Chrystello
    A razão por que se escolheu este tema e as citações supra para esta
    crónica é a data que ora se celebra, o dia da Restauração da Indepen-
    dência de 1 de dezembro de 1640. Para que os mais jovens nunca o
    esqueçam e deixem de a tratar como um dia sem aulas. Infelizmente,
    é para a maioria, um dia como qualquer outro nos Açores, sem que
    o povo se dê conta do seu significado:
    “…arrebatados do generoso impulso, saíram todos das carroças e
    avançaram ao paço. .. D. Miguel de Almeida, venerável e brioso, com a
    espada na mão grita: Liberdade, portugueses! Viva El-Rei D. João IV”
    A ideia de nacionalidade esteve por trás da restauração da inde-
    pendência plena de Portugal após 60 anos de monarquia dualista.
    Cinco séculos de governo próprio haviam forjado a nação, fortalecen-
    do a rejeição da união com o vizinho. A independência fora sempre um
    desafio a Castela. Foram sucessivas e acerbas as guerras, as únicas
    que Portugal travou na Europa. Para a maioria, os Habsburgo eram
    usurpadores, os Espanhóis inimigos e os seus partidários, traidores.
    Culturalmente, avançara depressa a castelhanização de 1580 a 1640.
    Autores e artistas gravitavam na corte espanhola, aceitavam padrões
    espanhóis e escreviam cada vez mais em castelhano, contribuindo para
    a riqueza espanhola. Dão a impressão errada de decadência cultural
    após 1580. A perda da individualidade cultural era sentida por muitos
    portugueses, com reações diversas a favor da língua pátria e da sua
    expressão em prosa e poesia. Contudo, os intelectuais sabiam perfei-
    tamente que os seus esforços seriam vãos sem a recuperação da
    independência política. O Império Português atravessava uma crise
    com a entrada em jogo de holandeses e ingleses. Perdera o mono-
    pólio comercial (Ásia, África e Brasil) e a Coroa, a nobreza, o clero
    e a burguesia haviam sofrido severos cortes de receitas.
    Os Espanhóis reagiam contra a presença portuguesa nos seus ter-
    ritórios, mediante vários processos, entre os quais a Inquisição. Isso
    suscitou grande animosidade nacionalista em Portugal aprofundan-
    do o fosso entre os dois países.
    Margarida, duquesa de Mântua, neta de Filipe II, exerceu o governo
    de Portugal, de 1634 a 1640, como vice-rei e capitão-general. Econo-
    micamente, a situação piorara desde 1620 ou até antes. Os produtores
    sofriam com a queda dos preços do trigo, azeite e carvão. A crise
    afetava as classes baixas, cuja pobreza aumentou sem disfarces. O
    agravamento dos impostos tornava a situação pior. A solução apre-
    sentava-se fácil e óbvia: a Espanha, causa de todos os males.
    154

    J. Chrys Chrystello
    A conspiração independentista congregava um grupo heterogé-
    neo [nobres, funcionários da Casa de Bragança e elementos do clero
    (alto e baixo)]. Em novembro de 1640 conseguiram o apoio formal
    do duque de Bragança. Na manhã do 1º de dezembro, um grupo de
    nobres atacou a sede do governo (Paço da Ribeira), prendeu a du-
    quesa de Mântua, matou e feriu membros da guarnição militar e
    funcionários, como o Secretário de Estado, Miguel de Vasconcelos.
    Dizia Camões: “Também dos Portugueses alguns traidores houve,
    algumas vezes…” (Os Lusíadas, C. IV, 33). Seguidamente, os re-
    voltosos percorreram a cidade, aclamando o novo estado, secun-
    dados pelo entusiasmo popular. Em todo o Portugal, metropolitano
    e ultramarino, a notícia da mudança do regime foi recebida e obe-
    decida sem qualquer dúvida. Só Ceuta permaneceu fiel a Filipe IV.
    D. João IV entrou em Lisboa a 6 de dezembro. Proclamar a separa-
    ção fora fácil. Mais difícil seria mantê-la. Tal como em 1580, em 1640 os
    portugueses estavam longe de unidos. As classes inferiores mantinham
    a fé nacionalista em D. João IV, mas o clero e a nobreza, com laços em
    Espanha, hesitava e a medo alinhava com o duque de Bragança.
    O novo monarca estava numa posição pouco invejável. Tornava-se
    necessário justificar a secessão não como usurpador, mas a reaver o
    que por direito legítimo lhe pertencia. Abundante bibliografia (em
    Portugal e fora dele) procurou demonstrar direitos reais do duque
    de Bragança. Se o trono jamais estivera vago de direito, em 1580
    ou 1640, não havia razões para eleição em cortes, o que retirava
    ao povo a importância que teria, fosse o trono declarado vago.
    Todo o reinado (1640-56) foi orientado por prioridades. Primeiro, a re-
    organização do aparelho militar, reparação de fortalezas das linhas
    defensivas fronteiriças, fortalecimento das guarnições e obtenção de
    reforços no estrangeiro. Paralelamente, a intensa atividade diplomática
    nas cortes da Europa, para obter apoio militar e financeiro, negociar
    tratados de paz ou de tréguas, o reconhecimento da Restauração, e a
    reconquista do império ultramarino. A nível interno, a estabilidade de-
    pendeu, do aniquilamento de toda a dissensão a favor de Espanha.
    A guerra da Restauração mobilizou todos os esforços e absorveu
    enormes somas. Pior, impediu o governo de conceder ajuda às ata-
    cadas possessões ultramarinas. Mas, se o cerne do Império, na Ásia,
    foi sacrificado, salvou a Metrópole da ocupação espanhola.
    155

    ChrónicAçores:
    Portugal não dispunha de exército moderno, as forças terrestres
    escassas na fronteira, as coudelarias extintas e os melhores generais
    lutavam pela Espanha na Europa. Isto explica por que motivo a guerra se limitou a operações fronteiriças de pouca envergadura.
    Do lado espanhol, a Guerra dos Trinta Anos (até 1659) e a questão
    da Catalunha (até 1652) atrasavam ofensivas de vulto. A guerra, que se
    prolongou por 28 anos, teve altos e baixos até se assinar o Tratado de
    Lisboa,1668, entre Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, em
    que este reconhece a independência do nosso País. (Adaptado de
    Oliveira Marques, “A Restauração e suas Consequências”, in História de
    Portugal, vol. II, Lisboa, ed. Presença, 1998, pp. 176-201).
    Hoje anda muita gente com passaporte português a celebrar o 1º
    de dezembro como desastre ou deplorável evento. Esquecem que se
    tratou da reconquista da liberdade do povo e da nação subjugada
    pelo poder dinástico dos Filipes de Castela. Mais vale um povo
    pobre e livre do que rico na gaiola dourada com as cores do reino
    de Espanha. Assim o dizem os galegos que se acercam das origens
    portuguesas preservando a língua e cultura comuns. A memória dos
    homens é curta e ninguém sabe nem evoca o jovem Miguel da Paz
    (n. 1499) que seria Rei de Portugal e de Espanha se não morresse
    aos dois anos. Infelizmente morreu e este “se” é desconhecido dos
    portugueses, clamem ou não pelo regresso ao trono espanhol.
    São deveras interessantes os “pequenos detalhes” que determinam
    o curso da História e que vieram legalizar de pleno direito a sucessão de
    Filipe II ao trono de Portugal em 1580, por morte sem descendência do
    herdeiro varão, cardeal D. Henrique (68 anos), 9º filho do rei D. Manuel I
    A candidatura de Filipe era fortíssima e indiscutível e resultava do ca-
    samento da filha terceira de D. Manuel I, com Carlos V (I de Espanha),
    pais de Filipe I de Portugal (II de Espanha). Paradoxalmente, antes da
    candidatura de Filipe ao trono, a situação poderia ter sido invertida,
    unificando as coroas ibéricas “para o lado português”. Em 1499, fora
    proclamado herdeiro das coroas de Portugal e de Espanha, Miguel da
    Paz, primeiro filho de D. Manuel I com Isabel, filha dos Reis Católicos.
    Azar dos portugueses ou conspiração castelhana, morreu com 2 anos.
    Por estas e outras razões os portugueses serão sempre saudosistas,
    dos espanhóis, de Salazar e do sonho chamado 25 de abril.
    in CHRÓNICAÇORES UMA CIRCUM-NAVEGAÇÃO POR J CHRYS CHRYSTELLO ED CALENDÁRIO DE LETRAS 2011
    156

    J. Chrys Chrystello
    — Quem garante que Portugal estaria melhor como província espa-
    nhola do que independente? (Os galegos dizem que não)
    — Quem garante que não seria Portugal uma célula independentista,
    tipo ETA, (aliada ou não à Galiza)?
    E se fosse ao contrário e o Reino de Espanha fosse uma província
    de Portugal? Que aconteceria aos Bourbon? Só tinham utilidade nos
    EUA. Lá emborcam todos os Bourbon que encontram. Infelizmente,
    aqui ao lado, entronizam-nos e chamam-lhes Reis.
  • Malaca povos cruzados

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    NOTICIA PUBLICADA PELO CLUBE RAIZES

    Malaca 500 anos – Portugal ao longe | Clube Raízes

    Viagens pela História e pelo Património

    Malaca 500 anos – Portugal ao longe

    (Photography by: Antony D’Cruz)
    Comemoram-se este ano os 500 anos da conquista da cidade – entreposto comercial – de Malaca,
    na Malásia, pelas forças portuguesas, comandadas por Afonso de Albuquerque.
    Malaca, do outro lado do mundo, no continente asiático, apesar da grande distância a que se encontra de Portugal,
    mantém uma comunidade de origem portuguesa que tenta manter vivas as raízes lá deixadas desde o século XVI.
    É grande o amor que esta comunidade nutre por Portugal, traduzido na manutenção dos nomes portugueses,
    comuns na maior parte destas famílias, e de mostrar aos outros, através das canções e das danças de influência lusa,
    da prática do catolicismo, da transmissão familiar da língua portuguesa localmente falada, preservada desde o tempo
    de Albuquerque. A origem portuguesa é, para esta comunidade, um orgulho que pretendem manter. As
    comemorações tiveram o seu ponto alto nos finais de Outubro, com atividades diversas onde prevaleceu a ligação
    histórica, cultural e religiosa a Portugal. Nelas esteve presente o Cónego António Rego, que além de participar na
    missa, ofereceu à comunidade uma imagem da padroeira de Portugal, Nossa Senhora da Conceição. Reproduzimos
    aqui as palavras de António Rego sobre a sua participação nas comemorações em Malaca, publicadas no site da Agência
    Ecclesia e também no semanário figueirense ”O Dever”, de 10 de novembro.

    Portugal ao longe

    Mesmo sem se entender a língua, ou falando um português do tempo de Afonso de Albuquerque, há

    um povo que aí encontra a sua identidade, a venera, reza e ama com um enternecimento comovedor

    500 anos não são nada na história. Andar 12 mil quilómetros de avião aos
    solavancos, chegar a um lugar, ver uma pequena fortaleza, dois barquinhos a percorrer a cidade como se fossem duas
    imagens de santos, os jovens numa correria para os acompanharem, alguns mais tisnados, junto ao mar a cantar melodias
    portuguesas tão distantes do original nas palavras como nas melodias, as casas marcadas por uma cruz, o bairro conhecido
    tanto como português, como cristão, faz, a quem chega, ainda que não seja pela primeira vez, estremecer de emoção por
    o povo a que pertence ser o mesmo que ali vive naquele bairro simples de pescadores. Não sabem o nome do presidente
    da República nem do Cardeal-Patriarca de Lisboa, mas sentem-se transportados a uma origem que sendo, para um
    recém-chegado igual ao resto do povo de Malaca, traz um registo indefinido de fé e portugalidade próximos e naturais sem
    a mais pequena discussão sobre o laicismo, separação de poderes, profano e sagrado, passado e presente. Sabe-se que,
    mesmo sem se entender a língua, ou falando um português do tempo de Afonso de Albuquerque, há um povo que aí
    encontra a sua identidade, a venera, reza e ama com um enternecimento comovedor. Expliquei que a imagem de Nossa
    Senhora de Fátima é a mais conhecida do mundo. Mas a que os portugueses agora lhes ofereceram é de Nossa Senhora
    da Conceição, foi coroada por um rei português e é a nossa padroeira. Foi um grupo de quinze jovens portugueses do
    ensino superior que levou o bandolim, a guitarra, o traje, a voz, um sorriso doce com um imenso respeito e dignidade,
    que acordou no coração dos presentes não apenas uma casa portuguesa, mas um povo lá dentro, com uma identidade
    para além do fado. “Aqui sou mais do que eu”, diria Pessoa. E nada disto foi de organização burocrática. Aconteceu pela
    sensibilidade de quem cá passou e se apercebeu que por vezes, quanto mais longe se está mais se ama Portugal. E a fé
    que o integrou e integra, mudados os tempos e as vontades.

    António Rego

    e veja também:
    http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?&id=87938

    Sobre clube11raizes

    Clube de Divulgação e Defesa do Património

  • OLIVENÇA

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    CARLOS LUNA JÁ ESTEVE NOS COLÓQUIOS D ALUSOFONIA

    Como é possível o caso de Olivença ser tão ignorado em Portugal? Como é possível que os sucessivos governos do País, desde o princípio do século XIX, nunca tenham reivindicado de forma categórica um território que à luz do Direito Internacional, lhe pertence?


    Carlos Luna: – Muitos portugueses nem conhecem a sua História, mas o mais grave é que Portugal se acha tão mau, tão mau, que nem reivindica o que é seu de direito. Em 20 de Maio de 1801, Olivença foi ocupada por Espanha. Curiosamente, foi em 20 de Maio de 2002, que Timor dia da independência de Timor….

    O empenhamento que se pôs na causa de Timor, devia ter sido posto na causa de Olivença?

    Acho que sim.

    Como começou esta sua luta?

    Por volta de 1986 lembrei-me de ir à terra de que muito se falava, gostei do que vi mas detestei a profunda desinformação que reina em Olivença entre a população que não tem culpa nenhuma. As autoridades espanholas mascararam e esconderam a verdadeira realidade histórica ao povo de Olivença, fazendo-os acreditar em mitos absurdos, ofensivos e chauvinistas em relação a Portugal e à sua História.

    Mesmo depois de 1975, da democratização?

    É verdade. Acho inacreditável que uma Espanha democrática continue a ensinar a um povo um passado que não é o seu. Embora parte da culpa de não haver uma definição no caso de Olivença também resida no povo português.

    No povo e sobretudo nos sucessivos governos…

    Sou essencialmente um lutador pela positiva e há alguns argumentos que eu detesto, os portugueses têm um desprezo tal por si próprios que é quase impossível de explicar. A luta pelo caso de Olivença tem muitas semelhanças com a contenda sobre Gibraltar. Neste caso, os espanhóis insistem ser uma questão de justiça e tratam-no de maneira muito diferente do que acontece com a localidade próxima de Portugal. Aproveitam todas as oportunidades para resolver, ou pelo menos debater, a questão de Gibraltar. Em contrapartida, o Estado Português não fala em Olivença, é quase uma posição clandestina
  • OLIVENÇA 1801

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    O Jornal espanhol  publicou, em 21.11.11, a matéria OLIVENZA CELEBRA DERROTAS
    de J. R. ALONSO DE LA TORRE
    No artigo o articulista critica o fato de Olivença estar a comemorar a Guerra das Laranjas de 1801com uma grande representação do acontecimento, celebrando uma guerra que os derrotou e uma conquista que acabou com  tantos de seus antepasados…..
     
    Lembrando esta data cito um livro:
     

    OLIVENÇA, 1801.
    Portugal em Guerra do Guadiana ao Paraguai

    de Manuel Amaral
    Lisboa, Tribuna («Batalhas de Portugal»), 2004.
    112 págs.
    Preço: 25€ 
    Comprar
     
     
    OlivençaA guerra de 1801 entre Portugal e a Espanha aliada à França, é conhecida sobretudo por ser o momento em que se perdeu o território de Olivença. Mas este conflito, conhecido por “Guerra das Laranjas”, esteve longe de ter como preocupação fundamental aquela antiga vila Alentejana. Na realidade, as operações desenrolaram-se tanto ao longo das fronteiras de Portugal, como das do Brasil e no Oceano Atlântico.

    Esta obra apresenta uma visão nova do desenrolar das hostilidades no território europeu, não só abordando os teatros de operações em que o exército português se confrontou com o espanhol, em Trás-os-Montes, no Algarve e no Alto Alentejo, mas também abordando a estratégia desenvolvida á época face ao que já se via como uma possivel primeira invasão francesa do território nacional. Aborda-se o desenrolar da Guerra na América do Sul, onde Portugal conquistou um imenso território, tanto no estado do Rio Grande do Sul como no de Mato Grosso, delimitando quase definitivamente as actuais fronteiras do Brasil.
    Se Portugal perdeu Olivença logo no início das hostilidades, conseguiu no entanto realizar os seus objectivos estratégicos neste conflito. Foi esta a última guerra travada por Portugal com a vizinha Espanha.

    http://www.arqnet.pt/portal/agenda/col_batalhas.html
    — On Wed, 11/23/11, AMarques wrote:

    From: AMarques
    Subject: OLIVENZA CELEBRA DERROTAS? (ver la foto adjunta)
    To: margaridadsc@yahoo.com
    Date: Wednesday, November 23, 2011, 1:36 AM

    NO!

    “HOY”, 21-Novembro-2011
    OLIVENZA CELEBRA DERROTAS
    21.11.11 –
    J. R. ALONSO DE LA TORRE
    Olivenza van a celebrar la Guerra de las Naranjas con una gran representación del acontecimiento. Supongo que habrá soldados españoles que ataquen la fortaleza, ciudadanos oliventinos que la defiendan, sean soldados, sean civiles, y al final habrá conquista española, quizás algún saqueo si se quiere ser fieles a las guerras de antaño y después se celebrará algún evento gastronómico para festejar la fecha. La celebración se las trae. Los oliventinos celebran que fueron conquistados y derrotados, algo impensable en otras ciudades, que suelen celebrar sus victorias y triunfos, nunca sus derrotas. Esta ‘Macrorrepresentación de la Guerra de las Naranjas’ está levantando muchas ampollas en Portugal, aunque lo más destacable es la esquizofrenia que supone celebrar que a tus antepasados se los cargó un ejército enemigo, aunque tú ahora formes parte del país que te conquistó y estés encantado de ello. Solo conozco un caso parecido en Extremadura, se trata de la llamada Torre de Bujaco de Cáceres, nombrada así en honor del caudillo árabe Abu Jacob, que se cargó en esa torre a los últimos caballeros cacereños en una de las varias reconquistas de la ciudad. Aunque en ese caso pudiera haber truco y llamarse de Bujaco en honor a un ‘muñeco’ que en ella había. Sería más lógico pues a nadie se le ocurre ponerle a una torre el nombre del caudillo que mató a los tuyos. A nadie salvo a los oliventinos, que han tenido la idea de festejar la guerra que los derrotó y celebrar la conquista que acabó con tantos de sus antepasados.
    (J.R. Alonso de la Torre)

  • MARCAS DA GALIZA NOS AÇORES

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    Algumas marcas de Galiza nos Açores e Brasil
    Desde 1475 o arquipélago dos Açores recebeu povoadores vindos inicialmente de Portugal
    Continental que trouxeram consigo alguns escravos de África e depois, em menor quantidade,
    de Flandres, Galiza, Inglaterra, França e Estados Unidos.
    Naquela época em Castela ocorria uma disputa para a sucessão do trono entre D. Joana (a
    Beltraneja) e Isabel, irmã do rei Henrique IV de Castela. D. Joana, filha de Joana de Portugal
    e talvez do rei, era considerada ilegítima pelos nobres espanhóis, uma vez que Henrique IV
    era considerado impotente. Mas Portugal e Galiza apoiavam-na. Os partidários de Joana,
    perseguidos, abrigaram-se em Portugal. Quando a paz foi restabelecida esses refugiados
    tornaram-se incômodos ao reino português, que não sabendo o que fazer deles, resolveu
    encaminhá-los para as ilhas atlânticas recentemente descobertas e que precisavam ser
    povoadas.
    Nas ilhas açorianas do Faial e Pico instalaram-se as famílias galegas ABARCA, ANDRADE,
    GARCIA, ORTIZ, PORRAS, LEDESMA, TROJILLO. Quando apareceram as dificuldades de
    sobrevivência, trazidas pelos desastres naturais que acometiam o arquipélago de tempos em
    tempos, a emigração para o Brasil surgiu como a solução. E assim muitos dessas famílias se
    transferiram para o Brasil à procura de uma nova vida. Dizem que João Garcia Pereira deu
    origem aos “Garcia” faialenses e João Luís Garcia aos picoenses.
    A partir do século XVIII, consideráveis e repetidas levas de açorianos chegaram ao sul e
    sudeste do Brasil. Alguns se deslocaram para as regiões auríferas e de criação de gado, onde
    havia mais oportunidades de ganhar terras e riquezas. Destes oriundos dos Açores, de raízes
    galegas, a história relata um tal de Antônio Garcia Rosa, que emigrou para o Brasil em 1741 e
    que juntou forte cabedal em Minas Gerais, como vigário (Paróquia de Nossa Senhora da
    Glória). Voltou para os Açores rico. É conhecido também um imigrante João Garcia que
    chegou ao Rio de Janeiro em 1773, parece que se tornou fazendeiro. Outro faialense de
    nascimento foi Diogo Garcia. Este casou em terras brasileiras com uma das três irmãs, que de
    lá também vieram em 1723 e que eram conhecidas como as três ilhoas (Antónia da Graça,
    Júlia Maria da Caridade, Helena Maria de Jesus). Eram as três filhas de Manuel Gonçalves
    Correa e de Maria Nunes.
    Antônia da Graça veio já casada com Manuel Gonçalves da Fonseca e com duas filhas
    Catarina e Maria Tereza.
    Júlia Maria da Caridade casou-se em São João del Rei com o conterrâneo Diogo Garcia.
    Helena Maria de Jesus casou com o também açoriano, natural de Santa Maria, João Rezende
    da Costa.
    Essas três irmãs tiveram muitos filhos e deixaram larga descendência que se espalhou por
    Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Paraná e Mato Grosso, dando origem a grande parte das
    famílias tradicionais desses estados brasileiros.
    Ref. Bibliográfica
    FAMILIAS FAIALENSES (Marcelino Lima)
    As três Ilhoas ( pesquisa dos genealogistas Marta Amato e José Guimarães)
    Maria Eduarda Fagundes
    Uberaba, 10/11/07

  • AICL REPUDIA EXCLUSÃO DA AGLP NA CPLP

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    CONCLUSÕES DO XVI COLÓQUIO DA LUSOFONIA OUTUBRO 2011 SANTA MARIA

    …4. Foi emitido um comunicado sobre a vergonhosa exclusão da AGLP após a CPLP ter aprovado em comunicado a sua inclusão com o estatuto de observadora. (anexo).
    AICL REPUDIA EXCLUSÃO DA AGLP NA CPLP
    1. BREVE HISTORIAL
    EXTRATO DAS CONCLUSÕES – XIII COLÓQUIO ANUAL DA LUSOFONIA “AÇORIANÓPOLIS” EM FLORIANÓPOLIS, SANTA CATARINA, BRASIL 26 março a 11 de abril 2010
    Os Colóquios da Lusofonia lançaram o repto à Academia Brasileira de Letras, à Academia das Ciências de Lisboa e a todas as entidades que apoiem a imediata inclusão da AGLP – ACADEMIA GALEGA DA LÍNGUA PORTUGUESA – com o estatuto de observador na CPLP, e comprometeram-se a envidar todos os esforços para a consecução de tal desiderato.
    Concha Rousia comprometeu-se a enviar à CPLP os objetivos da Academia Galega para fundamentar o seu pedido de adesão com o apoio da sociedade civil aqui representada pelos Colóquios da Lusofonia, salientando que Goa e Galiza fazem falta à CPLP e que seria profícuo vir a criar um canal de televisão lusófono abrangendo todos os países, mas que seria necessária muita vontade política para tal se concretizar.
    ESTE PONTO FOI REITERADO NAS CONCLUSÕES DO XIV COLÓQUIO ANUAL DA LUSOFONIA DE Bragança EM OUTUBRO 2010.
    Pareciam bem encaminhadas as negociações resultantes do repto que os Colóquios da Lusofonia lançaram à Academia Brasileira de Letras e a todas as outras entidades para apoiarem a imediata inclusão da ACADEMIA GALEGA DA LÍNGUA PORTUGUESA com o estatuto de observador na CPLP até dia 22 de julho quando a CPLP anunciou a admissão da AGLP sob proposta do país anfitrião (Angola). A mesma admissão surpreendentemente foi retirada da página oficial da CPLP umas horas depois sem qualquer explicação, pelo que as celebrações de júbilo na Galiza e no resto do mundo duraram apenas oito horas. Veio, posteriormente a saber-se que fora Portugal que sempre apoiara esta proposta da AGLP integrar a CPLP com o estatuto de observador fora vetada no último momento por Portugal. A AICL em concertação com o MIL Movimento Internacional Lusófono de que faz parte tomou algumas medidas sendo a mais visível a da Petição ao Ministro dos Estrangeiros de Portugal Dr Paulo Portas:
    Preâmbulo:
    Temos apreciado a importância que tem dado às relações com os restantes países lusófonos, numa aparente reorientação estratégica de Portugal que o MIL sempre defendeu, dado o seu Horizonte ser, precisamente, o reforço dos laços entre os países e regiões do espaço da lusofonia – no plano cultural, mas também social, económico e político.
    Esta carta prende-se, tão-só, com a posição de Portugal relativamente à Galiza, a nosso ver uma dessas regiões integrantes do espaço lusófono – daí a nossa reiterada defesa da sua especificidade linguística e cultural. Com efeito, no Conselho de Ministros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, na sua XVI reunião, realizada em Luanda no passado dia 22 de Julho, soubemos que Portugal foi o único país a não apoiar a concessão da categoria de Observador Consultivo à Fundação Academia Galega da Língua Portuguesa, entidade que, como sabe, tem já um histórico muito apreciável, tendo sido por isso reconhecida para nossa Academia das Ciências, sendo ainda membro do Conselho das Academias de Língua Portuguesa.
    Petição:
    Ainda mais recentemente, também soubemos que o novo Governo Português tem expressado as suas dúvidas sobre a presença de observadores da Galiza no Instituto Internacional de Língua Portuguesa, assim como pela inclusão do seu Léxico no Vocabulário Ortográfico Comum que está a ser preparado por essa instituição, quando é sabido que uma Delegação de Observadores da Galiza participou nesse processo desde o princípio.
    Face a isto, perguntamos apenas até que ponto houve uma inflexão da posição do Estado Português relativamente à Galiza, já que, desde que foi apresentada a candidatura da Fundação Academia Galega da Língua Portuguesa, Portugal sempre deu o seu apoio expresso a essa candidatura nos diversos órgãos da CPLP. Muito cordialmente
    MIL: Movimento Internacional Lusófono www.movimentolusofono.org
    ****
    3. AICL REPUDIA EXCLUSÃO DA AGLP
    Na ilha de Santa Maria, em Vila do Porto entre 30 de setembro e 5 de outubro, o XVI Colóquio da Lusofonia aprovou uma declaração de repúdio pela atitude de PORTUGAL OLVIDANDO SÉCULOS DE HISTÓRIA COMUM DA LÍNGUA, AO EXCLUIR A GALIZA – REPRESENTADA PELA AGLP – DO SEIO DAS COMUNIDADES DE FALA LUSÓFONA.
    A GALIZA ESTEVE SEMPRE REPRESENTADA DESDE 1986 EM TODAS AS REUNIÕES RELATIVAS AO NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO E O SEU LÉXICO ESTÁ JÁ INTEGRADO EM VÁRIOS DICIONÁRIOS E CORRETORES ORTOGRÁFICOS.
    A SUA EXCLUSÃO À ÚLTIMA HORA DO SEIO DA CPLP REPRESENTA UM GRAVE ERRO HISTÓRICO, POLÍTICO E LINGUÍSTICO QUE URGE CORRIGIR URGENTEMENTE.
    A AICL entende que não faz sentido aceitar como observadores países sem afinidades diretas ou indiretas à Lusofonia, a Portugal e sua língua e deixar de fora a região onde nasceu a língua portuguesa há mais de dez séculos.
    É um crime de lesa língua de todos nós.
    A Língua que se fala na Galiza é uma variante do Português como a do Brasil, Angola, Moçambique e tantas outras, com a peculiaridade de ter sido o berço da mesma língua comum, e jamais houve exclusão por parte da CPLP das regiões lusofalantes do mundo.
    Trata-se de uma medida obviamente ditada por preconceitos políticos e contra a qual a AICL se manifesta veementemente não só apoiando a subscrição da Petição como encorajando todos os seus associados e participantes nas suas iniciativas a protestarem publicamente contra esta injustiça feita à língua portuguesa e à AGLP.
    Iremos manifestar o nosso desacordo de todas as formas possíveis e ao nosso alcance até ver reposta a equidade da proposta de admissão da Galiza através da AGLP no seio da CPLP.
    ass. Chrys Chrystello, Presidente da Direção da AICL
    VILA DO PORTO, 5 DE OUTUBRO 2011
    J. CHRYS CHRYSTELLO, Presidente da Direção,
    COLÓQUIOS DA LUSOFONIA (AICL, Associação [Internacional] Colóquios da Lusofonia) – NIPC 509663133
  • O amor da ilha em Daniel de Sá

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    O amor da ilha
em Daniel de Sá

    Cultura
    O amor da ilha
    em Daniel de Sá

    Falo hoje aqui de Daniel de Sá, um escritor e um amigo, cuja obra comecei a traduzir antes de o ler, de ser amigo, antes mesmo de saber a cor e o cheiro dos seus lugares de infância e de calcorrear as ruínas onde habitou e das quais se serviu para essa obra que é o “O Pastor das Casas Mortas”.

    Nesse livro e no plano da linguagem, o autor (ed. VerAçor 2007) dá-se ao luxo de exportar, por efeitos de mimética, para uma das regiões mais interiores e montanhosas de Portugal, a Beira Alta, o seu herói em busca de um amor perdido no léxico e na sintaxe dos velhos montes escalavrados por entre o pastoreio numa verdadeira apologia da solidão física e mental que é o retrato de Manuel Cordovão, esse lusitano de um amor só para toda a vida.

    Como o autor diz, a começar, trata-se de um livro dedicado “Às mulheres e aos homens que ainda acendem o lume nas últimas aldeias de Portugal.”

    Mas não é da Beira que se fala, nem do pastor, nem das casas, é sobretudo das memórias guardadas na infância de casas onde o autor viveu e construiu, lentamente, uma teia de imagens, sentimentos e de princípios que nortearam a sua vida.

    Só conhecendo as suas ruínas, as pedras que foram casas, os campos que foram pastos e hoje perderam o cheiro, nos podemos vangloriar de entender a sua escrita mariense que sempre o marcou apesar de ter passado a maior parte da sua vida na micaelense Maia.

    A narrativa utilizando terminologia neutra (i.e. não insular) acaba por poder ser lida como uma ode ao açoriano isolado, de si e do mundo, neste amor perdido que se encontra apenas quando Caronte ronda.

    Como diz o autor, “Embora eu vivesse numa ilha pequenina, a cinco minutos de um passeio calmo até ao aeroporto de quase todas as companhias aéreas que havia no Mundo, isso para o caso pouco importa!

    Aliás esta transposição da naturalidade geográfica do personagem deixa-nos permanentemente na dúvida se a Teresa do “Pastor” não será irmã gémea da outra personagem feminina que acompanha os seus passos numa digressão do livro “Santa Maria: a Ilha-Mãe”. Em ambas, “as palavras [são] tratadas suavemente, amenizando as arestas da fonética, como se com elas não pudesse nunca ofender-se alguém.”

    Trata-se de uma visita não ao “despovoamento das ilhas” mas ao despovoamento do país real, montanhoso, interior e árduo de Portugal. Aqui não se resgata o imaginário coletivo naquilo que tem de mais genuíno e identificador, antes pelo contrário, se dá a palavra a uma erudição improvável de um apascentador de cabras.

    Aqui não há a memória plural, que vem de Gaspar Frutuoso, mas sim uma ficcionalização dum fenómeno que não se mimetiza apenas nesta digressão pela Beira Alta.

    As Casas Mortas são-nos apresentadas como um resultado inevitável e inelutável ao longo da vida do personagem principal, sem que a sátira ou o humor permeiem a couraça de convicções de Manuel Cordovão.

    Existe uma interdependência do autor, dos personagens e do leitor que nos levou a ver e rever dezenas de vezes, uma só passagem do livro para lhe darmos o tom, o colorido, a sonoridade e a poesia das prosas. De início pensei que seria ocasião única, mas rapidamente me apercebi de que era recorrente à totalidade da obra ficcionada.

    O resultado é uma prosa rica, densa e tensa, enovelando em diálogos simples e curtos um enredo que nos prende da primeira à última página e me levou a interrogar como é que fiquei órfão intelectual desde que acabei de traduzir o livro. As suas personagens e a sua escrita fazem de tal modo parte da minha vida que sinto uma espécie de síndroma de Estocolmo, fiquei cativo e apaixonei-me pelos captores… E agora, como vai ser?

    Já o outro livro intitulado “Santa Maria Ilha-Mãe” (também editado pela VerAçor em 2007) é uma viagem ao passado, permeada de nostalgia quase lírica e pela magia da infância e das suas cores simples mas bem nítidas.

    Fala-se de como os Açores conviveram com o isolamento ao longo dos séculos, dos ataques de piratas, uma ameaça constante a inculcar ainda mais vincadamente as crenças de origem religiosa — numa ilha que felizmente não foi muito assolada por terramotos nem explosões piroclásticas. Essa mundividência, leva-nos naquilo que pode ser considerado o mais interessante guia ou roteiro turístico jamais escrito.

    O próprio título gerou controvérsia, quer na versão portuguesa quer inglesa (Santa Maria: Ilha-Mãe; Santa Maria, Island Mother”, ou como o próprio autor notaria: “Não se trata de “mãe” com valor de adjetivo, mas sim de dois substantivos, tanto mais que os liguei com hífen em Português. Como bem entendeu, uma ilha que é mãe também. Não é o caso de Ilha Verde, por exemplo…”

    Diz-nos Daniel de Sá: “O Clube Asas do Atlântico era um dos meus quatro lugares míticos. Os outros três, também sagrado um deles, eram a capela de Nossa Senhora do Ar, o Externato e o Atlântida Cine. Ainda hoje recordo exatamente o seu cheiro” e todos nós – ao lê-lo – sentimos com ele, os cheiros, as cores e as toadas que nos descreve.

    Estes dois livros pertencem a um mesmo tempo, em que “falar do passado açoriano é, também, falar do seu presente, e referir-se ao presente é remeter inapelavelmente ao passado, o que mostra a unidade e a solidez de propósitos do livro”, como diria Assis Brasil, referindo-se ao notável e quase único traço constante de profundo humanismo que informa os textos.

    Todas as suas personagens, são de tal forma credíveis que nos sentimos transportados ao local e vivemos partilhando os sentimentos dos interlocutores.

    Como magistralmente disse a escritora canadiana Ann-Marie MacDonald, “A tradução, tal como a escrita, é uma arte e uma maestria, com um toque de alquimia. Quando o autor e o tradutor se reúnem, o resultado pode ser inspirador. As nuances traduzem a língua numa forma de arte. (1)

    E a este respeito escrevia o autor em 2/9/2010:

    Emocionei-me mesmo, corisco adotivo dum raio. Eu sabia que facilmente descobririas a casa da Ribeira do Engenho bem como, mais facilmente ainda, as ruínas da casa do pastor de ovelhas, de cabras e de vacas. Aquela casinha da Ribeira do Engenho mantém-se tal e qual era há sessenta anos, quando nos mudámos para a de Santana, a tal que nunca tinha sido chamada casa antes de lá morarmos.
    Um forte abraço, comovido.
    Daniel

    Para, mais tarde nessa data, acrescentar:

    Apesar de tudo, tenho saudades daquelas pedras. Elas não tinham culpa de não terem qualquer nobreza. Nós demos-lhes a possível. De caráter, claro.
    Obrigado. Obrigado.
    Um forte par de abraços.

    Bastaram as fotos que eu tirara em Santa Maria às “ruínas do Daniel”, como lhes chamei para provocar uma avalancha de recordações que vinham à tona como se tivessem ocorrido na véspera:

    2010/10/9, daniel.de.sa

    Ana, a Sr.ª Francelina e a Almerinda! Meu Deus, como me lembro bem delas! Pois é, e além daquilo tudo ainda cabia a máquina de costura! O que valia é que as mãos de minha Mãe eram tão pequeninas que quase não ocupavam espaço. Mas olha que eram mãos de fada, lá isso eram. Iam várias senhoras do Aeroporto lá a casa à costura. E havia raparigas que iam aprender. Aquele retangulozinho dava para tantas coisas e tanta gente! Até se dançava pelas festas principais do ano. E pendurava-se o porco ou deixava-se a carne em alguidares pelo chão, vigiada pela Durana (a cadela que se tornou uma lenda, como tu mesma pudeste constatar naquela conversa com um senhor antes da missa). Havia senhoras com o corpo assim mais para o menos bem feito que gostavam muito do trabalho de minha Mãe, que lhes ajustava o tecido ao corpo como se elas fossem manequins. Quando meu Pai morreu, tínhamos uns blocos de cimento que tinham sido feitos nos Anjos e estavam postos a secar no murinho do adro da ermida. A minha irmã ia comigo todos os dias regá-los para não racharem. E ninguém os roubou nunca! Eram para fazer uma casita, que a Câmara tinha autorizado usar os terrenos baldios em frente aos nossos pastos, numa parte larga da canada. Vendemo-los e serviram para pagar a renda desse ano ao “menino” José António Arruda. A dívida corrente de uma mercearia, nas Pedras de Santo Antão, ficou por pagar. Só a pude pagar cinco anos mais tarde. (Lembra-te de que vim só com o 4º ano.) Pedi a um compadre meu que passasse por lá, a perguntar quanto era a dívida, que eu iria em breve na minha primeira visita de saudade e queria pagá-la. Eram 900$00. O dono da loja, que nunca imaginara poder receber aquele dinheiro, disse ao meu compadre: “Ainda há gente séria neste mundo!” Graças a Deus, não éramos dos piores… Mas que estou para aqui a dizer? Esta conversa não interessa a ninguém, só a mim e às minhas saudades. Culpa do Chrys, que me trouxe para aqui estas coisas memoráveis.
    Abraços.
    Daniel

    Em 10 Outubro de 2010, o autor voltava à carga emocional que as fotos das ruínas da sua velha casa em Santa Maria lhe inspiravam:

    Vou falar só mais um pouco a propósito das fotografias do Chrys. Só lhes falta o cheiro. Foi precisamente do cheiro que mais falta senti, quando no verão de 2009 fui a Santa Maria depois de dezanove anos sem lá ter posto os pés.
    Os nossos pastos, sobretudo à volta da casa, eram amarelos e azuis da macela e do poejo. No resto a paisagem estava cheia de murta, giesta
    ou juncos.

    Arrotearam tudo. Ficou nem pasto nem jardim. Já não cheira. No Aeroporto, dos velhos cheiros, nada. Só um arzinho dele na casa da Ana [Loura]. A capela de Nossa Senhora do Ar ardeu, e foi substituída por aquela, muito parecida, mas de cimento. Resistiu a torre, que é de pedra, como pudestes ver. Meu Pai trabalhou na sua construção. Chegou a levar às costas uma pedra de duzentos quilos, que está lá, com certeza. Foi no alto daquela torre que meu Pai me mostrou (a única vez que o fez) que ficara muito satisfeito com uma classificação minha. Só confessava a sua satisfação às escondidas, a minha Mãe. Creio que o dizia aos amigos. Ele pedira-me para eu ir fazer qualquer trabalho relacionado com as vacas. Eu tinha de estudar, porque ia haver chamadas orais de Francês, mas disse que não fazia mal, havia de me desenrascar. Meu Pai, que chegou a dizer que então iria ele, estava tão cansado que aceitou que eu fosse. No outro dia fui ter com ele ao cimo da torre, e perguntou-me de imediato: \”E então?\” Eu respondi: “Tive quinze.” Beijou-me, muito contente.

    Aquelas silvas, em primeiro plano nas fotos das ruínas da casa, davam umas amoras diferentes de todas as que conheço. Embora gradas, não eram tão doces como as outras, e tinham uma pelica branca, muito
    ligeira, a cobri-las em parte. Em buracos das pedras daqueles muros as abelhas selvagens construíam uns favos em barro (dois ou quatro) onde faziam um mel castanho, muito escuro, depositando um ovo em cada favo.
    Eu ia muitas vezes, mais um amigo da minha idade, à procura desses favos, a que chamávamos casulos. Abríamo-los com um espeto e chupávamos o mel trazido na ponta do próprio espeto. Esta espécie de abelhas é tão rara que o Dr. Virgílio Vieira, biólogo, que estuda esse tipo de bicharada cá nos Açores, nunca tinha ouvido falar delas.

    As matas do Aeroporto perderam o cheiro também. As árvores cresceram muito e são muito menos do que antigamente. O hotel também ardeu, não poderia cheirar como antes. O Clube Asas do Atlântico envelheceu tanto que lhe fizeram uns transplantes, pondo cimento onde havia madeira. Pronto, não se fala mais nisso. Eu teria praticamente uma história para cada foto, já disse. Mas poupo-vos.
    Abraços.
    Daniel
    10 outubro 2010

    Para se entender esta relação umbilical nunca cortada entre o autor e a ilha nada melhor do que um texto do Daniel intitulado:

    Santa Maria, uma declaração de amor

    Considero-me um privilegiado quando me chamam mariense. Porque, como filho destas ilhas, tenho a sorte de ter pai e mãe. Foi meu pai São Miguel, minha mãe, Santa Maria. E, se pode ter-se dupla nacionalidade, por certo que poderá ter-se dupla “insularidade”.

    Sou mariense, sim, e julgo que de pleno direito. Cagarro e santaneiro. O que foi outro privilégio, ter vivido em Santana. Mais de oito anos, depois de quatro por São Pedro, na casa do Sr. Armando Monteiro, e seis meses na Ribeira do Engenho, numa casinha que era toda ao pé da porta e tinha o telhado à altura do caminho.

    De São Miguel saí ainda de cabelos compridos, de que guardo uma vaga memória mas somente do dia em que mos cortaram, já em São Pedro. Antes disso, e da ilha onde fui gerado e onde nasci, só sei o que me contava minha mãe. Tempo esse em que uma criança de dois anos podia andar pelas ruas e ir até longe, no longe relativo do tamanho do corpo, sem deixar preocupado quem quer que fosse. Palmo e meio de pernas bastava para fugir facilmente das rodas de uma carroça ou de um carro de bois.

    Muito cedo comecei a ser aluno da vida, em Santa Maria. Que belas lições recebi! Recordo a sabedoria de um povo a quem vi cavar um poço antes do tempo da sede. Aprendi a sua bondade em coisas tão simples como aquelas grandes pedras, postas ao alto à semelhança de pequenos menires, onde o gado ia roçar-se placidamente. A minha definição como pessoa começou a fazer-se com estes e com outros ensinamentos casuais ou espontâneos, sem pedagogia diplomada.

    Pode parecer um contrassenso considerar um privilégio ter vivido em Santana, porque aquela era uma das aldeias mais rurais de Portugal. Nem havia sequer uma canada razoável que lhe fosse caminho. A que existia servia, em parte, como leito de uma ribeira, onde aflorava a rocha irregular posta a descoberto pela erosão. Durante séculos, foi a única via que levava a Vila do Porto. Maior isolamento do que aquele é difícil de imaginar. Ainda assim, em Santana nasceram e viveram pessoas de grande valor humano e social. Prodígios da superação.

    De súbito, tudo mudou em 1945. Em Santana propriamente não, porque ela ficou imutável na sua rústica ancestralidade. Mas, mesmo ali ao lado, fora feito um aeroporto para ser um dos melhores e mais concorridos do Mundo. A Vila deixou de ser a principal referência, porque até na religião os de Santana se tornaram como que paroquianos da capela de Nossa Senhora do Ar, que antes fora lugar de culto de protestantes, católicos e judeus. Ia-se e vinha-se usando atalhos desenhados por milhões de passadas, cortados aqui e ali por muros que era preciso saltar. A aldeia isolada ficara a poucos minutos de um mundo novo e impensável. Mas aquela gente recebeu-o quase com a mesma naturalidade com que via nascer o Sol todos os dias, o Sol que gretava o solo árido no verão, depois de secos os lameiros do inverno. Aquela gente, que resistira à angústia da fome, numa penúria humilhante e indigna da condição humana. Como um pouco por toda a ilha, aliás. Mas que manteve uma dignidade bíblica, porque a dignidade é um estado de espírito mais do que uma afirmação social.

    A nossa casa nunca fora chamada casa antes de lá morarmos. E, nesse tempo, era um absurdo pensar que quem tivesse menos de dezasseis anos não podia trabalhar. Não o proibia a lei, e a isso obrigava a necessidade de as mães não terem falta do que pôr na mesa à hora de comer. Apesar disso, não lamento nada da minha infância.

    Fui pastor de cabras, de ovelhas e de vacas. Cavalguei em pelo e sem esporas nem freio, como os índios. Nunca ninguém me ensinou a ter medo do dia nem da noite. Fui cowboy ou índio na mata de Monserrate e nas do Aeroporto. Mas não estraguei nenhuma árvore, nem os meus companheiros de aventuras. Contei histórias ao meu amigo Elias, e contava-me ele outra por cada uma das minhas. Matávamos o menor número possível de personagens, quer fossem índios ou bandidos. Apenas o essencial para haver vencedores e vencidos.

    Entretanto, ia aprendendo em livros ou num quadro preto. Primeiro na escola de Santana. Com a D. Eduarda na 1ª classe, a D. Doroteia, na 2.ª, a D. Úrsula, na 3.ª, a D. Francisca, na 4.ª. Continuam a ser das minhas heroínas preferidas. Fizeram o milagre de me ensinar a ler, de explicar que povo somos e a que terra pertencemos. Depois veio o Externato. Juntei à minha lista de heróis e de heroínas mais uns quantos predestinados para o bem e a sabedoria. Passei a pertencer também à geração do Cavaleiro Andante, sem dúvida a mais prodigiosa publicação juvenil que houve em Portugal. Não tínhamos dinheiro para livros nem revistas, por isso era o José Guilherme Correia que mo emprestava sempre. E alguns livros também, como o José Vieira Souto Martins, um amigo de que nada sei há meio século. Foi assim que pude ler Emílio Salgari, Mark Twain ou Enid Blyton.

    E havia o Clube Asas do Atlântico. O Asas! Nunca ninguém me pôs na rua nem mostrou desagrado pela minha presença. Nem imaginavam o bem que me estavam fazendo. Ali ouvíamos os relatos do futebol e do hóquei das nossas alegrias patrióticas. Era onde eu tinha à disposição os principais jornais que se publicavam em Portugal. Um dos mais bem escritos era A Bola, e por isso, ao mesmo tempo que a rivalidade entre o Sporting e o Benfica era um dos principais fatores de unidade dos Portugueses, o desporto, contado naquele jornal que mudou tanto que se pode considerar extinto, era também uma lição de cultura.

    Não longe, o campo dos jogos épicos do futebol romântico de dois defesas, três médios e cinco avançados. Com o mítico Badjana a dar os últimos pontapés na bola, jogando pela equipa da Direção do Serviço de Obras, onde meu pai trabalhava. Depois veio outro clube, o de Gonçalo Velho, para o qual minha mãe e minha irmã bordaram os primeiros emblemas.

    No entanto, a alegria suprema tinha lugar reservado no Atlântida Cine. O seu porteiro deixava muitas vezes as crianças entrarem sem pagar bilhete. Por isso o Sr. Cardoso faz parte da minha lista de heróis particulares. E o grito “ó Cardoso, apaga a luz” ainda ecoa nas minhas recordações como o anúncio de todas as claridades. Outro benfeitor de homens a haver.

    Na capela de Nossa Senhora do Ar aprendi o lado mais humano da vida. Aquele que pensa acima de tudo no que nos distingue dos irracionais. Se é certo que sem uma fé sobrenatural se pode ser boa pessoa, o cristianismo à maneira do Padre Artur é o testemunho do bem na Terra.

    Mas qualquer pedaço de mundo vale pelo que vale a sua gente. A do meu tempo era feita destas e de outras figuras que marcaram o modo de ser de um tempo e de uma geração em que havia na ilha mais forasteiros do que naturais dela. Sorte nossa que a maior parte dos que em Santa Maria buscaram um pouco mais de fortuna ou um pouco menos de infortúnio eram pessoas de deixar saudades. Por isso o re-encontro com velhos pioneiros dos tempos modernos da Ilha de Gonçalo Velho é sempre um momento de festa que dificilmente tem semelhança quando as amizades foram feitas por outras bandas.

    O próprio aeroporto, começado a construir durante a guerra, acabou por ser um lugar de passagem para a paz. Se, em 1918, Franklin Delano Roosevelt escolheu Ponta Delgada para apoio ao transporte de tropas a caminho da Europa, por aquelas pistas passaram sobretudo soldados de regresso a casa. O nome de código da operação, “Green Project”, era ele mesmo uma declaração de esperança numa nova era.

    Foi neste ambiente, um dos espaços nacionais onde mais se concentravam pessoas com ensino superior ou com uma cultura acima da média, que começou a germinar a minha vontade de fazer das palavras escritas um uso para além da obrigação de alguma carta familiar. Sem Santa Maria, sobretudo sem o seu Externato, eu teria ficado pela 4.ª classe, tal como todos os rapazes que nasceram na Maia, em São Miguel, no mesmo ano que eu. Por um desses acasos que são difíceis de explicar, cresci logo nos primeiros anos de vida com uma curiosidade sem limites.

    Um dia, ainda antes de completar seis anos, perguntei a meu pai como é que se faziam versos. Ele era um improvisador de quadras e de histórias como poucos conheci na vida. Chegou a fazer o negócio de uma burra cantando ao desafio. E, nos intervalos do almoço, contava casos a homens da sua idade, mas tão interessados como crianças. Vi muitos filmes pelos seus olhos, ou ouvi-os da sua boca. Ele levou a sério a minha pergunta sobre poesia, e respondeu como se deve sempre responder a uma criança: dizendo a verdade das coisas como se se falasse ao adulto que a criança será um dia. Logo a seguir exercitei o meu novo conhecimento cantando para uma vizinha da minha idade, de que só guardo a memória de uns longos caracóis loiros. Sei que começava assim, esse que foi em rigor o meu primeiro poema: “Sou Daniel/ da ilha de São Miguel”.

    Era, sim, com a sorte de ser da Ilha-Mãe também. E nela vivia então um poeta que fez parte do meu imaginário, e de quem eu muito quis ser imitador: Lopes de Araújo. Não tive a sorte de ser seu aluno, mas a ânsia de alcançar um estatuto semelhante ao seu foi talvez o maior impulso que me levou a dedicar-me à escrita.

    Mas Santa Maria veio a ser para mim cenário de drama também. Numa certa manhã, os responsáveis pela Direção do Serviço de Obras estavam reunidos para despedir pessoal. O critério escolhido foi o de optar pelos trabalhadores com menos filhos. O nome do meu pai foi um dos primeiros a serem falados, porque éramos só minha irmã e eu. Minha irmã não estudara porque as propinas equivaliam a um terço do ordenado de meu pai. Que levou um ano a decidir se eu deveria frequentar ou não o Externato. Acabou por resolver-se pela positiva, e eu revi a gramática da 4.ª classe, feita um ano antes, estudando-a enquanto vigiava as vacas. Valeu-nos que nunca paguei propinas no colégio, como chamávamos ao Externato.

    O Miguel Côrte-Real, esse homem da linhagem dos primeiros povoadores e a quem Santa Maria muito deve, não concordou com a ideia, alegando que eu estudava, e que meu pai e minha mãe, costureira, se sacrificavam a trabalhar mais do que podiam para eu ter aquele privilégio. Estava a questão por decidir quando chegou um funcionário com uma notícia dramaticamente irónica. Meu pai acabara de deixar vago definitivamente o seu lugar na vida.

    Este é o autor que primeiro descobri e traduzi, depois dele, viriam Cristóvão de Aguiar e Vasco Pereira da Costa e, aos três, conto-os como amigos especiais. Chegara a esta idade sem ter um autor amigo embora amigos houvesse que tivessem sido autores. Foi com eles que cresci a apreciar e a ler outros autores de matriz açoriana. Levei comigo nessa jornada muita gente, que, igualmente, se apaixonou por essa escrita singular, onde se sente a todo o instante a palavra mar.

    (1) “Translation, like writing, is both art and craft, with a touch of alchemy. When translator and author actually get to meet, the result can be inspired. Nuance is what translates language into art.” Ann-Marie is a Toronto-based writer and actor. She has received accolades for her playwriting, acting and writing. Her play Goodnight Desdemona (Good Morning Juliet) won the Governor General’s Award for Drama, the Chalmers Award for Outstanding Play and the Canadian Authors’ Association Award for Drama. She won a Gemini Award for her role in the film Where the Spirit Lives and was nominated for a Genie for her role in I’ve Heard the Mermaids Singing. Her first novel, Fall On Your Knees, was published in 1995 to much critical acclaim in Canada and abroad. Her latest book, The Way the Crow Flies, was shortlisted for both the Giller Prize and Governor General’s Award.
    http://www.banffcentre.ca/programs/93_words/2007/biltc/past_programs.aspx

    CHRYS CHRYSTELLO
    Presidente da Direção da AICL Colóquios da Lusofonia
    Cidadão australiano residente na Lomba da Maia, S. Miguel, Açores
  • a despedida de Cesária (Èvora)

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    Em dialogos_lusofonos@yahoogrupos.com.br, Margarida Castro <margaridadsc@...> escreveu
    
    "casa_amadis_montpellier
    
    October 23, 2011 3:51 PM
    
    
    
     CASA AMADIS Lusophonie / Lusofonia 
    CASA AMADIS Lusophonie / Lusofonia  
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    1. 
    CESARIA ÉVORA, O ADEUS AO PALCO E O REGRESSO DE UMA LENDA De :  Casa Voir tous les thèmes | Créer un nouveau thème  Message  
    1. 
    CESARIA ÉVORA, O ADEUS AO PALCO E O REGRESSO DE UMA LENDA  
    Envoyé par :      "Casa" amadis_montpellier@...    amadis_montpellier  
    Samedi 22. Octobre 2011  21:53 
    CESARIA ÉVORA, O ADEUS AO PALCO E O REGRESSO DE UMA LENDA
    
    «Mim já'm bá pa nha terra »
    « Sexta-feira», disse entrelaçando os dedos, um olhar de menino encabulado. E carregou : â€" « se Deus quiser! » 
    Sexta-feira, 21 de outubro. Todos os argumentos foram poucos para convencer a Cise a atardar-se ainda algum tempo em Paris â€" simples precaução depois desse grande solavanco que a levou de urgência, sem fala e quase sem fôlego, ao hospital La Pitié-Salpétriè re. No primeiro dia deu água pela barba ao corpo médico que chegou a t(r)emer pela sua sobrevivência. Graças a Deus o pior também foi curto â€" uff !
    De coração generoso, quem a conhece sabe que nunca foi de muitas falas, a Diva dos Pés Descalços. No palco canta e encanta, mas falar, nem por isso. Agora, não convém provocá-la: « Sabes, Cesária, que és a voz das as mulheres sem voz ? » E ela : - « Ah ! psuda !, mim nha voz ê d'meu! ». E outra vez : que mensagem tinha a passar às mulheres japonesas ? - « Ês bá desinrascá ! » 
    Nem mais. É assim a Cise : se a sua humildade faz o seu charme, que dizer desse seu humor natural com que empolgou palcos e plateias? Com os amigos, Cise deixa falar o coração. Agora, se for para convencê-la de alguma coisa, melhor mesmo é passar ao largo! «Cis txa'me bá pa nha terra » - e ninguém fala mais nisso ! 
    Se existe uma pessoa que funciona ao « feeling », essa pessoa é Cesária Évora. Autêntica e sincera, suas francas gargalhadas têm essa espontaneidade de criança que às vezes nos falta a nós-outros, submetidos que vivemos à ditadura da aparência que a vida em sociedade cruelmente nos impõe.
    Uma mulher de carácter, ou a força da humildade
    Mas não nos iludam as aparências ! Por trás dessa inocente serenidade existe uma mulher de pulso e de carácter, impondo-se por essa rara virtude que é a humildade, paradoxalmente o segredo e a fonte da sua força. Conta quem sabe que essa força « inocente » pode traduzir-se em caprichos nem sempre muito fáceis de gerir… disso falarão aqueles que, por razões profissionais ou afectivas, estejam investidos dessa missão. Na tarde do seu último domingo em Paris, no lar familiar onde se instalou para convalescer, ainda veio à baila, assim muito a medo pa'l ca bá chatiá, se não seria melhor esperar mais um pouco, o que achas Cise, antes de regressares de vez a Cabo Verde… E a mesma resposta categórica: - «Já m'crê  bá'mbora, m'ca tem más nada k'fazê li». Traduzindo  : a dúvida ao seu dono , eu cá já decidi. E ponto final! 
    Escusado insistir. Nem mesmo a Fantcha, jovem cantora nossa, uma espécie de filha espiritual vinda para a ocasião da América, logrou ir mais longe. Uma amiga segreda-me ao ouvido, a propósito de uma feliz e inesperada visita : - « Um belo dia, ligou-me que ia a caminho da minha casa… quando au já desesperava de a convidar sem resultado ! Cise não se convida, é deixá-la que vem sozinha ». 
    Caprichos de star ? Nada disso, Cise é assim mesmo! Nos anos oitenta, era ela uma cantora do Mindelo como tantas outras, e eu, jovem jornalista da Rádio, lembro-me ainda: o que não suávamos para conseguir levá-la ao estúdio para uma entrevista ! Melhor mesmo era ter à mão uma alternativa para a emissão, sabendo que tanto podia vir como não ! 
    Mas caprichos de star, isso nunca ! Quanto mais não seja porque Cesária não era star nessa altura e sequer sonhava vir a sê-lo. E se hoje é quem é, nem por isso deixou de ser quem era! Por mais que  falem dela em jornais e livros, que por onde passa as pessoas se extasiem  e lhe estendam o tapete vermelho, Cesá ria nunca entrou na pele dessa vedeta planetária que ouve dizer que é! Tirando as rugas do tempo e os adornos em ouro que sempre afeccionou â€" e isso é muito caboverdeano, â€" quem a viu há 30 anos, assim a vê agora : igual a si mesma, fiel aos seus hábitos e aos amigos de sempre. Assim o enfatizou Christine Albanel, ministra da Cultura, ao outorgar-lhe, em nome do Presidente da República Francesa, a Legião de Honra em 2009 : « Ni vos nominations aux Grammy awards, ni vos Discs d'or, ni la présence de Madonna aux premiers rangs de vos concerts new-yorkais n'ont réussi à entamer votre authenticité, votre vérité qui ont
     forgé votre succès ».
    Com essa mesma simplicidade, agora inspirando alguma emoção por causa da doença, fomos encontrar a Cise no seu leito de hospital, eu e mais o encarregado de negócios António Lima. Éramos portadores de uma mensagem de Sua Excia o Presidente da República, Dr. Jorge Carlos Fonseca, que ela agradeceu, comovida quanto baste mas nem por isso envaidecida. Tampouco se envaidece de ter recebido uma carta do presidente Sarkozi.
    Cesária é simplesmente única. E as honras, cuidado porque, se mexem com ela, até as declina! Quem não se lembra do avião que ia levar o seu nome mas que ela recusou ir baptizar por, numa das suas viagens, lhe terem faltado as suas bagagens no desembarque? ! Fez finca-pé, disse que não ia - e não foi!
    Para os amigos, aqueles que convivem de perto com a Cise ou a frequentam na sua casa em S. Vicente, a coisa é outra : cachupada, bom humor, cavaqueira descontraٌí da. Visitar a Cesária, verdadeira « peregrinação » para certos fãs, é impregnar-se da morabeza caboverdeana. Aqueles que conheço regressaram embevecidos com a simplicidade dessa vedeta mundial de lenço e avental, servindo seus convidados como Cristo lavando os pés aos apóstolos ! Para os franceses (e não só), Cabo Verde é Cesária : quem não teve a felicidade de a ouviu cantar, decerto ouviu falar. Que resida em part-time na cidade-luz, seu « port d'attache » de onde partiu um dia à conquista do mundo com o seu canto mágico, é motivo de orgulho para eles. 
    Um exemplo para seguir e reflectir
    A cada geração, seus filhos dilectos. Nossos filhos dirão que tivemos sorte em sermos testemunhas dessa formidável « victoire du talent sur la fatalité ». Não vou aqui recapitular este destino singular, ao mesmo tempo singelo e palpitante, que já deu tantos livros biográficos e que certos fãs já conhecem de cor. Para as gerações vindouras fica este legado vivo, gravado em vinil e não sei quantos CD's e outros tantos sucessos, a testemunhar que foi essa grande senhora, discreta e sem título, quem tirou Cabo Verde da penumbra do anonimato! 
    Sirva de exemplo às gerações vindouras…
    E de lição aos deuses do Olimpo ! Que a vanglória de mandar não prime sobre o amor à terra daqueles caboverdeanos que carregam no ombro a bandeira desta grande Nação sem nada pedir em troca! Reflictam aqueles políticos e governantes que, carregados de títulos e brasões (de grandeza mais que de obra feita), andaram gaguejando pelo mundo (quando não entraram mudos e sairam calados !) enquanto Cesária e seus músicos seduziam multidões ! Que agora, no regresso à casa após ter bebido nos oásis do mundo que lhe abriram as portas, meditem aqueles que lhe recusaram uma caneca d'água quando, sozinha, atravessava o deserto das agruras da vida! Que a nossa « gente grande » se acalme na sua soberba, que a história não é feita somente de títulos e de poder, que estes vão passando, mas sobretudo de valores que perduram na memória e no tempo.
    Uma reforma bem merecida
    « Si ca bado ca ta birado ». Cumprida esta profecia de Nhô Eugénio, o poeta, e após ter frequentado « la cour des grands », é chegada a hora da reforma. Bem merecida é ela após uma vida inteira a cantar Cabo Verde e metade dela a levar Cabo Verde ao Mundo. 
    Porque conquistar o mundo, Cise, convenhamos, é dose para leão. Lembras-te ? Entre as voltas que o mundo dá e as voltas que deste ao mundo, em 2008 já o coração havia acusado um primeiro choque : por pouco ia parando lá pela longínqua Austrália, nas antípodas do « Mindelo, nôs querido cantim ». Estoica te ergueste e continuaste a caminhada. Mas agora, descansá bô corp, vivê bô vida sem stress. E por favor, tmá bôs ramêd e largá kel cigarrim da mon. Kês "matutano" tambê. Sabes que ainda tens muito para dar : deixaste as tournées, que isso de andar pelo mundo não é brincadeira, mas sempre poderás, porque não, voltar aos palcos uma vez por outra. Os teus admiradores hão-de gostar e Cabo Verde agradece. Afinal, Cise, és a nossa bandeira. És um padrão a assinalar ao mundo inteiro que no meio do Atlântico existe um arquipélago com gente e com alma, que não apenas um produto exótico para consumo turístico e
     « outros » consumos para quem dá mais. 
    Se acaso não merecesses o nosso carinho, ainda te devíamos a gratidão. Bom descanso na Tapadinha.
    Mantenhas da Terra-longe, 21 de outubro de 2011
    David Leite
    
    
  • Jeanne Pereira: «O galego é português e o português é galego»

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    da AGAL SE TRANSCREVE

    Jeanne Pereira: «O galego é português e o português é galego»

     

    «O pequeno império deixa claro que a Galiza é unha periferia de Madrid e não uma nação com identidade própria»
    «Deixemos de lado esse discurso ultrapassado dito por muitos galegos de que o português se parece muito ao galego e mudemos para este: de que o galego é português e o português é galego»

     

    Sexta, 21 Outubro 2011 08:18
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    Jeanne defende o galego como língua «extensa e útil»

     

    PGL – Jeanne Pereira, brasilega, achava estranho o galego se escrever com ortografia castelhana e pensa que temos que ter a ousadia de dizer a verdade sobre a língua da Galiza. É uma magnífica embaixadora do nosso país e da nossa língua.
    PGL: Jeanne Pereira é baiana. Que te motivou a vires para a Galiza e como sentiste a integração no nosso país?
    Jeanne Pereira: Por questões pessoais necessitava sair do Brasil. Eu já sabia que aqui havia um idioma que era parecido ao português. Por que era exatamente o que pensava por ter pesquisado algo em relação a Galiza, à sua historia, em sites de pesquisas que nada tinham a ver com a realidade do país. Lembro bem que procurei saber da realidade política, e porque esse idioma ‘parecido’ ao meu. O que me chamou a atenção foi a ortografia, achava estranho um idioma com uma escrita igual ao espanhol, principalmente porque diziam ser ‘parecido’ ao português. E pensei como é possível?
    PGL: Falando em integração, como foi o teu contato primeiro com o reintegracionismo?
    JP: Através de José Alvaredo, que foi um pessoa muito especial que no seu momento se dedicou a mostrar a verdade em relação a realidade da Galiza. Uma pessoa que foi importante para que eu pudesse chegar à realidade sociolinguística. Era interessante o que ele fazia, era uma preocupação diária, ja que colocava como página principal o site da AGAL e Vieiros. Quando eu abria o computador, estavam ali, então lia e tirava as dúvidas com ele, mesmo quando chegava em casa cansado do trabalho, nunca se negou a explicar-me e dedicar todo o tempo possível para dar-me esclarecimentos com uma paixão pela Galiza, pelo nosso idioma em comum, que me contagiava.
    Foi a primeira pessoa que me disse que…o português nasceu na Galiza. As dúvidas eram tiradas e muito bem esclarecidas ao ponto de me deixar mais curiosa. Inclusive a realidade política veio a través dele. O meu primeiro comentário sobre a língua foi em Vieiros, que passei a difundir a realidade do país através deste jornal.
    O primeiro dicionário consultado foi o Estraviz. Comecei a comentar artigos em Vieiros para chegar a outros brasileiros que não conheciam a realidade da Galiza. Aproveito para agradecer todo o apoio dado por esse grande mestre que no seu momento, como disse, foi extremamente importante para mim. Um muito obrigada Zé! Sigo adiante e com muita força valorizando tudo que aprendi.
    PGL: Estás a estudar galego, versão ILG-RAG, na EOI. Este formato de galego pode funcionar bem na interação com pessoas do Brasil e de Portugal?
    JP: Não, pela ortografia, que é espanhola, que nada tem a ver com português. É uma norma isolacionista que foi imposta pelo Estado espanhol, já que a Galiza pertence ao Estado e o governo autonômico, em vez de aproximar o galego ao português, pretende aproximá-lo ao espanhol, diluindo assim a identidade galega. É uma estratégia política do pequeno império, uma forma de colonizar a população galega, separando o nosso idioma em comum. Inclusive alguns brasileiros dizem que é um galego ‘feio’, ‘mal escrito’. É uma questão tanto da fala como da escrita. Existem vícios de linguagem que infelizmente são muito utilizados pelos/as galegos/as pela influência do espanhol, daí que os/as brasileiros/as se aproximem ao espanhol e não ao galego, já que o galego raguiano é um dialeto do espanhol, e vista como uma língua ‘misturada’ do espanhol.
    PGL: Não sei se sabias que nas EOI existe a figura de língua ambiental, aquelas que a priori existem na sociedade onde está inserido o centro. Na Galiza são três, galego, português e castelhano. Isto facilitou o teu dia a dia, não é?
    JP: Deixemos de lado esse discurso ultrapassado dito por muitos galegos de que o português se parece muito ao galego e de que um galego pode aprender português por ser parecido, e mudemos para este: que o galego é português e o português é galego. A prova é que o galego já está no dicionário da Porto Editora desde 2008 no vocabulário comum e breve nos dicionários brasileiros.
    A facilidade de entendimento é grande desde quando se abra a mente para isso. Para mim sempre tem sido fácil porque não importa se falam comigo em espanhol, eu falo em galego-português, estou na Galiza, e isso tenho claro. Já escutei muita gente falarem para mim “Não te entendo”. Eu respondo, “pois deveria, estamos na Galiza, a língua do meu país nasceu aqui, temos inclusive um vocabulário comum.
    Palavras que foram levadas daqui para o Brasil, que surgiram aqui”. Infelizmente, por questões de imposição do estado espanhol, não podemos usar a nossa língua nas traduções juramentadas. Por exemplo, um título universitário do Brasil, tem que ser traduzido ao espanhol e não à língua própria do país.
    PGL: No Brasil existe um desconhecimento da Galiza e da sua língua. Qual a reação média de uma pessoal do Brasil quando descobre?
    JP: Muitos galegos que visitam o Brasil, de férias, para estudar, os emigrantes que vivem ali uma boa parte não são vistos como galegos e sim espanhóis. Inclusive Santiago de Compostela é destino para quem está a aprender espanhol. O pequeno império deixa claro que a Galiza é unha periferia de Madrid e não uma nação com identidade própria. Escuto de muitos galegos como uma brasileira pode saber tanto da Galiza ao ponto de dizer que o português e o galego é o mesmo e que eles sendo galegos não sabem nada da realidade e alguns se aborrecem afirmando que tudo isso é uma mentira, que a história mostra claramente as diferenças nas duas línguas que é impossível serem um único idioma com variantes diferentes.
    Sempre cito como exemplo muitos galegos que estiveram ali no Brasil e que muitos brasileiros perguntavam de que região faziam parte, ou até mesmo de que estado. Infelizmente a realidade da Galiza ainda é desconhecida no meu país, mas faço minhas as palavras do José Carlos da Silva, que diz: “Reclamo um maior conhecimento da realidade da Galiza no Brasil”.
    Agora, o dia 6 de novembro estarei de volta a Salvador, mas levo comigo o compromisso de mostrar essa realidade, a de um país que possui um idioma em comum com o meu, e de que a sua língua nasceu aqui na Galiza. É com muito orgulho e muita gratidão por um país que aprendi a amar como sendo meu, um país que me acolheu, porque sempre deixo claro que fui acolhida pela Galiza e não pela Espanha, que lutarei para que esse conhecimento seja real no Brasil.
    PGL: Achas que existem diferenças entre a cidadania galega na sua perceção do Brasil e da lusofonia em geral?
    JP: Muitos galegos veem o Brasil como um destino turístico, não como um país com uma língua em comum. O Brasil ultimamente é visto por ser a sétima economia mundial e nos meios de comunicação aparece muito este facto, mais nada em relação questão da língua. O Brasil infelizmente não conhece essa realidade.
    PGL: Certos círculos sociais em Santiago falam da figura do(a) brasilego(a), uma pessoa que vive na nossa língua cá na Galiza frente a atitude mais habitual de desenvolver-se em castelhano no dia a dia. É exportável esta forma de viver a outras cidades?
    JP: Em Santiago sim, mais noutras cidades não porque a fala predominante é o espanhol. Em Santiago também depende do ambiente que frequente ou que esteja. Há lugares que inclusive falo o meu ‘baianês’ com uma rapidez como se estivesse em Salvador. Chego a mudar completamente o meu sotaque e falar com uma desenvoltura que as vezes não me dou conta que estou em Santiago.
    PGL: Tu segues os passos da estratégia luso-brasileira para o galego. Que tipo de táticas achas mais produtivas e quais achas que se deveriam implementar para a cidadania galega viver o galego como sendo extenso e útil?
    JP: Táticas temos muitas, inclusive as redes sociais, são meios de grande importância para divulgar a nossa realidade. Há que sensibilizar e ter muita valentia e ousadia no falar, na hora de dizer a verdade sobra a realidade o país, sobre o seu idioma próprio e cultura, afirmando com muita força que “Galiza não é Espanha”, e que isso fique bem claro, não tendo medo de falar a verdade em alto e bom som,para todo mundo ouvir.
    O incentivo a leitura dos jornais na nossa língua, dando prioridade as publicações em galego-português, também nas redes sociais. Ao invés de estarmos publicando notícias de meios espanholistas, publicarmos noticias com o nosso idioma.
    Aproveitar o momento político do Brasil pode ser algo importante, para mostrar que além de um país em crescimento com ofertas de emprego, para os galegos, há a vantagem de termos um idioma em comum, o que facilita muito no mercado de trabalho. A ousadia e a valentia de sempre dizer a verdade, sobre a realidade da Galiza, é importante. Já passou da hora de vencer todo esse auto-ódio que nos contamina de forma negativa, tirando a coragem e a força de muitos em falar a realidade e de lutar pelo seu país, livrando-se da colonização mental imposta pelo ‘Reino de Espanha’, por um pequeno Império fracassado, prepotente e complexado, em que infelizmente a Galiza tem sofrido por estar sendo Desgovernada por um partido que em nada representa o país, levando a Galiza ao retraso.
    PGL: Que visão tinhas da AGAL, que te motivou a te associares e que esperas da associação?
    JP: A nossa língua é extensa e útil, a nossa língua é internacional, e a AGAL cumpre perfeitamente esse papel como representante do nosso idioma, com muita seriedade e responsabilidade divulgando de forma séria o seu trabalho em prol da nossa língua e da realidade sócio-linguística do país. Levando ao conhecimento inclusive a nível internacional. Parabenizo a associação pelo grande trabalho que vem sendo realizado nesses 30 anos de existência, mostrando a internacionalidade da nossa língua em comum. Espero sempre o melhor e que esse trabalho cresça e continue recebendo todo o apoio merecido para dar continuidade a divulgação da nossa língua.
    PGL: Como vai ser o Brasil do futuro?
    JP: Espero que seja um país com menos desigualdade social, investindo em políticas sociais, fortalecendo a saúde pública como direitos de todos, com qualidade. Que o presidente ou presidenta que ali esteja, chegue a ONU, um dia no seu discurso, reivindicando e reconhecendo a liberdade e soberania de muitas nações como a Galiza.

    Conhecendo Jeanne Pereira

    • Um sítio web: são vários, principalmente os relacionados a política e escritos no nosso idioma em comum. Por exemplo, leio todos os dias a revista Carta Maior.
    • Um invento: o que traga beneficio à humanidade
    • Uma música: Apesar de Você (Chico Buarque)
    • Um livro: O Golpe de 64 e a Ditadura Militar, de Júlio José Chiavenato. Esse livro foi uma grande referência para mim, a nível político e um grande presente dado por meu pai, quando tinha apenas 15 anos de idade.
    • Um facto histórico: a independência da Galiza
    • Um prato na mesa: um caruru completo (comida baiana)
    • Um desporto: Fórmula 1
    • Um filme: O auto da compadecida, de Ariano Suassuna.
    • Uma maravilha: a descoberta da vacina contra o vírus da Sida
    • Além de brasileira: brasilega

     

    Comentários

    # Re: Jeanne Pereira: «O galego é português e o português é galego»Carlos Durão 21-10-2011 09:21

    Mal posso conter as bágoas, cara Jeanne, mulher valente: sei muito bem que estas belas frases tuas:”Há que sensibilizar e ter muita valentia”, “A ousadia e a valentia de sempre dizer a verdade, sobre a realidade da Galiza”, não são vazias, que és testemunha privilegiada da nossa situação precária, até tu própria pudeste comprovar em ti mesma essa prepotência, no fundo esse racismo do EE para quem não seja “como ele”; no teu imenso Brasil estaremos contigo, sempre, até pode ser que te visitemos alguns de nós; leva o meu forte, fundo, acarinhado abreço galego.

    Carlos

     

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