Autor: CHRYS CHRYSTELLO

  • o pecado de falar galego,Bernardo Penabade

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    in diálogos lusófonos

    https://alemguadiana.blogs.sapo.pt/o-pecado-de-falar-uma-lingua-o-galego-167174

    O pecado de falar uma língua (o galego, por exemplo)

    Galiza – PGL – [Carlos Durão] O autor, Bernardo Penabade, que foi presidente da AGAL (Associação Galega da Língua), é professor de Língua e Literatura no Instituto Perdouro de Burela, onde impulsiona o ‘Modelo Burela’, primeiro projeto de planificação linguística aprovado por unanimidade numa vila galega.
    Diz-nos ele, no prólogo e na contracapa do livro, que as entrevistas com o professor Estraviz “devem entender-se como homenagem ao seu protagonista… Uma vez publicado o seu testemunho, o perfil humano e profissional de Estraviz deixa de ser privativo daqueles círculos que tivemos o privilégio de o acompanhar de perto nestes últimos trinta anos e passa a ser património comum da cidadania da Galiza e de todos aqueles países que no mundo utilizam o idioma de raiz galega”.

    Durante vários anos, B. Penabade manteve este alargado diálogo com o seu amigo lexicógrafo, aprofundando na vida e no conhecimento de uma das figuras mais relevantes no estudo da língua e literatura galegas.
    I. A. Estraviz é o redator e coordenador do grande dicionário que leva o seu nome (hoje na Rede:http://www.estraviz.org/, Dicionário da Língua Galego-Portuguesa, e-Estraviz, no Portal Galego da Língua, com jogos didáticos, a partir de 2005, e agora na sua terceira edição em Internet), e neste livro de entrevistas podemos conhecer melhor o professor, o monge, o ativista, o estudioso… desde criança: as suas lembranças, a sua aldeia natal de Vila Seca (Límia, 1935), a sua chegada ao mosteiro de Usseira, a vida ali, e os inícios da sua formação humanística, o posterior desterro, e o abandono do monacato, que abre uma nova etapa na sua vida, completando a sua formação, morando então, e exercendo a docência e a dedicação social, em várias cidades do Estado Espanhol [sic] (Madrid, Albacete), França, Alemanha, com deslocamentos ao Brasil, Inglaterra, Portugal (Lisboa, Anadia, Norte…), etc., expressando-se em galego, castelhano, catalão, francês, alemão… e redigindo e coordenando a sua maior obra: o mais completo dicionário existente do português da Galiza.
    A edição está ilustrada com numerosas fotografias da vida de Estraviz, com um anexo e dezasseis páginas a cor que mostram visualmente diferentes momentos da sua vida, partilhados com familiares e amigos (como Manuela Ribeira Cascudo), e vultos da galego-lusofonia (como Manuel Maria, I. Dias Pardo), bem como documentação pertinente ao texto.
    http://apedoiro.files.wordpress.com/2009/12/isaac.jpeg?w=595
    Por diante dos nossos olhos vai passando o rapaz criado no rural, partilhando com a sua família numerosa as duras tarefas do campo, aprendendo o galego da Límia (que nunca deixou de falar), destinado depois ao monacato no mosteiro cisterciense de Usseira (uma das colocações que na altura muitos pais procuravam para os seus rapazes saírem do mundo rural), mas tendo que o abandonar, junto com os seus companheiros, devido a um conflito gerado pela atitude sobranceira dos seus superiores (a proibição de falar a sua língua era considerada “normal”, devendo ele próprio até se confessar do “pecado de falar galego”).
    Começou então um desterro que o levou a mosteiros cistercienses da Cantábria, Navarra, França, Alemanha, e depois, de volta ao Estado Espanhol [sic], exclaustrado, a Albacete (onde foi sacerdote na comunidade cigana), e Madrid, fazendo labor pastoral em bairros marginais, ao tempo que trabalhava na docência e seguia os seus estudos universitários.
    Relacionou-se então com o grupo editorial Galáxia, de R. Piñeiro e F. Fernández del Riego (iniciando a sua colaboração com a revista Grial), e com a editora SEPT, de J. Illa Couto (para a qual fez uma tradução dos Salmos, e outras).
    Licenciou-se em Filosofia pela Universidade de Comillas (1973), em Filosofia e Letras pela Complutense de Madrid (1974), e na mesma em Filologia Românica (1977), foi diplomado em Cultura e Língua Portuguesas pela Universidade de Lisboa (1976), e doutor em Filologia Galega pela Universidade de Santiago de Compostela (1999) com a tese “O Falar dos Concelhos de Trasmiras e Qualedro”.
    Entre 1975 e 1977 foi professor de Língua e Literatura Galegas no Ateneu de Madrid, e desde então até 1984 desempenhou o mesmo labor na Irmandade Galega-Lôstrego da capital do Estado. Como Professor de Bacharelato percorreu várias vilas e cidades galegas (A Rua, Ferrol, Ponte Vedra, Ponte d’Eume, Santiago, Vigo, Corunha, Ordes) até obter destino definitivo no Instituto Otero Pedraio de Ourense em 1987. Em 1986 assistiu como observador (por delegação do professor Ernesto Guerra da Cal) ao Encontro sobre Unificação Ortográfica da Língua Portuguesa, 6-12 de maio de 1986, no Rio de Janeiro (tendo ali a oportunidade de dar a conhecer o seu primeiro Dicionário). De 1990 a 1992 foi Professor Associado da Universidade de Vigo, desde 1992-94 Professor Titular de Didática da Língua e Literatura Galegas na Universidade de Vigo, em Ourense e Ponte Vedra, e de 1994 até hoje só no de Ourense. É membro da Comissão Linguistica da AGAL, Vice-Presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP), do Conselho de Redação da Revista Agália e do Boletim da AGLP.
    Em Madrid, nos anos anteriores e posteriores à chamada “transición” política espanhola, desenvolveu uma intensa atividade associacionista, relacionando-se com pessoas do Grupo Brais Pinto (entre elas o veterano J. R. Fernandes-Ojea Ben-Cho-Shey, “embaixador da cultura galega” em Madrid), e do Café Gijón (como C. Emílio Ferreiro, R. Garcia Domingues Borobó, E. Blanco Amor…). Em Lisboa foi aluno de Lindley Cintra e Malaca Casteleiro, supervisado por Ivo de Castro, e conheceu Ma. Helena Mira Mateus e ainda o ministro da educação J. A. Seabra.
    Surgiu naqueles anos o projeto de fazer um Dicionário Galego com um grupo de colaboradores, em princípio para se publicar pela Editora Akal, depois pela Editora Galáxia; mas então evidenciaram-se já as diferenças de focagem linguística com Ramón Piñeiro, quem lhe dizia: “O dia de manhã podemos fazer um dicionário Galego-Português, mas agora não é conveniente” (pág. 163), ao tempo que pedia que adaptasse o texto das entregas às normas do ILG (então conhecido como Instituto de la Lengua Gallega, liderado pelo isolacionista Constantino García). Naquela altura, o professor R. Carvalho Calero liderava uma Comissão académica encarregada de elaborar umas normas ortográficas com critérios histórico-etimológicos, com os que concordava o Estraviz. R. Piñeiro então desentendeu-se da edição do seu dicionário.
    Depois de tentativas falhas com várias outras editoras (conseguindo contudo publicar o Dicionário galego ilustrado “Nos”, 1983), e de ainda mais tempo perdido, nasceu finalmente a editora Alhena (“nome da estrela gama da constelação dos Gémeos”, p. 167), que por fim publicou o dicionário em três tomos (Dicionário da língua galega, Alhena, 1986), e andando o tempo a editora Sotelo Blanco num tomo (Dicionário da língua galega, Sotelo Blanco, 1995), embora ambos com concessões gráficas, como grafar os verbetes só entre parênteses com a ortografia histórica.
    É justo assinalar aqui que “os primórdios da AGAL geriram-se no primeiro encontro da comissão encarregada de elaborar o dicionário… [com] José Luís Rodrigues e Martinho Montero Santalha” (p. 179), cujos Estatutos registou o Isaac no Ministério da Cultura do Estado (1981).
    Dentre os inúmeros encontros e desencontros do Estraviz com o oficialismo linguístico (chamemos-lhe assim: bem podia ser caracterizado como caciquismo linguístico), talvez merece ser salientado este com Paz Lamela, na altura Diretora geral de política linguística, quem o cumprimentou pelo seu “bom galego”. “Após uma longa conversa, disse-me claramente que, se renunciava a criticar a norma oficial em público, ela se comprometia a procurar-me uma vaga dentro da rede de ensino público no lugar que mais gostasse” (p. 209; não é preciso dizer mais: também outros temos sido objeto deste tipo de “ofertas” mefistofélicas).
    I. A. Estraviz participou sempre muito ativamente em todas as iniciativas que visavam reintegrar a ortografia galega ao seu berço histórico, como as Jornadas do Ensino da Galiza e Portugal (que dirigia J. Paz em Ourense), a Associação Sócio-Pedagógica Galega, as Irmandades da Fala da Galiza e Portugal, a Associação de Amizade Galiza-Portugal, bem como a Rádio Antojo, ademais das mencionadas AGAL e AGLP.
    Contribuiu fundamentalmente (com A. Gil Hernández) ao Estudo crítico das Normas ortográficas e morfolóxicas do idioma galego (AGAL, 1983), ao Guia prático de verbos galegos conjugados (AGAL, 1988), e ao Prontuário ortográfico galego (AGAL, 1985).
    Publicou numerosos trabalhos no Boletim de Filologia de Lisboa, na RevistaAgália, Revista O Ensino, Nós (Revista Internacional Galego-Portuguesa de Cultura), Temas de Linguística e Sociolinguística, Cadernos do Povo, Revista Encrucillada, Revista Raigame, Revista de Guimarães, semanário A Nosa Terra.
    Teve uma importante presença no Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza, que ele ajudara a organizar com a presidenta da AGAL, Ma. do Carmo Henriques (bem como as suas seguintes edições). Deu palestras no Centro Galego de Londres, onde foi recebido com carinho. Foi longo e cordial o seu relacionamento com M. Rodrigues Lapa, como continua a ser com J. M. Montero Santalha, A. Gil Hernández, J. L. Fontenla e o autor desta resenha.
    Publicou também obra vária de criação, como os seus Contos con reviravolta: arando no mencer, Editora Castrelos, 1973. Seja-me agora permitido fechar esta resenha com duas citações daquele monge cisterciense de Usseira, então conhecido como Padre Santos: “A religião, em princípio, não aliena, completa o ser humano e tem de ser libertadora. Do contrário pode ser tudo menos religião” (p. 115); “… há uma cultura religiosa que é independente da Igreja Católica. O povo galego é profundamente religioso, mas não é profundamente católico” (p. 202).
    Carlos Durão é académico da Academia Galega da Língua Portuguesa.
    http://www.diarioliberdade.org/galiza/cultura-m%C3%BAsica/45643-conversas-com-isaac-alonso-estraviz,-resenha-de-carlos-dur%C3%A3o.html
    sentimo-nos: galego portugueses
    música: galego portuguesa
    “línguas minoritárias”

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  • a coletânea de textos dramáticos açorianos -Helena Chrystello e Lucília Roxo

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    Nota de imprensa/ Press Release

    Helena Chrystello e Lucília Roxo vão apresentar ao público docente e discente dia 24 de abril pelas 15.30 horas no anfiteatro da EB 2, 3 da Maia (Ramal de S. Pedro, Maia) a obra “COLETÂNEA DE TEXTOS DRAMÁTICOS DE AUTORES AÇORIANOS” destinada ao currículo escolar. A obra será apresentada por Lurdes Alfinete

    Trata-se de mais um projeto nascido no seio dos Colóquios da Lusofonia, com o total apoio da EBI Maia, e que visa divulgar a obra dos mais relevantes autores contemporâneos de matriz açoriana.

    “Vem esta Coletânea de Textos Dramáticos suprir uma lacuna que há muito se fazia sentir nos escaparates das livrarias, a saber, um florilégio de extratos tão-somente de peças de teatro assinadas por cinco escritores açorianos: Álamo Oliveira (Missa Terra Lavrada, Manuel seis vezes pensei em ti e A Solidão da casa do Regalo), Daniel de Sá (Bartolomeu), José Martins Garcia (Domiciano), Norberto Ávila (Algum Teatro) e Onésimo Teotónio Almeida (No seio desse Amargo Mar). Se outros méritos lhe não fossem reconhecidos (que os tem, e não poucos…), não deixaria a posteridade de lhe outorgar o louvável intuito pedagógico-científico que presidiu à sua elaboração” afirma a Professora Doutora Rosário Girão da Universidade do Minho no prefácio da obra.

    E acrescenta: “Abarcando uma extensa faixa temporal que remonta à Atlântida – imortalizada nos diálogos platónicos Crítias e Timeu e entressonhada em transe pelo Jovem “voyeur” de No seio desse Amargo Mar –, atravessa o século primeiro, prossegue pelo Renascimento, viaja até Oitocentos e desemboca na contemporaneidade, os trechos dramáticos da Coletânea em causa firmam e afirmam a identidade de Portugal – numa era globalizada em que a divisa parece ser a morna estandardização –, invocando e evocando vultos nacionais, tornados entrementes mitos e trazidos à luz da ribalta como atores paradigmáticos de um tempo em devir, retratado pelos “historiadores do futuro” (José Martins Garcia).”

    De não descurar, nesta compilação, se afigura o preito rendido ao Arquipélago, quer mediante a nomeação dos seus mais lídimos representantes oriundos das ilhas designadas (S. Miguel, Terceira, Flores), quer através de referências diversas a topónimos ilhéus (Monte Brasil, Campo de S. Francisco), quer do ponto de vista da hierarquia social insulana (os lavradores micaelenses)…. Talvez não seja erróneo asseverar que foi este espírito epocal e nacional de cariz mítico e, por conseguinte, universalizante que as/os Organizadoras/es desta Coletânea intentaram homenagear, ao coligir significativos extratos de peças de teatro, algumas de difícil acesso advindo da sua não-reedição, de cinco Autores consagrados no panorama das Letras portuguesas.
    HELENA F. DA COSTA SIMÕES CHRYSTELLO

  • Sidney, vista aérea

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    http://vimeo.com/91580674

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  • CEUTA já foi portuguesa

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    Ceuta foi Portuguesa …

    Encanto histórico e….pouco mais…!
    As autoridades da “Cidade Autónoma de Ceuta” estão a empenhar-se na comemoração dos 600 anos da conquista daquela cidade pelos Portugueses, que se completam a 21 de Agosto de 2015.

    O assunto está a causar polémica pois, embora os promotores da ideia defendam que “no se conmemora un acontecimiento bélico de conquista, sino más bien, un legado cultural que han heredado y del que se benefician todas las comunidades culturales y religiosas de esta ciudad”, a comunidade muçulmana entende que comemorar a invasão portuguesa, uma cruzada religiosa de cristãos contra muçulmanos “es un insulto a la ciudad y a sus habitantes”.

    Por aqui há quem defenda que Portugal também devia festejar o facto de Portugal ser o pioneiro da globalização, alegando que “a conquista de Ceuta é reconhecida como marco do início da expansão e dos descobrimentos Portugueses”.

    A Sociedade de Geografia de Lisboa tomou a iniciativa de não deixar esquecer a efeméride e organizou um ciclo de conferências que se prolonga por 2013, 2014 e 2015, abordando temas que se iniciam com a cuidada preparação da expedição e terminam com a conquista militar da cidade em Agosto de 1415.

    Só espero que o “Espírito da Lusitanidade” (que viabilizou a epopeia dos descobrimentos e o relacionamento cordial com novas gentes) se manifeste e dê corpo ao que o grande Agostinho da Silva dizia ser necessário fazer:

    ”Planear novos descobrimentos em vez de comemorar os antigos”.

    Mas no meio desta polémica… não deixa de ser intrigante que a bandeira de Ceuta esteja tão ligada a Portugal e seja, ainda hoje, a mesma… desde 1415… mesmo durante a ocupação espanhola…

    Na cidade abundam os símbolos e brasões da época quatrocentista que foram mantidos.

    Ver vídeo Anexo.

    https://www.youtube.com/watch?v=6yAmo4SF2qw

    Como se pode ver/ler na Wikipedia:

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Bandeira_e_escudo_de_Ceuta

    EscudoCeuta.svg

    a bandeira de Ceuta é igual à de Lisboa e tem ao centro o brasão de Portugal…

    http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/fd/Flag_Ceuta.svg/750px-Flag_Ceuta.svg.png

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  • Onésimo T Almeida e Fernando Pessoa

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    domingo, 6 de Abril de 2014

    Prefácio a “Pessoa, Portugal e o Futuro”, livro de Onésimo Almeida, por George Monteiro

    Trancrevo o prefácio de Goerge Monteiro ao livro de Onésimo Almeida que acaba de sair na Gradiva (tradução de Leonor Simas-Almeida):
    Quando em 1987 surgiu o precursor deste excelente Pessoa, Portugal e o Futuro, então com o título deMensagem: uma tentativa de reinterpretação, eu recenseei‑o para a revista World Literature Today. Cada vez mais convencido de que é «correcta» a interpretação pioneira desenvolvida nesse primeiro livro, gostaria de expressar o meu elevado apreço pelo bem conseguido trabalho do autor, reproduzindo aqui a mencionada recensão crítica:
    O autor de Mensagem que emerge do minuciosamente investigado e intensamente argumentado estudo de Onésimo Teotónio Almeida sobre as intenções poéticas e o literário desígnio (insisto no termo) revela‑se claramente como um teórico da acção social e da intervenção política. O patriotismo de Fernando Pessoa veste a pesada armadura da coerência estrutural e do pragmatismo lógico conseguida por um pensador, ao mesmo tempo frio e fervente perante a mensagem que teria desejado trazer aos que mereciam executá‑la, uma mensagem brilhantemente exemplificada no próprio acto de ter ele apresentado o seu poema à consideração de uma homenagem pública.
    Um subtexto do ensaio notavelmente lúcido e coerente de O. Almeida, se tivermos em conta a diversidade de comentários e interpretações evocados por um texto inequivocamente vital, é claramente a noção de que a grande mensagem bem reflectida e expressiva do poeta‑pensador aos seus compatriotas tem sido lida como quase tudo o que o poeta não quis que fosse, desde o quimérico desejo de um futuro imperial construído nas areias movediças da nostalgia até ao modelo cifrado do desejo de qualquer poeta de escrever sobre si próprio no mais hermético dos códigos: a linguagem ocultista do eremita romântico. Não deveria surpreender‑nos (mas surpreende‑nos) aprender, como aprendemos, no importante estudo de O. Almeida que em Mensagem não apenas o poeta sabia o que pretendia, mas ainda que a sua mensagem é tão directa e, de certa maneira, tão prática que é quase como se tivesse sido necessário um acto colectivo de perversidade para que fosse tão egregiamente mal entendida durante mais de cinquenta anos.
    Baseado na descoberta do autor do enraizamento do poema no entendimento de Pessoa dos escritos de Georges Sorel, o caso é tão claramente arguido e tão convincentemente documentado que, a partir de agora, visto precisamente pelo que é, Mensagem emerge como referência para todo e qualquer estudo sobre a mente e o pensamento de Fernando Pessoa.[1]
    À supracitada recensão crítica original de há um quarto de século, podem acrescentar‑se algumas palavras referentes a detalhes pertinentes para o desenvolvimento de Mensagem, que vieram à superfície após a publicação do livro de Onésimo, nomeadamente factos que iluminam os exactos desejos de Pessoa relativos
    ao efeito que ele pretendeu para o seu poema e para o uso que dele fosse feito; tudo isso previsto no título pró‑activo que foi a sua escolha final.
    A intenção de Pessoa de intitular Portugal um dos seus projectados livros data já dos finais da primeira década do século xx. Precisamente antes de um tal livro ser publicado, todavia, Pessoa foi induzido a substituir o título de Portugal por Mensagem. Avisado, diz‑se, de que o seu título original para uma colectânea de poemas históricos, elegíacos e de profético lirismo, que ele ia submeter como poema único à competição recém‑criada pelo Secretariado de Propaganda Nacional, se tornara nos últimos tempos algo gasto, ele decidiu‑se por Mensagem, um título aparentemente mais pró‑activo. Curiosamente, esse título parece‑me ter‑lhe sido sugerido, anos antes, por um inglês das suas relações residente em Lisboa. Ainda ambicionando uma carreira de poeta de língua inglesa, em 1918 Pessoa remetera cópias de dois pequenos volumes, 35 Sonnets e Antinous, a William A. Bentley, o editor em Lisboa de Portugal, um compêndio mensal de notícias de política e artes, dirigido a um público inglês, principalmente de Londres e de outras partes da Grã‑Bretanha.
    Algo repugnado pelo conteúdo que considerava pouco saudável e perturbador de Antinous, Bentley ofereceu ao aspirante jovem poeta alguns avunculares conselhos e indicações sobre a direcção para onde ele deveria futuramente encaminhar o seu talento poético.
    Permita‑me que lhe sugira embrenhar‑se na sua própria História; nas mais puras fontes da sua existência nacional; na fé, entusiasmo e devoção daqueles que fizeram de Portugal a primeira nação no despertar da Europa da Renascença, escolha algum tópico que seja ao menos saudável, exaltante e puro e devote‑lhe a sua poesia. Isto se tiver a coragem de sentir a vocação de cantar não apenas o passado distante; mas que tenha uma mensagem para o Presente. Nisso Camões parece‑me tão mais ousado do que o conjunto de poetas que se envolveram com ele na história dos tempos antigos, ele intrepidamente escolheu para assunto dos seus grandes poemas as coisas, os homens e os eventos do seu próprio tempo e as viagens e descobertas dos seus companheiros quotidianos. Não haverá nada de nobre a merecer o seu encómio e a sua inspiração? Se não houver, por que não apontar aos seus contemporâneos o que poderia sê‑lo e o que seria digno do esforço deles? [2]
    Não temos a resposta de Pessoa (se de facto houve alguma) a esta bem intencionada missiva de aconselhamento da parte do fundador e editor de Portugal, uma publicação mensal, sita em Lisboa, sobre «o país, as suas colónias, comércio, história, literatura e artes» (1915‑1916), embora a substância da carta de Bentley tenha, creio eu, ficado com Pessoa até ao fim da vida, resultando, cerca de quinze anos mais tarde, na formulação e designação de Mensagem. Em Pessoa, a memória dessa carta de Bentley, atrevo‑me a propor, bem poderá ter sustentado a intenção final do seu livro, assim como sugerido a alteração do título.
    A natureza da mensagem a ser transmitida em Mensagem, o modo de animar e dirigir o espírito colectivo português para a acção foram, porém, criação do próprio Pessoa. Que o ponto da «mensagem» de Pessoa tencionava ser um apelo sacerdotal à acção, tal como eu o vejo, é o tema fundamental da indispensável leitura de Onésimo Teotónio Almeida, revelando a inspirada apropriação por Pessoa da obra de Blaise Pascal e de Georges Sorel; particularmente no que concerne à sua partilha da concepção de uma teoria pragmática da verdade e bem assim ao seu singular conceito de mito como guia para a acção.
    George Monteiro
    Windham, Connecticut, U.S.A.
    8 de Fevereiro de 2011
    NOTAS
    1 World Literature Today, vol. 61 (Outono de 1987), p. 613.
    2 Ver o texto original desta carta, em inglês, em Fernando Pessoa, Correspondência Inédita (Lisboa: Livros Horizontes, 1996), p. 208. Cota da Biblioteca Nacional de Portugal, Espólio 3 (F. Pessoa): 1151‑19.
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