Autor: CHRYS CHRYSTELLO

  • ESTÁTUA PERDIDA DE DOM BOAVENTURA DE MANUFAHI

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    Sábado, 6 de Agosto de 2011 Lá fui eu, mais...
    J M Domingues Silva15 August 11:55
    Sábado, 6 de Agosto de 2011
    Aqui está ela!…

    Note-se o nome de “D. Boaventura” escrito no “kaibauk” preso na testa
    Nem tudo o que parece é… O dedo esticado
    é o indicador e não o anelar,
    como se pode confirmar na foto acima…
    Localização da estátua; vejam-se as coordenadas
    na parte de baixo da imagem do Google

    Qual a história desta estátua? Onde deveria estar e não está? Mais perguntas para perguntar… Alguém sabe as respostas?

    Lá fui eu, mais uma vez, perscrutar a cidade…
    … em busca de uma estátua “perdida”! 🙂
    Expliquemo-nos!
    Há dias um amigo mostrou no seu mural do FB uma estátua (metálica) identificada como sendo de D. Boaventura de Manufahi e que estaria “perdida” algures em Fatuhada, um dos bairros de Dili. Estavam reunidas todas as condições para me pôr em campo e ir “xeretar” a região.E hoje, sábado, lá fui eu. 8h30m da manhã, mais ou menos, saí do hotel e segui a pista que o meu amigo R.Fonseca me tinha dado: dois quarteirões antes da embaixada australiana virar à direita e procurar a dita cuja.

    Desconhecendo a geografia do local, acabei por me meter na Rua da Mesquita e, claro, não dei com nada. Virei para o interior do bairro e andei às voltas mas… nada!
    Acabei por ir até à embaixada e então voltar para trás e só então dei com a entrada de uma rua, meio manhosa, que era a segunda depois da embaixada. Meti-me por ela e fui andando e nada de estátua.
    Quando começava a pensar que a estátua se tinha esfumado, verifiquei que a rua estreitava com um prédio que quase fecha a rua. Ultrapassei-o e… ó pra ela! Lá estava a estátua, de pé, assente no chão.
    Aqui está ela!…

    (in O Livro das Contradições) http://livrodascontradisoens.blogspot.pt/2011/08/la-fui-eu-mais-uma-vez-perscrutar.html

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  • MORREU O ÚLTIMO SOBREVIVENTE TIMORENSE DA 2ª GRANDE GUERRA

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    Rufino Alves Correia, considerado o último...
    J M Domingues Silva15 August 11:37
    Rufino Alves Correia, considerado o último sobrevivente dos timorenses que combateram ao lado das forças australianas na II Guerra Mundial morreu quarta-feira e foi hoje 22 Abril 2010 a enterrar, com honras militares, no cemitério de Santa Cruz, em Díli. Rufino Alves Correia, que tinha 94 anos, integrou em 1942 a 2ª companhia independente, uma unidade de elite, como soldado, na guerra de guerrilha das tropas australianas atrás das linhas inimigas. Os jovens timorenses eram geralmente incumbidos de fornecer informações, de tratar do abastecimento alimentar e de encontrar abrigo nas aldeias. Rufino Correia foi um dos poucos timorenses a participar diretamente em ações de combate, nomeadamente no ataque às posições nipónicas na cidade de Díli pelo pelotão B, segundo Paul Cleary, jornalista e escritor australiano, autor de “Os homens que saíram do chão”. O Presidente da República timorense, José Ramos-Horta, na impossibilidade de estar presente nas exéquias, enviou de Phnom Penh, onde se encontra em visita oficial, uma mensagem de condolências, prestando tributo “a um verdadeiro herói que demonstrou uma bravura extraordinária em jovem”. “Rufino emergiu do período mais trágico da história da Humanidade como uma inspiração geracional”, refere Ramos-Horta na sua mensagem, lembrando que “nunca esqueceu os amigos australianos nem foi jamais esquecido pelos soldados australianos a quem serviu”. O Chefe de Estado timorense havia condecorado Rufino Alves Correia com a Medalha Presidencial de Mérito, por ocasião do 10. aniversário da consulta popular que determinou a independência, a 30 de agosto de 1999, “pelo serviço que prestou a Timor-Leste e à Humanidade”.

    Notícia da Lusa

    No medal for a Timor war hero

    Lindsay Murdoch, DarwinApril 23, 2010

    SIXTY-FOUR years was not enough time for Australia to award a medal to Rufino Alves Correia for his heroism when he was shot and wounded while trying to protect Australian commandos in World War II.

    Mr Correia, 90, was buried in Dili yesterday, six months after a petition signed by 24,000 people was presented to federal MPs asking them to back an award to honour the sacrifices Timorese made to help the Australians.

    Between 40,000 and 50,000 Timorese – in a population of only 650,000 – were killed or starved to death in Japanese-occupied East Timor.

    Mr Correia was one of the last surviving ”criados” who fought alongside Australians.

    Australian soldiers deployed in East Timor yesterday presided over his funeral, a rare honour for a non-Australian citizen.

    But Canberra is still considering the petition for a special Timorese Order of Australia that was organised last year by East Timor’s Mary Mackillop mission. ”Sadly, Rufino died without the full recognition he deserved for his bravery,” said Mary Mackillop’s Susan Connelly. She said there has not been adequate recognition of the assistance the Timorese gave the Australians. Mr Correia, known as Rufino, was proud of the time he spent with the Australian commandos. Every year he would attend the Anzac Day service in Dili.

    ”Rufino has never forgotten his Australian friends and similarly has never been forgotten by the Australian soldiers he served beside,” East Timor President Jose Ramos Horta said yesterday.

    But in 2006, before Mr Correia travelled to Melbourne to take part in an Anzac Day parade, he told The Age that he always wondered why the Australians ”never came back to help us after the war”.

    Read more: http://www.theage.com.au/national/no-medal-for-a-timor-war-hero-20100422-tfva.html#ixzz1cAlBDmpv

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  • PRÉMIO NOBEL DA PAZ, DOM CARLOS FILIPE XIMENES BELO

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    D. Carlos Ximenes Belo Bispo residente e administrador apostólico da diocese de Díli entre 1983 e 2002. Nasceu em 1948, em Wallakama, uma aldeia perto de Vemasse, em Baucau, na ponta leste de Timor.Estudando sempre em escolas missionárias, graduou-se em 1973, no Seminários de Dare, nos arredores de Díli. Depois partiu para Lisboa, onde estudou no Colégio Salesiano Novitiate. Tendo regressado por um curto período de tempo a Timor-Leste, lecionou no Colégio Salesiano em Fatumaca. Entre 1975 e 1976, esteve em Macau, no Colégio Dom Bosco, não presenciando a chegada das tropas indonésias ao território timorense. Pouco tempo depois, partiu para Portugal, onde estudou filosofia religiosa na Universidade Católica de Coimbra. Depois, foi enviado para Roma, onde estudou na Universidade Salesiana loc

    al. De volta a Lisboa, em 1980, foi ordenado padre. No ano seguinte, voltou a Timor com a intenção de ajudar a manter viva a religião católica, bastante limitada pela presença e pelo domínio dos indonésios, maioritariamente muçulmanos.O enorme contacto com a juventude, em parte devido às necessidades de apoio à comunidade, e as crescentes pressões diretas do domínio das autoridades militares indonésias, levaram-no a resistir abertamente, recusando-se sempre a obedecer às regras do invasor. Em 1983, foi nomeado administrador apostólico da diocese de Díli. Desde então, tem travado uma luta cerrada para defender os direitos humanos e a autodeterminação do povo timorense. A 12 de novembro de 1991, após o massacre de Santa Cruz, o bispo acolheu centenas de fugitivos que procuravam refúgio das tropas indonésias. Devido ao seu apoio e às suas denúncias à comunidade internacional da violência e opressão exercidas contra o povo timorense, o bispo tornou-se o alvo de várias tentativas de assassínio.Em 1 de outubro de 1996, foi galardoado, juntamente com José Ramos-Horta, o porta-voz internacional para a causa de Timor Leste desde 1975, com o Prémio Nobel da Paz, a mais prestigiada distinção política mundial.Em 1999, a situação política em Timor Leste agravou-se após a realização de um referendo sobre a autodeterminação dos timorenses, realizado a 30 de agosto, cujo resultado foi favorável à independência do território. A casa de D. Ximenes Belo foi alvo de um dos sucessivos ataques que as milícias integracionistas fizeram no território, pelo que o bispo se viu forçado a abandonar Timor Leste.Em 2001 recebeu, juntamente com Alexandre (Xanana) Gusmão e José Ramos-Horta, o título de Doutor “Honoris Causa” pela faculdade de Letras da Universidade do Porto.Já depois da independência do território, em novembro de 2002, D. Ximenes Belo resigna ao cargo de bispo de Díli, alegando razões de saúde.
  • LUIS CARDOSO E RUY CINATTI (TIMOR)

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    Crónica de uma travessia – A época do...
    Daniel Braga14 August 21:41
    Crónica de uma travessia – A época do Ai-Dik-Funam
    (Autor: Luís Cardoso)
    Editora: Publicações Dom Quixote

    Apreciação:
    (Urbano Tavares Rodrigues, 1997)

    Timor não tem ainda uma literatura. Há, é certo, os poemas de Xanana Gusmão, que são interessantes e são dele, que lhes confere um valor especial. E há ainda a poesia, cheia de boa vontade e sentimento nacionalista, de Fernando Sylvan, artisticamente fraca, muito oratória e  romântica, com uns pós de pitoresco. Este livro de Luís Cardoso, Crónica de Uma Travessia, subtitulado “A Época do Ai-Dik-Funam”, sob certos aspectos fascinante, participa da biografia, do romance e efectivamente da crónica. Narra as peripécias do autor, desde a infância timorense, no campo, à viagem com o pai, enfermeiro, para a ilha de Ataúro, à vinda para o exílio em Portugal, os estudos de Agronomia, a participação no Conselho Nacional da Resistência Maubere, o convívio com os timorenses do Vale do Jamor. Pelo meio da narrativa, em que se equilibram o relato e o comentário de acontecimentos e aparecem pessoas e nomes como o de Ramos Horta, o de Manuel Carrascalão e se fala em Zeca Afonso, em Adriano Correia de Oliveira, etc., equilibram o realismo e o fantástico (este intimamente associado às vivências de Timor, mas também a um modo de viver e sentir). Passa neste livro um sopro de mistério, através do entrosamento de duas culturas, uma delas ainda carregada de elementos mágicos.
    José Eduardo Agualusa tem razão quando aponta em Luís Cardoso, no seu prefácio, um escritor a caminho da sua obra.

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    Rui Cinnati Não era timorense, mas amou Timor...
    Daniel Braga14 August 20:57
    Rui Cinnati
    Não era timorense, mas amou Timor como ningem

    Rui Vaz Monteiro Gomes Cinatti (1915-1986) nasceu em Londres e faleceu em Lisboa. Licenciado pelo Instituto Superior de Agronomia de Lisboa em 1941, partiu para a Inglaterra onde estudou Etnologia e Antropologia em Oxford. Entre 1943 e 1945 desempenhou o cargo de meteorologista aeronáutico da Pan-American Airways e entre 1946 e 1948 exerceu a função de chefe de gabinete do então governador do Timor Português . Exercerá pouco depois o cargo de chefe dos Serviços da Agricultura do Governo de Timor. Seria mais tarde nomeado investigador da Junta de Investigação do Ultramar. Em 1967 instala-se definitivamente em Lisboa. Entre 1940 e 1953 coordena com Tomás Kim e José Blanc de Portugal os Cadernos de Poesia. Obras principais: Ossonobó (1936), Nós Não Somos Deste Mundo (1941), Anoitecendo a Vida Recomeça (1942), Poemas Escolhidos (1951), O Livro do Nómada Meu Amigo (1966), Sete Septetos (1967), Crónica Cabo-Verdeana (1967), O Tédio Recompensado (1968), Borda d’Alma (1970), Uma Sequência Timorense (1970), Memória Descritiva (1971), Conversa de Rotina (Sociedade de Expansão Cultural, Colecção de Poesia “Convergência”, 1973), Os Poemas do Itinerário Angolano (1974), Paisagens Timorenses com Vultos (1974), Cravo Singular (1974), Timor-Amor (1974), O A Fazer, Faz-se (1976), Import-Export (1976), Lembranças para São Tomé e Príncipe – 1972 (1979), Poemas (1981), Manhã Imensa (1982).

    Ruy Cinatti: Poeta, “Agrónomo e Etnólogo”, Instigador de Pesquisas em Timor
    (Autor: Cláudia Castelo)

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  • língua portuguesa em timor-leste XIMENES BELO

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    A Língua Portuguesa em Timor-Leste

    Por D. Carlos Ximenes Belo, SDB*

    O contacto dos Portugueses com os Timorenses data de 1512, quando depois da Conquista de Malaca os navegadores lusos sulcavam os mares da Insulíndia, em demanda de especiarias, cravo, noz moscada, canela e sândalo. Na altura, a língua do comércio naquelas paragens era Malaio. Porém ao longo do século XVI e XVII, a língua franca era o Português. O ensino da língua Portuguesa em Solar, Flores, Timor e Ilhas circunvizinhas, foi implementado, sobretudo, pelo missionários dominicanos. Pois nos finais do século XVI fundaram um seminário menor em Solor para ensinar os meninos da Ilha a ler, contar. Nos princípios do século XVI, com a perda de Solar para os Holandeses, abriram outro seminário em Larantuca. Na Ilha de Timor, onde a presença dos dominicanos se fez sentir com maior intensidade, abriram-se escolas rudimentares nos reinos, junto das capelas e igrejas, que não eram senão barracões coberto com colmos de palmeiras ou coqueiros ou de capim. Na segunda metade do século XVIII, fundou-se o primeiro seminário em Oe-cusse, durante o governo do Bispo do Bispo Frei António de Castro (1738-42). Em 1747, abria-se um segundo seminário em Manatuto. Não dispomos de relatórios dos Frades, sobre o funcionamento, o programa de estudos, nem o número de alunos, e muito menos de sacerdotes formados, fruto daquelas duas instituições. Em 1769, por causa do cerco dos Topasses e da ameaça dos holandês, a Praça de Lifau foi incendiada, e mudou-se a capital para Dili. Presume-se que em Dili, os dominicanos residentes na Praça de Dili, tivessem fundados escolas. O certo é que em 1772, o comandante de um navio francês François Etienne Rosely depois de ter visitado Lifau, Dili e outras povoações costeiras, fazia este comentário: “Quase todos os chefes falam Português e nos reinos vizinhos dos Portugueses é a língua geral (…). Conheci alguns muito sensatos, espirituais, engenhosos, sinceros e de boa fé, entre os quais um, muito versado na História da Europa”.Ao longo do século IX, verificou-se a diminuição de missionários dominicanos. E isso teve consequência na acção missionária e naturalmente do ensino do Português. Entre os anos 1830 a1856, o primeiro padre Timorense, Frei Gregorio Maria Barreto dirigia uma escola rudimentar nos reinos de Oe-Cuuse, Ambeno e Dili. Em 1863, o governador Afonso de Castro fundou ma escola régia em Dilui, destinada aos filhos dos Chefes e de outros principais. A direcção dessa escola foi entregue ao segundo padre Timorese, Jacob dos Reis e Cunha. O grande desenvolvimento das escolas das missões deu-se em 1878, quando o padre António Joaquim de Medeiros, mais tarde Bispo de Macau, estabeleceu o programa da educação da juventude timorense com a abertura de escolas rurais em Manatuto, Lacló, Lacluta, Samoro, Oe-Cusse, Maubara, Baucau, etc. A instrução, a certa altura era tão absorvente que os padres, dedicavam-se mais às escolas do eu à missionação. Essa situação mudou tempestivamente com o governo do Bispo Dom José da Costa Nunes. Em 1924, fundou-se a escola de Preparação de Professores-catequistas. Os timorenses que tinham sido aprovados nessa escola, e depois de serem nomeados professores, foram colocados em diversas estações missionárias, tornado-se agentes principais do ensino da Língua Portuguesa nas aldeias e no sucos. Em 1935, o Governo da Colónia de Timor decidiu entregar o “ensino primário, agrícola, profissional às Missões Católicas, sob a superintendência do Governo da Colónia” (Portaria Oficial, n.º 14). Em 1936, fundou-se o Seminário Menor em Soibada, pelo padre Superior daquela Missão, Jaime Garcia Goulart. E em 1938, funda-se o primeiro liceu. Pode-se afirmar que em 1940, 4 % dos Timorenses falavam o Português, isto é os funcionários, os professores e os catequistas, os “liurais” e chefes, aqueles que tinha tirado a 3 ª e a 4ª classe em Dili e no Colégio de Soibada.

    Até á invasão das tropas estrangeiras, Australianos e Holandeses num primeiro momento, e depois, os Japoneses, o ensino ficou paralisado. Depois do Armistício de 1945, e da retomada da soberania em Timor, retomou-se o ensino, reabrindo-se colégios e escolas. Em 1960, com o major da Engenharia Themudo Barata, como Governador da Província, assiste-se a um surto de escolas municipais. E em 1963, o Exército começa a dedicar-se ao ensino, nas escolas dos sucos., escolas essas situadas nos lugares de mais difícil acesso. Até 1970, havia no Timor Português um Liceu (de Dili), um Seminário Menor, onde se ministrava o ensino secundário. Uma Escola de Enfermagem, Uma Escola de Professores do Posto, Uma Escola Técnica, em Dili, e em Fatumaca, uma Escola Elementar de Agricultura. Nesse havia em Timor 311 escolas primárias, com 637 professores e 34.000 alunos. Até 1975, data da invasão da Indonésia do território de Timor, apenas 20% dos Timorenses falavam correcta e correntemente o Português. Como se explica esta situação? Vários factores: a distância (20 mil quilómetros da Metrópole); reduzido orçamento destinado ao ensino e instrução; reduzido número de professores; a falta de interesse da maioria de famílias (agricultores); só dois semanários ( A Voz de Timor e a Província de Timor), um quinzenário, a Seara (propriedade da Diocese de Dili); apenas 2 emissoras. Tudo isso pouco contribuiu para a difusão da Língua. A existência de 21 línguas ou dialectos, o que permitias aos falantes, usarem o Português, só no âmbito da escola ou nos actos oficiais.

    O Período da Ocupação indonésia (1976-1999). O ensino da Língua portuguesa foi banida e proibida em todo o Território, excepção feita ao Externato de São José. A Diocese de Dilui, contudo, publicava os seus documentos (quer da Câmara Eclesiástica ou do paço episcopal) em Português. A guerrilha comunicava-se em Português. Nalgumas repartições do Estado, poucos timorenses, informalmente comunicam-se em Português. Houve casos em que um outro jovem foi esbofeteado por saudar o missionário com um “Bom-dia, senhor padre!”.

    Hoje, embora o Português seja considerado a Língua oficial de Timor, a par do Tetum, (art. 13 da Constituição de RDTL), a sua implementação depara-se com grandes obstáculos. Há sectores da sociedade timorense que são contra o uso da Língua Portuguesa; as línguas nacionais(21) e línguas estrangeiras (O Bahasa e Indonesia e o Inglês) são fortes concorrentes do Português. O timorense, às vezes, recorre-se ao uso do idioma mais fácil para a comunicação (Tetum, Bahasa, Inglês). Existência de insuficiente número de professores, de livros, de jornais e de rádios e da televisão. Ainda não está generalizado o costume de leitura entre os já “alfabetizados”, sobretudo, leitura de livros, especialmente os da Literatura.

    Desafios: continuar a apostar no ensino e na prática da Língua Portuguesa. Para isso, exige-se maior empenhamento dos governantes; na maior distribuição de livros e de outro material, maior implantação da rádio e da televisão nos Distritos e Su-distritos. Daqui, a necessidade cooperação de todos os Países da CPLP.

    Num mundo globalizado, o actual panorama da existência de 4 Línguas em Timor (Tetum, Português, Inglês e Bahasa Indonésia), é enriquecedor e vantajoso. Pois cada Língua é uma janela aberta para o Mundo. Por outro lado está o orgulho da preservação da própria identidade nacional. E aqui vale a mensagem do Poeta: “A minha Pátria é a minha língua” (Fernando Pessoa).

    *Dom Carlos Filipe Ximenes BeloAntigo Bispo de Dili e Premio Nobel da Paz de 1996.

  • Uma descendente de açorianos na família imperial brasileira

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    Uma descendente de açorianos na família imperial brasileira

    Apesar de pouco visualizados, os Açores contribuíram com gente na colonização de terras conquistada por Portugal, de forma sempre constante, em todas as épocas da sua história. No Brasil, com exceção do sul do país, onde a colonização ilhoa foi marcante, a presença açoriana se apresentou de uma forma diluída, mas frequente na base da formação das famílias brasileiras.

    Em leitura recente, no livro de Genealogia das Quatro Ilhas (Pico-Faial-Flores e Corvo – Vol. II) encontrei um fato interessante que veio corroborar esta evidencia. Na família Imperial Brasileira há uma Senhora que tem raízes familiares no Arquipélago açoriano. Chama-se Maritza Ribas Bokel.

    D. Maritza Ribas Bokel nasceu no Rio de Janeiro a 29/04/61. É paisagista e casada com D. Alberto Maria José João Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orleans e Bragança e Wittels Bach (Jundiaí do Sul, PR – 23/06/1957) nascido Príncipe do Brasil, e que renunciou aos eventuais direitos ao trono Imperial, assim como a sua descendência.

    É filha de.

    D. Marisa Bulcão Ribas (RJ, 28/08/1930) e de Jaddo Barbosa Bokel (Campinas SP). É filha de

    D. Guilhermina Cavalcanti Bulcão (RJ) casada com José da Rocha Ribas (RJ). Poetisa. Filha de

    Joaquim Inácio de Siqueira Bulcão (Cachoeira BA, n. 1852) Médico, vice-almirante, e de D. Maria José Cavalcanti Lins.

    É filho de

    Joaquim Inácio de Siqueira Bulcão (S. Francisco- BA, n.1830) fidalgo da Casa Imperial e de D. Inácia Calmon Du Pin e Almeida (f em Vila da Cachoeira, BA em 1892). Filho de

    José Araújo de Aragão Bulcão (n em 1795, e f em 1865, Salvador, BA), Segundo barão de São Francisco e de D. Ana Rita Cavalcanti e Albuquerque (f em Salvador em 1869). Filho de

    Joaquim Inácio Siqueira Bulcão (n. em 1768, S. Francisco, BA, e falecido em Salvador em 1829) Primeiro Barão de São Francisco e de D. Joaquina de Maurícia de São Miguel e Aragão (n. São Francisco, BA em 1773 e f. 1862). Filho de

    Baltazar da Costa Bulcão (n. em N. Senhora do Monte do Recôncavo, BA em 1721 e f. após 1763) Capitão-mor e de D. Maria Joana de Jesus e Aragão ). Filho de

    José da Costa Bulcão (n. em N. Sra do Monte do Recôncavo, BA e f. em 1776 em Salvador, BA) Senhor de Engenhos e de D. Maria de Souza de Aragão (n. e f. na BA). Filho de

    Baltazar da Costa Bulcão (n. em N. Sra do Monte do Recôncavo, BA e falecido a 1718) Senhor de engenhos de Açúcar e Capitão de Ordenanças e de D. Maria de Gões Mendonça (n. BA). Filho de

    Gaspar de Faria Bulcão (n. em Castelo Branco, Faial e f. na Fazenda Água Boa, BA, Brasil em 21/03/ 1690) e de Guiomar da Costa (f. na Fazenda Água Boa, BA em 11/01/ 1690). Filho de

    Sebastião de Faria Bulcão (Faial) e de Maria de Ávila (Faial). Filho de

    Sebastião Dutra de Faria Bulcão (f. a 1650- Faial)) e de Madalena Dutra (f. 1645- Faial)). Filho de

    Gaspar de Faria (n. no terceiro quartel do século XVI e falecido com testamento de mão comum de 9/01/1620, Faial) e de Violante de Utra.

    Nota: Gaspar de Faria- desconhecemos no Faial a sua ascendência. Supõe-se ser do Continente. Era casado com Violante d’Utra ( Faial).

    Violante d`Utra (Faial, m. a 27/08/1645) era filha do fidalgo flamengo Gaspar Gonçalves Bulcão que fez assento no Faial (desconhecendo-se a sua ascendência) e de outa Violante d’ Utra ( Faial)

    Violante d’Utra ( Faial) era filha de Antonio Utra Nunes e Francisca Gaspar Machado.

    Antonio Utra Nunes era filho de Nuno Fernandes e de Jorgina d’Utra, irmã do primeiro donatário da Ilha do Faial, Jorge d’Utra (Joss Van Hurtere) e filha de Leo Van Hurtere, senhor do senhorio feudal da Aghebrone (Haeghebrouc), flamengos de Bruges.

    Maria Eduarda Fagundes

    Uberaba, 31/07/2012

    Referencia bibliográfica:

    Famílias Faialenses (Marcelino Lima)

    Genealogia das Quatro Ilhas (Faial-Pico-Flores. Corvo).

    Jorge Forjaz e Antonio Ornelas Mendes (2012)

     

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  • OS PROFESSORES POR JOSÉ LUÍS PEIXOTO (2011)

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    Os professores, por José Luís Peixoto

    Um ataque contra os professores é sempre um ataque contra nós próprios, contra o nosso futuro. Resistindo, os professores, pela sua prática, são os guardiões da esperança.
    ARTIGO | 15 OUTUBRO, 2011 – 00:17

    Um ataque contra os professores é sempre um ataque contra nós próprios - José Luís Peixotohttp://www.esquerda.net/artigo/os-professores-por-jos%C3%A9-lu%C3%ADs-peixoto

    Um ataque contra os professores é sempre um ataque contra nós próprios – José Luís Peixoto

    O mundo não nasceu connosco. Essa ligeira ilusão é mais um sinal da imperfeição que nos cobre os sentidos. Chegámos num dia que não recordamos, mas que celebramos anualmente; depois, pouco a pouco, a neblina foi-se desfazendo nos objectos até que, por fim, conseguimos reconhecer-nos ao espelho. Nessa idade, não sabíamos o suficiente para percebermos que não sabíamos nada. Foi então que chegaram os professores. Traziam todo o conhecimento do mundo que nos antecedeu. Lançaram-se na tarefa de nos actualizar com o presente da nossa espécie e da nossa civilização. Essa tarefa, sabemo-lo hoje, é infinita.

    O material que é trabalhado pelos professores não pode ser quantificado. Não há números ou casas decimais com suficiente precisão para medi-lo. A falta de quantificação não é culpa dos assuntos inquantificáveis, é culpa do nosso desejo de quantificar tudo. Os professores não vendem o material que trabalham, oferecem-no. Nós, com o tempo, com os anos, com a distância entre nós e nós, somos levados a acreditar que aquilo que os professores nos deram nos pertenceu desde sempre. Mais do que acharmos que esse material é nosso, achamos que nós próprios somos esse material. Por ironia ou capricho, é nesse momento que o trabalho dos professores se efectiva. O trabalho dos professores é a generosidade.

    Basta um esforço mínimo da memória, basta um plim pequenino de gratidão para nos apercebermos do quanto devemos aos professores. Devemos-lhes muito daquilo que somos, devemos-lhes muito de tudo. Há algo de definitivo e eterno nessa missão, nesse verbo que é transmitido de geração em geração, ensinado. Com as suas pastas de professores, os seus blazers, os seus Ford Fiesta com cadeirinha para os filhos no banco de trás, os professores de hoje são iguais de ontem. O acto que praticam é igual ao que foi exercido por outros professores, com outros penteados, que existiram há séculos ou há décadas. O conhecimento que enche as páginas dos manuais aumentou e mudou, mas a essência daquilo que os professores fazem mantém-se. Essência, essa palavra que os professores recordam ciclicamente, essa mesma palavra que tendemos a esquecer.

    Um ataque contra os professores é sempre um ataque contra nós próprios, contra o nosso futuro. Resistindo, os professores, pela sua prática, são os guardiões da esperança. Vemo-los a dar forma e sentido à esperança de crianças e de jovens, aceitamos essa evidência, mas falhamos perceber que são também eles que mantêm viva a esperança de que todos necessitamos para existir, para respirar, para estarmos vivos. Ai da sociedade que perdeu a esperança. Quem não tem esperança não está vivo. Mesmo que ainda respire, já morreu.

    Envergonhem-se aqueles que dizem ter perdido a esperança. Envergonhem-se aqueles que dizem que não vale a pena lutar. Quando as dificuldades são maiores é quando o esforço para ultrapassá-las deve ser mais intenso. Sabemos que estamos aqui, o sangue atravessa-nos o corpo. Nascemos num dia em que quase nos pareceu ter nascido o mundo inteiro. Temos a graça de uma voz, podemos usá-la para exprimir todo o entendimento do que significa estar aqui, nesta posição. Em anos de aulas teóricas, aulas práticas, no laboratório, no ginásio, em visitas de estudo, sumários escritos no quadro no início da aula, os professores ensinaram-nos que existe vida para lá das certezas rígidas, opacas, que nos queiram apresentar. Se desligarmos a televisão por um instante, chegaremos facilmente à conclusão que, como nas aulas de matemática ou de filosofia, não há problemas que disponham de uma única solução. Da mesma maneira, não há fatalidades que não possam ser questionadas. É ao fazê-lo que se pensa e se encontra soluções.

    Recusar a educação é recusar o desenvolvimento.

    Se nos conseguirem convencer a desistir de deixar um mundo melhor do que aquele que encontrámos, o erro não será tanto daqueles que forem capazes de nos roubar uma aspiração tão fundamental, o erro primeiro será nosso por termos deixado que nos roubem a capacidade de sonhar, a ambição, metade da humanidade que recebemos dos nossos pais e dos nossos avós. Mas espero que não, acredito que não, não esquecemos a lição que aprendemos e que continuamos a aprender todos os dias com os professores. Tenho esperança.

    Artigo de José Luís Peixoto, publicado na revista Visão de 13 de Outubro de 2011

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    Comentários

    Por: luisa lemos 20 Julho, 2012 – 20:23

    Obrigada mais uma vez José Luís. Cada texto que escreve sobre a minha profissão/ vocação enche-me de prazer e orgulho. Todos os maus tratos passam para segundo plano quando alguém “ergue a voz” para mostrar ao mundo que nos rodeia a forma como nos sentimos e a razão de termos escolhido esta profissão há alguns (muitos)anos. É sempre um prazer ler as suas crónicas. Por favor não deixe de o fazer em nenhuma circunstância.

    Por: Maria Olímpia L.B. Alves 29 Outubro, 2011 – 20:06

    José Luís Peixoto,

    Muito fora do comum este seu artigo!!
    Deve ser um homem raro, de uma sensibilidade extrema e muito lúcido.
    É gratificante lê-lo.
    Agradeço a clareza e a destreza da escrita.

    Sempre pensei que não ensinava nada… limitava-me a mostrar caminhos ou modos de ver.

    Sendo como é, seguiu os caminhos que escolheu e foi bem sucedido.

    Obrigada,

    Por: Rita 21 Outubro, 2011 – 17:57

    Obrigada José Luís Peixoto!!! Com estas palavras sinto-me reconfortada , consigo esquecer-me dos males que senti nos final dos 40 anos que trabalhei, como docente. Fui PROFESSORA! Infelizmente tive de abandonar e não por culpa dos alunos. Esses, passados tantos anos, continuam a sentir a mesma amizade que partilhámos na sala, reconhecem a importância que para eles tive. Somos colegas/amigos ou simplements amigos. Infelizmente colegas há que não atingem o verdadeiro sentido da sua missão… esses sim conduzem o ensino/ professor ao estado actual.

    Por: José Cadeco 19 Outubro, 2011 – 23:02

    Obrigado

    Por: Paula Oliveira 18 Outubro, 2011 – 23:22

    Parabéns pelo seu artigo!
    Como dizia o autor,

    “Há palavras que nos beijam
    (…)
    De repente coloridas
    Entre palavras sem cor,”
    (…)

    Por: marisa luz 16 Outubro, 2011 – 15:56

    este artigo…foi musica para os meus ouvidos…bem haja

    Por: Isabel Raminhos 16 Outubro, 2011 – 15:44

    Obrigada José Luís Peixoto pelas palavras que dedicou aos professores, numa altura em que estes têm sido tratados com tanta injustiça e tanta ingratidão. Também eu sou professora há vinte e oito anos, profissão à qual me dediquei inteiramente, acreditando que podia contribuir para a criação de uma sociedade mais justa e mais fraterna, onde cada cidadão valha como a pessoa que é e não como um simples número numa qualquer contagem estatística. Porém, aquilo a que tenho assistido é a um ataque sem limites à figura do professor, ao seu trabalho e à sua dedicação. Por isso a desilusão é grande. Ainda bem que “mesmo na noite mais triste, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”. Bem haja.

    Por: Filomena Amorim 15 Outubro, 2011 – 22:35

    Parabéns, José Luís Peixoto, pelo seu artigo. Muito obrigada.
    Filomena Amorim

    Por: Margarida 15 Outubro, 2011 – 20:20

    Parabéns e obrigada ao autor deste artigo, José Luís Peixoto! Agradeço não só porque sou professora neste país, hoje, aqui e desde há trinta e tal anos… mas também porque é verdadeiramente quando estou no desempenho daquilo que entendo que é a minha verdadeira missão, que consigo esquecer-me dos “males” do mundo e do meu, agora, pobre país! E neste texto consigo sentir-me gratificada, tanto quanto quando encontro e revejo antigos alunos, ou melhor dizendo, me encontram, os jovens que me “passaram pelas mãos” e que fazem questão de fazer o favor de me lembrar que um dia fui alguém nas suas vidas!
    Bem haja!
    Margarida

  • DIAS DE MELO

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    • Nuno Gomes dos Santos
    Recordar Dias de Melo em Abril

    «Além de tudo, com a idade que tenho, importa que, entretanto, não me bata à porta o momento final». Escreveu isto o Dias de Melo, numa carta que me enviou, no dia 1 de Junho de 2006. Porém, o momento final chegou, dois anos depois de ter começado essa carta, respondendo à minha de pouco tempo antes, e que começava assim: «é sempre um consolo, no isolamento em que vivo, receber notícias de um amigo». Antes, a 26 de Novembro de 2005, escrevia-me: «parece que toda a tristeza do mundo caiu em cima de mim. A minha estrada está quase no seu termo». Nascido no dia 8 de Abril de 1925, na Calheta de Nesquim, ilha do Pico, Açores, Dias de Melo viveu os seus últimos anos numa azáfama de escrita, numa luta pela publicação dos seus livros, cada vez mais difícil dada a política editorial que em Portugal se implantou, de memória curta e de olho no lucro, sem grandes critérios de qualidade (as excepções confirmam a regra), e com pouca gente a dar-lhe o «consolo» que, por muitas razões, merecia mais do que tinha: poucos amigos, alguns familiares dedicados, muitas costas injusta e desumanamente voltadas. Foi, na opinião que sobre ele tinha Natália Correia, «o mais honesto escritor português». Escreveu poesia, foi cronista (no Diário de Lisboa, onde assinou textos numa coluna intitulada «Gente e paisagem» e fez amizade grande com Fernando Assis Pacheco), etnógrafo e, mais que tudo, romancista. Cito, apenas, alguns títulos: «Mar Rubro», «Pedras Negras», «Vinde e Vede», «Cidade Cinzenta», «Na Noite Silenciosa», saudados, em tempos, pela crítica intramuros e de fora parte, sendo traduzido em várias línguas, japonês incluído. Foi professor («recebi ontem a sua carta. Veio acordar em mim tanta lembrança e um pouco de saudade dos meus tempos de professor, embora o fosse sem qualquer vocação, que a minha era o mar», 12 de Janeiro de 2007). O mar. Aos 12 anos escreveu um texto intitulado «Desastre no Canal», que deu origem, mais tarde, ao romance «Mar Pela Proa». O título inicial foi modificado para se não dizer que o escritor ia a reboque de Nemésio e do seu «Mau Tempo no Canal». Desse canal e desse mau tempo sabia o Dias de Melo, baleeiro que foi e que sobre baleeiros escreveu, muito e bem. Homem preocupado e empenhado nas questões sociais («o negócio do livro está mau. Com a crise que aí vai, tomara as pessoas ainda poderem comprar coisa que mastigar», carta de 8 de Janeiro de 2006), Dias de Melo sempre se afirmou contra a ditadura e, até ao fim dos seus dias, pronunciou-se a favor de uma maior igualdade social, mantendo uma actividade política participativa. Tinha, com a sua idade e o seu passado, muitas estórias para contar. E contava-as com prazer e sabedoria. Como esta, por exemplo, sobre Vitorino Nemésio:«Nemésio, pelo menos no liceu, tinha grande embirração com a Matemática. Na Terceira, foi umas quantas vezes a exame e nunca conseguiu passar. Foi então ao Faial e saiu-lhe a sorte grande: teve por professor de Matemática o senhor Florêncio Terra, notável escritor, embora pouco conhecido, e homem bom. No fim do ano, no conselho das notas, ao chegar ao Vitorino Nemésio, diz para os colegas: Este aluno não merece passar. Mas vou dar-lhe o 10. O que ele vai ser é um notável escritor e não serei eu a cortar-lhe as pernash» (carta datada de 21 de Novembro de 2006). De Dias de Melo poder-se-ia escrever muito e muito mais. Creio que, também, perguntando coisas ao Fernando Tordo, um seu grande amigo dos tempos do «exílio» do grande cantautor no Faial, ali a duas braçadas do Pico, ilhas de olhos nos olhos bem captadas pela câmara de José Medeiros no documentário «Toadas do Mar e da Terra – Uma Viagem ao Universo do Escritor Dias de Melo». Por mim, vou relendo a obra do «mais honesto escritor português» e as suas cartas, que começavam, inevitavelmente, assim: «caríssimo Nuno Gomes dos Santos».

     

    ps Dias de Melo esteve em 2008 no colóquio da lusofonia da Lagoa quando o começamos a revelar e faleceu passado uns meses em setembro desse ano…leia o caderno de estudos açorianos e o suplemento a ele dedicado https://www.lusofonias.net/acorianidade/cadernos-acorianos-suplementos.html#

     

  • O galego, a orquídea da língua portuguesa

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    Diego Bernal

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    O galego, a orquídea da língua portuguesa

    Diego BernalPublicado em Domingo, 10 Junho 2012 17:05
    “Eu sou filho dumha Pátria desconhecida”, deste jeito exprime Castelao, no segundo livro de Sempre em Galiza, a orfandade que magoa galegos e galegas quando, no estrangeiro, nos perguntam pola nossa origem.

    Pessoa, num formoso verso, grudou pátria e língua poetizando como ninguém o amor que muitos habitantes da Galiza sentimos polo idioma de Camões e Rosália de Castro, “a minha pátria é a língua portuguesa”.
    E, com certeza, o poeta luso deu no alvo porque quando mais abalados ficamos os galegos e galegas é ao comprovarmos que os nossos parceiros de idioma ignoram a unidade lingüística galego-portuguesa.
    Numha recente entrevista, o comunista Miguel Urbano Rodrigues lembrava como José Velo Mosqueira, celanovês participante da afouta tomada por antifascistas luso-galaicos do navio Santa Maria, ficou comovido no Brasil ao ver todo escrito em língua galega.
    Essa maravilhosa sensaçom que tantos de nós temos experimentado ao chegar a Portugal ou ao Brasil logo some ao reparar que o que é evidência para nós nom o é para portugueses e brasileiros.
    Mas se galego e português som a mesma língua, por que o povo brasileiro e português nom reconhece as falas galegas como parte do seu idioma?
    Para entendermos isto é preciso vasculhar outras realidades lingüísticas.
    Numha aula de língua galega que dei na Universidade de São Paulo, mostrando a diversidade linguística peninsular, fiquei espantado ao ver que alguns alunos identificavam a língua basca e catalá com a castelhana.
    De outro lado, quem ouvir falar cidadaos de Baiona ou Perpinhá nestes idiomas perceberá como quem nom tiver nengumha noçom de francês os associará com a língua francesa.
    No Brasil é comum que falantes de brasileiro identifiquem o galego com espanhol e, ao mesmo tempo, falantes de espanhol o confundam com português.
    No entanto, ainda que menos habitual, isto pode acontecer mesmo com outras variedades do nosso idioma.
    O professor da Universidade Federal Fluminense, o corunhês Xoán Carlos Lagares, contou-me como uma pesquisadora lisboeta no Brasil, ao requerer o acesso a um arquivo militar, nom foi identificada polo praça como falante de português e o soldado perguntou ao seu superior se umha mulher que devia ser estrangeira porque falava um português “errado” podia consultar o acervo.
    A que se devem estas confusons?
    As línguas som um conjunto de falas coesionadas por um padrom impulsionado por umha elite. Toda língua padrom é umha construçom artificial que responde aos interesses de umha classe social.
    O português padrom, como o espanhol ou o de qualquer língua, é um “invento” construído ao longo da história.
    Na escrita, portugueses e brasileiros identificam sem hesitaçom o seu idioma como um só. Porém, na oralidade, ao existirem milhares de falares diferentes, nom sempre um falante identifica todos eles com o seu idioma.
    Isto acontece porque os meios de comunicaçom silenciam muitas das variedades e empobrecem a língua portuguesa reduzindo as suas possibilidades de pronúncia.
    A múltipla diversidade dá lugar, aliás, à inevitável tensom, maior ou menor, que todas as línguas tenhem entre fala e escrita.
    No Brasil as falas cariocas e paulistanas e em Portugal as lisboetas chegam a todos os lares através da televisom, a rádio e a internet.
    Porém, quantas vezes umha mineira ouve umha portuguesa de Chaves, umha galega de Burela ou umha indiana de Goa?
    Mas as falas galegas, para além de estarem isoladas do resto da lusofonia padecem umha forte pressom do espanhol.
    A delicada situaçom que atravessa o português da Galiza deve-se a que desde o século XV sofre um processo de marginalizaçom que derivou no conflito lingüístico atual em que o castelhano está a se impor ao norte do Minho.
    O galego, entendido como as falas lusófonas faladas na Galiza, é umha variedade da língua portuguesa que como toda língua num contexto de conflito lingüístico sobrevive sob a coaçom da língua teito. A língua galega é, portanto, de um ponto de vista estritamente lingüístico, umha variedade de português enfraquecida polo espanhol.
    É a vontade coletiva demonstrada na história polo povo galego de revitalizar o idioma o que fai que as falas galegas nom sejam umha variedade de “fronteira”, um portunhol ou um castrapo. Eis a recuperaçom de léxico histórico (Deus, povo, século), de sufixos (-vel) ou a luita que desde o primeiro terço do século XX trava o nosso povo pola recuperaçom de usos da língua autóctone em contextos de que tinha sido banida polo espanhol.
    A estabilidade das formas lusitana e brasileira do idioma galego contrasta com a descaracterizaçom da variedade galega. Esta deturpaçom também afeta, como é lógico, à prosódia da língua.
    O desconhecimento das variedades do português e a situaçom de conflito lingüístico em que se acham as falas galegas é o que explica disparatadas atitudes como quando os portugueses tentam falar castelhano a galego-falantes. Atitudes que, pedagogicamente, devemos tentar corrigir reivindicando o reconhecimento da nossa peculiar forma de falar como parte da língua portuguesa.
    Identificar o galego com o português é vital para reverter a perda de falantes. As falas galegas, como as orquídeas, precisam dessa rija árvore -a língua portuguesa- para florescer e continuar a enfeitar a viçosa fraga da diversidade lingüística planetária, para alegrar e enriquecer, com as cores do seu sotaque, a língua de Portugal e do Brasil que, nunca o esqueçamos, foi falada antes na Corunha do que em Lisboa e Brasília.