as notícias da página global

Views: 0

PÁGINA GLOBAL

HAVERÁ DEBATE ENTRE OS CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA?

Posted: 14 Jan 2022 07:07 AM PST

ANGOLA

Faltam menos de oito meses para as eleições gerais em Angola, e aumentam os pedidos para um debate eleitoral entre o candidato do MPLA, João Lourenço, e os cabeças de lista dos restantes partidos.

O líder da UNITA já desafiou o presidente do MPLA para um debate antes das eleições gerais de agosto. Adalberto Costa Júnior disse que, se João Lourenço “não tem medo”, devia sentar-se frente a frente consigo, “abraçar o jogo democrático” e comparar projetos políticos.

Até agora, o líder do partido no poder não respondeu ao repto. Mas Eduardo Dumba Delfim, segundo secretário da UNITA no Huambo, insiste na realização do debate, pois seria o espaço ideal para os eleitores conhecerem os programas eleitorais dos partidos políticos, a que não conseguem aceder por outras vias.

“O debate público, aberto e transparente – sobretudo entre as duas lideranças, mas incluindo também as lideranças dos demais partidos – facilitaria com que cada cidadão pudesse desenvolver o seu intelecto, identificando o que de facto cada liderança pensa sobre o país, a economia, a política e sobre questões sociais”, explica.

 

Falta cultura de debate

No entanto, em Angola, ainda não há uma cultura de debates entre os candidatos a Presidente da República, comenta o politólogo Olívio Nkilumbu. As últimas eleições foram um exemplo disso.

“Em 2017, os contendores do Presidente João Lourenço desafiaram-no a um debate. Ele mostrou-se disponível, mas depois fugiu. Acho que foi uma oportunidade que o Presidente João Lourenço perdeu. No entanto, também é preciso ver que nem todo candidato está preparado para um debate e o Presidente João Lourenço não tem perfil para discutir, infelizmente”.

Para o politólogo, a falta de uma tradição de debates presidenciais também tem a ver com o sistema político instalado no país, que dificulta o confronto de ideias.

Papel da comunicação social

Mas ainda é possível romper com essa tradição, salienta o comunicólogo André Sibi. Basta que os órgãos de comunicação social desafiem os cabeças de lista dos partidos, acrescenta.

“São os meios de comunicação social que devem ter a ousadia de escrever ao Presidente da República e propor também a presença de outros candidatos para um frente a frente, e não ser um candidato a convidar o outro.”

António Solya Solende, secretário provincial do Partido de Renovação Social (PRS) no Huambo, concorda. O político espera que este ano haja debates presidenciais.

“Achamos que vai mostrar o potencial de cada um desses concorrentes e será muito importante para as próprias eleições. No nosso entender, esse debate devia acontecer no início da campanha eleitoral”, defende.

Os debates podem servir de barómetro para avaliar a desenvoltura dos candidatos e a clareza dos seus programas perante o eleitorado, acrescenta Solende.

A DW África contactou a direção do MPLA no Huambo para um posicionamento sobre este tema, mas não obteve resposta.

José Adalberto | Deutsche Welle

IGREJA DE SUMBE CAPOEIRA DO GALO NEGRO

Posted: 14 Jan 2022 06:46 AM PST

Artur Queiroz*, Luanda

Joaquim Matias é padre no Sumbe. Durante uma missa despiu a sotaina e enfeitou-se com as penas do Galo Negro tornando-se um militante político. A metamorfose aconteceu no altar, um lugar sagrado, durante a homilia, conversa familiar do sacerdote no decorrer do culto, após a leitura do Antigo e do Novo Testamento, imediatamente antes da recitação do Credo. A homilia tem a função de explicar a fé e o significado dos vários elementos litúrgicos. O padre preferiu bolsar o discurso da UNITA.

Os fiéis que faziam o santo sacrifício da missa não gostaram que o padre Joaquim Matias se enfeitasse com as penas do Galo Negro. Até porque mais de 90 por cento eram militantes apoiantes ou amigos do MPLA. É assim em todo o lado, nas igrejas, nos táxis, na zunga, nas fábricas, nas casas comerciais, nas repartições públicas, nas forças armadas e de segurança, nos campos, nas escolas, nos centros de saúde e hospitais. A Direcção Provincial do MPLA no Cuanza Sul protestou contra a falta de respeito do padre Joaquim Matias pela Igreja e pelos fiéis todos que estavam presentes na missa.

Um amigo acaba de me enviar um som no qual outro padre vem em defesa de Joaquim Matias mais ou menos nestes termos: Ele disse a verdade ou não disse? Então se tudo o que disse durante a homilia é verdade, o MPLA não pode criticar o sacerdote. Antigamente os padres da Igreja Católica eram bem preparados, tiravam cursos superiores de filosofia e teologia. Hoje pelos vistos vão frequentar umas aulas na UNITA e recebem os hábitos.

 

Senhor padre desconhecido, a verdade é aquilo em que acreditamos! Acredito em Deus, logo Ele existe. A minha verdade outra, não acredito em deuses logo nenhum existe, A minha verdade não é menos verdadeira do que a sua. É a minha. Portanto, o problema da homilia na igreja do Sumbe, nada tem a ver com verdade ou mentira. O padre Joaquim Matias ou outro qualquer não pode fazer política no altar. Tem todo o direito de alinhar ao lado da UNITA mas não durante um culto, onde os fiéis são seguramente em maior número do MPLA. E mesmo que todos fossem de outros partidos. Na Igreja, durante a missa, o padre trata da sua religião.

O padre Joaquim Matias ao fazer política no altar não foi digno da Liberdade de Culto. Não foi digno do regime democrático. Não foi digno da Igreja que representa. Este, sim, é o problema. Não nos atirem à cara com a vossa verdade, porque vale tanto como a verdade dos outros. A minha verdade está muito próxima do Atahualpa Yupanqui,que cantava: Dizem que Deus existe/ Talvez sim/Talvez não/ Mas é seguro que almoça/sentado à mesa do patrão.

Senhores padres, quando quiserem, podemos falar de Deus mas não imponham a ninguém a vossa verdade. Porque no fim a vossa verdade é aquilo em que acreditam e a ninha é muito próxima disto: Não foi Deus que criou o Homem. Foram os homens que criaram Deus. Não contem comigo para essas criatividades. Respeito a vossa verdade, respeitem as verdades dos outros. É um sinal de inteligência. E se quiserem o engenheiro à civil Adalberto da Costa Júnior no poder, façam política fora dos templos de culto. O padre Joaquim Matias não respeitou os fiéis que o ouviam.

*Jornalista

Angola | DEMOCRACIA NÃO É PERMISSÃO PARA TUDO

Posted: 14 Jan 2022 06:29 AM PST

Filomeno Manaças | Jornal de Angola | opinião

A democracia angolana passa por um momento em que enfrenta sérios desafios. Mas essa é uma razão por que devemos permanecer firmes e decididos a defender os seus valores fundamentais e a não permitir que pirómanos dispostos a incendiar a pradaria tomem de assalto o palco político.

Os incidentes de segunda-feira, em que a greve dos taxistas foi aproveitada para se saquear e vandalizar o comité de acção do MPLA, no distrito do Benfica, e apedrejar e incendiar um autocarro onde seguiam trabalhadores da saúde, não nos deve levar a confundir as situações, nem a aceitar o inaceitável.

Em democracia, o direito à greve e à manifestação é uma prerrogativa que tem consagração constitucional e legal, à qual devem fazer recurso todas as entidades beneficiárias que entenderem se terem esgotado as vias normais (diálogo/negociações) para fazer valer os seus interesses. Mas esse direito não pode, não deve ser exercido ou o seu exercício pressupor a ofensa grave a outros direitos.

Nenhuma paralisação laboral ou manifestação pode ser sinónimo de saque, de vandalização, de destruição, de atear fogo e incendiar quem quer que seja ou de qualquer instituição que seja. Não importa se de um comité de acção do MPLA, de um comité de acção da UNITA, de uma estrutura de qualquer outra formação política, de bens públicos ou privados. A mão firme e pesada das autoridades deve fazer-se sentir para assegurar a ordem e tranquilidade públicas.

Constituem crime grave as cenas de vandalização de bens cujas imagens inundaram as redes sociais. Vimos como trabalhadores indefesos e inocentes da saúde, que seguiam para mais uma missão de atendimento aos pacientes que os aguardavam, abandonaram desesperados o autocarro que os transportava, para procurar refúgio nas redondezas. Um autêntico espectáculo de selvajaria que o mais elementar bom senso reclama que se condene de forma veemente, mas não apenas isso, que se exija mesmo que a justiça vá até às últimas consequências no tratamento que está a dar ao caso e os seus autores sejam punidos de forma exemplar.

O que ocorreu segunda-feira acabou por manchar a greve dos taxistas, que têm a obrigação de, perante a sociedade, trabalhar para demonstrar que agem de modo livre, sem influências de forças políticas e movidos apenas pela vontade de defender os seus interesses. Ficou evidente, nas intervenções feitas na rádio, que os taxistas queixam-se de estarem a ser arrastados num diálogo que mais parece de surdos, em que há poucos resultados concretos na satisfação das suas reivindicações, denotando um tratamento menos sério em relação às suas preocupações, apesar de o tempo em que se anda a negociar com as autoridades aparentemente sugerir que as coisas estão a andar e estão no bom caminho.

Sendo legítimas as questões suscitadas pelos taxistas, até porque a maior parte delas bem acolhidas, o desafio que têm pela frente está em lutar para impor a separação de águas, ou seja, fazer valer as suas reivindicações no plano estritamente associativo, algo que não parece ser fácil, tendo em conta relatos de compromissos partidários que algumas das suas figuras ou integrantes possuem, o que não permite afastar de todo a tese da existência de motivações políticas nos actos de vandalismo ocorridos na segunda-feira.

Outro aspecto não menos relevante, e que não pode passar despercebido, é que quem está em greve não tem o direito de obrigar quem não quer aderir à paralisação a fazê-lo. É do mais elementar princípio do Direito que a vontade é fundamental na autodeterminação das pessoas. Ameaçar, coagir os colegas a desembarcarem passageiros e inibi-los de exercer a actividade configura violação de direitos. É, todavia, importante que os taxistas possam exercer a sua actividade com a dignidade que reclamam, como aliás é direito de qualquer outra profissão.

Os incidentes de segunda-feira colocaram à prova, mais uma vez, a serenidade e a capacidade das forças da ordem pública, que actuaram sem embarcar no convite para a violência feita de forma deliberada. Quem tentou imolar o jornalista da Palanca TV, quem saqueou e incendiou os bens do comité de acção do MPLA, no distrito do Benfica, quem apedrejou o autocarro da saúde com os trabalhadores no seu interior, fê-lo de forma consciente e em busca de resultados. Quem, realmente, está comprometido com a democracia não pode olhar para tudo isso e achar normal e esperar que, amanhã, as coisas se repitam. É preciso parar essa maneira de ver a democracia como permissão para tudo.

DECLARAÇÃO DO MOVIMENTO SOCIALISTA DO CAZAQUISTÃO

Posted: 14 Jan 2022 06:14 AM PST

# Publicado em português do Brasil

Em um comunicado sobre as mobilizações e protestos em grande escala no país, o Movimento Socialista do Cazaquistão clama pela solidariedade internacional aos manifestantes e exige a retirada das tropas das cidades, a renúncia de todos os oficiais de Nazarbayev, a libertação de todos os presos políticos e detidos, a legalização do Partido Comunista e dos sindicatos, bem como a nacionalização de toda a indústria extrativa e de grande escala do Cazaquistão.

A declaração diz:

“No Cazaquistão existe agora uma verdadeira revolta popular e desde o início os protestos foram de cunho social e de classe, já que dobrar o preço do gás foi apenas a gota d’água em um copo transbordante de paciência. Afinal, as manifestações começaram justamente em Zhanaozen por iniciativa dos petroleiros, que se tornou uma espécie de quartel-general político de todo o movimento de protesto.

E a dinâmica desse movimento é indicativa, pois começou como um protesto social, depois começou a se expandir, e os coletivos operários usaram comícios para apresentar suas próprias reivindicações por um aumento de 100% nos salários, cancelamento de resultados de otimização, melhoria das condições de trabalho e liberdade de atividade sindical. Como resultado, em 3 de janeiro, toda a região de Mangistau foi engolfada por uma greve geral, que se espalhou para a região vizinha de Atyrau.

Vale ressaltar que já no dia 4 de janeiro, os petroleiros da Tengizchevroil (onde a participação de empresas americanas chega a 75 por cento) entraram em greve. Foi lá que, em dezembro do ano passado, 40 mil trabalhadores foram dispensados ​​e uma nova série de demissões foi planejada. Posteriormente, foram apoiados durante o dia pelos petroleiros de Aktobe, Cazaquistão Ocidental e regiões de Kyzylorda.

 

Além disso, na noite do mesmo dia, começaram as greves de mineiros da empresa ArmelorMittal Temirtau na região de Karaganda e de fundições e mineiros de cobre da corporação Kazakhmys, que já pode ser considerada uma greve geral em toda a indústria de mineração do país. E aqui também reivindicam salários mais altos, redução da idade de aposentadoria, direito aos sindicatos próprios e greves.

Ao mesmo tempo, manifestações indefinidas na terça-feira já começaram em Atyrau, Uralsk, Aktyubinsk, Kyzyl-Orda, Taraz, Taldykorgan, Turquistão, Shymkent, Ekibastuz, nas cidades da região de Almaty e na própria Almaty, onde as ruas foram tomadas na noite de 4 a 5 de janeiro, com confrontos abertos entre manifestantes e a polícia, em consequência do que o akimat municipal [1] foi temporariamente tomado. Isso fez com que Kassym-Zhomart Tokayev declarasse o estado de emergência.

Deve-se notar que essas mobilizações em Almaty foram protagonizadas principalmente por jovens desempregados e migrantes do interior que viviam nos subúrbios da metrópole e que trabalhavam em empregos temporários ou mal pagos. E as tentativas de acalmá-los com promessas reduzindo o preço do gás para 50 tengues, separadamente para a região de Mangistau e Almaty, não satisfizeram ninguém.

A decisão de Kassym-Zhomart Tokayev de demitir o governo e, em seguida, remover Nursultan Nazarbayev do cargo de presidente do Conselho de Segurança, também não parou os protestos, já que em 5 de janeiro, começaram protestos de massas nos centros regionais do Norte e Leste do Cazaquistão, onde não existiam anteriormente – em Petropavlovsk, Pavlodar, Ust-Kamenogorsk, Semipalatinsk. Ao mesmo tempo, foram feitas tentativas de invadir os edifícios de akimats regionais (governos municipais ou provinciais) em Aktobe, Taldykorgan, Shymkent e Almaty.

Em Zhanaozen, em seu comício por tempo indeterminado, os trabalhadores formularam novas demandas – a renúncia do presidente em exercício e de todos os oficiais de Nazarbayev, a restauração da Constituição de 1993 e as liberdades associadas para criar partidos, sindicatos, libertar prisioneiros políticos e acabar com a repressão. Um Conselho de aksakals foi imediatamente criado, que se tornou uma autoridade informal.

Assim, as reivindicações e palavras de ordem que hoje são utilizados em diferentes cidades e regiões foram transmitidos a todo o movimento, e a luta ganhou um conteúdo político. Também estão sendo feitas tentativas no terreno para criar comitês e conselhos para coordenar a luta.

Ao mesmo tempo, as tropas foram reunidas em Almaty, Aktau e Zhanaozen, e tudo correria pacificamente na região de Mangistau, onde os soldados se recusaram a dispersar os manifestantes… mas então os tiroteios começaram na capital sulista, e na noite de 5 de janeiro 6 as forças especiais foram introduzidas, começando a limpeza do aeroporto e bairros capturados pelos rebeldes. Segundo várias fontes, já existem dezenas de manifestantes mortos.

Nesta situação, existe o perigo de uma repressão violenta de todos os protestos e greves, e aqui é necessário paralisar completamente o país com uma greve geral. Portanto, é urgente a formação de comitês de ação unificados em bases territoriais e produtivas, a fim de oferecer resistência organizada ao terror militar e policial.

A este respeito, o apoio de todo o movimento operário internacional e comunista, associações de esquerda também é necessário para organizar uma campanha em grande escala no mundo.

O Movimento Socialista do Cazaquistão exige:

O fim imediato das hostilidades contra nosso povo e a retirada das tropas das cidades!

Renúncia imediata de todos os oficiais de Nazarbayev, incluindo o presidente Tokayev!

Libertação de todos os presos políticos e detidos!

Garantia do direito dos trabalhadores de criarem seus próprios sindicatos, partidos políticos, fazerem greves e reuniões!

Legalização das atividades do banido Partido Comunista do Cazaquistão e do Movimento Socialista do Cazaquistão!

Apelamos a todos os trabalhadores e trabalhadores do país para implementar, na prática, a demanda dos petroleiros executados de Zhanaozen – nacionalizar, sob o controle de coletivos operários, toda a indústria extrativa e de grande escala do país!

Anexo: Declaração da Seção de Relações Internacionais do CC do KKE (Partido Comunista da Grécia)

O KKE saúda as grandes greves operárias e mobilizações populares no Cazaquistão contra o aumento dos preços, o desemprego, a pobreza, a miséria e outros problemas sociais que o sistema capitalista criou para milhões de pessoas, 30 anos após a derrubada contra-revolucionária e a dissolução da URSS.

Expressamos nossa solidariedade aos milhares de trabalhadores que, desafiando o regime policial e a repressão, saíram as ruas exigindo a melhoria de seu nível de vida e expressando sua oposição ao saque dos recursos energéticos pelos monopólios.

Nós reivindicamos:

A libertação de todos os manifestantes detidos pela polícia, assim como de todos os presos políticos.

A abolição de todas as leis antissindicais e antitrabalhistas que colocaram na ilegalidade centenas de sindicatos nos últimos anos, em um esforço do governo para controlar o movimento sindical.

A legitimação do Movimento Socialista do Cazaquistão e do Partido Comunista do Cazaquistão, que foram proibidos pelas autoridades do país.

Nota:

1 – No Cazaquistão, um äkim é o chefe de um akimat, um governo municipal, distrital ou provincial (akimat) e atua como representante presidencial. Os Äkims das províncias e cidades são nomeados para o cargo pelo Presidente sob conselho do Primeiro-Ministro. Entretanto, os äkims de outras unidades administrativas e territoriais são nomeados ou seleccionados para o cargo na ordem definida pelo Presidente. Ele também pode demitir äkims de seus cargos. Os poderes dos äkims terminam com a introdução no cargo de novo presidente eleito da república. Assim, o äkim continua a cumprir suas obrigações antes da nomeação dos äkim correspondentes pelo Presidente do Cazaquistão.

Via In Defense of Communism, traduzido pelo Partido Comunista Brasileiro

Publicado em https://pcb.org.br/portal2/28256/declaracao-do-movimento-socialista-do-cazaquistao/

Como as vendas de armas dos EUA alimentam a corrupção em todo o mundo

Posted: 14 Jan 2022 04:22 AM PST

# Publicado em português do Brasil

O governo Biden prometeu combater o clientelismo e pode começar confrontando o setor de segurança

Kelly M. McFarland* | Responsible Statecraft

As tropas russas chegaram à capital do Cazaquistão em 6 de janeiro a pedido do presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, para reprimir protestos populares em larga escala . O presidente está tentando retratar os manifestantes como ameaças terroristas e recentemente deu uma ordem de atirar para matar suas tropas. No entanto, fartos da vasta cleptocracia e do compadrio, os manifestantes estão na verdade rechaçando um dos governos mais corruptos da região.

A corrupção não é novidade – basta olhar para os Estados Unidos durante a Era Dourada – mas nas últimas décadas ela vem crescendo globalmente, com consequências gritantes. Os Pandora Papers do outono passado oferecem o exemplo mais recente das maneiras pelas quais os líderes governamentais, autocratas e seus comparsas e seus facilitadores empreenderam ações ilegais ou imorais para movimentar e esconder seu dinheiro.

O governo Biden vê corretamente a corrupção como uma ameaça abrangente e existencial à democracia. No início de dezembro, o governo divulgou sua “ Estratégia de Combate à Corrupção ” poucos dias antes de sediar a Cúpula para a Democracia . Enfrentar a corrupção foi um dos três pilares da cúpula. A estratégia da equipe de Biden para combater a corrupção representa um esforço histórico de um governo para enfrentar a corrupção. A administração deve agora manter-se fiel ao seu objetivo declarado de aumentar o escrutínio das vendas do setor de segurança.

 

O elefante na sala

Por mais que questões de direitos humanos e realpolitik tenham dificultado as decisões de política externa para os formuladores de políticas americanas ao longo de décadas, o mesmo acontece com questões de corrupção. Em nenhum lugar isso é mais aparente do que no setor de segurança. Por mais de meio século, os Estados Unidos vêm fornecendo e vendendo armas para regimes autoritários ou governos democráticos de nome apenas por razões de segurança nacional. Esses mesmos regimes são muitas vezes os mais corruptos e cleptocratas. A administração Biden será duramente pressionada para combater com sucesso a corrupção sem grandes reformas no setor de segurança.

A situação no Afeganistão ressalta a natureza dos regimes cleptocráticos e sua conexão com a segurança internacional. Ao longo de 20 anos, os Estados Unidos – com contribuições aliadas – sustentaram um regime que era corrupto em sua essência e em todos os níveis de governo. Como inúmeros relatórios do SIGAR e estudiosos como Sarah Chayes deixaram claro, a rápida queda dos militares e do governo afegãos não deveria ser uma surpresa.

“Entre 2001 e 2020”, segundo Craig Whitlock , do Washington Post, “Washington gastou mais na construção da nação no Afeganistão do que em qualquer outro país, alocando US$ 143 bilhões para reconstrução, programas de ajuda e forças de segurança afegãs”. Isso incluiu o treinamento de mais de 350.000 forças de segurança afegãs. Após os ajustes da inflação, isso é mais do que os Estados Unidos gastaram no Plano Marshall. Essas somas de dinheiro, rapidamente injetadas em uma nação mal equipada para absorvê-lo, garantiram um boondoggle para os atores corruptos.

A corrupção do setor de segurança no Afeganistão foi apenas uma parte da corrupção mais ampla em geral, mas fornece uma lente sobre o problema mais amplo e sua correlação direta com a governança fraca, o declínio democrático e a instabilidade regional. Jodi Vittori, da Universidade de Georgetown, fornece uma descrição clara de como era:

“Logística e suprimentos confiáveis ​​o suficiente para as tropas não puderam decolar porque os contratos estavam cheios de propinas (se foram cumpridos) e porque algumas das armas, munições, alimentos e outras necessidades foram desviadas para ganho pessoal. Um sistema de pessoal corrupto significava que as promoções e os empregos principais eram atribuídos a afegãos politicamente ligados ou àqueles que pagavam subornos, em vez dos mais dispostos e capazes de lutar. As tropas enfrentaram a batalha sabendo que podem não ser alimentadas ou pagas porque dinheiro e recursos estavam sendo desviados. Se fossem feridos, eles tinham que subornar a equipe médica para atendimento e depois pagar por sua comida e suprimentos médicos de seus próprios bolsos. Se fossem mortos, suas viúvas provavelmente não receberiam suas pensões sem subornos ou conexões, deixando suas famílias na miséria”.

Com uma corrupção tão profundamente enraizada no setor de segurança afegão, não é de admirar que as forças tenham evaporado diante da ofensiva do Talibã. Enquanto isso, os afegãos comuns observavam seus líderes governamentais desviarem dinheiro para comprar propriedades em Dubai, enquanto o meio-irmão do presidente expulsava cidadãos de suas terras fora de Kandahar para vendê-las para ganho pessoal, e a eleição de 2009 foi tão flagrantemente fraudulenta que chocou até quem estava esperando.

Chayes aponta as maneiras pelas quais os sistemas cleptocratas em lugares como o Afeganistão funcionam e podem levar as pessoas a revoltas violentas. No Afeganistão, os funcionários receberam propinas como pagamento por nomeações, o que ajudou a garantir a cobertura máxima para atos de corrupção dos mais altos níveis do governo. “ Duas pesquisas realizadas em 2010 estimaram o valor total pago em subornos a cada ano no Afeganistão entre US$ 2 bilhões e US$ 5 bilhões – um valor equivalente a pelo menos 13% do PIB do país.” O sistema afegão, como muitos outros, priorizava o autoenriquecimento, não a governança.

A corrupção no setor de segurança é desenfreada em muitos países além do Afeganistão e teve, e provavelmente continuará a ter, sérias consequências. Como destaca Rachel Kleinfeld , membro sênior do Carnegie Endowment for International Peace , “o Pentágono e os especialistas em segurança prestam atenção aos setores de segurança de potenciais aliados – mas muitas vezes dão pouca atenção à governança, concentrando-se em treinamento, equipamentos e capacidades”.

No Oriente Médio, os Estados Unidos forneceram 45% das armas vendidas de 2000 a 2019, pois buscam construir aliados e parceiros capazes, mas a corrupção é generalizada e muitos governos podem ser repressivos. Como observa Vittori , em vez de construir parceiros de segurança eficientes e confiáveis, “as armas dos EUA ajudaram a reforçar a corrupção e a busca de renda que sustentam a fragilidade do Estado em toda a região”. Os aliados dos EUA também são cúmplices. Por exemplo, “o Reino Unido documentou que a BAE Systems e seus agentes pagaram pelo menos 6 bilhões de libras esterlinas em subornos à família real saudita entre 1985 e 2006. O governo saudita acusou recentemente Saad al-Jabri, ex-vice do Ministério do Interior, de desperdiçar US$ 11 bilhões de um fundo de contraterrorismo saudita de US$ 19,7 bilhões”.

Pare de atirar em nós mesmos

Os Estados Unidos e seus parceiros ocidentais gastam dinheiro e esforços para desenvolver as capacidades de segurança das nações parceiras, mas muitas vezes permanecem incapazes de alcançar seus objetivos de segurança. O Instituto para o Estudo da Diplomacia da Universidade de Georgetown realizou uma série de reuniões de grupos de trabalho acadêmicos/praticantes sobre corrupção no final de 2021, e os participantes destacaram as maneiras pelas quais a corrupção no setor de segurança, inclusive para amigos e aliados do Ocidente, permite e regimes autoritários. Os negócios de armas, por exemplo, costumam usar contratos secretos (que são compreensíveis em muitos casos), incluem contratos de compensação e oferecem oportunidades de patrocínio e propinas que sustentam redes de corrupção. Além disso, esses regimes usam essas mesmas armas para reprimir aqueles que anseiam por mais dignidade e oportunidades.

Se enfrentar a corrupção, fortalecer a democracia e combater o autoritarismo são os principais princípios da estratégia de segurança nacional do governo Biden, ele também deve enfrentar a natureza conflitante da ajuda do setor de segurança dos EUA. Isso significará fazer escolhas difíceis em relação à venda de armas para “aliados” que podem usá-las para suprimir os apelos de seus próprios povos por um governo mais aberto e/ou usar as vendas como um meio para consolidar regimes cleptocráticos. Também significará impor restrições mais rígidas sobre para quem os Estados Unidos e seus aliados vendem armas, que tipos de contratos são usados ​​e implementar mecanismos de monitoramento mais fortes.

Como vimos em lugares como Afeganistão, Iêmen e outros países, a corrupção em massa cria instabilidade, repressão e forças de segurança desnudas que trabalham diretamente contra os esforços dos EUA para fortalecer a democracia e combater a corrupção. A nova estratégia de combate à corrupção é um primeiro passo fundamental, mas a administração deve cumprir seus objetivos.

*Kelly McFarland é historiador diplomático e Diretor de Programas e Pesquisa do Instituto para o Estudo da Diplomacia da Universidade de Georgetown. Ele pesquisa, escreve e ensina sobre questões relacionadas à história diplomática, Oriente Médio e influência da história nas relações exteriores, entre outros tópicos. Ele passou sete anos no Departamento de Estado dos EUA antes de ingressar na Georgetown.

Debate Capit(al)ólio | O trabalho esteve ausente do debate entre Rio e Costa

Posted: 14 Jan 2022 03:29 AM PST

PORTUGAL

O debate promovido pelas televisões, num modelo discriminatório que visa continuar a alimentar artificialmente a bipolarização, mostrou que a alternativa e a mudança não passam por ali.

António Costa e Rui Rio confrontaram-se durante mais de uma hora num debate que passou em simultâneo nos três canais generalistas, confirmando o tratamento desigual de PS e PSD relativamente às restantes forças políticas. Destas, só a CDU ripostou, recusando-se a participar nos debates nos canais do cabo, uma espécie de segunda divisão televisiva para onde todos foram relegados, com excepção dos líderes do PS e do PSD.

Quanto ao debate de ontem e às ideias e propostas apresentadas, de sublinhar três aspectos essenciais: as pretensões do PSD de controlar a acção do Ministério Público e de reforçar o sector privado da saúde, o brilharete do PS com as medidas da chamada «geringonça» e a ausência do debate das questões do trabalho e dos trabalhadores.

Rui Rio reafirmou a intenção do PSD de impor ao Conselho Superior do Ministério Público uma maioria de não magistrados e, desta forma, impor o controlo político e partidário à acção destes agentes da justiça, como se não bastasse o continuado subfinanciamento da Justiça, imposto por sucessivos governos do PS e do PSD. Aspecto que não foi levantado no debate, nomeadamente as precárias condições dos parques judiciário e prisional, e a carência de meios de investigação e de recursos humanos.

 

Quanto às questões da saúde e do SNS, o líder social-democrata voltou a focar-se no recurso do Serviço Nacional de Saúde (SNS) aos privados e, consequentemente, no reforço das centenas de milhões de euros que já hoje são pagos aos grupos económicos que actuam no sector da saúde.

Pelo PS, António Costa realçou um conjunto de medidas sociais aprovadas nestes seis anos da sua governação, mas que no essencial resultaram da acção dos partidos à sua esquerda, em particular do PCP. É o caso, por exemplo, do passe social intermodal, que se traduziu numa poupança para milhares de famílias e numa maior mobilidade, designadamente para os reformados e pensionistas, ou dos manuais escolares gratuitos, conquista em que a intervenção do PCP ultrapassou as resistências do Governo. De restoi, também a consagração do princípio da gratuitidade das creches, de que falou o líder do PS, teve muito a ver com a determinação dos comunistas.

À margem do debate, esteve a centralidade do trabalho na sociedade, a sua valorização e os problemas que atingem os trabalhadores. Para além da renovada recusa do PSD em aumentar o salário mínimo nacional, e mesmo a sua relutância em relação aos tímidos aumentos propostos pelo PS, ninguém falou da desregulação dos horários de trabalho e das suas consequências na vida de quem trabalha ou na redução do horário de trabalho para as 35 horas semanais, sem perda de remuneração. Fora do debate ficou também a questão do aumento geral dos salários, seja no sector privado ou na Administração Pública.

AbrilAbril

PS vs PSD: Perceberam-se as diferenças entre Costa e Rio após debate intenso

Posted: 14 Jan 2022 02:52 AM PST

PORTUGAL

SNS, TAP, justiça, impostos, salário mínimo, governabilidade. Quem ontem viu o frente-a-frente entre Costa e Rio percebeu claras diferenças entre ambos.

Foi um debate muito intenso. Sem ofensas mútuas, mas fortemente marcado pelas diferenças de programa de governação entre PS e PSD. No confronto de ontem entre António Costa e Rui Rio, nos três canais de sinal aberto ao mesmo tempo, ficaram claras as diferenças sobre o modelo económico para o país, a fiscalidade, a saúde, a Justiça e a TAP. Temas que provocaram fricção entre os dois candidatos a primeiro-ministro, no debate mais importante desta pré-campanha eleitoral para as legislativas de 30 de janeiro.

O Cineteatro Capitólio, em Lisboa, foi o palco do frente a frente moderado por Clara de Sousa (SIC), José Adelino Faria (RTP1) e Sara Pinto (TVI/CNN). Rui Rio, confrontado com a acusação de que passou dois anos a apoiar o Governo, lançou o mote do debate: “Fizemos uma oposição civilizada mas agora é tempo de marcarmos a diferença.”

António Costa também trazia frases estudadas. Como a de que “O país precisava de tudo menos desta crise”, acusando Rio “de se preocupar muito com os números” e de se ter tornado “insensível às pessoas”.

 

O debate arrancou pela questão da governabilidade pós-eleições. O líder social-democrata reiterou a ideia de que Costa partia em “desvantagem” porque “não é claro em relação aos cenários políticos.”, tanto mais que “a probabilidade de termos maioria absoluta é próxima de zero”. “Não tem condições de reeditar a geringonça”, garantiu e admitiu a possibilidade que mesmo que o PS ganhe sem maioria poderá haver outro primeiro-ministro que não Costa, provavelmente Pedro Nuno Santos. E com Pedro Nuno Santos “teremos o BE dentro do Governo.”

O secretário-geral do PS acabou por ir ao ponto e, sem apelo nem agravo, rejeitou a reedição da geringonça, ou seja um acordo parlamentar com PCP e BE. António Costa quis desfazer o tabu de que o acusavam sobre o pós 30 de janeiro. “O resultado desejável é uma maioria do PS”, insistiu. Se o PSD ganhar, “arrumo os papéis e dou a chave ao DR. Rui Rio”, assegurou. Mas se o PS tiver maioria relativa, “não viro as costas aos portugueses” e “teremos de conversar na Assembleia da República”.

Costa abriu duas possibilidades de governação em minoria: ou ao estilo de António Guterres, que negociava diploma a diploma no Parlamento; ou com o apoio do PAN. “Não me esqueço que o PAN não contribuiu para esta crise.” Nunca mencionou o Livre de Rui Tavares, que se disponibilizou no caso de ser eleito para esse entendimento.

SNS, Justiça, TAP, salário mínimo, impostos. Estes foram os grandes temas do debate e aqueles que permitiram aos dois líderes estabelecer claros contrastes entre os respetivos programas.

Costa esteve ao ataque nas questões do SNS e da Justiça, obrigando Rui Rio a uma atitude defensiva.

No que toca ao SNS, acusou Rio, lendo documentos do PSD, de querer um serviço público de saúde a servir apenas os “remediados” e atirando a classe média para os braços do setor privado e dos seguros de saúde.

Rio desmentiu este argumento mas não deixou de criticar o SNS considerando que “não responde como deve ser”. Ao mesmo tempo acrescentou que de facto é “defensor de um SNS predominantemente público” mas sendo “preciso negociar um complemento com o privado quando o público não conseguir”. Acordo só num ponto: ambos querem no horizonte de uma legislatura que cada utente tenha um médico de família – reconhecendo Costa que não foi capaz de cumprir essa promessa na legislatura que agora está a acabar.

No setor da justiça, Costa foi ainda mais agressivo, acusando o líder do PSD de estar a querer as magistraturas, sobretudo a do Ministério Público, “controladas pelo Ministério Público”, reduzindo a minorias a representação dos magistrados nos respetivos conselhos superiores e pondo em maioria nestes órgãos os eleitos dos políticos. Rio respondeu dizendo apenas que recusa o “corporativismo” no setor: “O que dizemos é simples: no Conselho Superior não deve haver maioria de magistrados para não haver corporativismo, mas uma maioria da sociedade civil.”

Nos impostos também se afirmaram diferenças – Rio propõe um verdadeiro choque fiscal universal para as empresas no IRC e Costa quer neste imposto descidas em funções de variantes -, bem como IRS (as descidas propostas pelo PSD são maiores do que as do PS).

Já na TAP, foi Rui Rio quem esteve claramente ao ataque, acusando a companhia de tratar os portugueses de forma “indecente”, valorizando apenas em Portugal um único aeroporto, o de Lisboa. Assim, disse, a sua prioridade é privatizar a empresa “o mais rapidamente possível”.

Outro tema diferenciador foi o salário mínimo. Costa reafirmou o compromisso de o aumentar até aos 900 euros em 2026 – mas Rio disse que isso não é possível, estabelecendo antes a necessidade de aumentos “sustentados” em função da economia.

Em síntese: um debate duro, clarificador – até das posições de Costa sobre a governabilidade – e cujos ecos se ouvirão no resto da campanha.

Paula Sá, João Pedro Henriques| Diário de Notícias

Imagem: António Costa e Rui Rio no debate da RTP. © Pedro Pina / RTP

“Maioria absoluta não é um poder absoluto, é ter condições para governar” — Costa

Posted: 14 Jan 2022 03:33 AM PST

PORTUGAL

António Costa refere que “toda a gente tem consciência” de que existem “hoje condições institucionais para que a maioria de hoje não seja como as maiorias foram anteriormente”.

O secretário-geral do PS defendeu na quinta-feira que ter uma “maioria absoluta não é um poder absoluto, é ter condições para governar”, sustentando que, se vier a concretizar-se, o Presidente da República não permitirá abusos de poder.

“Hoje em dia, a maioria absoluta não é um poder absoluto, é ter condições para governar. (…) Nós felizmente temos um Presidente da República que está no início do seu mandato, tem todo o seu mandato que vai cobrir a próxima legislatura, é uma pessoa de quem os portugueses gostam (…) que tem autoridade, e alguém acredita que com Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente da República poderíamos ter uma maioria absoluta que pisasse o risco? Não pisava o risco dois dias, era o primeiro e acabava”, frisou António Costa.

O secretário-geral do PS falava à saída do cineteatro Capitólio, em Lisboa, onde decorreu o debate que o opôs ao líder do PSD, Rui Rio, tendo saído acompanhado pelo secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro.

António Costa abordou o “receio que as pessoas têm relativamente a experiências passadas” de maiorias absolutas, afirmando que “toda a gente tem consciência” de que existem “hoje condições institucionais para que a maioria de hoje não seja como as maiorias foram anteriormente”.

 

Salientando que não quer que se comparem “as diferenças de personalidades” com outros primeiros-ministros que tiveram maiorias absolutas, Costa citou, no entanto, o primeiro governante a obtê-la, Aníbal Cavaco Silva – “eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas” — para afirmar que “toda a gente sabe” que é “uma pessoa de diálogo, de compromissos, de consensos”.

Nesse sentido, o também primeiro-ministro abordou o seu trajeto enquanto presidente da Câmara Municipal de Lisboa, entre 2007 e 2015, para afirmar que, apesar de ter tido maioria absoluta na altura, pretendeu “negociar com todos” os partidos o Plano Diretor Municipal, tendo “praticamente todos os partidos” votado a favor.

“Porquê? Eu podia ter feito sozinho a com a minha maioria, mas eu sabia que o Plano Diretor Municipal é uma coisa para uma década da cidade e, portanto, é necessário um consenso amplo, e negociámos, negociámos, para ter o consenso mais amplo possível. É assim que eu farei também com a maioria”, afirmou.

António Costa sublinhou assim que o partido não pode “continuar a perder tempo” e, sem nunca pedir explicitamente uma “maioria absoluta”, salientou que é “necessária uma maioria do PS”.

“Os outros estão a trabalhar, a avançar, e nós estamos aqui a fazer uma campanha eleitoral quando devíamos estar todos a fazer o que o país precisa: é virar a página desta pandemia e fazer o país avançar”, disse.

António Costa sustentou que o PS tem um “Orçamento do Estado pronto” e, caso vença as eleições com maioria, o país não irá perder “nem mais um dia a viver em duodécimos”: “apresentamo-lo na Assembleia da República, discutimo-lo, aprovamo-lo”, indicou.

Caso os portugueses decidam não dar maioria aos socialistas, o primeiro-ministro salientou que aí será necessário retomar as negociações orçamentais e “essa negociação vai-se arrastar, vai ser mais difícil” e o país vai perder.

“Vamos viver mais tempo em duodécimos, mais tempo em incerteza e o país vai atrasar-se naquilo que é fundamental: que é arregaçarmos todos as mangas apesar do frio e pormo-nos ao trabalho para recuperar a economia”, afirmou.

Questionado se descarta uma nova ‘geringonça’, António Costa salientou que, “depois do que aconteceu”, não pode “acreditar” nessa solução, considerando que, “no momento mais grave da crise”, quando todos precisavam de se “mobilizar para a recuperação e para o progresso, o Bloco de Esquerda e o PCP votaram como votaram”.

“Isso obviamente cria um problema político que todos percebem. Portanto, eu com a mesma franqueza digo aos portugueses: neste momento, não há condições”, disse.

No entanto, o secretário-geral socialista afirmou que isso “não significa reerguer os muros” que derrubou em 2015 — “esse muro nunca mais voltar a ser reerguido” — mas reiterou que, “nestas circunstâncias, não é o momento” para essa solução, apelando a “concentrar o voto no PS”.

“Vamos resolver rapidamente esta absurda crise política que não tem nenhuma justificação, e os portugueses têm uma enorme oportunidade: é não delegarem nos partidos a resolução da crise e resolverem eles mesmos, indo votar no dia 23, indo votar no dia 30, para garantir uma maioria que assegure estabilidade, para podermos continuar a avançar”, afirmou.

TSF | Lusa | Imagem: António Costa © Pedro Pina/EPA

Portugal | LUTAR NA LAMA SEM IR AO TAPETE

Posted: 13 Jan 2022 11:51 PM PST

Miguel Guedes* | Jornal de Notícias | opinião

Chegado ao momento crítico, onde a linha se coloca intransponível ou se ultrapassa, homens e mulheres têm a oportunidade de tomar decisões que os definem.

No imediato e, salvo esquecimento, que as acompanham para sempre. Haverá quem tenha a coragem de não ultrapassar o limite, por absoluto respeito aos princípios, ou de o pisar com parcimónia para de imediato volver. Outros optarão por ir directo à lama, sem duvidar que é território fértil para granjear apoios ou abusar do mais básico e rudimentar exercício de defesa a qualquer custo. Mentira, violência, demagogia ou engodo, formas distintas e eficazes de lutar na lama sem ir ao tapete.

A icónica violência teatral do debate entre Francisco Rodrigues dos Santos e André Ventura, colírio delirante de frases pré-feitas por assessores dedicados e debitadas com o orgulho de quem sabe que vai produzir um sound-byte, criou um efeito transversal (da Esquerda à Direita) de aplauso retumbante, misto de vingança e vendeta, pela forma como o líder do CDS-PP enfrentou o rosto da extrema-direita com a boca numa loja de horrores, os olhos em Fátima e a alma tomada por Che Guevara. Com isso, entrou no território de lama que Ventura tão bem habita como animal (político) que é e desceu ao nível que lhe permitiu sovar o adversário, sem qualquer espécie de vergonha, em sucessivos “rounds”.

 

É difícil resistir ao ímpeto do abraço. Com essa humildade híbrida, católica e protoconservadora, Francisco pode ter acrescentado mais uns pós percentuais à votação de dia 30, invertendo o previsível desaparecimento do seu partido. Talvez o tenha salvo do ocaso, assumindo-se assim, marialva e de peito feito. Talvez tenha retirado alguns pontos percentuais ao retrocesso civilizacional que o Chega representa, recebendo alguns dos seus ex-militantes de volta. Talvez tenho exposto, como ninguém, as fragilidades, mentiras, contradições e a falta de noção de Ventura. Sabemos que, se o CDS desaparecer, “we will always have Chicão”, como se fosse Bogart por 25 minutos mas uma memória para a vida. Para sempre a frase: “um esquadrão de cavalaria à desfilada na sua cabeça não esbarra contra uma ideia”. A lama não enobrece mas, contra o Salvini dos pobres, teceu encómios.

Porque há vida para além dos debates, António Ramalho continua a ser o presidente executivo do Novo Banco, mesmo quando o BCE investiga a relação entre ambos. Mesmo quando se soube que o responsável pela recuperação do Novo Banco se reuniu com Luís Filipe Vieira, com o intuito de preparar a apresentação deste último na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) onde, dias depois, o ex-presidente do Benfica declararia que pouco mais se lembrava do que ter um palheiro. Eis a idoneidade de quem é acusado pelo Inspector Tributário (na operação “Cartão Vermelho”) de ter concertado posições com um dos maiores devedores do Novo Banco ou de querer preparar pessoas para serem monocórdicas e chatas na CPI para que “os gajos” não percebam nada do que elas vão dizer. António Ramalho, jogando na lama, sem pudor e, estranhamente, sem que ninguém o leve ao tapete apesar da indignação de alguma oposição à Esquerda.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

*Músico e jurista

Imagem: HenriCartoon

Portugal | Utentes da saúde de Odemira estão fartos das más condições

Posted: 13 Jan 2022 11:38 PM PST

Na tribuna pública do dia 15 de Janeiro, às 15h, em Vila Nova de Milfontes, a Coordenadora das Comissões de Utentes do Litoral Alentejano quer denunciar a degradação dos serviços em todo o concelho.

«Cerca de cinco mil utentes» do concelho de Odemira não têm médico de família, protesta a Coordenadora das Comissões de Utentes do Litoral Alentejano, em comunicado. «As Extensões de Saúde de Saboia, São Luís e Vila Nova de Milfontes estão muito degradadas, com vários anos de promessas de investimento em novas unidades de saúde», que nunca se concretizaram.

A unidade de saúde de Vila Nova de Milfontes «está numa dependência da casa do povo de Vila Nova de Milfontes, há muitos anos que o Ministério da Saúde promete construir uma nova. A população está farta destas promessas e querem uma extensão de saúde nova de uma vez por todas», afirma Dinis Silva, membro da Coordenadora das Comissões de Utentes do Litoral Alentejano, em declarações prestadas ao AbrilAbril.

 

Não só as condições materiais representam um problema para a população: «S. Luís tem médico de família uma vez por semana, em Sabóia de 15 em 15 dias, na extensão de saúde do Vale de Santiago só têm médico uma vez por mês», clarifica Dinis Silva, «exigimos que estas unidades tenham a presença de um médico pelo menos uma vez por semana».

Com a participação do Dr. João Proença, Presidente do Sindicato dos Médicos da Zona Sul e da Enfermeira Zoraima Prado, Coordenadora do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP/CGTP-IN) do distrito de Setúbal, os utentes do Concelho de Odemira vão concentrar-se em tribuna pública no próximo dia 15 de Janeiro, às 15h, na Capela do Colégio da Nossa Senhora da Graça, em Vila Nova de Milfontes.

O funcionamento do Hospital do Litoral Alentejano tem vindo a ser alvo de críticas, tanto pelas suas limitações materiais como humanas. Neste caso, a Coordenadora específica o «ultrapassar dos tempos máximos de resposta garantidos (“tempos de espera”) em diversas especialidades», como é o caso de Cardiologia e de Urologia, onde só existe um médico para os mais 100 mil utentes servidos pelo hospital.

AbrilAbril | Imagem: Vila de Odemira Créditos/ Rádio Pax

Portugal | Vítimas dos incêndios no Algarve continuam a aguardar apoios

Posted: 13 Jan 2022 11:30 PM PST

Em Novembro, o Governo ainda não tinha enviado à Comissão Europeia «nenhum pedido de assistência do Fundo de Solidariedade» a título dos danos causados pelos incêndios florestais no Sotavento algarvio.

A informação foi prestada pela Comissão Europeia em resposta ao deputado do PCP no Parlamento Europeu, no seguimento de visitas realizadas por João Pimenta Lopes aos locais afectados pelo grande incêndio que teve lugar em Castro Marim, em Agosto do ano passado, e que atingiu também os concelhos de Tavira e de Vila Real de Santo António.

O deputado quis saber se o Estado português já tinha accionado a mobilização de fundos comunitários com vista à disponibilização de apoios às populações afectadas, mas a resposta foi negativa. «Até à data, a Comissão ainda não recebeu, por parte de Portugal, nenhum pedido de assistência do Fundo de Solidariedade da União Europeia a título dos danos causados pelos incêndios florestais», lê-se na resposta dada pela comissária Elisa Ferreira, a 19 de Novembro de 2021, que o PCP cita num comunicado de imprensa.

Entretanto, não se conhecem desenvolvimentos neste sentido por parte do Estado português, o que, segundo os comunistas, «contrasta com as promessas realizadas no Verão passado, de apoios às populações atingidas» pelo grande incêndio que deflagrou em Castro Marim, nos dias 16 e 17 de Agosto de 2021.

 

Para o PCP, «é incompreensível» que o Estado português não mobilize todos os recursos que estão disponíveis, incluindo fundos comunitários, para apoiar as vítimas do incêndio que destruiu milhares de hectares de matos e florestas, mas também habitações, infra-estruturas e equipamentos. Situação que, refere-se na nota, se tem tornado uma «rotina de Verão» nas serras algarvias, fruto da «ausência de uma verdadeira política de prevenção dos incêndios florestais – inseparável de um maior investimento público, do apoio à promoção da actividade agrícola, de combate à desertificação dos territórios e promoção de um outro ordenamento florestal».

O Sotavento algarvio corresponde à zona oriental do Algarve, da qual fazem parte os concelhos de Alcoutim, Castro Marim, Faro, Loulé, Olhão, São Brás de Alportel, Tavira e Vila Real de Santo António.

AbrilAbril | Imagem: Paulo Novais / Lusa | 13.01.2022

(PÓS)NEOLIBERALISMO? REPENSANDO O RETORNO DO ESTADO

Posted: 13 Jan 2022 11:04 PM PST

# Publicado em português do Brasil

Ishan Khurana e John Narayan* | Carta Maior

Muitos analistas sugeriram recentemente que o neoliberalismo está morto ou retrocedendo. Durante a interrupção das cadeias globais de commodities causadas pela pandemia de Covid 19, as políticas de livre mercado que dominaram a economia global nos últimos 40 anos parecem ter perdido apoio. O presente artigo aponta para uma reversão a uma forma nacional de capitalismo e protecionismo, o questionamento da globalização e o retorno da intervenção estatal na economia. Um excelente exemplo é a atitude do governo Biden em relação à economia dos EUA, que se voltou para gastos sociais com déficit, expansão dos direitos sindicais e medidas protecionistas para compras públicas. Isso não surgiu do nada – com a economia global neoliberal comportando-se como um zumbi desde a crise financeira global de 2008.

A fratura da economia global em linhas nacionais pode anunciar um conflito e uma nova guerra fria entre os EUA e a China. No entanto, o recuo do neoliberalismo também parece oferecer uma possível abertura – por meio de uma crítica à globalização e um retorno do Estado. Aqui, uma política de esquerda rejuvenescida pode ser capaz de evitar as armadilhas de um capitalismo autoritário emergente e lançar uma nova forma nacional de política progressista em torno de políticas de bem-estar como o Green New Deal e a Renda Básica Universal em locais como o Reino Unido e os EUA.

O neoliberalismo fez parte
de uma contrarrevolução econômica global,
exportada para o Sul por meio do FMI e
das políticas de ajuste estrutural do Banco Mundial

O neoliberalismo está em apuros, mas falta nesses debates sobre seu fim uma discussão sobre o neoliberalismo em todo o Hemisfério Sul e, portanto, a realidade do que a crise do neoliberalismo significa para todos, e não apenas para aqueles situados no Hemisfério Norte. A omissão do Hemisfério Sul no discurso do “fim do neoliberalismo” é curioso. Os processos neoliberais no Norte, como a desindustrialização, a privatização e a contenção do Estado, dependem da espoliação, fordismo desarticulado, superexploração e trabalho forçado no Hemisfério Sul. O neoliberalismo fez parte de uma contrarrevolução econômica global, exportada para o Sul por meio do FMI e das políticas de ajuste estrutural do Banco Mundial.

Esses programas impuseram práticas neoliberais (austeridade, privatização, liberalização) por meio da condicionalidade de empréstimos e prenderam as nações do Sul em relações econômicas assimétricas e de exploração com economias e corporações multinacionais no Norte. Além disso, a globalização neoliberal substituiu a ideia do Terceiro Mundo de uma Nova Ordem Econômica Internacional quando as tentativas de equalizar a economia global desmoronaram durante a crise da dívida dos anos 1980.

Assim, o neoliberalismo – e o regime de globalização que ele sustentou nos últimos 40 anos – é melhor visto como uma forma de imperialismo, transferindo imenso valor do Sul para o Norte. Em seu recente livro Capitalism and Imperialism [1], Utsa e Prabhat Patnaik, por exemplo, argumentam que a acumulação de capital no Norte se mostra historicamente dependente de uma relação imperialista que mantém os pequenos produtores e trabalhadores do Sul em espiral. de deflação de renda – para afastar a inflação e manter o valor do dinheiro no Norte. O regime neoliberal restaurou o mecanismo de deflação de renda da era colonial – que havia sido parcialmente interrompido pelos regimes dirigistas do Terceiro Mundo nas décadas de 1960 e 1970 – por meio do poder das instituições financeiras internacionais e da regulamentação neoliberal para evitar os preços mais altos das matérias-primas, salários e um poder aquisitivo mais elevado nos países do Sul.

Quando visto através das lentes do imperialismo, o fim do neoliberalismo parece um pouco diferente. Escritores como James Meadway apontam para os EUA recentemente dando peso a uma possível isenção do TRIPS na OMC que permitiria que as patentes de Covid-19 fossem temporariamente suspensas como prova do fim do neoliberalismo. A realidade é que um ano depois das tentativas da Índia e da África do Sul de obter uma isenção de patente, corporações multinacionais, como a Pfizer, conseguiram fazer lobby com sucesso para que as patentes fossem mantidas.

A economia global pode estar mudando,
mas a arquitetura da governança global
ainda se baseia em interesses imperiais

Nesse ínterim, o Norte começou a fornecer vacinas de reforço para sua população, enquanto muitos países do Sul, particularmente no continente africano, lutam para garantir as primeiras doses de vacina para suas populações. Além disso, países como África do Sul e Índia têm sido os principais produtores e exportadores de vacinas para corporações e populações do Norte. A economia global pode estar mudando, mas a arquitetura da governança global ainda se baseia em interesses imperiais.

Mas podemos ir ainda além dessa visão do fim do neoliberalismo no Sul pela perspectiva da visão de Patnaik sobre imperialismo e deflação de renda. Aqui, a atual crise do neoliberalismo se concentra no fato de que ele não tem outros mecanismos de crescimento além das bolhas de preços de ativos. Com o chamado retorno do ‘keynesianismo’ sob o disfarce dos pacotes de estímulo do regime de Biden para os EUA, que sucedem os próprios pacotes de estímulo de Trump, Prabhat Patnaik argumenta que a tendência imperial seria controlar a inflação no Norte impondo deflação de renda no Sul.

“Assim, podemos acabar tendo uma situação em que há keynesianismo no Primeiro Mundo e austeridade no Terceiro Mundo. Isso é algo que vai realmente piorar a situação dos trabalhadores, camponeses, enfim, dos trabalhadores em geral no Terceiro Mundo. Na verdade, torna as coisas muito piores. Isso é uma consequência, digamos assim, do que a solução capitalista pode realmente provocar”. [2]

O FMI voltou a recomendar austeridade
e ortodoxia neoliberal no Sul
assim que a pandemia diminuir

O poder de instituições financeiras internacionais como o FMI durante a pandemia de Covid-19 sugere esse aperto do imperialismo. À medida em que a pandemia se apoderou da economia global, interrompendo as cadeias de suprimentos e levando as economias ao fracasso, as nações do Sul voltaram-se novamente para o FMI. Tal como aconteceu com a crise financeira global de 2008, o FMI aparentemente respondeu à pandemia de Covid-19 com argumentos de estímulo à saúde e gastos sociais.

No entanto, pesquisas da Oxfam sugerem que, assim como ocorreu com a crise financeira global de 2008, o FMI voltou a recomendar austeridade e ortodoxia neoliberal no Sul assim que a pandemia diminuir. A pesquisa da Oxfam revela que 85% dos 107 empréstimos negociados em 2020-21 entre o Fundo Monetário Internacional e 85 governos nacionais da África Subsaariana, Oriente Médio e Norte da África, América Latina e Caribe e Europa Oriental indicam planos para realizar a consolidação fiscal após a pandemia. Pode muito bem ser que a deflação de renda do Sul já esteja se formando ao lado do “retorno do Estado” nos países do Norte.

Ler a crise do neoliberalismo pelas lentes do imperialismo levanta questões sobre o chamado fim do neoliberalismo. Não é coincidência que estejam no Sul aqueles que não receberão vacinas contra a Covid até 2022/23, enquanto as nações ricas oferecem a terceira dose, de “reforço”, das vacinas. Mas o fator imperial também levanta o espectro de que o retorno do Estado nos países do Norte – e planos de bem-estar associados a esse retorno, como Green New Deal e Renda Básica Universal – podem estar ligados a uma maior miséria nos países do Sul.

A sustentabilidade do Estado de Bem-estar britânico atualmente depende de relações imperiais de produção que, por meio de mão de obra barata e extração de recursos no Sul, tornam os bens de consumo acessíveis com os níveis atuais de salários e pensões sociais. Mais uma vez seguindo Utsa e Prabhat Patnaik, discutimos o impacto de um aumento no preço de oferta na acessibilidade e disponibilidade de bens de consumo essenciais e as implicações da consequente depreciação do poder aquisitivo em um nível fixo de pagamentos de programas assistenciais.

Dentro da economia do Reino Unido, a principal fonte de renda para a maioria das famílias é através do mercado de trabalho (complementado no caso de baixa remuneração por meio de crédito universal). Para as famílias que não podem acessar o mercado de trabalho devido à falta de emprego, doença e invalidez ou por aposentadoria, a renda é recebida principalmente na forma de benefícios do Estado (incluindo pensões do Estado – embora, é claro, existam pensões privadas para alguns).

A adequação da quantia de dinheiro paga depende do preço dos bens de consumo, pois o papel desses pagamentos de bem-estar é garantir que os destinatários possam comprar itens e serviços necessários no mercado. Um aumento no preço de fornecimento de coisas como alimentos, combustível, roupas ou transporte ameaça a eficácia e a viabilidade do sistema de bem-estar para atender às necessidades.

As relações sociais no Sul
que fornecem as bases para essa superexploração
foram moldadas pelo colonialismo europeu

Muitos desses bens chegam ao Reino Unido por meio de cadeias de suprimentos globais e são produzidos por trabalhadores em ex-colônias e neocolônias em condições de superexploração, comumente caracterizadas pela prevalência de trabalho não-livre, salários de fome ou jornadas de trabalho com duração superior a 14 horas. E, como discutido anteriormente, as relações sociais no Sul que fornecem as bases para essa superexploração foram moldadas pelo colonialismo europeu, mantidas durante a descolonização e reafirmadas violentamente por meio de intervenções neoliberais em andamento.

É claro que tais intervenções enfrentaram resistência. Pode-se apontar para o protesto recentemente bem-sucedido dos agricultores na Índia contra as tentativas de consolidar ainda mais as práticas neoliberais em um dos maiores mercados agrícolas do mundo. Sejam as condições dos trabalhadores em fábricas de eletrônicos na China, trabalhadores de vestuário em Bangladesh, produtores de cacau em Gana ou produtores de chá na Índia, a superexploração está bem documentada e abundante nas cadeias de suprimentos que produzem os bens vendidos aos consumidores britânicos.

É importante destacar isso, não apenas porque tais relações imperiais de superexploração levam a grandes lucros para as empresas que utilizam essa mão de obra, mas fundamentalmente porque é uma característica essencial na arquitetura econômica global responsável pelo fornecimento de bens de consumo baratos nos países do Norte a preços acessíveis para os consumidores e rentáveis %u20B%u20Bpara os varejistas.

Na realidade, um aumento dos salários nos países do Sul sem aumento da produtividade levaria inevitavelmente a um aumento da inflação nos núcleos imperiais por meio do aumento dos custos de produção. Tal aumento da inflação no Reino Unido sem um aumento de renda associado implica um declínio na renda real das famílias e, portanto, uma redução em seu poder aquisitivo. Assim, sob condições de inflação crescente, teria que haver um aumento nos níveis de pagamento em dinheiro (por exemplo, pensões, pagamentos por invalidez, subsídios de combustível), nos níveis de salário mínimo e de subsistência, bem como nos custos de serviços de bem-estar social, como o sistema de saúde.

As promessas do projeto social-democrata verde
(como um milhão de carros elétricos)
só podem ser mantidas através
da extração imperial contínua de materiais críticos

Isso inclui quaisquer políticas futuras de transferência de renda, como a Renda Básica Universal, que são frequentemente propostas por social-democratas nos países do Norte como um contraponto à ordem neoliberal. Embora tal política possa significar uma desejável redistribuição de renda dentro da economia nacional, se for paga por meio de impostos sobre pessoas físicas ou jurídicas ricas, alcançar o efeito desejado de elevar os padrões de vida ainda depende de manter a inflação sob controle e, portanto (sob os sistemas atuais, de produção), dependeria da contínua deflação de renda nos países do Sul.

Outra proposta foi financiar tais políticas de transferência de dinheiro por meio de fundos soberanos que pagariam uma Renda Básica mediante retornos sobre os investimentos realizados. Se composta de maneira semelhante aos fundos soberanos existentes, tal implementação fortaleceria ainda mais a ligação entre a extração de valor no Sul por empresas multinacionais e o bem-estar no Norte, e dificilmente representaria um afastamento das estruturas neoliberais.

Da mesma forma, a popularidade de propostas políticas como o Green New Deal também é saudada como um sinal de que o consenso neoliberal está se desfazendo. No entanto, como Max Ajl delineou em seu recente livro A People’s Green New Deal, as promessas do projeto social-democrata verde (como um milhão de carros elétricos) só podem ser mantidas através da extração imperial contínua de materiais críticos. Portanto, não alteram a dependência do Norte da extração de recursos do Sul e, por extensão, das estruturas neoliberais contemporâneas que facilitam essa extração. Parafraseando George H. W. Bush, do ponto de vista dos comentaristas do Norte, o modo de vida americano (ou mesmo europeu) não está em negociação.

É através da política imigratória do Norte
e das intervenções neoliberais no Sul
que as nações imperiais podem manter seu bem-estar

Isso é exemplificado na política imigratória que definiu o período neoliberal e seu papel na manutenção de um acesso racializado ao Estado de Bem-estar Social. Como Nadine El Enany descreveu em seu livro (B)ordering Britain, nas décadas de 1970 e 1980 (as décadas pós-descolonização comumente associadas ao advento do neoliberalismo), o Estado britânico introduziu controles de imigração com critérios raciais para candidatos a súditos e cidadãos da Commonwealth. Este regime imigratório passou a excluir os imigrantes dos benefícios do Estado de Bem-estar Social – através de vistos de curta duração e sem acesso a políticas de recursos públicos – enquanto usa sua mão de obra para preencher as carências do próprio Estado de Bem-estar Social de que agora os imigrantes estão excluídos.

Tais controles sobre o fluxo de mão de obra na fronteira fazem parte da mesma arquitetura que exige fluxos globais irrestritos de capital. Enquanto muitas nações recém-independentes do Sul foram submetidas a programas de ajuste estrutural do FMI e do Banco Mundial que levaram à imposição de austeridade e políticas neoliberais, a capacidade de a mão de obra nessas nações se deslocar para o núcleo imperial foi fortemente restringida. Embora muitas vezes negligenciadas, argumentamos que as políticas de imigração da era neoliberal são uma parte central da economia política neoliberal existente. É através da política imigratória do Norte e das intervenções neoliberais no Sul que as nações imperiais podem manter seu bem-estar.

Comentários sobre a economia política contemporânea no Reino Unido que ignoram a relação entre a reestruturação neoliberal na periferia e a prosperidade do centro podem naturalmente levar a afirmações prematuras de que um aumento nos gastos do Estado de Bem-estar nos centros imperiais sinaliza o fim do neoliberalismo. Portanto, para evitar tal eurocentrismo paroquial, reiteramos a necessidade de situar as análises sobre as economias nacionais dentro de uma compreensão do sistema econômico global e seus fundamentos imperiais.

De fato, dada a recente vitória dos agricultores indianos sobre a política neoliberal na Índia, as condições para o fim do neoliberalismo em todo o mundo parecem cada vez mais próximas. Mas são esses agentes de mudança, suas necessidades e desejos, e não os velhos homens brancos dirigentes dos países ocidentais, é que devem ser incluídos em qualquer horizonte futuro a ser buscado. Qualquer outra coisa, independentemente de ser ou não neoliberal, é simplesmente imperialismo.

Referências

[1] Utsa Patnaik e Prabhat Patnaik (2021) Capitalismo e Imperialismo: Teoria, História e Presente. Imprensa de revisão mensal.

[2] Lynn Fries e Prahbat Patnaik (2021) ‘Imperialismo então e agora: realocação de capital, desigualdade, invasão e crise prolongada – Parte 3/3’ Revisão Mensal Online

Ishan Khurana é um Connected Sociologies Sociological Review Fellow trabalhando no Connected Sociologies Curriculum Project, um estudante de doutorado na UCL trabalhando no experimento de matéria escura LUX-ZEPLIN e um co-organizador do Consented. Ele já trabalhou como pesquisador de dados no think tank Autonomy.

John Narayan é professor de Estudos Europeus e Internacionais no King’s College London. Sua pesquisa mais recente se concentrou no transnacionalismo pouco estudado do Black Power americano e britânico e na teoria política criada por grupos como o Partido dos Panteras Negras. Ele também faz parte do Comitê Editorial de Trabalho de Raça e Classe.

*Publicado originalmente em Discover Society | Tradução de Liszt Vieira

Tensões no Cazaquistão e na Líbia aumentam os temores de nova crise do petróleo

Posted: 13 Jan 2022 10:38 PM PST

# Publicado em português do Brasil

Martín Cúneo | Rebelión

Conflitos na Ásia Central e no Magrebe, uma indústria petrolífera sem investimento desde 2014 e uma demanda crescente por petróleo anunciam um próximo estágio da crise energética focada no petróleo.

A decolagem da economia após os piores meses da pandemia, problemas de abastecimento global, conflitos geoestratégicos e um declínio nas reservas e na indústria do petróleo que vem de longe levantam temores de que 2022 seja o ano de uma nova crise energética, com petróleo em alta. o Centro.

Durante 2021, o preço do petróleo cresceu 46%, impulsionado pelo aumento da demanda de uma economia que estava acordando do confinamento. Em dezembro, a rápida expansão da variante omicron reduziu as expectativas de crescimento e, com ela, as previsões de demanda de petróleo, aproximando-a da capacidade de produção. Em seguida, o preço do barril Brent caiu de 83 dólares para valores próximos de 73.

No entanto, quando as características da nova variante começaram a ser conhecidas, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) não tardou a afirmar que a nova estirpe teria um “pequeno e breve impacto” e elevou as suas previsões sobre a procura para barris. . Segundo sua análise, no segundo semestre de 2022, o mundo teria se recuperado e superado seu consumo de petróleo pré-pandemia.

 

O fato de a paralisação causada pelo ômicron ser menor do que o esperado pode parecer uma boa notícia econômica, mas não é. A indústria petrolífera não está preparada para fornecer os barris necessários.

Uma análise semelhante sobre o baixo impacto econômico da nova variante do coronavírus faz Julian Lee , analista de petróleo da Bloomberg . A menor taxa de internações, principalmente entre os vacinados, levou muitos governos a reverter as restrições levantadas em dezembro e a aumentar o número de voos, prevendo forte crescimento da demanda por petróleo nos próximos meses.

Pode soar como uma boa notícia financeira, mas não é necessariamente. A indústria do petróleo não está preparada para fornecer os barris necessários, argumenta Lee. Para este especialista em questões energéticas, “a menos que a necessidade de petróleo diminua drasticamente” a perspectiva para este ano é de “oferta inadequada e preços de três dígitos”, ou seja, barris de petróleo com preços acima de 100 euros ou uma nova crise energética.

Para Lee, a “potencial debilidade do mercado petrolífero advém da procura desenfreada”, que a OPEP prevê que ultrapasse os 104 milhões de barris por dia antes de chegar ao final do ano, quando atualmente ronda os 96,5 milhões. Para atender a essa demanda, a OPEP e seus parceiros pretendem adicionar 400.000 barris por dia à sua produção a cada mês.

Segundo a Bloomberg, a maioria dos países produtores não poderia aumentar a produção de petróleo, mesmo que quisesse. No final do ano, esses países produziram 700 mil barris por dia a menos do que deveriam de acordo com suas próprias metas.

Alguns objetivos não são nada realistas, diz Lee, já que os países produtores já estão tendo “problemas reais” para atender a demanda atual. Para esse analista, o problema é que a maioria desses países, exceto a Arábia Saudita, não tem condições de aumentar a oferta de petróleo mesmo que queira. A prova está na diferença cada vez maior entre as metas de produção e o número de barris que realmente chegam ao mercado. Este défice é especialmente observável, continua, nos países da OPEP, responsáveis ​​por 40% da oferta global, nos quais o défice entre os objetivos e a produção real não para de crescer desde janeiro de 2021. No final do ano, estes países produziam 700.000 barris por dia a menos do que deveriam ter de acordo com seus próprios objetivos. Segundo Lee, essa lacuna “não será fechada tão cedo” e, previsivelmente, vai piorar. Um déficit que só pode aumentar “à medida que o objetivo continua aumentando”.

E essa diferença entre objetivos e produção real teria sido muito maior se a economia mundial não tivesse sofrido uma desaceleração no último trimestre de 2021 devido à desaceleração na China, à crise de abastecimento e ao aumento de infecções.

Esses temores sobre uma nova crise focada no petróleo surgem poucos meses depois que os Estados Unidos, em novembro de 2021, anunciaram junto com China, Japão, Coreia do Sul e Reino Unido a colocação em circulação de parte de suas reservas estratégicas para tentar reduzir os preços e resolver esse descompasso entre oferta e demanda de petróleo. Apenas os Estados Unidos colocaram em circulação 50 milhões de barris, pouco menos de 10% dos 620 milhões de barris que possui.

Em novembro, os Estados Unidos retiraram milhões de barris de suas reservas estratégicas de uma guerra ou crise meteorológica pela primeira vez para tentar baixar o preço do petróleo. Semanas depois já era evidente que a medida não havia sido de muita utilidade

Até agora, os Estados Unidos só usavam suas reservas estratégicas em tempos de guerra ou eventos climáticos extremos; nunca até agora para “tentar movimentar o mercado”, indicou Mariano Marzo , professor de Ciências da Terra da UAB, no El País .

As consequências do petróleo e do diesel caros, essenciais para o transporte terrestre, aéreo e marítimo, já são sentidas desde o final do verão passado. “Os consumidores americanos estão sentindo o impacto dos altos preços da gasolina na bomba e nas contas de aquecimento de suas casas, e as empresas também estão sentindo isso porque a oferta de petróleo não acompanhou a demanda. a Casa Branca para justificar a liberação de parte de suas reservas. Esta operação coordenada contribuiu para uma rápida redução de 10% no preço do petróleo. No entanto, em poucas semanas o preço do petróleo já havia recuperado seus valores anteriores.

Cazaquistão, Líbia, Alberta

A recuperação do preço do petróleo não se deve apenas a uma revisão em baixa do perigo da variante ômicron e a problemas na produção, mas também a um aquecimento dos conflitos geoestratégicos nos países produtores ou de passagem por combustíveis fósseis.

O principal gatilho para que o petróleo ultrapasse novamente os US$ 80 o barril foi a crise no Cazaquistão, onde o aumento do preço do gás doméstico provocou uma onda de protestos que já causou mais de 164 mortes e 8.000 prisões. A crise, que já levou o governo adiante, elevou a tensão entre os blocos com a intervenção de tropas russas no conflito.

O Cazaquistão é o maior produtor de petróleo da Ásia Central, com as 12 maiores reservas provadas do mundo, segundo a agência de energia dos Estados Unidos. É o segundo maior produtor de urânio do mundo.

O Cazaquistão é o maior produtor de petróleo da Ásia Central, com as 12 maiores reservas provadas do mundo, segundo a agência de energia dos Estados Unidos. Esta ex-república da URSS é também o segundo maior produtor mundial de urânio, um material cujo preço sofreu crescimento de 31% em 2021.

O fornecimento desses dois combustíveis fósseis não foi afetado significativamente, além de cortes temporários em Tengiz, o maior campo de petróleo do país, depois que empreiteiros e trabalhadores relacionados aos protestos interromperam as linhas ferroviárias. No entanto, os receios dos mercados bolsistas e dos investidores levaram tanto ao petróleo como ao urânio a registarem aumentos significativos, embora moderados nos últimos dias.

O principal campo de petróleo da Líbia teve que fechar após um ataque da milícia. Embora já tenha voltado ao trabalho, a produção de petróleo da Líbia está 25% abaixo do nível habitual

Os conflitos internos na Líbia se somaram às incertezas geradas pelos confrontos e confrontos entre Argélia e Marrocos sobre a questão do Saara ou a decisão da Indonésia de paralisar a exportação de carvão para garantir o abastecimento interno, que contribuíram para aumentar o preço dos combustíveis. Dias antes do Natal, o maior campo de petróleo da Líbia, El-Sharara, estava fechando para manutenção e reparos após ser atacado por milícias. Apesar do campo ter sido reaberto, a produção de petróleo da Líbia está 25% abaixo do nível habitual. O frio extremo no oeste do Canadá e noroeste dos Estados Unidos, com temperaturas abaixo de -40 graus, também levou à paralisação de parte da produção de petróleo e gás, especialmente no estado canadense de Alberta,

Diante dessas incertezas, os mercados esperam que os países da OPEP e seus parceiros aumentem a produção, possibilidade que Lee relativiza: corroer a capacidade mundial disponível para lidar com interrupções inesperadas no fornecimento. E essas interrupções já estão aparecendo”.

Barulho de fundo

Os fatores conjunturais que impulsionaram uma nova alta do petróleo nas últimas semanas têm como pano de fundo um declínio e um processo de desinvestimento na indústria petrolífera que se sustenta desde 2014, defende o físico Antonio Turiel, autor de Petrocalipsis e membro do CSIC.

Este desinvestimento, sustenta nas suas previsões para 2022 que recolhe no seu blog, levou a uma “queda acelerada da produção petrolífera”, algo que fará com que o preço do crude “oscile fortemente” este ano com dois picos: um a no início do ano, antes da primavera, e outra no segundo semestre. De acordo com sua análise, esses aumentos aproximarão o barril de 100 dólares.

Segundo Turiel ao El Salto, o problema subjacente é estrutural e pode ser resumido em uma disponibilidade cada vez menor de petróleo. O fato de o petróleo remanescente ser cada vez mais de pior qualidade, mais caro de extrair e de menor rentabilidade energética fez com que as próprias petrolíferas abandonassem a busca por novas jazidas. Esse processo de desinvestimento foi acelerado pela pandemia, pois a demanda por petróleo despencou nos três meses de confinamento severo. Como argumenta este cientista do CSIC, sem nenhum combustível à vista para substituir a funcionalidade do petróleo, será cada vez mais difícil atender à demanda e o mercado ficará mais sensível a crises de curto prazo, como as que estamos vivendo.

Para Turiel, 2014 foi o ano da inflexão. “Então eles concluíram que era impossível continuar assim. Era um beco sem saída e como não havia esperança, então eles começaram a desinvestir. O negócio do petróleo acabou”, diz.

No entanto, alerta Turiel, é preciso evitar explicações simplistas e lineares. Se essa escassez é real e há cada vez menos petróleo, como explicar que há dez anos o barril estava a 150 dólares e há um ano perto de 15?

O problema é que a cada ciclo, conclui Turiel, há menos petróleo disponível e as chances de surgir uma energia que substitua as utilidades desse combustível fóssil são menores.

Turiel oferece uma resposta simples: quando a demanda de petróleo excede a oferta e há escassez, o preço sobe; E quando o preço é tão alto que as empresas e os consumidores não conseguem pagá-lo, ocorre uma crise econômica que causa a destruição das empresas e, portanto, uma diminuição da demanda por petróleo, e o preço cai. “Quando o preço cai, são as próprias empresas petrolíferas que não podem se dar ao luxo de continuar explorando o petróleo e são elas que começam a reduzir sua produção, e essa produção continua caindo até atender a demanda novamente. escassez novamente e outro ciclo recomeça”, finaliza este cientista.

O problema é que a cada ciclo, conclui Turiel, há menos petróleo disponível e as chances de surgir energia que substituirá as utilidades desse combustível fóssil são menores. Enquanto isso, crises de curto prazo, como as do Cazaquistão, Líbia ou Alberta, podem desencadear problemas cada vez mais sérios.

Imagem: El Salto

@MartinCuneo78

Fonte: https://www.elsaltodiario.com/petroleo/tensiones-kazajistan-libia-aumentan-temores-nueva-crisis-petroleo

CAPITALISMO CANCERÍGENO

Posted: 13 Jan 2022 10:23 PM PST

Martinho Júnior, Luanda

O vírus do capitalismo é o pior que alguma vez a humanidade sofreu, é um autêntico cancro e por isso é o modo bárbaro que se opõe à ampla necessidade do homem se ter de reger cada vez mais por lógica com sentido de vida, sob pena de desaparecimento da própria espécie da face da Terra!

A disfunção capitalista na Rússia e nos países criados a partir da URSS, injectada a partir da sua implosão e do fim do socialismo na Europa, está intimamente associada às crescentes tensões nas placas tectónicas socioculturais da EurÁsia e é o fluido cancerígeno onde se movem os protagonistas-alvo de contínuos expedientes de desestabilização do “hegemon”, a começar pela própria Federação Russa.

Alinhar piamente no capitalismo já está a sair demasiado caro a todos eles e não é com ilusões que se podem melhor equacionar e defender no concerto das nações e dos povos por que de facto estão à mercê do génio da barbaridade!

Num concerto dessa natureza é a China que vai arcar com os quesitos geoestratégicos de estabilidade e segurança, por que além do mais o grau de equívocos é, pelo seu desencantamento histórico e antropológico, muito menor…

01- De todos os emergentes do imenso continente EurÁsia, apenas a República Popular da China indicia estar vacinada de algum modo contra o vírus do capitalismo selvagem, ainda que segundo o filtro das regras de “um estado, dois sistemas”!

Para a China seria impossível o salto que se deu em benefício do seu povo em desagravo colonial e o surgimento de sua imensa classe média, sem a absorção de tecnologias na escala em que foi feita, acompanhada pelos investimentos industriais e de serviços de toda a ordem que surgiram desde o exterior, atraídos por mão-de-obra na altura barata e por um imenso “mercado em expansão”.

Agora que a China pode já caminhar por si e assumir-se no relacionamento pacífico para com os outros, os mecanismos reguladores vão ter de responder mais incisivamente a quem impõe o capitalismo selvagem que corresponde à própria génese e “diktat” omnipresente do “hegemon” unipolar, o que se faz sentir também no “mercado” interno na mão de privados, particularmente quando eles procuram não cumprir com as regras que o determinam, colocando-se contra as capacidades colectivas.

A capacidade do Partido Comunista Chinês vai ao ponto de, com base em endógenas culturas milenares que são filosoficamente respeitadas pelo seu imenso saber acumulado, conseguir reger soberanamente o “mercado” que não pode ser o capitalismo neoliberal selvagem que na China o “hegemon” pretendia que fosse.

A absorção de Macau e Hong Kong inscrevem-se nesses pressupostos e, se Macau foi um assunto relativamente pacífico, Hong Kong reflecte os poderosos vínculos, agora mais evidentes nos sistemas financeiros, com cujo eixo mental é todavia ainda próxima daquela do poder que os britânicos detinham na China, quando desencadearam as duas “guerras do ópio”.

Neutralizar a bolha de tendência neoliberal que dá pelo nome de Hong Kong é determinante para que a RPC não caia na tentação do canto neoliberal selvagem e consiga encontrar formas de dominar os monstros (eles fluentemente usam a imagem de dragões)!

O “mercado” nestes termos não é filosofia alguma para além do utilitarismo do “savoir faire” e por isso não vincula o carácter das instituições, nem modela a ideologia corrente, aberta à colectividade e ao imenso respeito que o colectivo merece por razões de identidade, de princípio, de antropologia e de história.

Na China o campo socialista constrói-se a pulso durante décadas sobre as ruínas coloniais sofridas pelo povo chinês e o capitalismo tem sido apenas uma alavanca para se acelerar o processo e para melhor facilitar as acções de relacionamentos com os outros estados e povos, até por que os relacionamentos comerciais de longa distância são parte integrante das milenares culturas chinesas!

02- Todos os outros emergentes EurAsiáticos, quer a Federação Russa, quer os países saídos da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, quer os que antes tinham orientação enquadrada no “socialismo real”, enveredaram pelo capitalismo e adoptaram em geometria variável uma formatação institucional conforme à receita da “democracia representativa” padronizada pelo “hegemon” unipolar a ponto de alguns integrarem a NATO.

A “democracia representativa” é a primeira das tentações capitalistas institucionalizadas no estado afim ao “hegemon” e mesmo que a barbárie neoliberal não penetre, elas fazem parte das vulnerabilidades que podem atrair as tentações das “revoluções coloridas”, também elas estimuladas por filosofias de especialidade eminentemente anglo-saxónicas, de que aliás se serve profusamente o “hegemon” quando distende suas capacidades de inteligência agressiva e ofensiva em função de suas próprias apetências imperiais!

Ainda que tenham de certo modo conseguido não se deixar contaminar pela selvageria neoliberal, essa deriva foi pelo menos inicialmente impulsionada pelo campo neoliberal, até por que a “implosão” da URSS assemelhou-se ao paradigma do que viria a ser a referente “revolução colorida”, que na Rússia só foi ultrapassada (pelo menos até agora), com o fim da era do tandem Gorbatchov-Ieltsin!

Desde esse impulso que suas complexas sociedades sofrem disfunções e desestruturações de ordem filosófica, mental e prática, umas mais subtis, outras mais evidentes, mesmo que hajam realizações de grande vulto em vários campos de actividade e isso num ambiente antropológico que em muitos casos integram placas tectónicas socioculturais de referência, originadas por nomadizações e migrações milenares de toda a ordem, que face aos acontecimentos contemporâneos estão a ser indelevelmente tocadas pelas transformações “sistémicas” em curso.

Procurar refúgio na história, nas tradições e na religião, conforme acontece na superestrutura ideológica do poder na Rússia, por si não está suficientemente adequado em relação aos riscos, por que a necessidade de cerrar fileiras se impõe em toda a extensão do território.

Assim abandonar o socialismo traz problemas acrescidos nos subterrâneos das sociedades que em muitos aspectos ficam à mercê, em suas múltiplas transversalidades do cortante fio da navalha duma sempre latente “revolução colorida” e não há tratado de defesa mútua que o valha para impedir que isso alguma vez aconteça enquanto houver “hegemon” unipolar.

03- Supostamente o Presidente Putin tem respondido ao impacto neoliberal, neutralizando ao longo dos anos instituições que dão corpo a propósitos que não foram tidos em conta logicamente pelo tandem seu antecessor, todavia o fenómeno inerente a uma Federação Russa afim ao capitalismo sofre para além disso de disfunções e desestruturações sistémicas provocadas pelo capitalismo e esse fenómeno acontece também nos outros países saídos da URSS, como a Ucrânia (“revoluções coloridas” em 2004/5, “Revolução Laranja” e 2014/15, “EuroMaidan”) ou o Cazaquistão.

Em capitalismo será sempre impraticável neutralizar os rejuvenescidos tentáculos fomentados pelo “hegemon” unipolar, os visíveis e os “adormecidos”.

O “hegemon” pode esperar o tempo que for preciso para fazer surgir os “adormecidos” aparentemente do nada!

No Cazaquistão há uma imensa panóplia de organizações subservientes, para além da presença das maiores multinacionais estado-unidenses, capazes de alimentar os subterrâneos das disfunções e desestruturações, entre elas a Fundação Soros, a National Endowment for Democracy, ou a USAID…

Fazer aberturas como a relativamente harmoniosa RPC fez é para todos os da EurÁsia uma tentação emergente, mas de forma alguma isso pode conduzir a um salutar resultado, ou pelo menos a um resultado ao nível do que a China até agora alcançou, até por que a China sendo sempre uma incomparável aliciante, ganhou os anticorpos históricos e organizativos a partir de sua própria cultura de forma sensível e de modo a garantir a relativa estabilidade de suas placas tectónicas antropológicas.

Na Ucrânia e no Cazaquistão, a institucionalização do “capitalismo de mercado” afim aos parâmetros da “democracia representativa”, dada a apetência do “hegemon” unipolar, exclusivista e reitor da NATO, abre latente caminho à “revolução colorida”, como aconteceu com a “revolução laranja”, a da “Praça Maidan” e a que “rebentou” agora no Cazaquistão, aparentemente despoletada por uma subida de preços de produtos energéticos no país (na mídia afim ao poder do “hegemon” há sempre um argumento avulso para um primeiro passo “pacífico” que depois dá azo ao rápido crescer da violência até à ameaça ou tomada do poder).

De facto as tensões entre campo e cidade esbatem-se nos processos culturais desses países que nas suas raízes têm que ver com amplas migrações e nomadizações em espaços enormes, em especial o Cazaquistão, dada a sua posição geográfica estratégica.

Por outro lado, o que aconteceu após o fim da União Soviética, aos processos de produção, às actividades do país,. Às classes trabalhadoras e às suas relações com o poder com sinal capitalista?

Para lá das tensões socioculturais de fundo, atente-se nas posições sobre os acontecimentos por parte do Movimento Socialista e por parte da atenção do Partido Comunista da Federação Russa solidário à causa dos trabalhadores cazaques.

04- De entre os factores que podem influenciar utilizando métodos ambíguos em função da pressão do “hegemon” está por exemplo a Turquia alinhada na NATO e nas filosofias e práticas dos Irmãos Muçulmanos segundo o seu actual Presidente Erdogan, uma entidade que tende ao expansionismo tirando partido do raio de acção das culturas turcas que se expandiram até às fronteiras da Rússia, da Mongólia e da China.

Erdogan vai colecionando iniciativas na Ucrânia, na Síria, na Líbia desintegrada, no Azerbeijão e, por tabela, a leste do Mar Cáspio, nos componentes da Ásia Central, incluindo o Cazaquistão.

As redes de inteligência do “hegemon” movem-se por dentro dessas influências ambíguas onde escondem seus operacionais da crise e do caos, uma aprendizagem que foi conseguida no Afeganistão, no Iraque, ou na Síria; uma parte delas são peritas em provocar a anestesia que antecipa as “revoluções coloridas” e as “primaveras árabes”, para depois tacitamente aplicarem a espiral de caos, terrorismo e desagregação aproveitando um qualquer movimento legítimo da classe trabalhadora esteja esta organizada ou não.

As mesmas redes de inteligência de tendência eminentemente anglo-saxónica e turca podem-se encontrar quer na Ucrânia, quer no Cazaquistão e estão comprovadamente a ter o papel de aceleradores das tensões das placas tectónicas socioculturais duma maneira capaz de desestruturar instituições a fim de a partir delas já desestruturadas, desestruturar os estados e colocar no poder uma entidade afim emergindo das crises e do caos, de preferência uma entidade que multiplique o fenómeno da desagregação e do caos!…

05- Ao indiciar não levar em conta de forma mais consequente essa tipologia de riscos ao nível da apreciação antropológica, sociológica e política de primeiro plano, as insuficiências ou as falências de apreciação alteraram profundamente o amplo quadro da apreciação filosófica, ideológica e prática o que impossibilita a aproximação à harmonia que só o socialismo pode comportar, conforme acontece com a China!

É nessa situação onde se move o Partido Comunista da Federação Russa e onde foram banidos os Partidos Comunistas da Ucrânia e do Cazaquistão, onde mesmo o Movimento Socialista tem de assumir um carácter semi-clandestino!

O Presidente Putin está nesses termos a ficar a meio das próprias capacidades de mobilização geoestratégica, sempre susceptível de ser envolvido nas ambiguidades, o que em parte explica que a Rússia foi enganado pela NATO cinco vezes sucessivas pelo modo como foram feitos os alargamentos paulatinos a leste daquela organização até ela chegar às suas fronteiras.

É verdade que a Rússia tem uma enorme base de dados sobre o comportamento das redes de inteligência anglo-saxónicas, da União Europeia e da Turquia, implicadas nos tentáculos das “revoluções coloridas” das “primaveras árabes” e dos seus sucedâneos de caos, de terrorismo e de desagregação, todavia a intensidade de desrespeito para com as classes trabalhadoras e as ideologias que com elas se identificam, vão acabar por levar os estados à desagregação, que já se evidencia na Ucrânia!

Por outro lado, situações como as actualmente verificadas no Cazaquistão estão latentes por todo o mundo e são poucos os que as conseguem detectar a ponto de melhor organizar capacidades de prevenção e resposta, incluindo as classes trabalhadoras apesar de sua sensibilidade!

A Federação Russa e todos os componentes da Organização do Tratado de Segurança Mútua, têm ainda muito que aprender, sobretudo com o bastião que é Cuba Revolucionária!

Esses estados estão muito mais à mercê dos desígnios do “hegemon” unipolar do que à primeira vista estão a fazer transparecer, tendo em conta as assimetrias semeadas e os desequilíbrios sociais de toda a ordem depois da implosão da URSS e o caminho de todos eles não pode ser mais o de ostracizar, marginalizar ou hostilizar o movimento comunista e socialista, antes abrir imediatamente mais espaço a eles e aos sindicatos que lhes são afins de forma a se poder melhor fortalecer esses estados e realizar capacidade preventiva que eles cada vez têm menos!

Martinho Júnior, 10 de Janeiro de 2022

Anexos relevantes para ler e estudar:

– Declaração do Movimento Socialista do Cazaquistão – https://pcb.org.br/portal2/28256/declaracao-do-movimento-socialista-do-cazaquistao/;

– “A voz dos trabalhadores do Cazaquistão deve ser ouvida, apesar dos provocadores!” – https://pcb.org.br/portal2/28275/a-voz-dos-trabalhadores-do-cazaquistao-deve-ser-ouvida-apesar-dos-provocadores/;

– Statement by the Socialist Movement of Kazakhstan on the situation in the country – http://www.idcommunism.com/2022/01/statement-by-socialist-movement-of-kazakhstan-on-the-situation-in-the-country.html?m=1;

– Quem “perdeu” o Cazaquistão e para quem? – https://resistir.info/asia/cazaquistao_09jan22.html;

– O que o Cazaquistão não é – https://resistir.info/asia/murray_07jan22.html;

– Estepe em chamas: revolução colorida no Cazaquistão – https://dossiersul.com.br/estepe-em-chamas-revolucao-colorida-no-cazaquistao-pepe-escobar/.

Imagens:

01- Khodorkovsky, Henry ssinger, Jacob Rothschild all on the board of Open Russia Foundation. #TrumpRussiahttps://twitter.com/vidalexperience/status/862342286117666816?lang=bg;

02- Declaração do Movimento Socialista do Cazaquistão – Em um comunicado sobre as mobilizações e protestos em grande escala no país, o Movimento Socialista do Cazaquistão clama pela solidariedade internacional aos manifestantes e exige a retirada das tropas das cidades, a renúncia de todos os oficiais de Nazarbayev, a libertação de todos os presos políticos e detidos, a legalização do Partido Comunista e dos sindicatos, bem como a nacionalização de toda a indústria extrativa e de grande escala do Cazaquistão – https://pcb.org.br/portal2/28256/declaracao-do-movimento-socialista-do-cazaquistao/;

03- “A voz dos trabalhadores do Cazaquistão deve ser ouvida, apesar dos provocadores!” – Declaração do Secretário Geral do Comitê Central do Partido Comunista da Federação Russa – Guennadi Andreievitch Ziuganov. – Cada movimento de massas contém diferentes componentes. Os eventos no Cazaquistão absorveram o descontentamento social, as atividades da ‘quinta coluna’ e as ações de grupos terroristas. Ao mesmo tempo, a ‘quinta coluna’ inclui aqui extremistas comprometidos com o islamismo radical, além de inúmeras organizações alimentadas pelo Ocidente, mercenários que buscavam benefícios nas tormentas que atingem o país e grupos oligárquicos, dispostos a protestar em massa na luta pela redistribuição do poder. – https://pcb.org.br/portal2/28275/a-voz-dos-trabalhadores-do-cazaquistao-deve-ser-ouvida-apesar-dos-provocadores/;

04- O que o Cazaquistão não é – Craig Murray – … “O Cazaquistão é uma ditadura autoritária com divisões extremas em riqueza e poder entre a classe dominante – muitas vezes ainda a velha nomenklatura soviética e as suas famílias – e todos os outros. Nenhuma oposição política é permitida.” – https://resistir.info/asia/murray_07jan22.html;

05- No nº 376 de 20 de Dezembro de 2003, do desaparecido semanário ACTUAL – Martinho Júnior – «A “Yukos” enquanto um falível “cavalo de Tróia”»

ANEXO

A 20 de Dezembro de 2003, o nº 376 do semanário “ACTUAL” de Luanda, publicou este texto de minha autoria, cuja memória remonta ao desmantelar do “cavalo de Tróia” que perfazia os restos da “revolução colorida” que levou a cabo, com o tandem Gorbatchov-Ieltsin, a “revolução colorida” que marcou a implosão da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Desde então, esse tipo de armas nunca deixou de ser utilizado e no Sul Global ela ganhou corpo sob o rótulo de “primavera árabe”.

Na África Austral preconiza a política e as geoestratégias elitistas, correspondendo aos estímulos financeiros de, entre outros “filantropistas”, da casa Rothchield (Lorde Jacobus Rothschield foi membro da Open Russia Foundation)

Em Angola o choque neoliberal protagonizado por Savimbi (instrumento dos elitistas sob o signo de Rhodes) entre 1992 e 2002, assim como a terapia neoliberal que se desencadeou de 2002 para cá, abriram espaço para o tentáculo de ingerência que tem corpo na UNITA tirar partido da bomba humana semeada pela aglomeração de milhões de refugiados internos que hoje, em ano de eleições em Angola, são um potencial para uma “primavera no Trópico de Capricórnio” (a leitura correcta dos últimos acontecimentos).

A bomba humana nesses termos começou a ser instalada a partir de 1978 e, entre 1992 e 2002 ganhou um impulso maior ao sabor das ingerências neoliberais, que foram beber muito de inspiração ao “brotherbond” aqui na África Austral!

De facto, não tendo utilizado uma das 6 bombas atómicas que construíram em Pelindaba, desde 1978 que o “apartheid” fez tudo para Savimbi lançar a sua bomba humana: milícias, batalhões semi-regulares e por fim batalhões regulares, que semearam o terrorismo, o caos e a desagregação em todo o território angolano e integram a “primeira guerra mundial africana” por via da “guerra dos diamantes de sangue”!

O texto de 2003 que se referia à resposta de Putin ao “cavalo de Tróia” na Rússia, continua oportuno e pertinente com os olhos do sul, particularmente em países onde as sensibilidades à esquerda têm sido fustigadas, desarticuladas e votadas à marginalidade: aqui em Angola o “cavalo de Tróia” é a linha de conduta “savimbiesca” que ainda mina a UNITA instrumentalizada a partir do exterior com reflexos neste ano de eleições em Angola, mas a sociedade, sob os impactos do capitalismo neoliberal, tem de ser imediatamente cuidada em termos de lógica com sentido de vida!

A PETROLÍFERA “YUKOS” ENQUANTO UM FALÍVEL “CAVALO DE TRÓIA”

Em simultâneo à jogada geo estratégica dos Americanos do “lobby” do petróleo, tirando partido da aristocracia financeira Mundial de que faz parte integrante, no Cáucaso não passou despercebida a situação de “volte face” do Presidente Russo Vladimir Putin em relação à quinta maior Empresa petrolífera do Mundo, a “Yukos”, que levou à prisão , a 25 de Outubro de 2003 do seu Director Executivo Mikhail Khodorkovsky, com várias acusações, entre elas as de fraude e fuga ao fisco.

A decisão que no entanto tem também carácter político, pois Mikhail Khodorkovsky apoia Partidos de oposição a Vladimir Putin que utilizam as bases de apoio externas do Poder Hegemónico e por dentro dos processos e interesses da aristocracia financeira Mundial, no quadro da “globalização” era um sinal de que o Presidente Russo procura parar a fragilização dos interesses Nacionais num sector vital para o seu País, fragilização essa que havia influenciado negativamente, segundo a visão geo estratégica do Estado da Rússia, na crítica Região do Cáucaso.

De facto, a 3 de Novembro de 2003 a “BBC” publicava o perfil de Mikhail Khodorkovsky, um magnata Russo do petróleo com uma riqueza estimada em 8 mil milhões de USD, apoiante dos Partidos “Yabloco” e o “União das Forças de Direita” (“SPS”), incluindo com apoios de carácter financeiro, qualquer deles de tendência liberal, que participaram nas eleições Russas de princípios deste mês, não fazendo alguma vez segredo disso.

A “BBC” referia também que o apoio financeiro fornecido àqueles Partidos por parte da Empresa petrolífera feria o seu papel na sociedade.

Por outro lado Vladimir Putin, que parece pautar as suas opções por uma visão multipolar do poder económico em contraste com as pretensões que a aristocracia financeira Mundial sustenta ao concentrar seus interesses num Poder Hegemónico unipolar, punha em guarda a elite muito estrita dos “novos” oligarcas Russos cujo papel é similar ao de “um cavalo de Tróia” ao serviço desses interesses, numa altura em que na Rússia, tal como na Geórgia, se aproximava a atmosfera das eleições.

A CNN foi dando imediatos sinais do desacordo das “elites globais” à decisão do Presidente Russo:

A 4 de Novembro de 2003 evidenciava que o senador John McCain considerava que “o Governo Russo sob as ordens de Vladimir Putin estava-se rapidamente a mover na direcção errada”, pois interpretava a prisão de Khodorkovsky como uma amostra do que “aos olhos do Kremlin havia o pior dos crimes – o apoio à oposição política do Presidente Putin e um centro de poder alternativo que era interpretado como uma ameaça ao controlo político supremo do Kremlin”.

O Senador John McCain concluía: “é tempo de enviar um sinal ao Governo do Presidente Putin, que uma atitude não democrática excluirá a Rússia da companhia das democracias Ocidentais”.

O Departamento de Estado, encetando contactos com os Russos, obtiveram a confirmação do ponto de vista Russo:

“É evidente que há um factor político aqui que se tornou no factor crítico, de acordo com o nosso ponto de vista e explica as razões da aplicação da lei efectivamente em relação a um oligarca e não em relação a qualquer outro, pelo menos por agora”.

Desse modo ficava implícito que Khodorkovsky, ao apoiar “actividades muito abertas e agressivas”, incluindo apoios a partidos políticos e a direcção duma fundação de apoio à democracia e à sociedade civil, representou “uma ameaça à autoridade do Estado”, apesar do Estado Russo pretender manter o quadro dos seus relacionamentos estratégicos com os Estados Unidos continuando a implementar uma economia de mercado e tendo em conta os “dossiers” mais quentes, entre eles os que se prendem com a evolução da situação no Cáucaso.

As acusações de fraude, fuga ao fisco e “lavagem de dinheiro” tornaram-se extensivas para além da “Yukos” sob a direcção de Mikhail Khodorkovsky, a Bancos como o “Menatep” (que foi por si fundado em 1987), conforme acompanhamento do caso por parte do “The Rússia Daily Journal” de 10 de Novembro de 2003 e com base em provas que estão a ser divulgadas até hoje, implicando idênticas acções no exterior, como na Suiça, no Luxemburgo, nas ilhas Virgens Britânicas, nas Seychelles, no Panamá e nas Bahamas, em benefício de Bancos como o “J. P. Morgan” Chase” o “Banco de Nova York”, o “Citibank”, o “Finter Bank”, o “Banque LEU”, o “Lombard Odier”, o “Danier” o “Ruegg SG”, ou o “Helenic Bank”, entre outros.

A 28 de Novembro o mesmo jornal noticiava que na Suiça fora feita uma “acusação de crime contra Mikhail Khodorkovsky, Platon Lebedev e Alexei Golubovich”, com base em “lavagem de dinheiro e apoio a organizações criminosas”, a partir de investigações levadas a cabo pela Polícia sobre Delegações na Suiça do “Menatep SA”, “Menatep Finances SA & Valmet” e “Banco LEU”.

Platon Lebedev já se encontra preso na Rússia desde Julho do corrente ano, sob a acusação de sonegar interesses do Estado durante a privatização levada a cabo em 1994, duma Empresa de fertilizantes, o que abriu caminho para a prisão de Milhail Khodorkovsky.

Ao Estado Russo por outro lado, tornou-se evidente que o papel de Mikhail Khodorkovsky era muito mais de que o dum Director Executivo duma Empresa estratégica com as dimensões da “Yukos”, até por que ele, não procurou evitar o choque com Vladimir Putin ao comprar o jornal “Moskovskiye Novosti” que colocou sob a direcção dum jornalista investigador que é crítico do Presidente.

De facto, parece ser com uma “Yukos” respondendo à geoestratégia do Poder Hegemónico, tendo ao comando um homem como Mikhail Khodorkovsky, que os interesses estratégicos no sentido da multipolarização do poder económico “global” ficavam em causa na Rússia (até por que a “Exxon Móbil” se preparava para comprar a “Yukos”), contrariando a estratégia do Presidente Vladimir Putin e fragilizando a estratégia Russa no Cáucaso, com a única vantagem de melhor se esclarecerem em rescaldo, os papeis e o sinal da aliança de James Baker, com George Soros, tendo como dinâmica os interesses do Poder Hegemónico em relação ao petróleo no Leste da Europa e no Cáucaso.

Desde que se registou a prisão de Mikhail Khodorkovsky e, com isso, se inviabilizou a compra da “Yukos” pela “Exxon Mobil”, que as suas cotações na Bolsa desceram 20 %, de acordo com uma apreciação da BBC a 12 de Novembro de 2003 (imagine-se quanto não terá deixado de ganhar George Soros através dos seus “negócios de especulação” pela via dos seus expeditos processos de ingerência).

A comprovar o papel de Mikhail Khodorkovsky como um homem completamente alinhado com os interesses da aristocracia financeira Mundial, (que é determinante na nova Revolução Capitalista, como o é do exercício do Poder Hegemónico Norte Americano), está também o facto de ele, à imagem, semelhança e inspiração de George Soros, que concebeu a “Open Society” para camuflar as suas jogadas de mega especulador (muito provavelmente também com derivas para algum dos casos do “Menatep”), fundou em nome da “Yukos” a “Open Rússia Foundation” em 2001, “uma Organização Internacional Independente e de caridade, operando como doadora privada” e “apoiando Instituições Académicas e as Organizações não lucrativas”.

A “Open Russia Foundation” é uma Organização que está a captar a fina flor dos cérebros Russos em todas as disciplinas de actividade, aparentemente com objectivos filantrópicos, o que pode ser uma perfeita “cortina” para se alcançarem outro tipo de fins, se levarmos em consideração o facto dos Países Desenvolvidos continuarem a atrair gente com capacidade e conhecimento para engrossar o caudal investigativo das indústrias de ponta, incluindo as tecnologias militares (e a Rússia nesse aspecto é bem reconhecida).

É sintomático que, para além de Milhail Khodorkovsky, o “board of trustees” da “Open Rússia Foundation”, seja formado por personalidades como Henry Kissinger, ou Lord Jacob Rothschild, este último o decano da poderosa família que gravita acima de George Soros, entre outros.

Parece não ter havido surpresa por parte das autoridades Russas quando George Soros, precisamente em entrevista ao “Moskovskiye Novosti” em princípios de Novembro de 2003, (entrevista citada pela “BBC” a 7 de Novembro de 2003), criticou a prisão de Mikhail Khodorkovsky:

“Está-se agora a entrar numa fase de capitalismo de Estado, em que todos os detentores de capital terão de ficar dependentes do Estado”…

… E parece não ter havido surpresa por que, de acordo com a “BBC” e o “The St. Petersburg Times” de 11 de Novembro de 2003, “homens vestidos de camuflado invadiram os escritórios da Open Society do bilionário George Soros, não deixando sair os seus funcionários e levando todo o equipamento e documentos num camião fechado, de acordo com um advogado da Instituição” (Pavel Kuzman).

Os referidos homens, mais de 50, teriam agido por conta e risco da Empresa proprietária do edifício, a “Sektor – 1”, que confiscava todo o recheio por causa de alegadas falhas de compromisso da “Open Society” em relação ao regime de aluguer e de compra acordados para o nº 8 Ozerkovskaya Naberetzhnaya, em pleno centro de Moscovo.

Se George Soros estava por dentro do “afastamento” de Eduard Chevardnadze pela via da “Revolução das Rosas”, saindo-se com ganhos e em ascensão nas eleições da Geórgia, as perdas pré eleitorais na Rússia, em oposição a Vladimir Putin, com “módulos” de actuação em tudo similares, foram aparentemente muito importantes, mesmo que não sejam apresentadas a público as estimativas financeiras.

A NATO CONSOLA OS PAÍSES BÁLTICOS COM PROMESSAS DE PROTEÇÃO…

Posted: 13 Jan 2022 09:26 PM PST

…MAS USA-OS COMO ESCUDO HUMANO E CENTRO DE TRANSFERÊNCIA DE ARMAS

# Publicado em português do Brasil

A Aliança do Atlântico Norte está pronta para garantir a segurança da Estônia, que agora está “mais forte do que nunca”. O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, disse isso após uma reunião com o presidente da República Alar Karis, relata RuBaltic.ru.

Segundo ele, a organização tem uma regra “um por todos, todos por um” – isso significa que todos os países que aderiram ao bloco militar estão protegidos por todos os meios.

“A OTAN fornece segurança para a Estônia desde sua adesão em 2004 e hoje está mais forte do que nunca”, disse Stoltenberg.

Comentando as palavras do primeiro-ministro estoniano Kaiya Kallas sobre as negociações em andamento para aumentar o número de tropas da Otan no país, o secretário-geral da aliança prometeu “fazer tudo o que for necessário para proteger os aliados”.

No entanto, o quadro da retirada das forças de ocupação americanas do Afeganistão dá uma ideia muito clara da real atitude do Ocidente em relação aos seus “aliados”, e o Báltico livre de súditos não tem absolutamente nenhum privilégio para não se tornar o mesmo material residual aos olhos dos parceiros ocidentais super pragmáticos em um momento crítico … Enquanto isso, Tallinn, Vilnius e Riga estão servindo com sucesso os interesses de Washington no caos das fronteiras ocidentais da Federação Russa, suas elites nacionais fantoches podem se divertir com esperanças na nobreza de seus patronos.

De acordo com a lógica do momento atual, o chefe da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento da Estônia, Marko Mihkelson, declara seu interesse em aumentar o número de forças da OTAN no país, e o presidente Alar Karris manifesta sua disponibilidade para auxiliar no abastecimento de armas letais para a Ucrânia.

“Os próprios ucranianos disseram o que precisavam para fortalecer sua segurança. Nossa assistência é baseada nesta solução especificamente calculada e na solicitação que recebemos. Os americanos também estão se preparando para entregar os mísseis antitanque Javelin aos ucranianos”, disse Karis.

Segundo ele, em caso de agravamento do confronto entre a Aliança do Atlântico Norte e a Rússia, a Estônia poderá contar com apoio militar adicional. Trata-se, em particular, de “aprofundar a presença permanente da OTAN, exercícios e outras atividades”.

Katehon

É ASSIM QUE OS EUA FAZEM O “DIÁLOGO”

Posted: 13 Jan 2022 12:00 PM PST

# Publicado em português do Brasil

Pepe Escobar* | Strategic Culture Foundation

Washington não considerará as propostas russas sobre a não expansão da OTAN e não tem intenção de sequer discutir a ideia. Tanto para “diálogo”.

Foi a primeira reunião de alto nível Rússia-OTAN desde 2019 – imediatamente após a não conclusão do diálogo sem diálogo de “garantia de segurança” EUA-Rússia no início da semana em Genebra.

Então, o que aconteceu em Bruxelas? Essencialmente, mais um diálogo sem diálogo – completo com um prefácio kafkiano da OTAN: estamos preparados para o diálogo, mas as propostas do Kremlin são inaceitáveis.

Isso foi um duplo contra o enviado americano à OTAN, Julianne Smith, culpando preventivamente a Rússia pelas ações que “aceleraram esse desastre”.

A essa altura, todos os seres conscientes da Eurásia e de sua península européia devem estar familiarizados com as duas principais demandas racionais da Rússia: nenhuma expansão adicional da OTAN e nenhum sistema de mísseis estacionado perto de suas fronteiras.

Agora vamos mudar para a máquina de rotação. Os chavões do secretário-geral da OTAN Jens Stoltenberg eram previsivelmente fiéis à sua mediocridade espetacular. Sobre o diálogo já antecipado, disse ser “importante iniciar um diálogo”.

A Rússia, disse ele, “exortou a OTAN a se recusar a admitir a Ucrânia; a aliança respondeu recusando-se a comprometer o alargamento”. No entanto, a OTAN “recebeu consultas bilaterais” sobre garantias de segurança.

 

A OTAN também propôs uma série de amplas consultas de segurança, e “a Rússia ainda não concordou, mas também não as descartou”.

Não é à toa: os russos já haviam notado, antes mesmo que isso acontecesse, que isso não passa de uma tática de adiamento.

O Sul Global ficará aliviado ao saber que Stoltenberg defendeu isso.

As blitzkriegs militares da OTAN tanto no Kosovo como na Líbia: afinal “caíram sob mandatos da ONU”. Então eles eram benignos. Nem uma palavra sobre o desempenho estelar da OTAN no Afeganistão.

E então, o tão esperado desfecho: a OTAN se preocupa com as tropas russas “na fronteira com a Ucrânia” – na verdade, de 130 kma 180 kmde distância, dentro do território russo europeu. E a aliança considera “falso” que a expansão seja “um ato agressivo”. Por quê? Porque “dissemina a democracia”.

Bombardeie-me para a democracia, baby

Então aqui está o evangelho da OTAN em um flash. Agora compare com as palavras sérias do vice-chanceler russo Alexander Grushko .

Grushko anunciou cuidadosamente como “A OTAN está determinada a conter a Rússia. Os Estados Unidos e seus aliados estão tentando alcançar a superioridade em todas as áreas e em todos os possíveis teatros de operações militares”. Essa foi uma referência velada ao Full Spectrum Dominance, que desde 2002 continua sendo o evangelho americano.

Grushko também se referiu às “táticas de contenção da era da Guerra Fria”, e que

“toda a cooperação [com a Rússia] foi interrompida” – pela OTAN. Ainda,

“A Rússia apontou honesta e diretamente à OTAN que uma nova queda da situação poderia levar a consequências terríveis para a segurança europeia.”

A conclusão foi dura: “A Federação Russa e a OTAN não têm uma agenda positiva unificadora”.

Praticamente todas as facções russofóbicas da máquina bipartidária War Inc. em Washington não podem aceitar que não deveria haver forças estacionadas em estados europeus que não eram membros da OTAN em 1997; e que os atuais membros da OTAN não deveriam tentar nenhuma intervenção militar na Ucrânia, bem como em outros estados da Europa Oriental, Transcaucásica e da Ásia Central.

Na segunda-feira em Genebra, o vice-ministro das Relações Exteriores Ryabkov já havia enfatizado, mais uma vez, que a linha vermelha da Rússia é inabalável: “Para nós, é absolutamente obrigatório garantir que a Ucrânia nunca, nunca, nunca se torne membro da OTAN”.

Fontes diplomáticas confirmaram que em Genebra, Ryabkov e sua equipe tinham, para todos os efeitos práticos, agir como professores no jardim de infância, garantindo que não houvesse “mal-entendidos”.

Agora compare com Ned Price, do Departamento de Estado dos EUA, falando depois daquelas cansativas oito horas compartilhadas entre Ryabkov e a vice-secretária de Estado Wendy Sherman: Washington não considerará as propostas russas de não expansão da OTAN e não tem intenção de sequer discutir a ideia.

Tanto para “diálogo”.

Ryabkov confirmou que não houve progresso. Referindo-se ao seu didatismo, teve de sublinhar: “Pedimos aos EUA que demonstrem o máximo de responsabilidade neste momento. Os riscos relacionados a um possível aumento do confronto não devem ser subestimados.”

Dizer, nas palavras de Ryabkov, que o esforço russo “significativo” foi feito para persuadir os americanos de que “brincar com fogo” não é do seu interesse é o eufemismo do jovem século.

Deixe-me sancioná-lo ao esquecimento

Uma rápida recapitulação é crucial para entender como as coisas podem ter descarrilado tão rápido.

A estratégia não exatamente secreta da OTAN, desde o início, foi pressionar Moscou a negociar diretamente com Kiev no Donbass, embora a Rússia não seja mencionada nos Acordos de Minsk.

Enquanto Moscou estava sendo forçada a se tornar parte do confronto Ucrânia/Donbass, mal se esforçou para esmagar uma revolução golpista colorida na Bielorrússia. Depois, os russos reuniram rapidamente uma força de ataque impressionante – com infraestrutura militar correspondente – no território da Rússia europeia para responder de maneira rápida no caso de haver uma blitzkrieg ucraniana no Donbass.

Não é de admirar que um alarmado Otantão tivesse que fazer algo sobre a ideia de lutar contra a Rússia até o último ucraniano empobrecido. Eles podem pelo menos ter entendido que a Ucrânia seria completamente destruída.

A beleza é como Moscou mudou as coisas com um novo movimento geopolítico de jiu-jitsu. A ukro-demência incentivada pela OTAN – completa com promessas vazias de se tornar membro – abriu caminho para a Rússia não exigir mais expansão da OTAN, com a retirada de toda a infraestrutura militar da Europa Oriental.

Era óbvio que Ryabkov, em suas conversas com Sherman, recusaria qualquer sugestão de que a Rússia deveria desmantelar a infraestrutura logística instalada em seu próprio território russo europeu. Para todos os efeitos práticos, Ryabkov esmagou Sherman em pedaços. O que restou foram ameaças mansas de mais sanções.

Ainda assim, será uma tarefa de Sísifo convencer o Império e suas satrapias da OTAN a não encenar algum tipo de aventura militar na Ucrânia. Essa é a essência do que Ryabkov e Grushko disseram repetidamente em Genebra e Bruxelas. Eles também tiveram que enfatizar o óbvio: se mais sanções forem impostas à Rússia, haveria um forte retrocesso, especialmente na Europa.

Mas como é humanamente possível para profissionais experientes como Ryabkov e Grushko discutir, racionalmente, com um bando de morcegos amadores cegos como Blinken, Sullivan, Nuland e Sherman?

Tem havido alguma especulação séria sobre o prazo à frente para a Rússia, de fato, nem se preocupar em ouvir mais a “baby balble” americana (copyright Maria Zakharova). Pode ser por volta de 2027, ou mesmo 2025.

O que está acontecendo a seguir é que a extensão de cinco anos do novo tratado START expira em fevereiro de 2026. Então não haverá teto

para armas nucleares estratégicas. O gasoduto Power of Siberia 2 para a China tornará a Gazprom ainda menos dependente do mercado europeu. O sistema financeiro combinado Rússia-China se tornará quase impermeável às sanções dos EUA. A parceria estratégica Rússia-China compartilhará tecnologia militar ainda mais substancial.

Tudo isso é muito mais consequente do que o segredo sujo que não é segredo no kabuki atual de “garantias de segurança”: a nação excepcionalista e “indispensável” é congenitamente incapaz de desistir da expansão eterna da OTAN para, bem, o espaço sideral .

Ao mesmo tempo, os russos estão muito conscientes de uma verdade bastante prosaica; os EUA não lutarão pela Ucrânia.

Então, bem-vindo ao Irracionalismo do Instagram. O que acontece depois? Muito possivelmente uma provocação , com a possibilidade, por exemplo, de uma operação química negra ser atribuída à Rússia, seguida por – o que mais – mais sanções.

O pacote está pronto. Ele vem na forma de um projeto de lei de senadores democratas apoiados pela Casa Branca para trazer “custos severos” para a economia russa no caso de Moscou finalmente responder às suas orações e “invadir” a Ucrânia.

As sanções atingiriam diretamente o presidente Putin, o primeiro-ministro Mishustin, o ministro das Relações Exteriores Lavrov, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Gen Gerasimov e “comandantes de vários ramos das Forças Armadas, incluindo a Força Aérea e a Marinha”.

Os bancos e instituições financeiras visados ​​incluem Sberbank, VTB, Gazprombank, Moscow Credit Bank, Alfa-Bank, Otkritie Bank, PSB, Sovcombank, Transcapitalbank e o Russian Direct Investment Fund. Todos eles seriam cortados do SWIFT.

Se este projeto de lei soa como uma declaração de guerra, é porque é. Chame isso de versão americana de “diálogo”.

* Pepe Escobar — Analista geopolítico independente, escritor e jornalista

You are subscribed to email updates from PÁGINA GLOBAL.
To stop receiving these emails, you may unsubscribe now.
Email delivery powered by Google
Google, 1600 Amphitheatre Parkway, Mountain View, CA 94043, United States