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Tampas e estampidos
Ninguém faz ideia do que é viver numa rua estreita, com um trânsito diário de muitas dezenas de viaturas, desde carros de corrida, com escapes a condizer, aos de passeio com fumos pré inspetorais, passando por viaturas de carga, pequenas, médias, largas, sem esquecer ambulâncias, reboques e muito menos as motos movidas a barulhentos foguetes espaciais destinados, penso eu, a fascinar as casadoiras jovens das vizinhanças. Tudo isto é já de si praticamente insuportável mas há mais. Na verdade, espalhadas irregularmente pelo piso de asfalto, como se fossem semeadas por agricultor inexperiente, lá estão as tampas metálicas dos vários esgotos que, por incrível que pareça, chegam frequentemente á meia centena. Tudo estaria bem se esses intrigantes vedantes estivessem escrupulosamente encaixados e rematados. Mas, não, estão soltos e como as viaturas por eles passam duas vezes (roda da frente e roda de trás), batendo no encaixe metálico com fragor, ninguém imagina a chinfrineira antimelódica produzida e o estado em que ficam os nervos dos moradores, ainda mesmo aqueles que conseguem tentar isolar-se com (im)potentes vidros duplos. Quem tiver oportunidade de ver como os alemães encaixam cuidadosamente as famigeradas tampas, lá na terra deles, verá que nos falta cuidado, competência e eficácia. Além de que, em ruas estreitas, que eles também têm, não se permite tanto trânsito e a todas as horas, antes a reservam aos moradores, cujos carros são mais silenciosos que uma bicicleta elétrica. Desde que comecei a escrevinhar este pequeno artigo, já roncaram duas dezenas de viaturas, pela minha porta e a tampa dos esgotos já guinchou pelo menos 40 vezes, tantas quantas as pragas que roguei, e lá dizia minha Madrinha que “praga com razão, nem ao meu cão”. Claro que destas pragas, excluo as duas obras que se realizam junto da nossa casa, pois que, por mais barulhentas e matinais que sejam, durante estas acabadas férias, elas por definição têm prazo relativamente curto.