AS ÁRVORES NÃO MORREM DE PÉ, 31.12.2020 (microconto sobre imagem de Pedro Paulo Câ-mara)

CRÓNICA 375 AS ÁRVORES NÃO MORREM DE PÉ, 31.12.2020 (microconto sobre imagem de Pedro Paulo Câmara)

 

Até 2020 sempre pensei que as árvores morriam de pé, como alguns humanos que conheci, mas este ano foi diferente, consagrou o que há muito vinha dizendo: “nunca se escreveu tão errado e nunca se interpretou tão mal o que se escreve.”

Há um estudo recente[1] que afirma que esta é a primeira geração de filhos com QI inferior ao dos pais. De facto, segundo o “efeito Flynn”, em todo o mundo o QI aumentava de pais para filhos, até chegarmos a esta “orgia digital”comprovada na Noruega, Finlândia, Dinamarca, Holanda, França, etc. onde os fatores como o sistema de saúde, sistema escolar , nutrição e outros se mantiveram estáveis mas o QI diminuiu. quando o uso de televisão ou vídeo game aumenta, o QI e o desenvolvimento cognitivo diminuem. Segundo Desmurget: As causas também são claras: diminuição da qualidade e quantidade das interações intrafamiliares, essenciais para o desenvolvimento da linguagem e do emocional; diminuição do tempo dedicado a outras atividades (música, arte, leitura, etc.); perturbação do sono, que é quantitativamente reduzida e qualitativamente degradada; superestimulação da atenção, levando a distúrbios de concentração, aprendizagem e impulsividade; subestimulação intelectual, que impede o cérebro de desenvolver todo o seu potencial; e o sedentarismo excessivo que, além do desenvolvimento corporal, influencia a maturação cerebral.”

Depois em anos atípicos como 2020, todo um novo mundo de mordaça, confinamento, doença viral, veio alterar as nossas interações com outras pessoas tornando-nos, mais dependentes da revolução digital, baixando ainda mais a plasticidade cerebral, afetando sentimentos e sentidos, baralhando as noções básicas da sociedade que ainda persistiam. Entramos no virtual, antes de nos tornarmos ciborgues como alguns pensam que iremos evoluir nas décadas seguintes.

E não adianta chorar pelo passado, já passou e não vota mais, o futuro já foi traçado e delineado sem a nossa intervenção e nada podemos fazer para o modificar. O nosso presente neste dealbar de 2021 assemelha-se a esta árvore da imagem do Pedro Paulo Câmara. Tal como ela não morreremos de pé.

Chrys Chrystello, Jornalista,

Membro Honorário Vitalício nº 297713 [Australian Journalists’ Association MEEA]

Diário dos Açores (desde 2018)

Diário de Trás-os-Montes (desde 2005)

Tribuna das Ilhas (desde 2019)

Jornal LusoPress Québec, Canadá (desde 2020)

 

 

 

 

[1] A Fábrica de Cretinos Digitais. Este é o título do último livro do neurocientista francês Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França,