ARTUR ARÊDE – MEMÓRIA adolescente

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DO MEU PRÓXIMO LIVRO cHRÓNICaÇORES VOL 6 RECUERO…
RECUPERAR UMA MEMÓRIA adolescente – 1.10.2020, CRÓNICA 362

Normalmente sou crítico do Mark Zuckerberg, embora me conte entre os milhões que usam Facebook. Não uso para “selfies” nem para contar o que sinto, o que comi ao almoço, com quem sonhei e quejandos.

Não é a primeira vez que permite viagens no tempo e já me proporcionou boas surpresas. O que não esperava era que reavivasse memórias perdidas de infância.

Hoje a perfazer 71 outonos, perguntei algo a um senhor, com quem interagi esporadicamente na página do Carlos Fino e na dos Beatles do Luís Pinheiro d’Almeida. O que me despertou a memória foi o apelido ARÊDE, que vi uma só vez, e guardei na memória aos 16 anos. Era um jovem que tocava discos na cabine de som da Avenida 8 em Espinho nos anos de 1965-1970.

Logo me veio à memória “Our House,” “Marrakesh Express” desse disco sagrado Crosby. Stills, Nash & Young “Deja vu,” e tantos outros de Dylan, Baez, James Taylor, Cat Stevens. A cabine de som do “Netinho” que a explorava (bem como a da piscina de Espinho) funcionava, creio que das 11 às 13 e das 16 até ao jantar, maioritariamente ocupada pela leitura de centenas de pequenos anúncios pirosos dos comerciantes do sítio, que eram entrecortados por música.

Havia ainda os pequenos imprevistos das crianças que se perdiam dos pais, as chaves que apareciam no chão, e outros perdidos e achados que nos iam levar.

O meu pai sentava-se na esplanada do Avenida a fumar SG-Ventil, beber um Martini (“nem shaken nem stirred”), lendo o jornal ou um livro, mas não apreciava a intrusão sonora, mesmo que a voz de fundo fosse do filho. Suportava-a.

De manhã o movimento no “picadeiro” era reduzido.

Quando eu e o jovem Artur Arêde começámos a ser as vozes desses anos, sentíamo-nos importantes, capazes de despertar a atenção das núbeis donzelas que ali se “promenavam” e propiciavam amores fugazes de verão para alimentar egos adolescentes durante um ano inteiro.

Levávamos os nossos discos (eu obtinha discos raros via Radio Luxembourg e Radio Caroline, as rádios piratas mais célebres na época) para substituir as pirosas músicas que lá existiam, dando um ar mais contemporâneo ao que os jovens gostavam.

Num café em frente tinham surgido, uns anos antes, as primeiras “juke box” onde se ouvia Françoise Hardy (“Tous les garçons et les filles 1962), Sylvie Vartan (“La plus belle pour aller danser 1964” e “Si je chante 1964” “Jolie Poupé 1968), Johnny Halliday, que repetidamente víamos e ouvíamos, até as moedas de 5$00 (0.025 cêntimos) acabarem.

a oval cabine de som (anos 60)

A música “yé-yé” era entusiasmante e atraente para os jovens numa sociedade ainda afrancesada, onde nos bailes se dançava à vista dos “paus de cabeleira” e onde os Beatles iriam fazer incursões com os Rolling Stones, Animals, Hollies, e outros que nunca esquecerei.

Graças a este fortuito encontro fruto da memória privilegiada recuperei este episódio das lides radialistas em tenros anos, e que obnubilado estivera das memórias escritas.

Fiquei contente com este reencontro virtual a milhares de quilómetros de distância e mais de 50 anos de intervalo, que me permitiu reviver momentos que, na época, eram importantes e viriam a marcar indelevelmente a minha carreira.

Uma interessante experiência que jamais olvidarei em mais de 55 anos de jornalismo.